Discurso durante a 64ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Quadragésimo Oitavo Aniversário de Brasília.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Quadragésimo Oitavo Aniversário de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2008 - Página 10983
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COMENTARIO, HISTORIA, NOVA CAPITAL, REGISTRO, PIONEIRO, MUNICIPIO, TERESINA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), PLANEJAMENTO, CAPITAL DE ESTADO, INTERIOR, SEMELHANÇA, NECESSIDADE, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL.
  • HOMENAGEM, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), LEITURA, TRECHO, DISCURSO, SAUDAÇÃO, ORADOR, MIGRAÇÃO, POPULAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), DESENVOLVIMENTO, NOVA CAPITAL, COMENTARIO, RECEBIMENTO, COMENDA, CENTENARIO, EX PRESIDENTE.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Adelmir Santana, como são muitas as autoridades presentes, peço permissão para saudá-las todas, porque poderia esquecer alguns nomes, o que, mesmo involuntariamente, seria imperdoável. Quero, então, saudar todas as autoridades e iniciar este pronunciamento lembrando algo que disse Pascal, e que aprendi na infância: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Saúdo, então, todas as lideranças na pessoa do nosso irmão camarada, o ex-Senador Paulo Octávio.

            Parlamentares presentes, meus senhores, encantadoras senhoras, brasileiros e brasileiras que nos assistem aqui e pelo sistema de comunicação do Senado Federal, agradeço ao extraordinário Senador Gim Argello, que me cedeu sua vez, porque tenho um compromisso numa comissão. Serei breve, mas tinha que estar aqui.

            Todos sabemos, mas nada melhor do que este folheto que saiu, por iniciativa do Governo Arruda, do Arquivo do Distrito Federal, sobre o sonho e sobre a história do nascimento de Brasília. Mas sou é do Piauí, e acho que isso começou foi lá, professor Cristovam, no Piauí. Só estou contrariado porque acho que Adelmir Santana é mais piauiense do que maranhense, nasceu foi em Uruçuí - é porque tinha cartório em Balsas, e ele foi ali e se registrou. Aliás, o nosso Estado, lutando por seus direitos, já lhe deu o Título de Cidadão Municipal e Estadual do Piauí. Então, S. Exª é nosso, e digo isso com todo respeito, porque sou filho de maranhense.

            Isso começou no Piauí, Cristovam. Eu sei de Dom João VI e tal, está muito bem inscrito aqui, estudei muito História, mas começou mesmo no Piauí. Teresina foi a primeira capital planejada deste País. Olhem as capitais do Nordeste: todas no mar - embora eu seja de uma cidade à beira-mar, no Piauí. Nós somos diferentes: cidade mesopotâmia, Teresina encravou-se no coração do Piauí - foi a primeira mensagem -, em 1852, que é bem antes de 1960. Padre Antônio Vieira disse que um bem nunca vem só. Então, com essa idéia, nasceu Goiânia, nasceu Belo Horizonte, nasceu Brasília e nasceu Palmas, mas tudo começou com essa decisão centralizadora, com a intenção de integrar. Assim como o coração está no meio do corpo, começou lá a primeira capital planejada. É aquela do Pascal, a que me referi: “o coração tem razões...”

            Mas e este homem? Este homem foi médico como eu, foi cirurgião de Santa Casa, prefeitinho, governador, cassado bem aqui. Foi um homem ímpar. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. Há tantos anos, tantos anos, desde Dom João VI, quase todas as Constituições traziam a idéia da criação da capital... Sou do tempo em que se estudava, e se estudava mesmo, porque este Brasil tinha boas escolas. O exemplo é lá de Itajubá, terra de boas escolas. Este Brasil era um Brasil organizado, constituído e sério. Vejam o exemplo dos que governaram, desde os governadores-gerais, estadistas, e chegando em Juscelino. Este País não se fez agora.

            Vou lembrar o acontecido num comício no interior de Goiás - comício, povo... O líder do meu partido, encantado no fundo do mar, disse: “Ouçam a voz rouca das ruas”. Tonico, homem do povo - por coincidência histórica, é cunhado do ex-Senador Maguito Vilela, nosso companheiro -, indagou de Juscelino: “V. Exª, se eleito for, vai obedecer a Constituição?”. A Constituição não, as Constituições, que já pregavam a criação da capital no interior do País. A nossa geração de brasileiros estudava, este País era organizado. Chegou um poeta a dizer: “Criança! Não verás país nenhum como este!”. Qual é o poeta que canta isso hoje? Atentai bem! Meditem!

         Tinha um quadradinho nos mapas, estudei vendo aquele quadradinho. Mas Juscelino disse: “Vou construir”, e mandou incluir isso em suas trinta metas, que todos nós lemos. Determinou ao Coronel Affonso Heliodoro dos Santos que incluísse a construção na meta-síntese. É a história de Brasília.

            O que é Brasília? Brasília é Brasil, é o símbolo maior hoje. De Brasília, todos nós somos orgulhosos.

            Deus já me permitiu, quando governei o Piauí, ir duas vezes a Washington, assinar um programa - naquele tempo, era PCBR; hoje é Programa de Combate à Pobreza Rural. Brasília é bem mais interessante do que Washington. Brasília é estudo, é qualidade. Mas Brasília - estou aqui e tenho que falar - é Piauí, porque tem trezentos mil piauienses aqui. O meu assessor botou o nome de três que ele acha importantes, mas não vou citá-los porque, para mim, todos os piauienses são importantes. São trezentos mil aqui!

            Aqueles que são como São Tomé, olhem um painel aqui. Bem aqui, temos escrito “Ordem e Progresso”. Isso foi feito por um zelador, que é do Piauí. Ele faz isso com um aspirador de pó. Tem uma bandeira aqui nesse tapete. É um piauiense que desenha isso quando faz a limpeza.

            São todos piauienses ilustres, inclusive os que meu assessor incluiu aqui e não vou citar. Todos são muito importantes, e ajudamos a construir Brasília.

            Deus fez o mundo, todos nós sabemos. Juscelino Kubitscheck fez isto. Árvore boa dá bons frutos: todos os Governadores daqui foram extraordinários, todos, começando por aqueles que eram nomeados quando o sistema era outro. De tal maneira que esta é, hoje, a melhor cidade do nosso Brasil, talvez do mundo. (Palmas.)

            Também, com tantos piauienses, tinha que ser!

         Mas tenho aqui um folheto sobre Juscelino Kubitschek. É uma homenagem do ex-combatente Tenente Jaime Tomaz de Aquino, jaguaribano, do Ceará. Chamo o Tenente de Rei do Caju. Ele planta caju, tem fábrica. Quando eu governava o Piauí, não tinha fábrica. Acabei fazendo 27, e ele me ajudou muito. Era tudo plantado, e os cearenses, sabidos, levavam. Nós industrializamos, inclusive com uma multinacional. Mas ele faz um folheto sobre Juscelino. E é a coisa mais bela!

            Mostrem aí para o povo do Brasil ver a simpatia de Juscelino; Juscelino beijando sua santa mãe; amizade e fidelidade aos mais pobres, ao seu motorista; com sua esposa.

            Há também uma frase... Esse Aquino foi amigo dele mesmo. Mandou o discurso que ele fez às vésperas de ser cassado. Ele, que conviveu com Juscelino, escolheu a seguinte frase de JK - não é a que eu escolhi; depois, vou terminar com a minha:

Meu pensamento volta-se nesse instante para as novas gerações, que hão de recolher o fruto de nossos trabalhos e encontrar um Brasil diferente daquele que encontramos: um Brasil integrado no seu verdadeiro destino, diante da Bandeira Nacional, com as suas 22 estrelas.

           Hoje tem mais, os Territórios foram transformados em Estados, nasceu o Mato Grosso do Sul, nasceu o Tocantins. Mas ele diz:

Saúdo os pioneiros, os que lutaram para que chegássemos ao que somos. E saúdo os filhos de nossos filhos, para os quais, sem medir esforços e sacrifícios, erguemos as bases da nossa grandeza futura.

Juscelino Kubitschek.

            Todos sabemos que ele é fonte de inspiração para todos. Tenho 65 anos de idade. Ali, estou vendo uma comenda bonita no peito garboso. Já recebi algumas, mas a de que tenho mais orgulho foi a que recebi do Memorial JK, no centenário de Juscelino. Seriam escolhidos dois congressistas para homenagear. Eu já sabia de um - e vou contar, tive pouca fé -, que tinha que ganhar por merecimento: Paulo Octávio. Então, havia apenas uma, e jamais pensei que ia ganhá-la, porque Antonio Carlos Magalhães, que conviveu e lutou com ele, e era um dos maiores poderosos no Brasil, mostrou vontade de ganhá-la. Então, eu do Piauí... Não sei, foi Deus, foi Paulo Octávio que me ajudou ou foi uma inspiração. Não se foi o nosso General que toma conta do Memorial... Eu sei que, às vésperas, me disseram que tinha sido eu quem havia ganhado. Eu não convidei ninguém, porque não iria divulgar que estava disputando, porque não acreditava. E, como não convidei ninguém, pouca gente do Piauí sabe disso. Mas é com orgulho que ostento aquela comenda, porque não teremos mais, ninguém mais vai ganhar. Foram os cem anos e acabou! Só cem anos!

            Então, com isso tudo, agradeço a Deus - acho que você deu uma mãozinha também -, mas o Coronel do Memorial, está aqui o retrato dele, até risquei aqui, Coronel Affonso Heliodoro, Coordenador das Metas de Brasília, a meta-síntese. Fiquei perplexo, porque achei que o Antonio Carlos ganharia, da Bahia... Mas vejo que o Piauí é melhor mesmo. Atentai bem! Com esse negócio de Tiradentes - os mineiros é que nos ganham aqui; somos a segunda colônia de Brasília, a primeira é a dos mineiros -, que não deu certo, quem colocou os portugueses para fora em guerra fomos nós, numa batalha sangrenta, em 13 de março. Depois, os baianos fizeram outra, mas foi em 2 de julho; julho é depois de março. Então, tínhamos que estar na frente mesmo. Acho que eu merecia, e o fato é que eu ganhei. E essa, com certeza, é uma homenagem aos 300 mil piauienses que estão aqui.

            Mas a frase de Juscelino, de tanta inspiração, que ele nos dá, é a seguinte, e faço minhas as palavras de Juscelino para terminar e para incutir na cabeça de todos os brasilienses, incutir nessa mocidade, que deu o maior presente a Brasília e ao Brasil - a nossa maior riqueza é a mocidade -, e que teve a coragem de lutar contra a corrupção na Universidade de Brasília. E não foi contra aquele problema interno de lá, não; aquilo foi um recado a todos nós. Ulysses dizia: “A corrupção é o cupim que mais corrói a democracia”. E como temos cupim hoje no Brasil, não é? Então, eles nos alertaram; foi o grande presente que a mocidade de Brasília deu a Brasília e ao Brasil.

            Mas Juscelino disse assim:

É melhor sermos otimistas; o otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado.

            Sejamos otimistas!

            Brasil, Brasília, a capital do Brasil e da nossa felicidade! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2008 - Página 10983