Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à atitude do coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antônio Dantas, que atribuiu o rendimento dos alunos da referida Universidade no Enade, ao QI dos baianos.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ENSINO SUPERIOR.:
  • Repúdio à atitude do coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Antônio Dantas, que atribuiu o rendimento dos alunos da referida Universidade no Enade, ao QI dos baianos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/2008 - Página 11180
Assunto
Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • REGISTRO, INICIATIVA, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, REALIZAÇÃO, DEBATE, PROBLEMA, GRUPO ETNICO, NEGRO.
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, COORDENADOR, CURSO SUPERIOR, MEDICINA, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA), ALEGAÇÕES, INSUFICIENCIA, RENDIMENTO, ESTUDANTE, INFERIORIDADE, CAPACIDADE, APRENDIZAGEM, DESRESPEITO, POPULAÇÃO, ESTADO DA BAHIA (BA).

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves, ao mesmo tempo em que o saúdo, trago aqui uma notícia a respeito de um fato muito grave ocorrido em nosso País.

            Hoje, pela manhã, por provocação do Senador Paulo Paim, Presidente da Comissão de Direitos Humanos, essa importante Comissão inaugurou um ciclo de seminários, de palestras e de debates para tratar da questão atinente ao povo negro.

            Sr. Presidente, exatamente nesse contexto, ao abrir os jornais de hoje, deparo-me, estarrecido, com a notícia de um fato ocorrido na Bahia, aquele belo Estado brasileiro. Faço referência especificamente a uma matéria da Folha de S.Paulo, matéria da jornalista Renata Baptista, onde colho a informação de que o coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), um cidadão chamado Antônio Dantas, teria declarado que “o baixo rendimento dos alunos da faculdade [de Medicina] no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) se deve ao ‘baixo QI (quociente de inteligência) dos baianos’”.

            Repare, Sr. Presidente, a gravidade dessa declaração, feita exatamente no momento em que a Comissão de Direitos Humanos deste Senado Federal inaugura um ciclo de debates e de seminários para tratar da questão do povo negro.

            Um cidadão que tem a responsabilidade de coordenar um curso superior de Medicina - curso que, aliás, foi alvo de homenagem deste Senado Federal há poucos dias pela passagem de seus duzentos anos de existência, Senadora Fátima Cleide - agride o povo baiano, agride, inclusive, o povo brasileiro. Sr. Presidente, trata-se de puro preconceito, de pura discriminação racial. Digo isso, porque, entre as bobagens proferidas por esse cidadão, atribui-se a ele o seguinte: “O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria”. E por aí vai.

            Sr. Presidente, Senador Garibaldi Alves, berimbau, como nós sabemos, é o instrumento introduzido neste País pelos escravos negros para marcar o ritmo do jogo e da luta da capoeira. Na Bahia, a população é, majoritariamente, composta de negros. Esse cidadão acaba de proferir uma agressão inominável, especialmente ao povo negro da Bahia e, em regra, ao povo baiano, a quem ele atribui baixo QI, generalizando.

            Eu não poderia ficar calado em face de tamanha agressão. O Senador Paulo Paim, hoje pela manhã, presidindo a Comissão de Direitos Humanos, incontinênti, tomou a iniciativa de mandar elaborar uma moção de repúdio ao ato desse cidadão. Chega aqui o Senador César Borges, meu vizinho, nosso companheiro aqui do Senado. O Senador Paulo Paim, mandou elaborar, em nome da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, uma moção de repúdio à atitude desse cidadão da terra de V. Exª, Senador César Borges, uma atitude, repito, ofensiva, discriminatória e preconceituosa com o povo baiano e com o povo brasileiro.

            Senti-me particularmente ofendido com a fala desse cidadão, que deveria ser - não tenho esse poder - demitido incontinênti pelo dirigente da Universidade Federal da Bahia, pois ele não merece ser absolutamente nada na terra da Bahia, naquela grande terra de um povo inteligente, de um povo trabalhador, que não merece uma agressão como essa.

            Portanto, Sr. Presidente, em breves palavras - o Senador Antonio Carlos Júnior também está chegando aqui -, queria registrar minha indignação, Senador César Borges. Fiquei indignado. Li a matéria uma vez, duas vezes, três vezes, para compreender o que eu estava lendo. É inadmissível uma coisa como essa nos dias de hoje!

            Nós, no Brasil, temos a mania de deixar barato essas coisas, de deixar pra lá. Mas não podemos deixar pra lá uma situação dessa! O Senado Federal, além dessa nota de repúdio, dessa moção de repúdio, tem de oficiar as autoridades brasileiras, o Ministério Público, porque se configura aí o cometimento de um crime, e um crime grave, como há muito tempo não vejo ser cometido neste País.

            Portanto, queria deixar aqui registrado meu repúdio e minha indignação à fala desse cidadão, que é ofensiva, preconceituosa e desrespeitosa com o povo baiano e com o povo brasileiro.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/2008 - Página 11180