A SRª PATRÍCIA SABOYA (PDT - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acaba de completar 50 anos de fundação uma das mais importantes emissoras de rádio de Fortaleza e do Ceará. É a Rádio Dragão do Mar, de grande audiência e detentora de uma história política extremamente interessante. Com efeito, a Rádio Dragão do Mar entrou no ar no dia 25 de março de 1958, fundada sob a inspiração do Partido Social Democrático que então fazia oposição ao governo cearense. Imprimiu imediatamente a sua linha jornalística um forte tom político, que se tornaria um marco nos tempos seguintes.

Embora o PSD fosse por definição um partido conservador, bastante ligado aos interesses agrários, os criadores da Rádio Dragão do Mar perceberam imediatamente a possibilidade de intensificar as relações da emissora com o cotidiano de Fortaleza à medida em que atuava como articuladora de novas práticas sociais. Com efeito, procurou-se dar à Dragão do Mar o papel de impulsionadora de novos hábitos e costumes e criadora de espaços de sociabilidade e de prática política.

Como mostra interessante dissertação de mestrado, defendida na Universidade Federal do Ceará por Ana Elisabete Freitas Jaguaribe, a Rádio Dragão do Mar tornou-se dessa forma um veículo de divulgação dos ideários do nacional desenvolvimentismo, sintonizando o Ceará com as questões que diziam mais de perto ao Brasil da virada dos anos 50 e 60, servindo de ponte entre o país moderno que se fortalecia e o Ceará rural.

Não por acaso, a tese se intitula Labaredas do Ar. A emissora adotou forte tom de renovação de costumes, inclusive de práticas políticas. Sua programação musical trazia o que de mais moderno surgia no país, naqueles tempos de Bossa Nova. Seus programas de música popular fizeram época, iniciando uma tradição que se estende até os dias atuais. No entanto, a Rádio Dragão do Mar investiu muito na cobertura jornalística, o que constituía antes exceção do que regra entre as emissoras.

Fez coberturas memoráveis, abordando temas polêmicos como as reformas de base, a reforma agrária, a seca de 58, o acidente do Orós. Aderiu à Cadeia da Legalidade, que garantiu a posse do vice-presidente João Goulart, contestado por grupos militares. Tudo isso aproximou a Dragão do Mar do povo.

Teve, porém, um custo político. Ao ocorrer o golpe militar de 64, a emissora foi simplesmente fechada. O regime não suportou a cobertura crítica da Rádio Dragão do Mar. Incidentes se repetiriam ao longo dos anos.

Não foi apenas a combatividade política que marcou, e marca até hoje, o estilo da Dragão do Mar. Foi inovadora em muitas outras áreas. Além dos musicais, investiu no radioteatro. Suas radionovelas tinham imensa repercussão, especialmente nos bairros menos favorecidos e nos municípios menores alcançados pelo sinal da emissora. Também a cobertura esportiva alcançou sempre um público fiel, em permanente expansão.

Hoje, a Rádio Dragão do Mar permanece como um dos grandes patrimônios da cultura e do jornalismo. Seu cinqüentenário representa motivo de orgulho e de inspiração para todos nós que amamos Fortaleza e o Ceará. Seria difícil, entre tantos talentos que marcaram a emissora durante todos esses anos, destacar um ou mais nomes, até para evitar injustiças. Homenageio a todos, como construtores desse patrimônio cearense.