Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do presidente do jornal O Povo, Demócrito Rocha Dummar.

Autor
Patrícia Saboya (PDT - Partido Democrático Trabalhista/CE)
Nome completo: Patrícia Lúcia Saboya Ferreira Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do presidente do jornal O Povo, Demócrito Rocha Dummar.
Publicação
Publicação no DSF de 01/05/2008 - Página 11256
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PRESIDENTE, JORNAL, O POVO, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, MODERNIZAÇÃO, SETOR.

            A SRª PATRÍCIA SABOYA (PDT - CE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com imensa dor que desejo aqui registrar a morte de Demócrito Rocha Dummar, ocorrida no dia 25 de abril. Tive o privilégio de conhecê-lo, de conhecer a sua exemplar família e o fantástico trabalho por ele realizado à frente do complexo de comunicação O Povo, que ganhou novas dimensões durante sua administração inspirada.

            Nas relações pessoais, assim como nas profissionais e mesmo nas políticas, desenvolveu um estilo próprio. Suas marcas eram o diálogo, a simplicidade e a humildade, demonstrada por sua abertura a ouvir com atenção os interlocutores e a acolher sugestões. Tratava a todos com gentileza, senão com carinho. Embora se dissesse tímido, conseguia prender a atenção de empresários, políticos, intelectuais estudantes. Era antes de mais nada uma pessoa apaixonada. Apaixonada pela mulher Wânia e pelos filhos, apaixonada pelo seu jornal, apaixonado pelo que considerava sua missão.

            Era também um desbravador, sempre buscando novos e generosos projetos, mas questionando permanentemente os amigos sobre a viabilidade dessas idéias. O jornalismo entrou cedo em sua vida e marcou-o até o fim. Conduzir O Povo foi o grande desafio de sua vida.

            Sob seu comando, o jornal precisou adaptar-se a novos tempos. Os veículos impressos vêm, há décadas, sofrendo o impacto representado por competidores de peso, drenando as verbas publicitárias. Sofreu primeiro a concorrência do rádio e depois, com muito maior peso, da televisão, Hoje a TV recebe quase 60 por cento da receita de publicidade do país, embora os jornais tenham voltado a ampliar sua parcela. Viria enfim novo desafio, o surgimento da Internet.

            Demócrito Rocha Dummar percebeu com clareza esse quadro. Cito aqui novamente suas próprias palavras, ao refletir sobre os 80 anos de O Povo. “Antigamente”, diz ele, “o jornal pensava com a lógica de cada dia. Por conta disso, nos tempos modernos as notícias podiam chegar a cada dia até ultrapassadas. Na era da sociedade do conhecimento tivemos que reaprender a editar. O surgimento de novos meios implica a descoberta de novas formas se, contudo, perdermos contato com o essencial de sua antiga feição”. A partir daí, chega a uma conclusão que me parece resumir toda essa moderna conceituação: “nós, fazedores de jornal”, somos eternos aprendizes”.

            Demócrito foi um dos fundadores da Associação Nacional de Jornais, onde se destacou como defensor permanente da modernização da indústria jornalística, desejando sempre identificar os jornais com os temas mais importantes da cidadania, sobretudo da educação. Tinha como prioridade absoluta o estímulo ao hábito da leitura e ao uso dos jornais como instrumentos pedagógicos em sala de aula.

            Sabemos que os melhores jornais são os que mais se aproximam da comunidade, abordando as questões que refletem interesses mais profundos dos seus cidadãos. Demócrito sempre teve isso muito claro. Por isso mesmo fazia do seu jornal uma expressão autêntica dos cearenses, seus problemas, anseios e desafios. Muito mais do que empreendimento empresarial, fazer jornal era para ele um ato de cidadania.

            Conseguiu enfrentar os desafios e transformar O Povo - veículo historicamente marcado pelo pioneirismo de seus dirigentes - em um verdadeiro grupo de comunicação, que investiu e investe em diversas mídias. Conseguiu ainda proporcionar sinergia entre elas. Assim é que, além de O Povo, o grupo conta com emissoras de rádio e, agora, de televisão, sempre voltadas para a informação, além de importantes operações na internet. Costumo dizer que Dummar cumpriu como ninguém o compromisso com a modernidade que marcou O Povo desde sua fundação, por inspiração do fundador Demócrito Rocha.

            Demócrito Dummar sempre considerou O Povo uma extensão de sua família. Foi, assim, um guardião das melhores tradições do jornalismo cearense e de sua empresa. O Povo, Fortaleza e o Ceará eram suas paixões. No entanto, gosto de lembrar que a figura de Demócrito apresentava muitas dimensões.

            Não era apenas jornalista e empresário, comunicador de visão. Era também um intelectual respeitado. Encontrava no conhecimento, em especial nos livros, a inspiração para seus projetos. Cultivava com carinho uma especial biblioteca. Acumulava e organizava livros, devorando-os permanentemente. Nas viagens ao exterior, costumava freqüentar livrarias para encontrar novidades e reforçar seu acervo. Não se concentrava em um ou dois temas, mas dedicava-se a múltiplas áreas, sempre interessado em conhecer cada vez mais.

            Herdou do avô, Demócrito Rocha, herdou o gosto pela poesia pela filosofia. Inspirava-o o pensamento da Grécia Antiga, como ponto de partida para uma visão muito singular. Via a filosofia como um poderoso instrumento que o ajudava a compreender o mundo contemporâneo e inspirar novas propostas. Contava com o respeito e a familiaridade de intelectuais importantes, com quem costumava trocar idéias.

            O vértice de seu pensamento, porém, sempre foi nosso Ceará. Preocupava-se em manter viva a memória das pessoas que pensavam o Estado. Nesse sentido tomou importantes iniciativas, como desenvolver, por meio da Fundação Demócrito Rocha, a coleção Clássicos Cearenses.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, a morte de Demócrito Rocha Dummar foi sentida por amigos de todo o país e causou extrema comoção no Ceará. Seu velório foi realizado durante toda a manhã do último sábado, na Assembléia Legislativa. Antes de seguir para o cemitério onde seria sepultado, o corpo foi levado, por volta do meio-dia, para os jardins da sede do jornal O Povo. Autoridades, empresários, parlamentares, as mais representativas figuras do Ceará compareceram de forma maciça à Assembléia Legislativa e acompanharam o corpo. Coroas de flores estavam dispostas desde a entrada do edifício do Legislativo até o local onde o caixão ficou disposto, em frente à entrada do Plenário. Foi maciça a presença, entre os muitos amigos, jornalistas de Demócrito, dos funcionários do Grupo de Comunicação O Povo e de simples admiradores do seu marcante trabalho.

            Quero aqui manifestar meu pesar. Senti a morte de Demócrito, em primeiro lugar, como de um amigo, de alguém muito próximo. Senti sua morte, ainda, porque ela representa o desaparecimento de um ser humano intenso, capaz de carinho, de amor, de solidariedade. Preocupa-me sua ausência. Demócrito tinha grande importância em nosso firmamento político e empresarial. Exercia forte poder de aglutinação, pois não se prendia a disputas menores e pensava sempre nos grandes temas de nossa comunidade. Também nesse sentido fará uma falta imensa.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/05/2008 - Página 11256