Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 9925
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), EX SENADOR, JORNALISTA, EMBAIXADOR, CRIADOR, GRUPO ECONOMICO, EMPRESA JORNALISTICA, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, COMENTARIO, HISTORIA, DIVERGENCIA, PARENTE, ORADOR, AMBITO, JORNALISMO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, BRASIL, EXPECTATIVA, REALIZAÇÃO, FILME, BIOGRAFIA, REFORÇO, MEMORIA NACIONAL.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, prezados Srs. Ari Cunha, Vice-Presidente do Correio Braziliense, Márcio Cotrim, Diretor Executivo da Fundação Assis Chateaubriand, senhoras e senhores, em abril de 1968, a história do rádio, da tevê e dos mais importantes jornais do País perdia um de seus ilustres personagens, Assis Chateaubriand, um paraibano que criou e dirigiu uma das maiores cadeias de imprensa do País: os Diários Associados. Um grupo econômico-financeiro formado por 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal, uma mensal, várias revistas infantis e uma editora.

Aos 15 anos de idade, Chatô, como era conhecido, iniciava sua trajetória no jornalismo, escrevendo no Jornal Pequeno e no Diário de Pernambuco. Não demorou muito, em 1924, ele comprava sua primeira empresa, O Jornal. Daí para frente, foi construindo um verdadeiro império jornalístico, agregando importantes jornais, como o Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo da América Latina, e o Jornal do Commercio, o mais antigo do Rio de Janeiro.

Com uma vida movimentada, Chateaubriand foi, além de empresário e jornalista, político e embaixador. Sua trajetória também foi marcada por muitos desafetos. Entre esses, o meu tio-avô, há pouco mencionado pelo Senador Mão Santa, o Conde Francisco Matarazzo Júnior, contra quem moveu uma impiedosa campanha em seus jornais. O escritório de Chateaubriand ficava em um dos prédios do Conde Francisco Matarazzo Júnior, e como o aluguel, certa ocasião, estava atrasado, o industrial, meu tio-avô, resolvera cobrar o inquilino. Daí para a frente, uma sucessão de fatos culminou com a explosão de Chatô, ao saber que, para enfrentá-lo de igual para igual, o Conde Chiquinho Matarazzo estava adquirindo o controle do grupo Folha, que editava os jornais Folha de S.Paulo, Folha da Manhã e Folha da Noite.

A desavença entre os dois se travou através das páginas de seus jornais. Em meio à saraivada de reportagens e artigos que escrevia ou mandava escrever criticando a família Matarazzo, Chatô soube que o Conde preparava aquilo que os colunistas sociais anteviam como “a festa do século”: o casamento de sua filha Filomena, Filly - que não é minha mãe, Filomena, é a prima dela, Filly, a mais velha filha de Chiquinho Matarazzo -, com um jovem milionário carioca, João Lage. Chateaubriand não deixou por menos e chamou Joel Silveira, que era um jornalista muito conhecido e com qualidades especiais nas críticas que costumava fazer, para cobrir o casamento. Na verdade, houve uma sugestão, na redação dos Diários, de que o casamento deveria ser coberto da mesma maneira que o casamento de um dos trabalhadores das Indústrias Reunidas F. Matarazzo. E o principal jornal de Assis Chateaubriand cobriu com o mesmo destaque tanto o casamento de Filly Matarazzo quanto o casamento de um trabalhador, tendo em conta que a mãe da noiva disse: “Bem, como os jornais estão cobrindo o casamento da Srª Filly Matarazzo, então, eu gostaria também que falassem pelo menos um pouco sobre o casamento da minha filha”. Assim, o jornal deu destaque a ambos os casamentos.

Lembrar os 40 anos da morte de Assis Chateaubriand nos remete à história do jornalismo brasileiro e, ao se homenagear Chatô pela sua trajetória e pela participação tão especial na história da imprensa brasileira, homenageia-se todos aqueles que dela fazem parte. Sobretudo o extraordinário corpo de jornalistas que trabalham e trabalharam em todos estes órgãos de imprensa: Diário de S.Paulo, Diário da Noite, O Cruzeiro, nas emissoras Tupi Difusora, nas emissoras dos Diários Associados, assim como nos jornais que já mencionei, de Pernambuco. E, hoje, o Sr. Ari Cunha e o Sr. Márcio Cotrim representam os jornalistas do Correio Braziliense e possivelmente de outros jornais.

           E é importante homenagear todos aqueles que, independentemente das polêmicas criadas por Assis Chateaubriand ao longo da história, em seu relacionamento com os diversos Chefes de Estado, em especial com os Presidentes Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek e tantos outros, ora com disputas muito fortes, ora com críticas, ora com diálogos, que são tão bem ilustrados neste livro de Fernando Morais, excepcional escritor e jornalista, Chatô, o Rei do Brasil, que nos relata episódios tão significativos.

Penso em como Assis Chateaubriand, hoje, manteria uma relação com o Presidente Lula; como estaria vendo a trajetória da pessoa que, nascida em sua terra, Garanhuns, Caetés - tal como Assis Chateaubriand, que veio para São Paulo e que depois se tornou um cidadão do Brasil, exercendo um papel extraordinário -, aos sete anos, saiu de sua terra para procurar seu pai, que estava em Vicente de Carvalho, no Guarujá. Lula pegou um caminhão pau-de-arara, como se chamava, com sua mãe, e, por 13 dias, viajou em direção a São Paulo, onde acabou se tornando um dos maiores líderes operários da história do Brasil, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, hoje do ABC, para finalmente chegar à Presidência da República. Tenho a convicção de que Assis Chateaubriand teria escrito centenas de artigos a respeito do que foi e está sendo o destino do Brasil relacionado a essa outra pessoa, também do Nordeste brasileiro. Ele, nascido na Paraíba, mas perto de Pernambuco, acompanharia a trajetória do Presidente Lula de uma maneira especial.

Ainda que tenha havido divergências, polêmicas, com sentido de competição, por vezes, até se chegando à utilização de palavras que eu mesmo não uso para com os que discordam de mim, para com os meus desafetos, reconheço que houve um mérito muito grande na trajetória de Assis Chateaubriand.

Será importante que os cineastas brasileiros realizem o filme que está programado a respeito de Assis Chateaubriand, importante para que todos nós e as novas gerações possam compreender como se construiu essa organização jornalística e da mídia como um todo, de excepcional importância na nossa história.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 9925