Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Os escândalos do Governo Lula e sua relação com as ONG. Considerações sobre a vinda da Ministra Dilma Rousseff ao Senado, e sobre o dossiê dos gastos do Governo Fernando Henrique.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Os escândalos do Governo Lula e sua relação com as ONG. Considerações sobre a vinda da Ministra Dilma Rousseff ao Senado, e sobre o dossiê dos gastos do Governo Fernando Henrique.
Aparteantes
Arthur Virgílio, João Pedro, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2008 - Página 13554
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, CRIAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DOCUMENTO SIGILOSO, GASTOS PESSOAIS, CARTÃO DE CREDITO, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, INTIMIDAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • DENUNCIA, FAVORECIMENTO, GOVERNO FEDERAL, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), UTILIZAÇÃO, RECURSOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, ROMERO JUCA, SENADOR, LIDER, GOVERNO, SENADO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, DILMA ROUSSEFF, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, VISITA, SENADO, AUSENCIA, VERACIDADE, DEPOIMENTO, NEGAÇÃO, ELABORAÇÃO, DOCUMENTO, GASTOS PESSOAIS, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, INEFICACIA, PROGRAMA, ACELERAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, SUPERIORIDADE, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, MALVERSAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é o momento de o Governo fazer uma reflexão sobre os últimos fatos. Todos são testemunhas, e o Senador Pedro Simon o é ainda mais, porque, quando estourou esse caso dossiê, eu disse a ele alto e bom som - e depois eu disse a mesma coisa da tribuna do Senado - que se tratava de uma ação de fogo amigo e que o Governo tinha, imediatamente, de procurar o lança-chamas da discórdia palaciana. Mostrei evidências de vazamentos anteriores, inaugurados com aquele caso emblemático do cachorrinho da Primeira-Dama do País, que saiu do Palácio da Alvorada numa Kombi e, ao chegar à Granja do Torto, já havia um aparato de imprensa para registrar o fato. Esqueceram todos que aquele cachorrinho se perderia nas dimensões daquele carro e que, se a imprensa não tivesse sido previamente avisada, jamais o fato teria sido noticiado.

            Depois tivemos a simbologia da estrela nos jardins do fundo do Palácio, que aparece fotografada de um ângulo onde só era possível fazê-lo quem tivesse acesso às dependências privadas da Presidência da República e, portanto, ao primeiro andar do Palácio.

            Vazamento em governos, Senador Arthur Virgílio, a História está aí para contar. São vários. Getúlio foi traído, Jânio foi traído, Jango foi traído. Só que as traições antigamente, ou até então, eram motivadas por questões ideológicas ou por desejo de se chegar ao poder. Ninguém se beneficiou mais, Senador Arthur Virgílio, de vazamento de informações do que quem está atualmente no poder, ou seja, o Partido dos Trabalhadores. O PT vivia à cata de militantes ocultos nas administrações federais, estaduais e municipais que lhe dessem munições para massacrar impiedosamente os seus adversários. Construiu vários dossiês que destruíram reputações. Depois, ficou provado e comprovado que tudo não passava de um jogo político leviano. Só que agora os fatos são diferentes.

            Além de toda a conotação de ideologia e de vontade de chegar ao poder, tem-se, por detrás de tudo isso, Senador Arthur Virgílio, uma disputa que envolve interesses financeiros inconfessáveis. Não há um escândalo neste Governo que não tenha a respaldá-lo ONGs, fundos de pensão ou estatais. Vejam os fatos e eles irão comprovar o que digo. Nesse fato mesmo envolvendo BNDES e Deputados Federais, já começa a sair debaixo do tapete a liberação de recursos para as organizações não-governamentais. Se nós examinarmos as CPIs, com as quais convivemos nesses últimos seis, sete anos no Congresso Nacional, em todas elas vamos ver a mobilização de ONGs, de fundos de pensão e de estatais. Daí por que essa disputa de fogo amigo a cada dia se torna mais perigosa, pelo simples fato de não estar motivada apenas por questões ideológicas e desejo de ascensão ao poder.

           Senador Mário Couto, eu não tenho nenhuma dúvida de que o ritmo de vazamento... O Senador Romero Jucá, com sua autoridade de Líder do Governo, fez, anteontem, o lançamento oficial da Drª Dilma Rousseff como candidata a Presidente da República, com apoio, naturalmente, do seu Partido, o PMDB. Foi um lançamento, Senador Pedro Simon, que terá repercussão, porque não foi qualquer um, foi o Líder do Governo e que pertence ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Ora, Romero, pela condição de Líder, freqüenta o Palácio e, evidentemente, sabe, com a sua perspicácia política, captar os rumores e os desejos de quem ocupa, no momento, o poder.

            O Governo, ontem, Senador Mário Couto, a quem parabenizo pela nova missão, que será árdua mas honrosa, de liderar a Minoria nesta Casa - minoria que, paradoxalmente, é maioria -, tentou massacrar a Oposição, baseado nos fatos versados pela imprensa sobre a participação da Ministra Dilma Rousseff no depoimento no Senado da República.

            Achei exagerada a tentativa de endeusá-la, porque poderiam ter ficado apenas com a consciência e com a garantia de que ela aqui, na Casa, cumpriu o seu papel de gestora pública, mas o ufanismo, o sapato alto que tomou conta de alguns vai fazer mal ao Governo, porque foi uma ressaca de apenas 24 horas.

            O que se vê é que, se praticamente foi positiva a presença da Srª Ministra, em termos concretos e objetivos, Senador Arthur Virgílio, foi um fracasso: a Ministra mentiu com relação ao dossiê e omitiu fatos que motivaram a sua convocação, mostrou que o PAC é quase sempre uma peça de ficção, em que se confundem recursos orçamentários tradicionais com o tão sonhado, cantado e aludido projeto de desenvolvimento do País, o PAC.

            Um fato passou despercebido dada a euforia da Base do Governo. Ninguém percebeu um detalhe muito simples: em determinado momento, a nossa Colega, Líder do PT nesta Casa, no desejo não só de servir, mas de mostrar serviço à Ministra, perguntou-lhe quanto havia de recursos públicos e de recursos privados no PAC. Ou o PAC é uma confusão que nem os governistas entendem, ou a Líder não está preparada para defender o Governo e o PAC, como tenta fazer tanto aqui, porque o que havia de mais simples - e as planilhas mostravam - é saber o que é de privado e o que de público nesse processo.

            Senador Paulo Paim, ninguém se preocupou em abrir as planilhas. E eu tive a honra de receber - o que considero uma deferência -, das mãos da Ministra, uma planilha sobre os recursos para o meu Estado.

            Ninguém se preocupou em ver o percentual daquela listagem de obras, o que estava realmente feito ou em andamento. No Piauí, para decepção minha, a grande maioria ainda é formada por peças de ficção: projetos, concorrência por fazer, estudo de obras, pedra e cal, quase nada.

            Pois bem, o Governo chegou ao limite de, ontem, o Presidente da República, de maneira aberta e publicamente, dizer que tinha orgulho do depoimento da Ministra no Senado. O Presidente está numa fase que tudo pode dizer e nada acontece. Mas deveria ter-se acautelado pelo cargo e pela pompa da sua posição de mandatário da República, até porque, se há um dia que não se pode dizer que é um dia excepcional e extraordinário, é aquele em que um Ministro de Estado vem a esta Casa prestar depoimento, até porque, numa democracia, tem de se tornar rotina. E se não foi, deve-se ao fato de a Ministra, já que estava consciente de toda a verdade que afirmou, ter demorado sessenta dias para vir a esta Casa.

            Acredito que, se S. Exª tem ouvido menos a sua tropa de choque, os aloprados ou candidatos à ”alopragem”, e tem-se pautado pelo sentimento inclusive, de dever a cumprir e tivesse vindo a esta Casa no tempo exato, talvez tudo isso - quem sabe - pudesse ter sido uma página virada. E não seria. Por quê? Porque os fatos são mais graves do que se tenta passar à opinião pública.

            Negar a existência do dossiê é querer abraçar-se com a mentira, porque o próprio Palácio, por diversas vezes, concorda e afirma a sua existência, evidentemente não com o nome de dossiê.

            Pode-se dar o nome que quiser, mas a verdade é que as reuniões existiram, inclusive com a participação do Secretário de Controle Interno, que hoje está sendo acusado.

            O Governo tenta ser ágil na defesa dos seus erros. Em vez de reconhecê-los e corrigi-los, parte para aquela tese de que “já que estamos no banco dos réus, queremos companhia”. O que é um erro. Um governo que se especializou, no passado, em combater, de maneira intransigente, corrupção e corruptos, gerando vítimas, hoje, se consola apenas na defesa dos que enlameiam o seu Governo.

            O Presidente Lula mesmo já absolveu, já perdoou e já enalteceu vários envolvidos em escândalos nos seus dois governos. Daí por que esses fatos começam a virar rotina no País sem que haja uma mobilização de indignação da opinião pública, como se o brasileiro já tivesse perdido o sentimento do asco e do nojo sobre a malversação dos recursos públicos.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Heráclito.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Concedo um aparte ao Senador João Pedro, com o maior prazer.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Heráclito Fortes, V. Exª é uma liderança importante da Oposição e faz algumas observações acerca do debate realizado com a Ministra Dilma e eu gostaria só de complementar para ficar mais clara, por exemplo, a observação do Presidente Lula quanto ao desempenho da Ministra Dilma. Afinal de contas, o Presidente Lula elogiou sua Ministra, mas foi mais além, e aí eu pedi o aparte para dizer que o Presidente Lula elogiou o Senado da República, o debate. Então, público foi o elogio ao desempenho da Ministra, mas pública também, e no mesmo contexto, foi a postura da Oposição. E o Presidente disse mais: se os próximos debates forem nessa linha, que se façam debates outros. ou seja, o Presidente elogiou a Oposição, elogiou o debate, elogiou a discussão, as dez horas... Não sei se V. Exª ficou as dez horas, mas foram dez horas de debate. E o debate foi esclarecedor. Não tem sapato alto, não tem nada disso. Não foi a base do Governo, foi a opinião pública, foram os articulistas, eles tiveram uma opinião sobre o debate. E V. Exª é um homem de oposição, tem de conviver com a opinião do debate. O debate começou com duas questões levantadas: a primeira, pelo Líder Arthur Virgílio, quando - penso que hoje não tem art. 14, Senador Arthur Virgílio -levantou e, de pronto, a Ministra atendeu e se dispôs a discutir a questão do dossiê. E mudou o rumo do debate quando foi feita uma analogia muito infeliz de atribuir aquele debate ali, olho no olho, a um posicionamento da Ministra lá em 2003 em relação à tortura e à mentira. Então, foi uma analogia muito infeliz. Foi muito infeliz essa analogia pelo significado do debate, pelo conteúdo da discussão. Mas ganhou o Senado, ganhou a República, foi esclarecedor, Senador Heráclito Fortes. Foi esclarecedor. Não tem dossiê. Tem banco de dados, sim. Agora, nós precisamos discutir um fato novo. Tem um computador, tem um servidor da Casa Civil e tem um computador e tem o gabinete de um Senador. Precisamos ver isso. Por que chegou aqui no Senado? O Seu André, que é consultor aqui do Senado, da Secretaria da Mesa Diretora... Nós temos de ver isso. E por que saíram do gabinete, de dentro do Senado, para a imprensa, dados da Presidência da República. Eu penso que esse é um fato novo. Nós precisamos é esclarecer isso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quais foram os dados?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Os dados que imprensa divulgou.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Do dossiê?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Roubado. Foram informações...Isso a Ministra Dilma confirmou.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Mais um dossiê?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Imprecisões, uma coisa para desqualificar a República, desqualificar a Presidência, tentar desqualificar o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso. Isso foi esclarecedor. A Ministra Dilma esclareceu isso. Então, nessa postura nós não podemos passar a mão, não. E eu espero que V. Exª não faça isso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Tem toda a razão.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Nós temos os dois computadores e os dois técnicos. Acho que é importante ouvi-los, para esclarecer de vez. Mas a Ministra Dilma, Senador Heráclito Fortes, foi muito esclarecedora nos procedimentos republicanos adotados na Casa Civil em relação aos gastos da Presidência da República. Eu não tenho dúvidas disso.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Permita-me um aparte, Senador?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu quero apenas partir da seguinte premissa: se não há dossiê, o que vazou? O que veio da Casa Civil para esse computador que V. Exª fala: peça de ficção ou fatos concretos? Acusava o ex-Presidente da República ou não? Com que objetivo ou intenção? Se nós abrirmos os jornais, nós vamos ver que a própria Ministra Dilma, em declarações a entidade em que esteve reunida em uma mesa-redonda disse que o Governo não vai apanhar sozinho; vai se preparar para enfrentar a Oposição nessa CPI. Daí por que, meu caro Senador João Pedro, a questão está clara. Não há nenhuma ilegitimidade de um assessor do Senado, que serve a um Senador da República, receber informações sobre irregularidades no Governo. Eu pergunto a V. Exª: é culpado o ex-Ministro José Dirceu por isso? Vamos ser claros. Esse servidor estava a serviço do Ministro José Dirceu?

            V. Exª há de convir que o que envolve isso, esses episódios, não são as questões passadas, mas as questões futuras. Será que o Ministro José Dirceu tem poder, dois ou três anos depois, para influir e para monitorar esse servidor?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - O servidor André estava a serviço do ex-Ministro José Dirceu? É isso?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não, o funcionário do Palácio.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Não, estou falando do servidor do Senado. Estou falando do André. Ele está a serviço de quem?

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não conheço o funcionário André, mas ele está a serviço do Senador Alvaro Dias, que é oposição e que é Senador do PSDB.

            Não tenho procuração para defender o Senador Alvaro Dias, mas o que V. Exª faria se recebesse uma denúncia dessa natureza? Divulgaria ou não? Ficaria calado? Agora, acho que, se há erro, ou acerto, ele foi de quem vazou. Depende da ótica de quem analisa esse fato. O que se precisa examinar é se o senhor vazador o fez por indignação ou se o fez a serviço de alguém que pertence, evidentemente, ao seu próprio governo. Esse fato, Senador, é mais grave do que se pode examinar. Partindo-se dessa premissa, chegaremos rapidamente à conclusão de que o Palácio do Planalto transformou-se numa autêntica tábua de pirulito, onde os vazamentos ocorrem e continuarão ocorrendo.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Heráclito...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Pois não.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - ...não seria prudente aguardarmos as duas investigações? Além disso, a CPI está trabalhando e já há data marcada para os sub-relatores e o relator apresentarem os seus relatórios. Não seria prudente a Polícia Federal concluir a sua investigação, além da própria comissão administrativa, que, no âmbito do Ministério, está apurando? Foram eles que detectaram os dois técnicos, os dois computadores, essa comunicação ilegal e irresponsável que aconteceu. Então, acho que é prudente nós aguardarmos a Polícia Federal. Eu confio muito...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Este debate é importante e quero apenas fazer uma pergunta a V. Exª: qual Polícia Federal? Aquela que o Ministro Tarso Genro disse que não iria apurar nada?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Só existe uma. A Polícia Federal é republicana.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Aquela que o Ministro Tarso Genro afirmou que não apuraria?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Não podemos também, neste debate, tentar desqualificar uma polícia que serve à Nação.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não, quem desqualificou não fui eu, não; quem desqualificou foi o Ministro Tarso Genro, que extrapolou as suas atribuições e disse que a Polícia Federal não iria apurar. Vamos botar as coisas nos seus devidos lugares. Eu, aqui, apenas estou reproduzindo o que disse o Ministro da Justiça do Brasil, o mesmo Ministro que maltratou e expulsou do Brasil os cubanos e negou, até o último momento, o seu gesto e os seus atos. Não fui eu. Estou apenas trazendo fatos históricos.

            Temos de saber, Senador João Pedro, qual foi o objetivo do funcionário, do Partido de V. Exª, militante histórico, ao fazer esse vazamento. Não vamos tampar o sol com a peneira. Que motivo moveu esse homem a fazer isso? Aliás,...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Os dois. O André...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quanto ao André, nós já sabemos. O André serve a um Senador da Oposição e cumpriu o seu papel.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Nós temos de ouvir os dois.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O André não traiu ninguém. O André cumpriu o seu papel.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Precisamos saber como isso chegou à revista Veja, que foi a revista que...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - É um fato...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - É preciso saber. A investigação vai chegar a isso.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador, da mesma maneira que o Partido de V. Exª, quando era Oposição, enchia não só a Veja, mas também a imprensa nacional de notícia contra governos. A história é sempre essa. Não vamos fugir do foco central da questão. Por que o funcionário traiu? Por que ajudou André a cumprir o seu papel? Por que deu o direito ao Senador Alvaro Dias de denunciar ao País o fato? Não vamos condenar a revista Veja pelo fato de divulgar um assunto dessa importância, porque, se foi divulgado, é porque o fato existia. O que nós precisamos saber é o que motivou o funcionário, militante do seu Partido, militante histórico, a fazer denúncia. Decepção? Revolta? Descontentamento porque uma candidata que não é do seu agrado foi lançada à Presidência da República? Qual foi o motivo que gerou esse ato?

            Segundo: é um ato isolado? Vem mais coisa aí? V. Exª concorda que foi o Ministro José Dirceu, por ele ter servido ao Ministro? Dois, três ou quatro anos depois? O velho Ulysses Guimarães, que me ensinou muito na vida, dizia que para muitos, gratidão é a esperança do favor futuro.

            Tem um caso clássico aí. No início do Governo Lula, quando eram disputados os fundos de pensão, ficou estabelecido que essa seria uma área intocável do então poderoso Gushiken. José Dirceu, na época, o homem forte do Governo, conseguiu ficar com um deles, situado no Rio de Janeiro. Dois meses depois, o seu indicado já estava a serviço do Gushiken, que era o homem forte do setor.

            Ora, se as traições acontecem quando você tem a caneta na mão, imagine quando você deixa o poder. Fique certo, meu caro amigo, que o vazador está servindo a quem está no âmago do poder, a quem tem aspirações futuras. Não jogue esse lixo atômico no passado. O Dr. José Dirceu é um homem hoje envolvido em causas financeiras, em questões nobres.

            Hoje mesmo, a notícia do jornal é de que ele assinou um milionário contrato com a Coca-Cola. Quero ver se, na sua próxima chegada à ilha, não vai, naturalmente, levar uma caixinha desse saboroso líquido para o velho companheiro Fidel.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito...

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Em seguida, Senador Mão Santa.

            A questão é outra. É preciso saber a serviço de quem o funcionário vazou a informação, e o Governo, se tiver juízo, vai examinar quantos vazadores estão em volta, porque esse é um processo que está apenas no começo. Pau que dá em Chico dá em Francisco. Todo aquele procedimento usado no passado, quando éramos governo e os senhores oposição, está acontecendo hoje no sentido inverso. Mas naquele tempo os vazamentos, repito, eram de natureza política, ideológica e desejo de poder; agora, todos eles têm um motivo de origem inconfessável, que envolve recursos públicos.

            Concedo o aparte ao Senador Mário Couto e, em seguida, a V. Exª, Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Cede logo a mim, porque eu vou viajar!

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador Heráclito Fortes, primeiro, quero parabenizar o discurso e o raciocínio de V. Exª, fazendo uma análise dos fatos que são notícia nos últimos dias nesta Pátria querida, o Brasil. Senador, quando a Ministra esteve aqui, neste Senado, prestando esclarecimentos, logo no início, esqueceu-se de responder ao questionamento do Senador Arthur Virgílio. Até que foi um esquecimento perdoável, cobrado por mim, depois. E fiz a pergunta à Ministra, até emocionado, por ver a Ministra falar dos tempos de ditadura, em que foi presa. Emocionou-me, e parti até para elogiar a Ministra. Depois, perguntei a ela e lhe disse que ela teria, naquele momento, uma grande oportunidade para, de uma vez por todas, esclarecer esse fato, se era banco de dados, se era dossiê, quem fez, quem não fez, por que foi feito. E ela ratificou e disse que, mais uma vez, ia dizer à Nação que não era dossiê, era banco de dados. E disse coisas que, naquele momento, se não me convenceram totalmente, me deixaram na dúvida. Quarenta e oito horas depois de o Governo comemorar a vinda da Ministra - e o Presidente Lula, eufórico -, a notícia de que realmente é um dossiê, de que realmente vazou de dentro da Casa Civil e de mais detalhes que deixam a Nação com um profundo ponto de interrogação. José Dirceu vem novamente aparecendo nas questões do Governo. E vou usar esta tribuna para falar daqui a pouco. Primeiro, nobre Senador Heráclito, a Ministra faltou com a verdade e agora tem de mim uma profunda decepção. Estou decepcionado com a Ministra. Até então, a Ministra tinha ganho de mim toda a afirmação de que ela tinha uma postura muito digna. Hoje não digo a mesma coisa, faltou com a verdade. Mentir pressionado por uma ditadura, se perdoa; mas mentir numa democracia é imperdoável, Senador, imperdoável. Não há mais o que questionar. O dossiê é dossiê mesmo. Foi feito para intimidar a Oposição, e não há mais nada o que questionar. É só afirmar isso diante dos depoimentos dos culpados, que não têm outra alternativa senão confirmar. Quero parabenizar V. Exª. Daqui há pouco farei meu pronunciamento em relação a esse episódio.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Meu caro Senador João Pedro, fiquei muito feliz quando ouvi hoje as afirmativas do Presidente Lula para estimular os Ministros que venham sempre ao Congresso. Não condenei, em nenhum momento, a posição do Presidente Lula com relação aos elogios que fez ao Congresso, mas acho que o Presidente Lula teria que transformar em prática as suas palavras, dizendo à Ministra Dilma que voltasse imediatamente ao Senado, Senador Mário Couto, para refazer ou para esclarecer o que, 24 horas após o seu debate aqui, veio à tona, para restabelecer a verdade, para, humildemente, prestar esclarecimento e mostrar onde errou ou onde não foi precisa.

            Era o mínimo que faltava, Senador Mário Couto, a quem agradeço o aparte.

            Em segundo lugar, quero lembrar a V. Exª en passant os casos de dossiês patrocinados pela Oposição quando V. Exª bem sabe a atuação do Partido. Quem não se lembra do dossiê do Alceni Guerra, que foi trucidado, afastado da vida pública, depois retornou? Do dossiê de Ibsen Pinheiro quem não se lembra? E do próprio dossiê contra o então Presidente Collor, que hoje - felizmente, como somos um País de pouca memória, e o esquecimento é forte, é uma tônica -, apóia o Governo de V. Exª? De forma que essa é uma prática que já existia, foi criada e foi gerada nos momentos de Oposição em que os oposicionistas faziam-nos acreditar que o discurso da moralidade administrativa era verdadeiro, como também dos sentimentos.

            Quem não se lembra, Senador João Pedro, da vinda ao Brasil e a este Congresso de José Bové, aquele simplório líder francês que combatia os transgênicos e que veio a esta Casa numa visita de protesto à adesão do Brasil a determinada prática? Foi esmurrado, empurrado. Hoje, como será que o Partido dos Trabalhadores vai encontrar com José Bové? A traição aos princípios, defendidos quando Oposição, está aí a toda prova.

            Meu caro Senador, vou encerrar minhas palavras, apenas alertando que o que dá para rir dá para chorar. Questão de peso e medida, problema de hora e de lugar. Feliz Billy Blanco quando se inspirou e fez essa canção.

            Senador João Pedro, apenas a ponta do iceberg começa a aparecer no cenário da política brasileira. O lançamento da candidatura da Ministra é o motor de toda essa geração de informações. Mas V. Exª foi feliz e preciso num fato: a Oposição, não que seja incompetente, mas é impotente para ter acesso a determinados fatos. Os fatos só chegam à Oposição por intermédio dos vazadores, que traem a confiança dos governos a que servem.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito, do Piauí.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Com o maior prazer. Vou só concluir a frase: dos governos a que servem, na perspectiva de servir ou de se credenciar para governos futuros na prática da perpetuação do poder.

            Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito, “um quadro vale por dez mil palavras”. Mozarildo, foi Confúcio. Ô, Alíbio, focaliza aqui: “Engodo do PAC da Ministra”, Estado de S. Paulo. “Engodo do PAC da Ministra”. Só o fim: “Nunca antes na história deste País se viu engodo dessas proporções”. Leiam O Estado de S. Paulo: “O engodo do PAC e da Ministra”. Aprendi, ô, Paim, com Abraham Lincoln, que fez as campanhas defendendo os negros lá: “este país não pode ser metade livre e metade escravo”. Ele disse também: nós conseguimos enganar poucos por muito tempo e muitos por pouco tempo, mas ninguém pode enganar todo o mundo por todo o tempo. Esse PAC, para mim, é um programa de aloprados cacarejadores. É só mentira. E eu queria dizer o significado dessa reunião... Ali temos presentes duas bravas mulheres - Deputadas Marília Pinto e Aurelina Medeiros -, que vieram aqui pedir socorro ao Presidente da República para que acabe com aquela política indígena caótica que está preocupando o Estado de Roraima.

            O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Solidarizo-me com as Deputadas visitantes e quero, por dever de justiça, dizer que o Senado todo conhece essas questões que envolvem terras indígenas em Roraima por meio da luta permanente do Senador Mozarildo. Eu testemunho mais pelo fato de ser Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional e de vê-lo lutando por esta causa há muito tempo. Portanto, por dever de justiça, faço este registro.

            Senador Mão Santa, com relação ao PAC, para finalizar, digo apenas: o PAC me parece muito com o Wakamoto. O Wakamoto, Senador Eurípedes, V. Exª se lembra e o Senador Pedro Simon também, foi um remédio de origem japonesa lançado no Brasil no final da década de 50. Foi, talvez, a maior campanha publicitária de que o Brasil teve conhecimento àquela época: uma japonesa de quimono, pelas ruas das grandes cidades, aquelas lanternas japonesas bonitas, cada lanterna representando uma letra. E havia o Wakamoto em todas as farmácias do Brasil.

            O Wakamoto - o Senador Simon se lembra bem - servia para prisão de ventre e diarréia, para dor, para excesso de vigor e para indisposição, para queda e nascimento de cabelo. Foi uma campanha fantástica. O Wakamoto batia todos os recordes de venda nas farmácias brasileiras.

            De repente, os estoques começaram a encalhar, a renovação não foi feita. Um ano depois, viam-se nas farmácias as embalagens envelhecidas pelo tempo, amarelando, e o estoque de Wakamoto dando prejuízo aos farmacêuticos. Aquilo que servia para tudo neste País, Senador Paulo Paim, a realidade e o tempo mostraram que não servia para nada.

            Espero que o PAC não seja o Wakamoto do povo brasileiro; espero que o PAC saia desta fase de pura enganação, de palanques montados para se criarem perspectivas, e de realidade pouca.

            Quero dizer, Senador Simon, que tenho inveja quando vejo companheiros fazer apologia do PAC. Para o Piauí - repito e insisto em repetir -, o PAC é como a linha do horizonte: você sabe que existe, vê, mas nunca alcança; quanto mais tenta se aproximar, mais distante fica. E isso não é bom para nós, isso não é bom para o Brasil.

     Ministra Dilma, cuidado com os vazadores, eles estão por todo lugar. Se for o José Dirceu, mude metade do governo, porque o José Dirceu, quando poderoso, foi quem fez este governo atual, foi quem construiu este governo atual.

            Então, Ministra Dilma, se for verdade, cuidado até com a sua própria sombra.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2008 - Página 13554