Pronunciamento de Gerson Camata em 29/04/2008
Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comentários sobre o anúncio da ONU a respeito da alta dos preços de alimentos como crise global. Questionamento sobre as alegações de que o biocombustível é o vilão da crise de alimentos.
- Autor
- Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
- Nome completo: Gerson Camata
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA AGRICOLA.:
- Comentários sobre o anúncio da ONU a respeito da alta dos preços de alimentos como crise global. Questionamento sobre as alegações de que o biocombustível é o vilão da crise de alimentos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/04/2008 - Página 11030
- Assunto
- Outros > POLITICA AGRICOLA.
- Indexação
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- COMENTARIO, DIVULGAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), CRISE, ALIMENTOS, MUNDO, CRITICA, ORADOR, DECLARAÇÃO, SECRETARIO GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA (FAO), ACUSAÇÃO, CULTIVO, MATERIA-PRIMA, Biodiesel, ALCOOL, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, RESPONSABILIDADE, PROBLEMA.
- ANALISE, AUMENTO, PREÇO, CEREAIS, MOTIVO, AMPLIAÇÃO, CONSUMO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, ASIA, AMERICA LATINA, EXPANSÃO, CUSTO, FERTILIZANTE, PETROLEO, ALTERAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, POSTERIORIDADE, CRISE, ECONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMPROVAÇÃO, DADOS, SUPERIORIDADE, CRESCIMENTO, SAFRA, GRÃO, BRASIL, INFERIORIDADE, AREA, CULTIVO, CANA DE AÇUCAR, PREVISÃO, CONTINUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, PRODUTIVIDADE, REPUDIO, INEXATIDÃO, INFORMAÇÃO, DESTRUIÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, COMENTARIO, RELATORIO, PROJETO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD), VANTAGENS, PRODUÇÃO, ALCOOL, PAIS, RECOMENDAÇÃO, RETIRADA, TARIFAS, COMERCIO EXTERIOR, BENEFICIO, ALTERNATIVA, REDUÇÃO, GAS CARBONICO.
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado a V. Exª. Cumprirei o Regimento na palavra, na letra, no item e no artigo, em toda a sua plenitude.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a ONU classificou na sexta-feira, último dia 25, a alta dos preços de alimentos como uma “crise global”, e conclamou a comunidade internacional a agir imediatamente para resolver o problema. Até agora, contudo, organismos multinacionais e países desenvolvidos optaram pelo caminho mais fácil - e o organismo da ONU para alimentação, a FAO, numa declaração irresponsável do seu Secretário-Geral, ontem, em Roma: encontrar um grande vilão que seria o único responsável pela escassez de comida. Para o papel, elegeram os biocombustíveis, até pouco tempo saudados como a solução para problemas como o aquecimento global.
De remédio para alguns dos males do mundo, eles foram rebaixados a praga do dia para a noite. Um relator da ONU chegou a afirmar que a produção e o uso de biocombustíveis eram um “crime contra a humanidade”. Não foi o único nem o primeiro a proferir tais bobagens. O ditador cubano Fidel Castro e seu discípulo, o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já haviam investido contra os biocombustíveis.
A verdade é que a disparada nos preços de cereais básicos para a alimentação, como o trigo, o arroz e o milho, nada tem a ver com as plantações de cana no Brasil. Os preços dos alimentos estão em alta devido à conjugação de uma série de fatores. Eles são muitos e incluem uma elevação no consumo, devido à melhoria do padrão de vida das populações da Ásia e da América Latina, o aumento do custo dos fertilizantes - que já acumula 140% nos últimos 12 meses -, o preço do petróleo, que triplicou em quatro anos, a crise imobiliária norte-americana, que fez muitos investidores passarem a aplicar recursos em commodities agrícolas.
Enfim, não há como vincular o etanol, muito menos os canaviais brasileiros, à escassez de comida no mundo. Nosso País destina às lavouras de cana menos de 1% dos quase três milhões de quilômetros quadrados usados no setor agropecuário. São essas lavouras que produzem mais da metade do combustível necessário para abastecer a frota de automóveis brasileira.
Como a cultura de cana necessita de rotatividade, muitas das áreas de canaviais são renovadas com lavouras de feijão e soja. Logo, a cana contribui para aumentar, e não para reduzir, a oferta de alimentos. A maior prova disso é que, embora a indústria de biocombustíveis continue a se expandir, o Brasil vai colher este ano 140 milhões de toneladas de grãos, uma nova safra recorde. A entrada da cana aumentou a produção agrícola no Brasil.
Se utilizarmos só 10% das áreas de pastagens para a plantação de cana - prestem atenção nisso -, poderemos produzir etanol em quantidade suficiente para substituir 5% da gasolina consumida no mundo, além de criarmos cinco milhões de novos empregos. Não será preciso recorrer a desmatamento nem invadir áreas de cultivo de alimentos.
Um relatório elaborado em 2005 pela Universidade de Campinas mostra que, se um dia conseguíssemos suprir 10% das necessidades mundiais de combustível, o Produto Interno Bruto do País dobraria. Em São Paulo, a contribuição do açúcar e do álcool de cana para o PIB estadual é igual ao da soja e da pecuária, somadas. Só que, em área ocupada, soja e criação de gado exigem 73 vezes mais terra do que a cana. Se investir em pesquisa para o domínio da tecnologia de produção do chamado álcool celulósico, a partir do bagaço e da palha, que são resíduos da cana, o Brasil pode fazer com que a produtividade de seus canaviais dê um salto formidável.
Organizações ambientalistas difundem pelo mundo o mito de que nosso País está destruindo a Floresta Amazônica para plantar cana. É outra mentira que se propaga impunemente. As áreas em que o cultivo de cana é possível ficam distantes da floresta. Além disso, dispomos de tanta terra apropriada que poderíamos multiplicar por dez o plantio, e ainda assim mantê-lo bem distante de regiões como a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica.
Recentemente, o Presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, mostrou em público um pacote de arroz, para demonstrar que o etanol estaria tirando comida da humanidade. Antes de se pronunciar, deveria ter lido o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Eis alguns pontos:
- O relatório recomenda a remoção das tarifas impostas ao etanol brasileiro.
- É enfático ao afirmar que o etanol do Brasil é mais eficiente que os outros biocombustíveis e que não contribui para o desmatamento da Amazônia.
- Ressalta que o Brasil é mais eficiente em produzir etanol que a União Européia e os Estados Unidos e que o etanol feito de cana-de-açúcar é mais eficaz para reduzir as emissões de carbono. O álcool brasileiro emite até 70% menos gases de efeito-estufa que os combustíveis fósseis.
Conclusão: as barreiras comerciais impostas ao etanol brasileiro estão elevando o custo...
(Interrupção do som.)
O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Obrigado, Sr. Presidente.
Como dizia: as barreiras comerciais impostas ao etanol brasileiro estão elevando o custo de redução das emissões de carbono e dificultando uma redução da dependência do petróleo. A União Européia taxa o álcool do Brasil em US$1,00 por galão, o equivalente a 60% dos preço, e os Estados Unidos cobram US$0,54 por galão, além de 2,5% em impostos alfandegários.
Pesquisadores do mundo inteiro sabem que, nas próximas duas ou três décadas, o álcool é a única alternativa viável para substituir os combustíveis fósseis.
Como quase toda estratégia diversionista, repleta de equívocos e desprovida de vínculos com a realidade, a ofensiva contra os biocombustíveis está destinada a cair no vazio em breve. Mas é bom que o País fique alerta. A agroenergia brasileira tem potencial para transformar o mundo e representa uma oportunidade única de crescimento, geração de empregos e distribuição de renda. É por isso também que desperta tantas reações contrárias. É essencial que o Governo brasileiro mantenha a posição firme que teve até agora para garantir o nosso futuro.
Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.