Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre o aumento dos preços dos alimentos, as mudanças climáticas e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar as taxas de juros.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.:
  • Reflexão sobre o aumento dos preços dos alimentos, as mudanças climáticas e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar as taxas de juros.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 10042
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, CLASSE PRODUTORA, CLASSE POLITICA, DECISÃO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), AUMENTO, TAXAS, JUROS, ALEGAÇÕES, CONTROLE, INFLAÇÃO, SUPERIORIDADE, PREÇO, ALIMENTAÇÃO, ANALISE, INJUSTIÇA, NOTICIARIO, AMBITO INTERNACIONAL, ACUSAÇÃO, BRASIL, RESTRIÇÃO, OFERTA, ALIMENTOS, OCUPAÇÃO, TERRAS, CULTIVO, OBJETIVO, PRODUÇÃO, ALCOOL, Biodiesel, JUSTIFICAÇÃO, INFERIORIDADE, AREA, CANA DE AÇUCAR.
  • AVALIAÇÃO, ALTERAÇÃO, CLIMA, MUNDO, SECA, INUNDAÇÃO, DESTRUIÇÃO, SAFRA, DECISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SUBSTITUIÇÃO, AGRICULTURA, MILHO, CULTIVO, MATERIA-PRIMA, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, EFEITO, PREÇO, MERCADO INTERNACIONAL, ALIMENTOS.
  • COBRANÇA, GOVERNO, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS, OBJETIVO, CONTROLE, INFLAÇÃO.

A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna hoje para tratar de assuntos aparentemente contraditórios entre si: o aumento dos preços dos alimentos, as mudanças climáticas e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic em 0,5%, contrariando a expectativa do mercado e de especialistas.

Os jornais brasileiros afirmam que a decisão não foi bem recebida nem pelos políticos do Governo nem pelos da oposição e que o Banco Central poderia ter esperado mais e mantido a Selic no mesmo patamar.

A jornalista Míriam Leitão afirma, em sua coluna de hoje, que uma das preocupações do Copom tem sido a inflação provocada pelos preços dos alimentos, que vem refletindo no índice inflacionário do País. Em sua coluna, Míriam Leitão informa que o trigo está 227% mais caro hoje do que estava há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2006. A soja, no mesmo período, subiu 132%, e o milho, 157%. O arroz dobrou de preço em três meses.

O noticiário internacional enfoca que a alta dos preços dos alimentos deu origem a um descabido ataque contra a produção do etanol e de biocombustíveis em geral, produzidos no Brasil. O argumento é de que sua produção restringe a oferta de alimentos ao ocupar terras e outros recursos antes destinados à produção destes últimos.

O peso da produção de biocombustíveis na alta de preços é sensível, mas não é o mais importante. Estima-se, por exemplo, que somente 2% da área de produção de trigo no mundo esteja sendo usada para biocombustíveis.

Existem vários fatores que estão influenciando nesse aumento de preços. Os Estados Unidos da América estão diminuindo o cultivo de milho em favor da produção de biocombustíveis. Isso está aumentando, consideravelmente, o preço desse produto em mais de 100%, e, conseqüentemente, aumentando também o preço da carne, já que as suas rações contêm milho.

A partir daí, toda a cadeia de preços está sendo afetada, ao refletir no preço final de uma série de produtos derivados, inclusive o leite.

Por causa do desequilíbrio ambiental no mundo, o aquecimento global e o aumento de tempestades e inundações estão destruindo colheitas e inundando algumas das regiões mais férteis do globo.

A situação é grave e tende a piorar ainda mais num futuro próximo. Se em países desenvolvidos uma família gasta apenas 10% dos seus rendimentos em alimentos, nos países em desenvolvimento essa percentagem pode ascender aos 80% ou mais!

Peço, portanto, uma reflexão sobre a gravidade que pode ter esse conjunto de fatos para as famílias mais pobres de nossa sociedade.

Com o aumento dos preços do trigo e do milho, essas famílias terão que, simplesmente, diminuir pela metade a quantidade de alimentos que consumiram em 2007.

Os dados são impressionantes, e a armadilha na qual o mundo entrou é difícil de desarmar. Há problemas ocasionais com uma ou outra cultura, como sempre acontece na agricultura. Mas, no momento, há uma soma de problemas, uma conjuntura nada simples e nada temporária.

A terra, exaurida pelo mau uso, pela devastação, responde com reações climáticas extremas e perda de área produtiva.

Foi assim na Austrália, que sofreu secas em série. O Canadá perdeu parte da safra de trigo em 2007. A China enfrenta chuvas ácidas e desertificação. No nosso País, temos temporais no Nordeste e secas no Sul.

Se, no Brasil, a cana-de-açúcar ocupa uma parte pequena da área plantada, nos Estados Unidos, o etanol de milho compete diretamente com a alimentação.

A pressão por novos combustíveis renováveis e os danos previstos à produção agrícola, por causa do aquecimento global, significam que os preços dos alimentos devem permanecer altos.

Com a elevação dos índices de preços dos alimentos, o fantasma da inflação pode voltar a rondar a economia.

A falta de ação do Governo Federal no controle dos gastos públicos, acrescidas de medidas fiscais de cunho simplesmente arrecadatórias, além de políticas populistas e eleitoreiras, forçam o Banco Central a adotar medidas rígidas, como o recente aumento da taxa Selic em 0,5%, para controlar uma possível volta da inflação, protegendo, assim, as classes menos favorecidas.

Sr. Presidente, é, sem dúvida nenhuma, muito, muito desconfortável para mim, que sou Oposição, estar aqui hoje quase que justificando a alta da Selic em 0,5%. Mas acreditamos, pelo que aqui colocamos em relação aos gastos públicos desmedidos em ralos que já encontramos nas ONGs, nos cartões corporativos, nas viagens intempestivas e sem necessidade, nas despesas de toda a ordem, que a única âncora que nos assegura manter a estabilidade tão duramente conquistada pela sociedade brasileira ainda é o Banco Central.

Ainda assim, neste momento, estamos duramente entristecidos com esse aumento de taxas de juros, principalmente no momento em que o País já sonhava estar entre aqueles países que levam a sério a condução da coisa pública e, principalmente, entre aqueles países que desejam dias melhores para as futuras gerações.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 10042