Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato de reunião ocorrida no dia 24 último, em Tóquio, no Japão, para reafirmar a amizade entre os dois países, em comemoração do Centenário da Imigração Nipônica ao Brasil. (como Líder)

Autor
César Borges (PR - Partido Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Relato de reunião ocorrida no dia 24 último, em Tóquio, no Japão, para reafirmar a amizade entre os dois países, em comemoração do Centenário da Imigração Nipônica ao Brasil. (como Líder)
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2008 - Página 11085
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, PARTICIPAÇÃO, BRASILEIROS, ESTRANGEIRO, REITERAÇÃO, AMIZADE, HOMENAGEM, CENTENARIO, IMIGRAÇÃO, BRASIL, ELOGIO, DISCURSO, IMPERADOR, PRESENÇA, DELEGAÇÃO, SENADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO TOCANTINS (TO), MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, NEGOCIAÇÃO, PROJETO, CONTRIBUIÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, AREA, TRANSPORTE, ENERGIA, TELECOMUNICAÇÃO, SAUDAÇÃO, RETOMADA, PARCERIA.
  • DETALHAMENTO, HISTORIA, IMIGRAÇÃO, DADOS, COLONIZAÇÃO, SAUDAÇÃO, INTEGRAÇÃO, CULTURA, MAIORIA, FIXAÇÃO, BRASIL, TRABALHO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, COMENTARIO, EMIGRAÇÃO, BRASILEIROS, DESTINO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA. Pela Liderança do PR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, sei do seu apreço pela minha pessoa. Daí as palavras sempre carinhosas e elogiosas que aproveito a oportunidade para agradecer-lhe.

            Sr. Presidente, assomo à tribuna para relatar uma reunião ocorrida na quinta-feira da semana passada, no dia 24, em Tóquio, no Japão, quando se reuniram brasileiros e japoneses para reafirmar a amizade entre os dois países. Ali se comemorava o Centenário da Imigração Nipônica ao Brasil.

            O Senado esteve representado com a delegação de Senadores nesse tão importante e significativo momento. Sr. Presidente, esse centenário é tão importante para o Japão que o ato solene foi presidido pessoalmente pelo Imperador Akihito, cuja presença ressaltou a importância recíproca atribuída a ambos os países. Houve um pronunciamento do Imperador, dizendo das três vezes em que S. Exª esteve no Brasil, como príncipe herdeiro e como Imperador, e as boas e gratas lembranças daquelas visitas.

            Não é fato comum a presença de um Imperador nessas solenidades. Mais do que isso, Sr. Presidente, ali estavam o Imperador Akihito, sua esposa, Imperatriz Michiko, e também o Príncipe herdeiro, Naruhito, além das principais figuras políticas do Japão: o Primeiro-Ministro, o Ministro das Relações Exteriores, ou seja, estava ali realmente a representação máxima do Estado do Japão. Pelo Brasil, representando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estava a Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

            A Ministra Dilma Rousseff se encontrou, antes da solenidade oficial, com os Parlamentares presentes àquela reunião e deu conhecimento das negociações mantidas com as autoridades japonesas, principalmente na área econômica, e dos projetos de interesse japoneses e brasileiros, especialmente os projetos brasileiros. Eu cito o trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro e as novas usinas hidrelétricas movidas por energia nuclear. Também com relação à TV digital e a tantos outros projetos, o Japão, uma nação desenvolvida de primeiro mundo, já tem contribuído e pode contribuir muito com o País.

            Na verdade, é uma continuidade, Sr. Presidente, de uma parceria muito forte, que foi mais forte num passado recente, nas décadas de 70 e 80, com financiamentos japoneses, pelo GBIC. Na Bahia, inclusive, o GBIC participou do esforço da área de saneamento, em um programa chamado Saneamento Ambiental da Baía de Todos os Santos, mais conhecido como Bahia Azul. Ele fez o co-financiamento de parte desse projeto e também atuou em outros projetos, como no Estado de Tocantins - lá estava o ex-Governador Siqueira Campos, também prestigiando esse evento. Então, esses financiamentos japoneses ajudaram a ocupação agrícola do cerrado brasileiro.

            Lamentavelmente, isso diminuiu nos últimos anos, mas espero que seja retomado o quanto antes. Recentemente, verificamos a integração da economia japonesa, dos projetos japoneses com a tevê de alta definição do Brasil.

            Sr. Presidente, como é do conhecimento de todos, as histórias do Brasil e do Japão se cruzaram em 1908, quando o navio Kasato Maru chegou ao porto de Santos vindo da cidade de Kobe, no Japão. Também tivemos oportunidade de ver que essa cidade participou de todos os eventos por intermédio do seu cônsul- geral e da Embaixada Brasileira no Japão.

            O navio Kasato Maru veio para o Brasil trazendo 781 japoneses a bordo. Naquele tempo, o Japão era uma nação exaurida pela explosão populacional e pelos gastos provocados por guerras travadas, na época, contra a China e a Rússia, apesar da modernização conduzida nas décadas do final do século XIX pela chamada Revolução Meiji, de 1867. O Japão tinha sérios problemas.

            O Brasil tinha interesse pela vinda dos japoneses, principalmente devido à interrupção, em 1902, do fluxo de imigrantes italianos, que fez com que as fazendas cafeeiras precisassem de trabalhadores.

            Foi um início difícil para aqueles imigrantes. Lá, há um museu mostrando a saga desses homens, dessas famílias japonesas que vieram no Kasato Maru e, posteriormente, o processo que se seguiu de imigração.

            Levados para as fazendas de café, viviam muitas vezes em condições análogas às de escravo. E o choque cultural era imenso, num lugar de língua e hábitos diversos, no qual sequer tinham acesso ao arroz, comida básica do povo japonês que aqui chegou.

            A vida dos imigrantes só começou a melhorar depois que passaram a trabalhar em regime de parceria na lavoura com os proprietários de terra, sistema pelo qual era possível partilhar a produção e ainda plantar outras culturas.

            Hoje, Sr. Presidente, cem anos depois dos primeiros imigrantes, o Brasil tem a mais numerosa comunidade nikkei, que são japoneses nascidos fora do Japão ou que vivem regularmente no exterior, com mais de um milhão e meio de pessoas descendentes daqueles imigrantes. Paralelamente, a terceira maior comunidade de brasileiros no exterior está no Japão. São aqueles que respondem por uma grande parcela de recursos que ingressam no Brasil todos os anos, mandada pelos dekasseguis. Eles hoje têm uma comunidade no Japão em torno de 350 mil brasileiros, Sr. Presidente, que já dispõem, inclusive, de revistas próprias e jornais dedicados a essa comunidade.

            Até mesmo a Bahia, Estado que se notabiliza pela hegemonia da cultura afro-brasileira, recebeu também imigrantes japoneses já na década de 50 do século passado. A primeira colônia foi criada em 1953 em Una, no sul do Estado; a segunda em Ituberá, em 1954; por último, a Colônia JK, em Mata de São João, em 1959. Exatamente 172 famílias japonesas foram trazidas para as três colônias na Bahia, entre os anos de 1953 e 1962.

            O contrato assinado entre Brasil e Japão exigia no mínimo a permanência de três anos, mas praticamente todos ficaram na Bahia. Graças a isso é que temos hoje na Bahia netos de japoneses tocando berimbau e exímios sushimen de origem africana.

            Srªs e Srs. Senadores, a integração entre brasileiros e descendentes de japoneses hoje é total. Há vários exemplos de homens públicos importantes que participaram e participam da vida nacional. Mais recentemente eu cito a escolha, pelo Presidente Lula, para o comando da Força Aérea Brasileira, de um filho de imigrantes japoneses, o Brigadeiro Juniti Saito.

            O Brigadeiro Saito é um nissei, um filho de imigrantes, mas a geração dele já se desdobrou nos sanseis e yonseis, netos e bisnetos dos primeiros japoneses que chegaram ao Brasil.

            De acordo com estudo da historiadora Célia Oi, divulgado pela revista Veja, 61% dos membros da terceira geração de nipo-descendentes, os yonseis, já são mestiços, contando com pelo menos um ascendente de origem não-japonesa.

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, muitos dos que vieram para o Brasil pensaram numa passagem talvez transitória pelo nosso País. Entretanto, dos quase 190 mil japoneses que imigraram para o Brasil até a Segunda Guerra Mundial, menos de 10% retornaram à terra natal. A imensa maioria ficou para sempre entre nós e ajudou a construir a história deste País.

            Nós, aqui do Senado, agradecemos esse esforço que empreenderam para o Brasil. A presença, hoje, dessa comunidade é marcante na maioria dos Estados brasileiros, no Parlamento brasileiro. A Câmara dos Deputados esteve representada nesse evento das comemorações dos cem anos por diversos Deputados de origem japonesa, nikkeis, e agora os seus descendentes estão aqui representando bem o nosso País e o nosso povo.

            Ouço o aparte do Senador Flexa Ribeiro.

            O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador César Borges, V. Exª traz um relato da viagem da Comitiva Parlamentar Brasileira ao Japão, que esteve presente à cerimônia de início das comemorações do centenário da emigração japonesa para o Brasil. Lamentavelmente, não pude fazer essa viagem, ainda mais por ser Vice-Presidente do Grupo Parlamentar que organiza as comemorações do centenário, presidido pelo Deputado Takayama. O meu Estado, o Pará, detém a terceira maior colônia japonesa no Brasil. Nesse sentido, temos um dever de gratidão para com o povo japonês, que veio há cem anos para o Brasil pelo Kasato Maru e nos ajudou a desenvolver o nosso País. E o meu Estado do Pará tem nos japoneses colaboradores valorosos no desenvolvimento, principalmente, no início, da agricultura e, posteriormente, em todas as atividades. Grandes grupos empresariais são de descendentes de japoneses que vieram nesses navios e se estabeleceram no Pará e, hoje, seus filhos e netos participam do desenvolvimento da nossa região e do nosso Brasil. Parabéns a todos os imigrantes japoneses, aos seus descendentes, que orgulham a todos nós por nos ajudarem a construir o nosso País.

            O SR. CÉSAR BORGES (Bloco/PR - BA) - Obrigado, Senador Flexa Ribeiro. Eu incorporo inteiramente o aparte de V. Exª. Acho que todos aqueles que vivem com essa comunidade sabem o trabalho em prol do desenvolvimento do nosso País pelos imigrantes japoneses que aqui aportaram a partir do Kasato Maru e que continuou até as décadas de 50 e 60, além da amizade que existe hoje entre esses países.

            O País vivia uma crise econômica. Hoje temos 350 mil dekasseguis no Japão, são verdadeiras comunidades implantadas. Temos um único advogado permitido pela OAB, um brasileiro que está advogando. Pensa-se na possibilidade de se dar uma representatividade através de eleição de um representante dessa comunidade junto ao Governo brasileiro.

            Há interesse em que aqueles que foram do Brasil para lá sejam educados também na língua portuguesa. É necessário dar o apoio para que professores de língua portuguesa estejam assistindo àquelas crianças.

            Sr. Presidente, assisti, emocionado, a uma apresentação de um grupo de crianças que estavam ali, crianças brasileiras ou nascidas no Japão, mas filhos de brasileiros, falando em japonês e em português, cantando músicas japonesas e músicas brasileiras, coisa que emocionou a todos.

            Ressalto a importância do evento mais uma vez. Não foi um evento qualquer. Foi um evento que contou com a participação do Imperador do Japão. E o Imperador do Japão é algo que eles consideram semidivino, se não for divino. Ele renunciou à divindade, mas isso foi formal, porque continua esse culto à divindade do Imperador. Há um respeito muito grande pela figura do Imperador. Ele, sua esposa, a Imperatriz e também o príncipe herdeiro estiveram presentes.

            Depois, houve uma recepção oferecida por ele, que se confraternizou com todos os brasileiros que estavam ali presentes. Ele não se ausentou e ficou sendo cumprimentado, algo inusitado, mostrando a deferência que o povo japonês tem pela imigração que foi feita e por toda essa relação existente entre o Japão e o nosso País.

            Portanto, Sr. Presidente, faço questão, hoje, de ressaltar a magnitude desse fato, que vai ter continuidade no âmbito de colaboração entre os países e mesmo de comemoração sobre esse fato que agora vai se dar no Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2008 - Página 11085