Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do jornalista paulista Sérgio de Souza, editor da revista Caros Amigos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do jornalista paulista Sérgio de Souza, editor da revista Caros Amigos.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2008 - Página 6819
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, BRASIL, EDIÇÃO, PERIODICO, CAROS AMIGOS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, HOMENAGEM.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, permita-me dizer umas breves palavras.

            Na madrugada desta terça-feira, morreu em São Paulo, aos 73 anos, o jornalista Sérgio de Souza. Operado no dia 10 último, em razão de perfuração no duodeno, faleceu no Hospital Oswaldo Cruz, em decorrência de complicações nessa operação e, nesta tarde, está se dando a sua cremação. Eu gostaria de estar lá, mas, pelas obrigações que temos agora no Senado, em Sessão Deliberativa, aqui transmito a todos de sua família, aos colaboradores de Caros Amigos, essas palavras e nosso sentimento de pesar.

            Nascido em 1934 no tradicional bairro do Bom Retiro, no centro da capital paulista, Sérgio de Souza era um autodidata. Não chegou a cursar uma universidade, mas nas redações era considerado um dos melhores jornalistas do Brasil. Entrou para o jornalismo em 1950, ao ser aprovado em um teste no jornal Folha de S. Paulo.

            Não ficou lá muito tempo, quatro anos depois, mudou para a revista Quatro Rodas, da Editora Abril. Foi lá que, em 1966, ajudou a lançar a revista Realidade, um dos maiores sucessos jornalísticos do gênero no Brasil.

            Até que, em 1997, como sócio de uma microeditora que fundou junto com outros companheiros, realizou um velho sonho: junto com os amigos João Noro, Roberto Freire, Jorge Brolio, Francisco Vasconcelos, José Carlos Marão, Alberto Dines (que deu nome à revista), Hélio de Almeida e Mathew Shirts conceberam a revista Caros Amigos.

            O seu propósito foi o de criar uma publicação de interesse geral. Nasceu então uma publicação mensal, de autor, que nos traz reportagens, artigos, colunas, seções, humor, fotografia e uma grande entrevista mensal que Sérgio batizou de “explosiva”, para brincar com a clássica “exclusiva”, e que, aliás, se tornou o prato forte de Caros Amigos. Todos os trabalhos publicados levam assinatura. Somente as reportagens e a entrevista de capa são decididas em reunião de pauta. Os outros artigos são decididos pelos seus autores sem consulta prévia. Aliás, quando fui convidado para escrever para a revista, Sérgio me disse que poderia escrever sobre qualquer coisa que me tivesse causado grande indignação ou muita felicidade. Fiquei honrado com seu convite e muito feliz em colaborar com a Caros Amigos.

            De acordo com o seu grande amigo Mylton Severiano, editor-executivo de Caros Amigos:

Serjão era avesso a entrevistas, até tímido diante de uma câmera, microfone ou mesmo um colega de caneta e papel na mão; não deixou muitas pistas sobre sua vida particular: onde estudou, que preferências tinha em matéria de literatura, cinema e outras trivialidades que costumam compor um necrológio. Certo é que Sérgio de Souza é o último monstro sagrado vivo que se vai de uma geração que fez, além de Realidade: a revista quinzenal de contracultura O Bondinho; o jornal mensal de política, reportagem e histórias em quadrinhos Ex-; o programa de televisão 90 Minutos na Bandeirantes - entre dúzias de trabalhos.

A importância de Serjão para o jornalismo pátrio é discreto como sua figura e incomensurável como seu tamanho - pois se dá justo naquele trabalho quase anônimo do editor, do editor de texto, da palavra seca, cortante, exata, da melhor linha humano-política na orientação ao repórter, ao subeditor, ao chefe de arte, ao departamento comercial, advinda de um caráter íntegro e de um senso jornalístico próprio dos gênios.

            Sérgio de Souza foi um grande exemplo. Espero que sua inestimável contribuição seja um estímulo para que a Caros Amigos tenha uma vida longa, revista que tem, entre outros colaboradores, Guto Lacaz, Marilene Felinto, Ana Miranda, Palmério Dória, Carlos Castelo, Roberto Manera, Enio Squeff, Léo Arcoverde, Glauco Mattoso, Georges Bourdoukan, Hamilton Octávio de Souza, Guilherme Scalzilli, Mauro Domingos da Silva, Joel Rufino dos Santos, Frei Betto, Sérgio Kalili, Cesar Cardoso, Gilberto Felisberto Vasconcellos, Ulisses Tavares, Emir Sader, João Pedro Stedile, Gershon Knispel, Nicodemus Pessoa, Franco de Rosa, Hermes, Voss Claudius dentre outros. Certamente hoje todos prestamos homenagem a esse excepcional jornalista Sérgio de Souza.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2008 - Página 6819