Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória de Luis Eduardo Magalhães, falecido em 21 de abril de 1998.

Autor
César Borges (PR - Partido Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de Luis Eduardo Magalhães, falecido em 21 de abril de 1998.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 10071
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LUIS EDUARDO MAGALHÃES, EX-DEPUTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. CÉSAR BORGES (PR - BA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o dia 21 de abril tem sido uma data particularmente trágica da nossa história. Lembramos sempre de um país que poderia ter sido e que não foi.

Temos o enforcamento de Tiradentes, que buscou nossa independência com base nos valores republicanos, muitos desses valores ainda frágeis no país; temos o calvário de Tancredo, que construiu o caminho para uma democracia que ainda se consolida na sua vertente social e cidadã.

Mais recentemente, a precoce perda do nosso querido Luis Eduardo Magalhães, a quem quero homenagear especialmente, agora que se completa 10 anos de sua morte. Naquele momento, desaparecia uma ponte para um país mais moderno.

Claro que o 21 de abril não é uma data apenas de frustração para os brasileiros, porque também é o momento de tomarmos o exemplo dos nossos heróis para seguirmos em frente.

E quantos bons exemplos nos deixou aquele jovem e promissor líder político, o mais promissor de sua geração, que, num 21 de abril de 1998, surpreendeu a todos nós com sua morte repentina!

Uma morte que ceifou uma carreira meteórica iniciada na Assembléia Nacional Constituinte e que, em menos de 10, o levou à presidência da Câmara dos Deputados, onde se notabilizou como um líder firme mas democrático das grandes reformas do Brasil.

Naquele abril de 1998, Luis Eduardo se preparava para disputar a eleição de governador como candidato de um leque de alianças que parecia impossível à Bahia, mas que seu pendor para o diálogo viabilizou.

Quando vemos hoje um Brasil carente de lideranças, quando procuramos em volta por um sucessor para o presidente Lula, alguém que seja capaz de dar um giro a mais na Roda da História, alguém capaz de garantir um novo patamar para o crescimento que o país vive, nos defrontamos também com a falta de Luis Eduardo.

Como Líder e como Presidente da Câmara, foi Luis Eduardo quem tocou as reformas dos anos 90, usando seu talento pessoal, sua habilidade, sua coragem, mas sobretudo a sua credibilidade, credibilidade que só tem aquele que crê no que está propondo.

O que Luis Eduardo falava não tinha a evanescência das palavras fáceis, ele não dizia por dizer, mas por entender que aquilo era o certo; Luis Eduardo falava com a ênfase da convicção. Na sua ausência, as reformas fracassaram.

Como Luís Eduardo nos faz falta! Vejam quanto o país necessita de uma Reforma da Previdência, iniciada mas nunca completada, para não falar da Reforma Tributária, que retorna agora para votação no Congresso.

Tenho certeza que, se vivo fosse, Luís Eduardo teria continuado com sucesso a reforma do Estado brasileiro, usando para isto a sua capacidade de convivência com os contrários, capacidade que permitiu a ele deixar amigos em todos os partidos.

E por que ele conseguiu ampliar seu diálogo para além da fronteira ideológica, indo até os mais extremos adversários, ainda que nunca abandonasse suas convicções pessoais?

Eu vou responder com uma síntese muito pertinente que o senador Heráclito Fortes fez, aqui neste plenário, das características de Luis Eduardo.

Disse o senador que Luís Eduardo possuía três grandes credenciais: a primeira delas, a credibilidade. A segunda, a capacidade de ouvir. A terceira sua força de agregação.

Estas características nos fazem lembrar também o que disse o então senador Artur da Távola: “Luís Eduardo - disse Távola - foi um liberal moderno. (...) Um liberal moderno não é o reacionário do meu tempo. Nem o capitalista selvagem que aprendi a conhecer e combater. (...) O liberal moderno é um homem capaz de compreender, na profundidade do fenômeno político, a importância das alianças como base indispensável ao avanço".

Mas, quem foi esse liberal moderno, que muitos viram como um sucessor do presidente de Fernando Henrique, mas que as novas gerações não conheceram?

Para mim, foi um líder de idéias adiante do seu tempo, idéias que apenas agora se tornaram senso comum em nossa sociedade, graças à democracia que permitiu a um partido de origem sindical conquistar o poder para confirmar as hipóteses que combatia.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a inclinação reformista de Luis Eduardo Magalhães já se manifestara desde os primeiros anos da década de 80 do século XX, ainda como um jovem deputado estadual, quando pregava a abertura de mercado e a diminuição da presença do Estado na economia.

Ao chegar à Câmara como Deputado Constituinte já pregava a reforma do sistema bancário e a reforma da previdência, apontando os caminhos necessários ao país, ainda que difíceis.

Sua preocupação com a inflação o fazia defensor do controle fiscal rigoroso. Por isto, criticava o déficit público, em 94: “Considero um absurdo buscar o equilíbrio fiscal transferindo, mais uma vez, a conta para o trabalhador", disse ele. A conta era o nefasto imposto da inflação.

Em 1997, ao pedir uma verdadeira reforma fiscal, Luis Eduardo lembrou a luta do professor Mário Henrique Simonsen no combate ao que chamavam, ambos, de “câncer fiscal”.

Disse Luis Eduardo: “Que este Congresso Nacional, urgentemente, vote e aprove as reformas nesse terreno - única forma consistente de combater a miséria e o desemprego - para que a luta do professor Simonsen chegue à racionalidade e objetividade que perseguiu durante toda a vida e possamos construir um Brasil melhor".

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quero destacar que o liberal moderno que citei há pouco também estava convencido de que o país precisava de políticas sociais consistentes, precisava de cidadania.

As idéias sociais de Luís Eduardo se consolidaram junto com seu pensamento reformador político-econômico. Foi assim que ele tornou-se defensor ardoroso do papel da educação para nosso país.

Durante a campanha a governador, nos primeiros comícios que ainda chegou a fazer, ele deixou vários caminhos inovadores, muitas boas idéias, que incorporei no governo que acabei herdando, especialmente na redução da pobreza.

Srªs. e Srs. Senadores, o que assistimos hoje é a vitória das idéias que Luís Eduardo pregou na Constituinte de 88 e que muitas vezes foram confundidas com conservadorismo. Hoje se comprova o acerto, se reconhece que não havia e não há outro caminho para o país.

Hoje, quando as necessidade de reformas trabalhista, da previdência e tributária são consenso no Brasil, quando o combate à inflação se tornou um compromisso de todos os governos brasileiros, o legado deixado por Luís Eduardo fica ainda maior.

Hoje há um coro de vozes onde ontem ele discursou para uma platéia vazia.

Mas este também é um momento de muita emoção porque será o primeiro 21 de abril, desde a sua morte, que não estará entre nós o senador Antonio Carlos Magalhães, pai e maior fã de Luis Eduardo.

É na ausência de Antonio Carlos Magalhães que aumenta nossa responsabilidade de fazermos lembrar o sonho de Luis Eduardo por um país menos cartorial, mais justo, mais organizado, capaz de valorizar e premiar o esforço dos mais dispostos mas também de socorrer os mais fracos.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 10071