Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 9928
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), EX SENADOR, EMBAIXADOR, JORNALISTA, REGISTRO, VIDA PUBLICA, CRIADOR, GRUPO ECONOMICO, EMPRESA JORNALISTICA, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, MEMBROS, ELOGIO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, BRASIL, POLITICA NACIONAL, PIONEIRO, EMISSORA, TELEVISÃO, INCENTIVO, ARTES, FUNDAÇÃO, MUSEU, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DA PARAIBA (PB), LEITURA, TRECHO, BIOGRAFIA.

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP Sem apanhamento taquigráfico) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo ou simplesmente Assis Chateaubriand, como se tornou famoso. Esse o paraibano, nascido em Umbuzeiro a 5 de outubro de 1892, que se transformou numa das personalidades mais conhecidas e discutidas de nossa História no século XX, a partir do momento em que se tornou dono de 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, da agência noticiosa Meridional, revista semanal O Cruzeiro e mensal A Cigarra, além de publicações infantis e uma editora. Tudo sob a égide do então maior grupo empresarial do gênero nestas plagas, ou seja, os Diários e Emissoras Associados. Portanto, enquanto viveu, Chateaubriand conseguiu alimentar a imagem de o homem mais poderoso do País em termos de imprensa.

Pois bem, é essa a síntese de uma impressionante trajetória de realizações, cujo protagonista estamos a homenagear devido ao transcurso dos 40 anos da sua morte. Assis Chateaubriand, jornalista, empreendedor, mecenas, membro da Academia Brasileira de Letras e ex-Senador da República, faleceu a 4 de abril de 1968, na cidade de São Paulo.

Começara no jornalismo com apenas quinze anos de idade. Já escrevia na Gazeta do Norte e no Jornal Pequeno, antes de ingressar no Diário de Pernambuco. Neste, chegou a dormir na Redação e a pegar em armas para impedir o empastelamento tentado por uma multidão enfurecida com a vitória eleitoral do proprietário do jornal.

            Fez os primeiros estudos no Ginásio Pernambucano, do Recife. A seguir, cursou a Faculdade de Direito da capital pernambucana. Nela, tornou-se professor, mediante concurso para a cadeira de Filosofia do Direito, no qual conquistou o 1.º lugar.

            Ingressou na Academia Brasileira de Letras por eleição de 30 de dezembro de 1954 e foi empossado em 27 de agosto de 1955. Substituiu assim Getúlio Vargas na Cadeira n.° 37, vaga com a morte desse Presidente da República.

            Em 1917, Chateaubriand colaborava no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Sete anos depois, com apoio financeiro obtido de alguns "barões do café" a título de honorários advocatícios, comprou O Jornal, que seria líder dos Diários Associados. Retirou-o da inércia noticiosa, mediante reportagens combativas, e adotou linha editorial semelhante nos antigos órgãos de imprensa Diário de Pernambuco (Recife) e Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), adquiridos a seguir. Um ano depois, incorporou o Diário da Noite (São Paulo) e acelerou a construção de seu império, ainda sob influência das conturbações políticas que assinalaram as décadas de 20 e 30, quando valores éticos se submetiam a visões e interesses questionáveis.

            Ajudou a Revolução de 1930, apoiando a Aliança Liberal. Mas, dois anos depois, sua adesão à Revolução Constitucionalista o levaria ao exílio.

            Suas incursões diretas na política datam dos anos 50, quando foi eleito senador pela Paraíba e pelo Maranhão em pleitos discutíveis. Renunciou ao mandato maranhense para ocupar o cargo de Embaixador do Brasil na Inglaterra.

            Marcou época com uma estratégia empresarial pouco ortodoxa e recriminada pela concorrência: a de pressionar anunciantes e não anunciantes, aqueles para continuarem a prestigiar seus veículos financeiramente, estes para concordarem em aderir ao primeiro grupo. Os ataques e insultos eram tantos que o industrial Francisco Matarazzo ameaçou "resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta". Chateaubriand devolveu: "Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo".

            Embora professando certa amoralidade e apesar de se mostrar inimigo de figuras como Rui Barbosa e Rubem Braga, conseguiu manter-se amigo e respeitado por centenas de eminentes personalidades, entre as quais Rodrigues Alves, Alexander Mackenzie e Getúlio Vargas. De qualquer forma, sempre demonstrou ser inquieto e empreendedor na busca de inovações tecnológicas para os jornais e emissoras de sua propriedade.

            Há quem o diga, com justeza, “pai da televisão brasileira”, em decorrência de haver instalado, em setembro de 1950, a primeira emissora do Brasil, a PRF-3 TV Tupi Difusora, Canal 3, em São Paulo. Seguiu-a a PRG-3, Canal 6, também denominada Tupi, no Rio de Janeiro, no início de 1951. Ao inaugurar a de São Paulo, Chateaubriand exclamou: "Vamos saudar a inauguração do mais subversivo instrumento da comunicação deste século!"

            Com toda a energia, dedicou-se a intenso trabalho de integração nacional. Tanto que, em março de 1941, lançou a Campanha Nacional de Aviação, com o lema "Dêem asas ao Brasil". Foi outro marco histórico do seu pioneirismo, patente também nas campanhas em favor da redenção da criança, redemocratização da aviação civil, mecanização da lavoura e aprimoramento da pecuária, melhoria do café brasileiro e incentivo às artes, além de fóruns e simpósios promovidos para debater importantes questões nacionais.

            A par de sua melhor biografia, contida no livro de Fernando Morais intitulado “Chatô - O Rei do Brasil”, quem com ele conviveu assim o descreve:

            Era cognominado de O Velho Capitão. Olhos profundos, brilhantes, vivíssimos. Testa alta, sobrancelhas cerradas. Cabelos bastos atirados para trás. Estatura baixa e compleição forte. Fala cativante e fácil. Gestos rápidos. Andar firme, ligeiramente inclinado para frente. Memória prodigiosa. Grande facilidade de expressão, de comunicação. Irrequieto e fecundo. Personalidade contraditória, de gestos imprevisíveis. Criador e devastador. Renovador e demolidor. Organizador e boêmio. Lírico e crítico. Pioneiro de muitas obras. Temperamento rebelde, impetuoso, mas de charme cativante. Nos seus altos e baixos, os momentos de rompantes e os de ternura. Ora agressivo, ora manso, humilde. De paixões ardentes. Sem método para as coisas temporais. Semeador de cultura e de unidade nacional. Vida intensa, fabulosa, tumultuária. Homem orquestra. Jornalista, antes de tudo. Pregador do civismo. Líder e irmão. Inventivo e debatedor de idéias novas. Homem de atividades múltiplas. Mesmo sexagenário e paralítico, mantinha o vigor intelectual de um jovem. Homem dos contrates. De comportamento, muitas vezes, infantil. Um semeador. Um clarividente. Um gênio. Uma figura à frente de seu tempo, que merece ser estudada e aprofundada na sua vida e na sua obra.

            Irreverente e voluntarioso, protagonizou, durante o Estado Novo, um episódio lendário. Separou-se da esposa e conseguiu de Vargas a promulgação de um decreto para obter direito à guarda da filha. Foi então que teria pronunciado a frase célebre: "Se a lei é contra mim, vamos ter que mudar a lei".

            Sob sua supervisão, os Diários Associados publicaram mais de 11.870 artigos assinados, além de matérias que significaram abertura de caminhos para escritores e artistas até então praticamente desconhecidos, como Anita Malfatti, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Graça Aranha e Millôr Fernandes. Aliás, sua predileção pelas artes ficou patente, em 1947, com a fundação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), ao qual outorgou enorme coleção de pinturas e esculturas de grandes mestres, adquiridas a bom preço na Europa combalida pela II Guerra Mundial.

            Em 10 de agosto de 1967, entregou à Fundação Universidade Regional do Nordeste (hoje UEPB) o primeiro acervo do Museu Regional de Campina Grande, na Paraíba. Composta de 120 peças, a coleção com o seu nome acabou motivando a mudança de denominação da própria entidade para Museu de Artes Assis Chateaubriand.

            Trabalhou incessantemente até lhe findar a vida, mesmo após a trombose sofrida em 1960, que o deixou paralisado e obrigado a comunicar-se através de uma máquina de escrever adaptada. Ao falecer, teve o corpo velado entre dois quadros: um cardeal de Velázquez e um nu de Renoir. Seu braço direito nas atividades de mecenas - o arquiteto italiano Pietro Maria Bardi, primeiro presidente e curador do MASP - esclareceu que a cena representava as três coisas mais amadas pelo “Velho Capitão”: o poder, a arte e a mulher nua.

            Seu império fragmentou-se em grande parte, coincidentemente com a ascensão de outros notáveis grupos de mídia. Mas, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, o controverso e realizador empresário, conseguiu selar sua obra, fazendo-a imperecível ao legá-la a um grupo de fiéis funcionários. Assim, seu espírito continua presente em importantes órgãos como o Correio Braziliense, Estado de Minas, Diário de Pernambuco (o mais antigo diário em circulação na América Latina) e Jornal do Comércio (Rio de Janeiro), entre muitos outros. Isto sem mencionar as emissoras de rádio e TV.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é essa a vida venturosa e aventurosa que reverenciamos hoje, como preito do Senado da República àquele ex-Senador e cidadão ímpar.

            Era o que me cabia comunicar.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 9928