Discurso durante a 50ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentário sobre matéria publicada no jornal Valor Econômico. Alerta sobre a falta de mão-de-obra especializada no País.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA DE EMPREGO.:
  • Comentário sobre matéria publicada no jornal Valor Econômico. Alerta sobre a falta de mão-de-obra especializada no País.
Publicação
Publicação no DSF de 12/04/2008 - Página 9296
Assunto
Outros > ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA DE EMPREGO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ALTERAÇÃO, ECONOMIA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), POSTERIORIDADE, EXPANSÃO, SETOR, SIDERURGIA, MINERAÇÃO, PETROLEO, GAS, SUPERIORIDADE, CRESCIMENTO, APRESENTAÇÃO, DADOS.
  • REGISTRO, PRECARIEDADE, QUALIFICAÇÃO, MÃO DE OBRA, BRASIL, SUPERIORIDADE, DEMANDA, IMPOSSIBILIDADE, ATENDIMENTO, SERVIÇO SOCIAL DA INDUSTRIA (SESI), SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL (SENAC), OBSTACULO, TRABALHADOR, ADMISSÃO, EMPRESA NACIONAL, AUMENTO, DESEMPREGO, APRESENTAÇÃO, DADOS, PESQUISA, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA).

           O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em sua edição da última sexta-feira, o jornal Valor Econômico publica uma extensa reportagem sobre a economia do Espírito Santo, que experimentou uma mudança radical de perfil e um índice de crescimento expressivo nos últimos anos, graças à expansão dos setores siderúrgico, de mineração e de petróleo e gás. Vale a pena citar alguns dos dados mencionados pela reportagem, pois demonstram que o Estado lançou as bases para um desenvolvimento sustentável de longo prazo.

           Só no ano passado, a indústria capixaba cresceu 7 e meio por cento, acima dos 6 por cento da média brasileira. Para se ter uma idéia melhor do ritmo desse crescimento, em 1960 a indústria representava apenas 6 por cento do Produto Interno Bruto estadual, contra 51 por cento da agricultura. Em 2005, a indústria contribuiu com 27 por cento para o PIB capixaba, de acordo com o IBGE.

           A diversificação, mais especificamente com a inclusão do petróleo entre os principais ativos econômicos do Estado, pode ser um fenômeno recente, mas foi assentada em bases sólidas. O processo ganhou impulso decisivo quando o governo capixaba, com Paulo Hartung à frente, saneou as finanças, organizando o Estado do ponto de vista fiscal, depois de anos de desordem nas contas públicas. Basta lembrar que, no final de 2002, éramos um Estado inadimplente, que devia a servidores, fornecedores e prestadores de serviços, entre outros, um total de 1 bilhão e 200 milhões de reais.

           No caso dos royalties do petróleo, o governo preocupou-se em evitar distorções, favorecendo a descentralização do desenvolvimento, por meio da criação do Fundo de Redução das Desigualdades Regionais, que utiliza 30 por cento da arrecadação direta para distribuir recursos entre os municípios que não recebem royalties. São recursos que só podem ser aplicados em investimentos em áreas essenciais.

           Hoje, o Governo estadual planeja investimentos, com recursos próprios, que podem chegar a 1 bilhão de reais. No ano passado, foram 820 milhões de reais. O PIB per capita de 2005, 13.846 reais, foi o quinto maior do País, à frente de Estados como o Rio Grande do Sul e o Paraná.

           Índices mais recentes atestam que o Espírito Santo está unido em torno de uma agenda comum, modernizadora e desenvolvimentista. De acordo com estatísticas de 2007, o emprego formal cresceu 33 por cento no Estado, enquanto a média nacional foi de 26,6 por cento. As vendas de veículos aumentaram em 38,1 por cento, contra 30,6 por cento no País. Quanto ao consumo residencial de energia, cresceu 8,7 por cento, contra 6 e meio por cento da média nacional.

           Entre 2002 e 2006, 300 mil pessoas deixaram a linha de pobreza. Assim, nossa taxa de pobreza caiu de 23,8 por cento no início daquele período para 16,1 por cento em 2006, enquanto no Brasil a queda foi de 32,9 por cento para 26,8 por cento.

           O novo patamar de desenvolvimento alcançado pelo Espírito Santo não exime o Estado de enfrentar desafios como o da redução dos índices de violência e da melhoria da qualidade da educação. Mas, como assinala a reportagem, a atual administração não foge de tais problemas. No primeiro mandato, venceu o crime organizado, e agora dedica-se a aparelhar a polícia, dotando-a de condições para combater o tráfico de drogas, e a ampliar seu quadro de pessoal. Na área da educação, reintroduziu o ensino profissionalizante e está comprando vagas na rede privada para alunos carentes.

           O espírito empreendedor capixaba está sintetizado na história do mecânico Salvador Turco, citado pela reportagem do Valor. Em 1978, deixou o emprego na fábrica de chocolates Garoto para montar uma pequena serralheria em Vila Velha. A serralheria transformou-se na União Engenharia, uma empresa especializada na produção de bens de capital sob encomenda e em montagens industriais que, em 2005, tinha 120 empregados. Hoje, tem 1.500, e deve chegar a 2 mil até o fim do ano. É uma história exemplar, e mostra que, aliado a um governo dotado de visão estratégica, o dinamismo da iniciativa privada é fundamental para garantir o crescimento registrado pelo Espírito Santo.

           Um segundo assunto, Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que quero abordar é que, em várias ocasiões, tive a oportunidade de utilizar esta tribuna para alertar que a falta de mão-de-obra qualificada é um problema crescente em nosso país. A demanda por profissionais especializados é muito maior que a capacidade de formação dos colégios técnicos e unidades do Sesi e Senac. O resultado é que temos milhões de desempregados e milhares de vagas de emprego que não são preenchidas, pois as empresas não encontram entre eles pessoas preparadas para integrar seus quadros.

Um exemplo dessa escassez é a campanha desencadeada pela Companhia Vale do Rio Doce, que pretende contratar 62 mil novos empregados nos próximos 5 anos. Para encontrar pessoal especializado, a empresa está recorrendo a países como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália. É conseqüência da globalização da economia e da internacionalização da Vale, hoje uma multinacional brasileira. Mas é também sintoma da carência, no Brasil, de trabalhadores em condições de ocupar os novos postos de trabalho.

Na área dos profissionais de nível técnico superior, a disputa é tão grande que as maiores empresas recorrem a aposentados ou procuram profissionais qualificados já empregados pela Petrobras. Salários de geólogos e engenheiros tiveram alta significativa nos últimos anos, mas, de acordo com reportagens publicadas pelos principais jornais, a valorização não se limitou aos portadores de diploma universitário. Hoje em dia, um soldador tem salário inicial entre 1 mil e 200 reais e 2 mil e 100 reais, e os formandos do Sesi e Senac encontram emprego tão logo concluem seus cursos.

É ótimo que os salários subam, mas esse fato positivo também indica que estão faltando profissionais qualificados. Nos próximos 2 anos, está prevista a execução de 4 grandes projetos de usinas siderúrgicas no País. Calcula-se que eles exigirão a contratação de 1 mil e 600 engenheiros, sem contar uma infinidade de trabalhadores especializados. Onde encontrá-los?

O Brasil forma 33 mil engenheiros e arquitetos por ano, enquanto a Coréia forma 80 mil engenheiros anualmente. A Índia, 250 mil e a China, 350 mil. Em nosso país, apenas 11 por cento da população entre 18 e 24 anos estão na universidade - e deste total, só 13 por cento cursam carreiras tecnológicas. É um índice que, nos países desenvolvidos, varia de 40 por cento a 70 por cento.

O Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, realizou uma pesquisa, divulgada no final do ano passado, segundo a qual até o fim de 2007 o Brasil teria 7 milhões e 400 mil trabalhadores sem qualificação ou experiência profissional procurando emprego. Das 9 milhões e 100 mil pessoas em busca de uma vaga, apenas 1 milhão e 700 mil, pouco mais de 18 por cento do total, teriam qualificação para conquistar uma vaga.

É um quadro preocupante, ainda mais se levarmos em conta as recentes conclusões de um projeto coordenado por pesquisadores de universidades paulistas. Realizado com o objetivo de descobrir quais são os entraves para a instalação de centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas multinacionais no Brasil, ele identificou a falta de pessoal capacitado em qualidade, competência técnica, pró-atividade, capacidade criativa e flexibilidade como o principal obstáculo. O resultado é que estamos perdendo esses centros de pesquisa e desenvolvimento, uma fonte de inovações, para outros países emergentes, como a Índia e a China.

Também, no ano passado, em extenso inventário sobre a qualificação de mão-de-obra, a Confederação Nacional da Indústria descobriu que a falta de capacitação do trabalhador tem impactos negativos especialmente na área de produção, o que restringe o aumento da competitividade. Das mais de 1.700 indústrias consultadas, 56 por cento apontaram como um problema para a empresa a falta de mão-de-obra qualificada.

Enfim, não faltam diagnósticos evidenciando que o problema existe, e está se tornando mais grave a cada dia. E não se trata de algo que possa ser resolvido da noite para o dia. Estamos falando de uma deficiência que, para ser solucionada, exige um prazo de 8 a 10 anos. Se medidas urgentes não forem tomadas, pagaremos caro pela imprevidência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/04/2008 - Página 9296