Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do deslocamento do navio-hospital Oswaldo Cruz, da Marinha brasileira, para atender um pleito das comunidades indígenas do Rio Javari, no Município de Atalaia do Norte. Considerações sobre manifestação do relator especial da ONU para Direitos à Alimentação, Sr. Jean Ziegler.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. POLITICA INDIGENISTA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Registro do deslocamento do navio-hospital Oswaldo Cruz, da Marinha brasileira, para atender um pleito das comunidades indígenas do Rio Javari, no Município de Atalaia do Norte. Considerações sobre manifestação do relator especial da ONU para Direitos à Alimentação, Sr. Jean Ziegler.
Publicação
Publicação no DSF de 16/04/2008 - Página 9429
Assunto
Outros > SAUDE. POLITICA INDIGENISTA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA SAUDE (MS), PRESIDENTE, FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAUDE, ATENDIMENTO, REQUERIMENTO, ORADOR, ENCAMINHAMENTO, NAVIO, ASSISTENCIA MEDICO-HOSPITALAR, COMUNIDADE INDIGENA, RIO JAVARI, MUNICIPIO, ATALAIA DO NORTE (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), AREA, FRONTEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, OPORTUNIDADE, COMEMORAÇÃO, DIA NACIONAL, INDIO, DEFESA, AUMENTO, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA INDIGENISTA.
  • CRITICA, PRONUNCIAMENTO, AUTORIDADE, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ERRO, ALEGAÇÕES, MOTIVO, CRISE, ALIMENTOS, MUNDO, PRODUÇÃO, Biodiesel, DEFESA, ORADOR, AUSENCIA, COMPROMETIMENTO, MEIO AMBIENTE, FLORESTA AMAZONICA, UTILIZAÇÃO, TERRAS, ANTERIORIDADE, DESMATAMENTO, PECUARIA.
  • REGISTRO, VISITA, ORADOR, CENTRO DE PESQUISA, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ESTADO DO AMAZONAS (AM), ESTUDO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, DEFESA, NECESSIDADE, DEBATE, SENADO, PROTEÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, PROMOÇÃO, INCLUSÃO, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nestes primeiros minutos, quero registrar o deslocamento de um navio da Marinha brasileira para a fronteira do Brasil com o Peru para atender a um pleito das comunidades indígenas do Rio Javari, no Município de Atalaia do Norte. É um rio emblemático, porque é o rio que faz a fronteira do Brasil com o Peru, nosso país vizinho.

O navio-hospital Oswaldo Cruz, da Marinha brasileira, está-se deslocando para lá, justamente coincidindo com a Semana da Mobilização Indígena, por conta do dia 19 de abril, que é o dia que as instituições e o movimento indígena trabalham como o Dia Nacional do Índio.

Sr. Presidente, eu, há uns oito meses, vim a esta tribuna para levantar a situação da saúde das populações indígenas dessa região. São quase quatro mil índios de várias etnias - vou ler algumas delas. É uma situação muito emblemática nesse rio de fronteira, com quatro mil índios das seguintes etnias: Marubo, Mayoruna, Kanamari, Matis, Kulina e Korubo.

Ora, eu trouxe para cá o clamor dos povos indígenas dessa região. Penso que o Estado brasileiro, a sociedade brasileira, o Governo brasileiro devem atenção ao clamor dos povos indígenas.

O meu pronunciamento... E mais um requerimento eu mandei ao Ministro da Saúde, Ministro Temporão, ao Presidente da Funasa, Dr. Danilo Fortes. Eles atenderam esse pleito. Mas não é um pleito meu, não, de um Senador. É um pleito de várias instituições nacionais, do Cimi, de várias organizações que trabalham com a questão indígena, por conta da situação de saúde precária dos povos indígenas lá da fronteira do Brasil com o Peru.

Eu tenho informações da Funasa, do Ministério da Saúde, Senador Arthur Virgílio, de que há um deslocamento de um navio-hospital da Marinha para atender, com uma equipe grande, uma equipe de mais de 40 profissionais.

A operação para atender a situação da saúde mobiliza não só os servidores da Funasa, como os servidores da Funai, da Aeronáutica, da Marinha e do Exército.

Eu quero aplaudir o gesto do Ministério da Saúde, da Funasa, por entender que é muito importante ouvir as reivindicações de populações que estão lá na fronteira do Brasil, em algum ponto da nossa Amazônia. Eu quero chamar atenção das autoridades daquela região e dizer da minha alegria pelo deslocamento de profissionais, de médicos, de enfermeiros, de bioquímicos para atender às reivindicações das lideranças indígenas e também de prefeitos, das Câmaras Municipais. Ali é uma tríplice fronteira e abrange também Municípios de meu Estado que estão na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru. São os Municípios de Benjamin Constant, Tabatinga e Atalaia do Norte.

Sr. Presidente, alguns Senadores já se manifestaram acerca do tema, mas eu o trago novamente. Trata-se da manifestação feita, na Alemanha, pelo Relator Especial da ONU para Direitos à Alimentação, Sr. Jean Ziegler, que já esteve, inclusive, aqui no Senado, tem uma estória na Europa, fez debates na América do Sul. E ele veio a esta Casa para o conhecimento da produção do biodiesel e suas conseqüências para as populações mundiais, principalmente dos países da América do Sul, da Ásia e da África.

Sr. Presidente, há um equívoco nessa manifestação do representante da ONU. Primeiro, porque foi uma fala que generalizou - e essas falas são perigosas. Penso que nós, brasileiros - não só o Governo, mas as instituições, os Governadores, os Parlamentares -, devemos responder à opinião de uma autoridade que considero equivocada sob o ponto de vista do Brasil, da pesquisa, das instituições, do debate interno nacional sobre a produção do biodiesel, do etanol, da bioenergia ou da energia limpa. Precisamos travar esse debate com profundidade e tranqüilidade. Falo como um homem da Amazônia.

Ontem fiz o registro de uma visita a um centro de excelência da Petrobras que trabalha a questão ambiental, que trabalha a questão do gás, do petróleo, lá no Estado da Amazonas. Fiz um registro em função da visita que fizemos.

Precisamos, mesmo na Amazônia, travar esse debate com a tranqüilidade de que é possível - tanto a sociedade civil como o Estado brasileiro, o Governo - discutir a produção, a pesquisa do biodiesel, sem comprometer o meio ambiente.

É preciso dizer que podemos ter o desenvolvimento sustentável com respeito ao meio ambiente, com o compromisso social, com o compromisso econômico sem devastar a nossa Amazônia, sem maltratar os povos indígenas, sem passar por cima das populações tradicionais.

Então, essa declaração de que o biodiesel vai impor a fome, a miséria, é equivocada, principalmente do olhar sobre o que o Brasil está fazendo - fez, está fazendo e fará.

É preciso que a União Européia reflita sobre o que ela fez, principalmente no passado, na América Latina e na África. O que a Inglaterra fez lá na Ásia, lá na Índia? E o que os países europeus fizeram e causaram ao povo africano, aos países do continente africano? O que a Espanha fez com os nossos países-irmãos na América Latina?

E hoje o Brasil, fruto da pesquisa, do debate duro, interno, está desenvolvendo, com mérito a várias instituições, a segmentos importantes da economia brasileira, o etanol. E essa pesquisa continua. O etanol não está derrubando a floresta, é preciso dizer isso. Ela avança na terra da pecuária, ela avança onde a pecuária já trabalhou. Estamos mudando; há uma mobilização no sentido de desenvolver a pecuária em território menor. É evidente que como homem da Amazônia, venho dizendo e mais uma vez digo: chega de derrubada irresponsável da nossa floresta! Chega de roubo da madeira nobre da Floresta Amazônica! Hoje, temos um padrão em que é possível, sim, fazermos o manejo florestal com responsabilidade, com renda e com pouco impacto na nossa floresta.

Então é preciso compatibilizar. Essa opinião, para o Brasil, não vale, porque temos um imenso território, temos regiões importantes para trabalhar, incluindo populações que foram excluídas do processo produtivo.

É preciso fazer justiça.

Quero lembrar o Governo do Presidente Lula. O nosso Governo tem avançado - e muito - com responsabilidade social...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - ...e com respeito às populações tradicionais. Tenho de colocar aqui as populações tradicionais da Amazônia, porque isso não foi discutido. O Estado brasileiro fez questão de passar por cima e falar de um vazio demográfico, sem levar em consideração as particularidades da Amazônia.

É preciso construir políticas públicas com esse padrão de responsabilidade; é preciso restabelecer a inclusão de milhares de famílias no sistema produtivo. É possível hoje, sim, construir esses ambientes.

Aqui no Senado temos várias comissões. Hoje discutimos, numa subcomissão, as queimadas na nossa floresta. É preciso trazer as instituições, o Inpe, o Cipam, os Governadores, os Prefeitos, os movimentos sociais...

(Interrupção do som.)

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - ...e estabelecer uma agenda positiva, com padrão de responsabilidade, de compromisso social, ambiental e econômico para a nossa região. O que não posso aceitar - e quero compartilhar - é a opinião que generaliza e não bate com a realidade do nosso País.

O Governo tem uma proposta para o biodiesel; a sociedade e o Governo têm proposta para o etanol, e nós estamos discutindo projetos para a Amazônia. E a Amazônia não tem só esse noticiário de degradação. Há muita coisa positiva acontecendo na Amazônia com respeito ao meio ambiente e à geração de renda. No meu Estado mesmo, o Amazonas, eu posso falar de pelo menos dez grandes projetos com um padrão que pode ser uma referência para a Amazônia, para a geração de renda e a inclusão social na nossa região.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/04/2008 - Página 9429