Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do transcurso, ontem, do Dia Internacional do Café, destacando a importância do Estado do Espírito Santo como segundo maior produtor de café do País.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. HOMENAGEM.:
  • Registro do transcurso, ontem, do Dia Internacional do Café, destacando a importância do Estado do Espírito Santo como segundo maior produtor de café do País.
Publicação
Publicação no DSF de 16/04/2008 - Página 9401
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, HISTORIA, ORIGEM, CULTIVO, CAFE, SUPERIORIDADE, CONSUMO, BEBIDA, MUNDO, EFEITO, DISPOSIÇÃO, TRABALHO, LIDER, BRASIL, PRODUÇÃO, IMPORTANCIA, PRODUTO, EVOLUÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PAIS, FONTE, RIQUEZAS, FINANCIAMENTO, INDUSTRIALIZAÇÃO, REGIÃO SUDESTE, URBANIZAÇÃO, OCORRENCIA, DIVERSIDADE, CRISE, SETOR.
  • COMENTARIO, PESQUISA, COMPROVAÇÃO, VALOR TERAPEUTICO, CAFE, JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, ANEXAÇÃO, LEITE, MERENDA ESCOLAR, CRIANÇA, ADOLESCENTE.
  • APRESENTAÇÃO, DADOS, ALTERAÇÃO, CARACTERISTICA, PRODUÇÃO, CAFE, SUPERIORIDADE, PARTICIPAÇÃO, PEQUENO PRODUTOR RURAL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), BUSCA, MELHORIA, QUALIDADE, ATENDIMENTO, MERCADO INTERNACIONAL.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, CAFE, QUESTIONAMENTO, AUSENCIA, COMEMORAÇÃO, PAIS, HOMENAGEM POSTUMA, EMPRESARIO, CAFEICULTOR, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, RESPONSAVEL, MELHORIA, QUALIDADE, PRODUTO, BRASIL.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dizem que tudo começou nas montanhas da Etiópia, por volta do ano 800, quando um pastor observou que suas cabras ficavam agitadas ao comerem os frutos de um arbusto. O pastor provou a fruta vermelha, que parecia uma cereja, e sentiu muito mais energia e disposição para o trabalho. Não demorou para que a notícia se espalhasse pelo mundo árabe, o primeiro povo a fazer uso do café e a cultivá-lo comercialmente, por volta do século XV.

Ontem, dia 14 de abril, o mundo comemorou o Dia Internacional do Café. É uma data significativa, merecedora de atenção. O café é, atualmente, a bebida mais consumida do mundo, e o Brasil detém os títulos de maior produtor e de segundo consumidor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

Inicialmente limitado ao Oriente e consumido como remédio, o café difundiu-se pelo mundo graças aos holandeses e aos franceses, que o plantaram em suas colônias, e aos comerciantes de Veneza, que o introduziram na Europa no século XVII - a época em que passou a ser adotado não como remédio, mas como bebida. Na Itália, o café foi, a princípio, condenado pela Igreja Católica, que proibiu o seu consumo, desconfiada de seus efeitos estimulantes; mas, certo dia, o Papa Clemente VIII experimentou a bebida, gostou e liberou o seu consumo.

Em 1714, o rei Luís XIV, da França, ganhou um pé de café e plantou-o na estufa do Palácio de Versalhes. Cultivado na Ilha de Reunião, no Oceano Índico, chegou a outra possessão francesa, a Guiana, na América do Sul. Aí, surgiu outra história, que pode ou não ser lenda, para explicar a introdução do café no Brasil.

Conta-se que, em 1727, o Sargento-mor português Francisco Mello Palheta foi enviado a Caiena, capital da Guiana Francesa, com a missão de trazer uma muda da planta. Aproximou-se da mulher do governador, fez com que ela se apaixonasse por ele e conseguiu uma muda de café, que trouxe para o Brasil escondida entre plantas ornamentais. Verdade ou não, o fato é que café começou a ser cultivado, naquela época, no Pará.

Depois dessa experiência no Norte, passou pelo Nordeste, até chegar, uns vinte anos depois, ao Rio de Janeiro. As matas da Gávea e da Tijuca viraram grandes cafezais e, de lá, o café se difundiu pelo litoral sul fluminense e chegou a São Paulo. Avançou pelo interior, estendendo-se ao sul de Minas e, algum tempo depois, ao Espírito Santo e ao norte do Paraná.

É indiscutível a importância histórica e econômica do café para o nosso País. Durante muito tempo, ele foi a fonte de quase toda a riqueza produzida no Brasil. No século XIX, o Brasil era responsável por 70% da produção mundial de café.

O dinheiro obtido com a sua exportação fez surgirem milionários, os chamados “barões do café”, financiou a industrialização de São Paulo e de todo o Sudeste brasileiro, a construção de estradas de ferro, a modernização das grandes cidades e a criação de novos municípios. Esse ciclo só seria interrompido pela crise mundial de 1929, que começou com a quebra da bolsa de Nova York.

Mas isso é passado. Hoje, depois de atravessar muitas turbulências, o Brasil recuperou sua posição no ranking dos produtores e consumidores, numa época em que, ironicamente, descobrem-se cada vez mais propriedades medicinais do café. Ele, que tantos séculos atrás, era considerado um medicamento, voltou a sê-lo hoje.

Pesquisas já comprovaram que o café aumenta a capacidade de atenção, de concentração e de formação da memória. Com leite, os efeitos são idênticos e o valor nutritivo aumenta, o que torna o café com leite uma opção indicada para crianças e adolescentes, tanto que apresentei, nesta Casa, projeto de lei prevendo a inclusão do café nos cardápios das escolas beneficiadas por recursos federais do Programa Nacional de Alimentação Escolar.

A cada dia, são descobertos novos benefícios do café. Pesquisadores já vincularam seu consumo à prevenção de alguns tipos de cânceres e do Mal de Alzheimer, entre outras doenças, além de terem demonstrado que ele é um poderoso agente antioxidante, agindo contra o envelhecimento celular.

O Brasil é responsável por 30% do mercado mundial - conforme eu disse. No ano passado, produzimos 33 milhões e 500 mil sacas, 17 milhões destinadas ao consumo interno. A previsão é de que, este ano, o Brasil consuma 18 milhões de sacas.

O tempo dos barões do café acabou. Hoje, essa safra gigantesca é produto do trabalho de pequenos e médios produtores, que representam 90% do total de cafeicultores no Brasil. No Espírito Santo, a cafeicultura está presente em quase 78% das propriedades rurais e ocupa, direta ou indiretamente, mais de 450 mil pessoas.

É bom notar que o Espírito Santo, com seu território pequeno (apenas 45.000km²), é o segundo maior produtor de café, depois de Minas Gerais, seguido de São Paulo e Paraná.

O território capixaba é o cenário de ambicioso projeto de renovação nos métodos de cultivo de café em todo o mundo. Técnicas avançadas de desenvolvimento de variedades resistentes e de melhor qualidade tornaram o Espírito Santo responsável por 70% da produção nacional da variedade de café chamada robusta, também conhecida como Conilon, além de expressivo produtor de café Arábica de ótima qualidade. A agregação de valor ao produto permite a conquista do mercado internacional. Hoje em dia, vendemos para compradores de cafés de alta qualidade nos países europeus, asiáticos e muito para os Estados Unidos.

Tivemos, portanto, muito a comemorar no Dia Internacional do Café. A lamentar, a ausência de um italiano a quem a indústria mundial do café, especialmente o Brasil, muito devem: o Sr. Ernesto Illy, que nos deixou no início de fevereiro, um dos responsáveis pelo aprimoramento da qualidade do café brasileiro. Sua empresa, sediada em Trieste, é a mais famosa do mundo entre as produtoras de cafés especiais, e com justa razão. No Dia Internacional do Café, Ernesto Illy, um obcecado pela qualidade e que tanto incentivou os produtores, merece a nossa homenagem.

Sr. Presidente, é interessante que, nos Estados Unidos e na Itália, por exemplo, a Illy Café distribuiu, durante o dia de ontem, alem de bandeirolas e tal, receitas de como fazer um bom café e folhetos explicando as qualidades medicinais do café. Nos estados Unidos, a Starbucks, uma das maiores distribuidoras de café de qualidade, fez a mesma coisa: receitas de como se fazer um bom café e as qualidades do café. E, no Brasil, que é o maior produtor mundial, não fizemos absolutamente nada. No próximo ano, Sr. Presidente, vamos cuidar para que exportadores, produtores e torrefadores brasileiros, bem como o próprio Governo - por que não? -, aproveitem o Dia Internacional do Café para mostrar as qualidades e as virtudes do café.

Sr. Presidente, para encerrar, gostaria de dizer que, quando o primeiro ecologista do Brasil, Augusto Ruschi, capixaba e grande ecólogo, foi fazer uma exposição na Assembléia Legislativa do Espírito Santo, eu era deputado. Ele entrou em conflito com a Assembléia, e os Deputados disseram que ninguém faria perguntas a ele, que falaria e iria embora, sem que ninguém notasse sua presença. Mas eu, muito amigo e fã de Augusto Ruschi, resolvi fazer uma pergunta. Quando ele terminou a exposição, eu perguntei: “Dr. Augusto Ruschi, é verdade que o café estimula a inteligência?”. Ele respondeu: “É; e os Deputados precisam tomar muito café”. Fez, assim, uma crítica indireta a todos nós.

Muito obrigado, e que nós nos preparemos para fazer um Dia Internacional do Café melhor, no próximo ano.

Obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/04/2008 - Página 9401