Discurso durante a 57ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao Aposentado do Serviço Público.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Aposentado do Serviço Público.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2008 - Página 10262
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, APOSENTADO, SERVIÇO PUBLICO, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PARTICIPAÇÃO, SESSÃO ESPECIAL, ELOGIO, PAULO PAIM, EMPENHO, DEFESA, CLASSE, REGISTRO, DIFICULDADE, TRAMITAÇÃO, MATERIA, AUTORIA, CONGRESSISTA, ESPECIFICAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, COMENTARIO, HISTORIA.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Vou revelar o comentário que o Senador Mão Santa fez aqui ao me cumprimentar. Disse que o meu Botafogo venceu o Fluminense dele. Mas é da vida, Senador Mão Santa.

Senador Paim, Srs. Parlamentares, senhoras e senhores aposentados, eu queria, Paim, antes de mais nada, lhe dar os parabéns pela sua sensibilidade em compor essa Mesa, com mulheres, bravas mulheres deste País. Não é? Nesta Casa, via de regra, quando se compõe uma Mesa, é homem de ponta a ponta. Negócio de doido! E o Paim, com a sensibilidade dele, trouxe esses brotos aqui. Não é? (Palmas.)

Minha assessoria me preparou um discurso para hoje. Nada errado nisso. Apropriado. Quando pretendemos fixar idéias sem fugir do roteiro, é muito apropriado nos valermos de um texto elaborado pela nossa assessoria. Mas, Paim, hoje deixei para lá, porque hoje quero fixar sentimento aqui, Senador Agripino, fixar idéias. Olha, aqui não estamos para inventar a roda. Fixar idéias? As idéias estão fixadas nesta Casa.

É uma questão até de justiça dizermos isso na presença de um líder como o Senador José Agripino, cuja popularidade o Senador Mão Santa revelou há pouco aqui. Em outro Estado, ele foi receber uma homenagem e detectou a popularidade de um líder como o Senador José Agripino.

Mas, olha, quero dizer que fixar idéias nesta Casa - não estamos aqui para inventar a roda -, idéias com relação à luta pelos trabalhadores brasileiros, pelos aposentados, por aqueles que às vezes não têm voz para se manifestar nesta Casa... As idéias estão sendo traçadas, delineadas, fixadas pela bravura, pela dignidade, pela coragem do Senador Paulo Paim nesta Casa. (Palmas.)

A gente apenas se soma ao esforço dele.

A gente apenas faz o volume.

Olha, uma das coisas que me doeu mais nestes últimos tempos, quando recrudescemos a luta pelo fim do fator previdenciário, pela equiparação do reajuste dos aposentados a partir do reajuste do valor do salário mínimo e outras lutas, quando recrudescemos essa luta aqui, houve um colega nosso, inclusive, que ameaçou fazer não uma greve de fome, mas uma greve de banho - o Senador Mário Couto, quero lembrar o nome dele. Tenho certeza de que ele não estaria só nessa parada. Mas quando a gente...

Eu estava dizendo que fiquei triste quando, nestes últimos 30 dias, em que a coisa foi num crescendo aqui nesta Casa, eu abria a minha caixa de e-mail. Com relação a mim, eu não ficava triste, não. Mas, às vezes, as pessoas mandam e-mails para todos os Parlamentares. Abri um e-mail em que alguém dizia - acho que ele, hoje, deve estar se penitenciando -: “Como é, Paim, vai ficar só no blá, blá, blá?”; “O Paim está enganando os aposentados”. Rapaz, aquilo me doía, porque as pessoas, às vezes, não compreendem o processo que está em curso, o processo que se inicia. É o uso intensivo da palavra, o uso intensivo da palavra. Aqui, fizemos o uso intensivo da palavra para que o assunto fosse fixado no plenário desta Casa, até a exaustão. Quando esse uso da palavra tem o propósito de fixar o assunto, de se transformar num aríete que vai ferir de morte a resistência daqueles que não suportam - e é muita gente neste País -, que não suportam qualquer movimento, qualquer luta em favor da justiça social, da igualdade de oportunidades neste País... (Palmas.)

A palavra, o valor da palavra, o valor da dignidade, o valor de uma história de luta... Não é? Então, não vim aqui hoje fixar a idéia, porque a idéia está fixada. Vim fixar sentimentos.

Sou servidor público federal. Em dois, três ou quatro anos, estarei também me aposentando. Sou membro de uma corporação importante neste País, Procuradores da Fazenda Nacional. E faço questão de dizer corporação mesmo.

Assisti, um dia, a uma palestra de um outro cidadão digno e decente do PT, Deputado Walter Pinheiro, lá da Bahia. E ele dizia o seguinte: “Não há nada de errado, não há mal em defendermos nossas corporações. Não devemos é defender corporations”. E aquilo fixou na minha cabeça. A partir daquele momento, eu que não tinha muito nítido na minha cabeça a questão de pertencer a uma corporação, a questão de defender uma corporação, hoje eu defendo, hoje eu falo: é a minha corporação mesmo. Vou me aposentar daqui a mais alguns anos. Na próxima sessão que realizarmos aqui, ou nas próximas, eu estarei aí na condição de aposentado também.

Este País é um país onde conquistamos muitas coisas. A democracia. A gente enche a boca: conquistamos a democracia. Verdade. Em alguns aspectos, ela é extremamente positiva, e devemos valorizá-la. Devemos perseguir o seu aprimoramento.

Mas este é um País... A gente fala democracia, aí me vem à mente a questão das oportunidades. Este é um País da democracia política e da ditadura econômica. É um contra-senso. É uma coisa que, às vezes, se você não tiver muita segurança, você balança, porque você olha para uma ostensiva mansão - vamos nos fixar aqui em Brasília -, ali no Lago Sul. Aí, você volta os olhos para um modesto barraco, ali no Varjão. Isso é a cara do nosso Brasil ainda. O Brasil, que ostenta o título de uma grande democracia política, esconde, tem vergonha de falar da ditadura econômica em que nós vivemos.

A grande maioria do povo brasileiro ainda é submetida a uma severa ditadura econômica. Alguém pode dizer: “Ora, Geraldo, eles tiveram a mesma oportunidade, o cidadão que mora na mansão do Lago Sul e o cidadão que mora lá no Varjão”. Mentira deslavada! Mentira deslavada! Coisa nenhuma!

Estava ali sentado do lado de um companheiro que relatava uma outra injustiça inominável que se comete neste País. Ele estava me dizendo: recolhi 41 anos de contribuição à Previdência e me aposento. Quando acho que vou usufruir daquilo pelo que paguei, eu me vejo forçado a continuar recolhendo 11% de contribuição à Previdência. E por aí vai.

Senador Buarque, larguei o curso de Economia uma vez, muito novo ainda - em termos. Foi na década de 70, e larguei porque em uma das matérias o professor introduziu na disciplina - iniciou a discussão, em sala de aula - a teoria da escassez dos recursos. E eu entrei na discussão: professor, não existe escassez; existe a má distribuição de recursos, existe a má gestão de recursos. E foi um pega na sala de aula. Eu vi que não ia ter sucesso no curso, até porque, com uma profissão que tenta colocar na minha cabeça que os recursos são escassos, eu não posso conviver pacificamente. Larguei. Larguei o curso, inconformado

Porque, para mim, os recursos não são escassos; eles são mal distribuídos, eles são mal geridos, eles são alvo da corrupção, eles são alvo do desperdício. Escassos coisa nenhuma! Precisamos é distribuí-los melhor; precisamos é conquistar no nosso País certezas, equilíbrios para pessoas que passam a vida inteira trabalhando, cumprindo regras, algumas até draconianas, e chegam ao final da vida com aquela expectativa e se vêem numa situação de redução de seus vencimentos, e continuam pagando uma contribuição que ninguém em sã consciência consegue justificar para mim por que eles têm que continuar a pagar.

Então, é por isso que eu disse que queria, hoje, não fixar a idéia, porque ela já foi fixada. A idéia está aí! É a gente se unir mesmo numa corrente forte. Em que pesem as críticas que tenha recebido, esta Casa mostrou uma extrema sensibilidade, extrema sensibilidade, com os anseios, com os sentimentos dos trabalhadores, dos trabalhadores aposentados. E nós, trabalhadores públicos, temos nossos fatores previdenciários também, Paim, temos os nossos pedágios. O que é o pedágio, Paim, para o servidor público? Equivale ao fator previdenciário para o trabalhador privado.

É um país em que o status quo está sempre procurando estabelecer mecanismos como esse fator previdenciário. Ô coisa cruel essa história de fator previdenciário! É um negócio cruel! Há sempre aqueles que estão ou se acham em condições de estabelecer regras para a grande maioria, e as regras são sempre nesse sentido. Costumo dizer que, neste País, há o conjunto de trabalhadores, há o conjunto de empresários, há o conjunto de banqueiros, há o próprio Estado - o Governo, como normalmente chamamos - e, via de regra, só quem é chamado para pagar a conta do sacrifício é o trabalhador brasileiro. Em regra, é assim.

O Senador Cristovam Buarque é um advogado da causa da educação. É necessário, de fato, que todos nós sejamos advogados da causa da educação, porque é a maneira mais consistente, a maneira que não tem volta, de o conjunto da população brasileira perceber as armadilhas em que está metido, as enganações a que está submetido, para que se arvore e assuma o seu próprio destino. Só o conhecimento, só a educação... Não digo só, mas sobretudo o conhecimento e a educação mostrarão ao povo brasileiro que ele é dono do seu próprio destino, que ele pode, em detrimento da vontade de alguns poucos que ditam as regras neste País, tomar as rédeas em suas mãos e mudar o destino do País, estabelecer regras justas, estabelecer condições que não deixem as pessoas sobressaltadas, Paim.

Ô coisa injusta neste País essas regras que mudam de tempos em tempos e vão deixando as pessoas exasperadas e sobressaltadas. Ninguém tem mais segurança jurídica neste País, porque sabe que a qualquer momento, a pretexto de compor o superávit fiscal, o Governo pode lançar mão disso, lançar mão daquilo, jactando-se, rindo, inclusive, de sua grande base de sustentação neste Congresso Nacional, que tudo aprova, que tudo carimba, que tudo referenda, em nome da continuidade de um Governo que tem lá seus méritos, mas, como os demais, tem pecado muito em relação a uma grande faixa de pessoas que trabalharam a vida inteira neste País e àqueles que continuam a trabalhar, Paim, os trabalhadores em geral.

Senador Cristovam Buarque, concedo com muito prazer um aparte a V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Geraldo Mesquita, agradeço muito que tenha me concedido este aparte, porque eu não pude chegar aqui no começo da cerimônia, porque temos uma sessão, toda terça-feira de manhã, da Comissão de Educação que acabou neste minuto. Mas não poderia deixar de passar aqui para cumprimentar o Senador Paulo Paim, essa grande figura, por esta solenidade. Quero cumprimentar cada um dos que estão aqui presentes também, dizendo que um País tem que cuidar pelo menos de três coisas, entre muitas outras: das suas florestas, dos seus velhos e das suas crianças. As florestas simbolizando todo o patrimônio que um País tem, que é de seu conjunto; os velhos porque é uma dívida que o País contraiu e tem que pagar; e as crianças, porque, se não cuidarmos delas, ninguém vai pagar as dívidas dos velhos. São eles que vão crescendo e são capazes de fazer o Brasil crescer o suficiente para pagar tudo aquilo que nos vai ser devido quando chegarmos a uma certa idade. Por isso, eu e o Paim trabalhamos sempre juntos, como uma espécie de pacto dos velhinhos com as criancinhas. Apóio o Paulo Paim na sua luta incansável pelo problema da aposentadoria em todos os aspectos trabalhistas e ele tem apoiado sempre, como o Senador Geraldo Mesquita agora mesmo falou, a necessidade de este País fazer a revolução na educação, no que é preciso. Ninguém vai conseguir segurar a aposentadoria da nossa geração se não colocarmos as crianças de hoje na escola para que, quando adultas, tenham eficiência na sociedade, na economia, capaz de não apenas cumprir e devolver a nós tudo aquilo que contribuímos, mas ter competência para administrar esse fundo de recursos que é o fundo com que contribuímos todos os meses. Então, eu vim aqui, Senador Paulo Paim, para dizer da minha satisfação em ver esta solenidade, em ver esta Casa cheia, para manifestar a minha solidariedade pela luta de cada um de vocês, que mais dia, menos dia será a minha também pela aposentadoria e pedir que estejamos juntos nesse grande pacto dos velhinhos com as criancinhas, sem o que não vale a pena o Brasil ter futuro, sem o que não haverá futuro.

O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Cristovam.

Eu me atrasei ao chegar aqui nesta importante sessão porque estava junto com outros companheiros, Magno Malta, Demóstenes Torres, participando da oitiva de um juiz e de um promotor de um Município de Goiás, na CPI da pedofilia. Acreditem, senhores, o juiz e o promotor estavam relatando um caso bárbaro, o envolvimento do próprio prefeito. Isso não é mais nem quadrilha, isso é um bando. Chefe de um bando que molestava crianças de 12, 13, 14 anos de idade. Eu vim de lá, atrasei-me porque o tema era palpitante, era a criança, como diz o Senador Cristovam, portanto, crianças. E aquelas pessoas de cabelo grisalho, de cabelo branco... Se este País se compenetrasse, e deve se compenetrar um dia, Senador Buarque, de que essas duas pessoas devem merecer o nosso respeito, o nosso cuidado, o nosso zelo, este País seria muito melhor no futuro.

Faço aqui uma homenagem às senhoras e aos senhores e digo que as conquistas são lentas porque as resistências são enormes, são grandes. Às vezes aqui, dá vontade, não digo de jogar a toalha, mas dá um desânimo. Mas vocês sabem onde a gente se segura? A gente se segura na grandeza. Tem resistência lá e tem resistência aqui também. Na grandeza, na resistência, na perseverança, na garra, na fibra do Senador Mão Santa, meu irmão mais velho neste Congresso, e sobretudo do Senador Paulo Paim, a quem rendo homenagem. Vou dizer pela centésima vez o que penso de S. Exª: é aquele Parlamentar que está aqui, no Congresso Nacional, defendendo causas e não coisas. Há gente aqui defendendo coisas. O Senador Paulo Paim defende causas no Congresso Nacional (Palmas).

S. Exª é um grande farol a nos atrair, a nos puxar para a defesa dessas causas. Vou dizer-lhes algo: um dos momentos em que me sinto mais feliz no Senado Federal é quando tenho o privilégio, a oportunidade de me envolver em causas defendidas por Senadores. E há gente aqui da maior qualidade, que já citei em outra ocasião, como o Senador Cristovam Buarque, meu irmão mais velho Senador Mão Santa, o Senador José Agripino, o Senador Augusto Botelho. Há gente da melhor qualidade no Senado Federal.

Digo-lhes para encerrar: um dos momentos mais felizes que nós temos é quando temos o privilégio, a oportunidade de nos envolver entre nós com as causas que muitos aqui defendem, causas justas, causas nobres, causas em defesa da população brasileira, causas em defesa dos trabalhadores brasileiros. E temos como ponto de lança de todos nós - e tenho certeza absoluta de que falo em nome de todos os Parlamentares - o Senador Paulo Paim, exemplo, dedicação de um Parlamentar que está a vida inteira - a vida inteira! - defendendo causas no Congresso Nacional.

Desculpem-me por me ter alongado.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2008 - Página 10262