Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo centenário da Associação Brasileira de Imprensa. Reflexão sobre a violência perpetrada contra as crianças no País.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Homenagem pelo centenário da Associação Brasileira de Imprensa. Reflexão sobre a violência perpetrada contra as crianças no País.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2008 - Página 8299
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), DIA NACIONAL, JORNALISTA, COMENTARIO, LANÇAMENTO, LIVRO, ANALISE, DIREITOS, INFORMAÇÃO, ATUALIDADE, LIBERDADE DE IMPRENSA, PAIS.
  • SAUDAÇÃO, VISITA, SENADO, PACIENTE, REDE NACIONAL DE HOSPITAIS DA MEDICINA DO APARELHO LOCOMOTOR.
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUTORIA, ARTISTA, TELEVISÃO, REPUDIO, VIOLENCIA, VITIMA, CRIANÇA, CONCLAMAÇÃO, EXTINÇÃO, DIREITOS, PAES, AGRESSÃO, FILHO, ALEGAÇÕES, EDUCAÇÃO.
  • SOLIDARIEDADE, ESCRITOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), SAUDAÇÃO, SOLUÇÃO, SEQUESTRO, FILHO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Alvaro Dias, quero também associar-me à iniciativa da Líder Ideli Salvatti de homenagear os 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa e da luta de todos os jornalistas pela liberdade de imprensa.

Aproveito até para ressaltar a importância do livro de Eugênio Bucci, que será lançado nesta quinta-feira, no Sesc da Vila Mariana, em São Paulo: Em Brasília, 19 horas - A guerra entre a chapa-branca e o direito à informação no primeiro Governo Lula, que já está sendo considerado um clássico entre todos aqueles que estudam os meios de comunicação e a liberdade de imprensa neste País.

Gostaria também de saudar os pacientes do Hospital Sarah Kubitschek que estão hoje fazendo uma visita ao Senado Federal para acompanhar as nossas sessões.

Presidente Alvaro Dias, gostaria, hoje, de fazer uma reflexão e um registro relativo à questão da violência que por vezes é perpetrada contra seres humanos, em especial as crianças, em nosso País.

No último sábado, dia 5, no jornal O Globo, Xuxa Meneghel escreveu um artigo que é um apelo de natureza humanitária contra a violência, em especial contra as crianças e os seres humanos em geral. Gostaria de ler este artigo pelo seu conteúdo em favor da não-violência:

Quantas Isabellas vamos perder até entendermos que violência e educação não combinam?

Será que não é o momento de as pessoas perguntarem se realmente educar é bater? Se precisa bater para educar? Será que é necessário agredir, machucar, tirar sangue de uma criança, para educá-la?

Ser o “responsável” dá direito a bater na criança, com a frágil desculpa de que se está educando?!!!

Assim como outros comportamentos absurdos foram mudados (a escravidão; bater em mulher), está na hora de mudar essa “cultura” de que o pai, a mãe ou o responsável tem o direito de bater em uma criança, para educá-la.

A violência dentro de casa pode começar num olhar raivoso, berros, um tapinha, um empurrão, um beliscão até chegar à tragédia de atirar uma criança pela janela.

É nesse mundo violento que queremos viver? Até quando?

O pensamento de algumas pessoas é que “como eu apanhei quando criança e estou aqui” - dizem alguns com orgulho -, “vou repetir a fórmula, também baterei em meus filhos para ‘educá-los’”. Ou: “Assim ele vai aprender mais rápido, basta eu falar uma só vez e serei obedecido, ele vai saber quem manda aqui”.

Minha vontade é gritar: “Quem deu esse direito aos adultos?” E por que algumas pessoas continuam acreditando nisso? Esse “direito” de adulto bater em criança deveria ser cassado. É absurdo! É animal! É irracional!

Até os animais protegem os seus filhotes. Por que alguns seres humanos, racionais, não protegem os filhotes da nossa espécie?

É um assunto que tem de ser levado a sério. Temos que trazer este tema para o debate nacional. Criança não é “coisa”, é pessoa e, como pessoa e cidadã, precisa ser respeitada e protegida, precisa ser vista como prioridade, prioridade absoluta.

Há alguns anos, os maridos batiam nas mulheres sem que nada acontecesse. Era ‘normal’. Hoje, é crime bater numa mulher.

Há pouco mais de um século [há 120 anos], um ser humano podia ser dono de outro ser humano.

A tragédia de Isabella causou comoção nacional, ganhou todas as manchetes de jornais, televisão, rádio e internet. Muitas outras histórias trágicas acontecem todos os dias por aí e nem ficamos sabendo. São invisíveis?

Neste Brasil tão grande, quantas Isabellas já foram vítimas de violência e as pessoas não sabem?

Até quando vamos nos comover, falar no assunto, durante dias, e depois continuar sabendo que situações como essas continuam acontecendo, “invisíveis”, até que uma outra manchete de jornal nos deixe indignados?

Quantos pais, mães, responsáveis, com raiva por situações de trabalho ou por falta dele, com uma fechada no trânsito, brigas com namorado(a), marido (mulher), estressados com o dia-a-dia, descontam nos filhos?

E vão continuar descontando enquanto essa violência invisível não for recebida por toda a sociedade como crime.

Quando uma criança bate em outra, os pais dizem para não bater, porque é falta de educação, é violência e tem que conversar com o amiguinho... Mas, como pai e como mãe, podem bater e dizer que é para educar???

Como pode uma criança se defender de uma pessoa com o dobro de seu tamanho? Como se proteger e se defender daqueles que lhe deram a vida e, teoricamente, deveriam protegê-la?

Por que nossas crianças estão aprendendo dentro de casa o que é violência, enquanto deveriam estar aprendendo o verdadeiro significado do amor?

Quando ouvimos uma criança pedindo socorro ou sendo agredida por seus pais temos que cruzar os braços?

Precisamos proteger nossas crianças com uma lei.

Vamos gritar juntos! Violência de pai, mãe e responsáveis contra criança não é educação, é crime!

            E é importante - claro, não sabemos ainda quais são os responsáveis pela morte de Isabella Nardoni, e não quero aqui fazer qualquer julgamento precipitado -, estarmos solidários...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...também à dor de seus pais, especialmente de sua mãe, mas sobretudo dizer que não podemos estar indiferentes à violência que se perpetra contra crianças como, por exemplo, as que foram seqüestradas, o filho de Mauricio de Sousa, Marcelo de Sousa, e seu irmão.

Hoje, Mauricio de Sousa, com quem há pouco falei, mencionou que seu filho Marcelo foi um verdadeiro herói. Marcelo, sua mãe, Marinalva Pereira dos Santos, e seu meio-irmão, Vitor Hugo, de dois anos, foram seqüestrados em 19 de março, em São José dos Campos.

Felizmente, foram libertados. Nossa solidariedade a Mauricio de Sousa e sua família.

(Interrupção do som.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, eu gostaria de dizer que resolvi ler esse verdadeiro libelo de Xuxa Meneghel, porque se trata de alguém que conhece, pois convive tanto com as crianças brasileiras, é mãe e sabe muito bem como se relacionar com sua filha querida. Seu apelo vale para todos aqueles que desejam um mundo sem tanta violência, onde possamos, em casa, no próprio relacionamento com nossas crianças, filhos e filhas, netos e netas, agir sem nunca empregar a violência.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2008 - Página 8299