Discurso durante a 48ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a Operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, de combate ao desmatamento na Amazônia brasileira.

Autor
Fátima Cleide (PT - Partido dos Trabalhadores/RO)
Nome completo: Fátima Cleide Rodrigues da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Considerações sobre a Operação Arco de Fogo, da Polícia Federal, de combate ao desmatamento na Amazônia brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 10/04/2008 - Página 8534
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • REGISTRO, ATUAÇÃO, OPERAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, COMBATE, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, EMBARGOS, ATIVIDADE, AGROPECUARIA, EXTRAÇÃO, MADEIRA, MUNICIPIOS, REGIÃO, COMPROVAÇÃO, AUSENCIA, CONTROLE, SUPERIORIDADE, DERRUBADA, FLORESTA.
  • COMENTARIO, INSTALAÇÃO, SENADO, SUBCOMISSÃO, AMBITO, COMISSÃO, MEIO AMBIENTE, FISCALIZAÇÃO, POSSIBILIDADE, IRREGULARIDADE, OPERAÇÃO, COMBATE, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA.
  • REGISTRO, ENCAMINHAMENTO, DOCUMENTO, MARINA SILVA, TARSO GENRO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), APOIO, DEPUTADO ESTADUAL, EMPRESARIO, REGIÃO AMAZONICA, DISPOSIÇÃO, ACORDO, GOVERNO, RECUPERAÇÃO, FLORESTA, INCORPORAÇÃO, AREA, DEGREDO, PROCESSO, PRODUÇÃO, REDUÇÃO, NECESSIDADE, UTILIZAÇÃO, FOGO, FORMAÇÃO, PASTAGEM, APERFEIÇOAMENTO, INSTRUMENTO, CONTROLE, ATIVIDADE AGRICOLA, INTEGRAÇÃO, COOPERAÇÃO, AGENTE, SETOR PUBLICO, SETOR PRIVADO, DESTINAÇÃO, EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE.
  • COMENTARIO, POSIÇÃO, EMPRESARIO, ESTADO DE RONDONIA (RO), DEFESA, NEGOCIAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, AUMENTO, RECURSOS, FINANCIAMENTO, PROPOSTA.

A SRª FÁTIMA CLEIDE (Bloco/PT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, neste início de ano, sobretudo nas últimas semanas, algumas ações em curso no âmbito das políticas do Governo Federal considero cruciais à compreensão da vida nacional e à nossa intervenção nela neste momento.

Refiro-me à chamada Operação Arco de Fogo, de combate ao desmatamento na Amazônia brasileira, que recentemente colocou sob embargo centenas de empreendimentos agropecuários e madeireiros sediados em 36 municípios da Amazônia, onde se verificou excessiva ampliação do desmatamento nos últimos meses, segundo dados do sistema de monitoramento por satélites sobre a região.

Tenho, Sr. Presidente, ouvido duras críticas à Ministra Marina Silva e ao Governo Federal, proferidas desta tribuna desde que a Operação Arco de Fogo foi deflagrada, em fins de fevereiro deste ano.

O Senado instalou uma subcomissão temporária no âmbito da Comissão de Meio Ambiente, segundo alguns, para fiscalizar e buscar eventuais irregularidades na operação que, por sua vez, se realiza para coibir a mais visível das irregularidades na Amazônia: o desmatamento legal e a rede de atividades criminosas a elas associada.

Sr. Presidente, antes de continuar, eu gostaria de que meu tempo fosse registrado, porque eu não quero, de maneira nenhuma, infringir o Regimento da Casa.

Senhoras e senhores, não poderia deixar de tratar aqui deste assunto, especialmente como filha e representante de um dos três Estados envolvidos e priorizados pela Operação Arco de Fogo, que é o Estado de Rondônia. E tenho a satisfação de falar aqui sobre este assunto, respaldada pela sociedade rondoniense, mais especialmente pelo setor produtivo agropecuário e madeireiro do meu Estado e de boa parte de sua Bancada parlamentar, federal e estadual. Nesse sentido, faço questão de trazer ao conhecimento desta Casa e dos que nos acompanham, por meio da mídia do Senado, dois documentos que foram entregues diretamente à Ministra Marina Silva e ao Ministro Tarso Genro, na semana passada. Os dois documentos têm conteúdo essencialmente semelhante: um, mais sintético, assinado por 17 dos 24 Deputados estaduais por Rondônia; o outro, um pouco mais extenso, assinado por representantes do setor empresarial, agropecuário e madeireiro. Um grupo de Deputados e empresários rondonienses, capitaneados pelo Sr. João do Vale, Presidente da Associação dos Produtores Rurais, da cidade de Porto Velho, acompanhados pelo Senador Valdir Raupp, a Deputada Mariinha Raupp e eu - entregaram os documentos à Ministra Marina e, posteriormente, ao Ministro Tarso Genro, reiterando pessoalmente as propostas ali descritas.

Ao contrário, Sr. Presidente, da reação inicial dos setores embargados por força das leis ambientais e trabalhistas de nosso País e por ação responsável do Governo Lula, os representantes políticos e empresariais de Rondônia saudaram a ação da Ministra Marina e sua equipe, declararam seu apoio à operação Arco de Fogo e apresentaram propostas que não apenas corroboram os objetivos da operação como a radicalizam em direção ao desmatamento zero - proposta essa já referendada várias vezes, desta tribuna, pelo Senador Valdir Raupp - por demanda e compromisso da sociedade de Rondônia.

Segundo o documento dos Deputados Estaduais de Rondônia, o principal gerador de emprego e renda no Estado, no ano passado, foi o segmento madeireiro, que tende a expandir-se proporcionalmente à ampliação de pastos e monoculturas agrícolas.

Senhoras e senhores, o empresariado madeireiro e agropecuário de Rondônia entende que é fundamental organizar uma estrutura produtiva sustentável e se reconhecem atores desse processo juntamente com os agentes públicos.

Nessas condições, se declaram dispostos a firmar um compromisso com a sociedade e os diferentes níveis de governo, tendo por foco principal as seguintes metas: desmatamento zero; recuperação de matas ciliares e mananciais; incorporação de áreas degradas ao processo produtivo; adoção de medidas que reduzam a utilização do fogo para formação de pastagens ou para qualquer outra prática agrícola; implementação de sistemas agroflorestais; melhoramento genético; aprimoramento dos mecanismos de rastreabilidade da produção; integração e cooperação entre agentes públicos e privados voltados à educação ambiental.

Os empresários de Rondônia entendem que, para viabilizar tais compromissos, algumas medidas demandam ações do Poder Público, em função do que solicitam a realização de rodadas de negociação, com a seguinte pauta: regularização fundiária; aporte de recursos para financiamento das propostas elencadas; reconhecimento das áreas alteradas e passíveis de incorporação ao processo produtivo; monitoramento por parte dos órgãos competentes nas áreas de reserva; adoção de medidas para coibir o uso do fogo para a limpeza das margens de rodovias e estradas vicinais; implantação de assentamentos para a reforma agrária em bases sustentáveis; pesquisa e desenvolvimento para oferta de exploração de atividades agropecuárias ambientalmente sustentáveis.

Sr. Presidente, assim se pronuncia o empresariado do Estado de Rondônia - que não se confundem com os criminosos. Pelo contrário, são vítimas dos criminosos, como o é toda a sociedade. E querem, tanto quanto toda a sociedade, ver coibido o crime ambiental em Rondônia.

As pessoas de bem que compõem a maior parte de nossa sociedade também são maioria entre os empresários que produzem emprego e renda em meu Estado.

E estes empresários têm resistido, a duras penas, à concorrência desleal dos que produzem sobre a ilegalidade, grileiros de terras, desmatadores, patrões do trabalho escravo, traficantes de madeiras roubadas de terras indígenas e de reservas florestais, corruptores das estruturas de governo.

Com o aval do Legislativo Estadual, vieram a Brasília dizer isso pessoalmente a nós, seus representantes no Parlamento Federal e ao Governo Federal, por meio da Ministra Marina Silva e do Ministro Tarso Genro. Vieram nos dizer que sabem que a degradação que acomete Rondônia e a Amazônia é a mesma degradação que ameaça ao mundo inteiro. Porém, é a grandeza preservada na Amazônia que a expõe, revela a grandeza do crime praticado e convoca o grande “empate”, como chamava o nosso querido e saudoso Chico Mendes.

Srªs. e Srs. Senadores, globalmente, a Amazônia é símbolo da regeneração possível, a grande porção de abundância e adversidade, a reserva vital da humanidade, a generosa semente do amanhã.

E a sociedade brasileira vive um momento especialíssimo, em que se deflagra potencial “revolução armada” - faço questão de aspear esse termo -, só que “armada” de leis e direitos, reconhecidos pelas instituições democráticas, pelas quais tanto temos lutado há tanto tempo.

Os empresários de bem do Estado de Rondônia vieram nos dizer que as grandezas da Amazônia e a grandeza deste momento não permitem que seus atores se apequenem com oportunismos e receios mesquinhos dos interesses imediatos de grupos particulares privilegiados.

A Assembléia Legislativa de Rondônia, que por mim muitas vezes foi criticada, por sua vez, recém-aprovou, em tempo recorde, projeto de lei estadual dispondo sobre o desmatamento zero pelos próximos cinco anos no Estado. Essa é uma medida que merece aplauso de todos nós. E enviou seus representantes para dizer aos seus pares no Parlamento nacional que é necessário adensar nossa atuação e afiar nosso discurso na luta, para que não retrocedam as leis aprovadas, que não se desfigure o arsenal legal socioambiental conquistado - entre os mais avançados do mundo. E que, em vez de pedir ao Ministério do Meio Ambiente para “pegar leve”, é necessário dizer ao Governo e à sociedade: “vai fundo” e “vamos nessa”.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para concluir, quero dizer de meu profundo orgulho e alívio com a iniciativa desses representantes do Legislativo e do empresariado do Estado de Rondônia, em apoio à Operação Arco de Fogo de combate ao desmatamento ilegal do bioma amazônico.

E que seu exemplo nos inspira e anima, reafirmando que Rondônia exige respeito porque se reconhece digna dele.

Muito obrigada, Sr. Presidente. Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/04/2008 - Página 8534