O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou ler aqui para que os Senadores que têm um pouco de coração e os brasileiros que têm um pouco de sentimento sintam a emoção que tive ao receber esta cartinha de uma senhora lá do interior do Espírito Santo. Diz ela:

“Meu pai tem 71 anos e trabalhou a vida toda para deixar alguma coisa para os filhos, ele tem uma fazenda [...] com 50% de mata preservada, no Sul do Pará (Ourilândia do Norte), há 20 anos, [...] onde ele trabalha dia e noite para tirar o sustento dele e da minha mãe e ainda ajuda muito aos filhos. A Fazenda dele fica bem próxima de onde a Vale comprou a mineradora Onça Puma, resumindo é uma fazenda onde muitos estão interessados por ela devido à proximidade da cidade que está crescendo muito devido a Vale, nos últimos 4 anos, os sem terra tem perturbado muito ele [meu pobre pai] e minha [humilde] mãe e nesse final de semana invadiram a fazenda deles, minha mãe, sem meu pai [... - estava só em casa - ontem à noite foi conversar com o líder deles e eles disseram que invadiram a fazenda para loteá-la e vendê-la. Minha mãe foi conversar com eles sem meu pai saber...] ontem à noite meu pai rezava e chorava ao mesmo tempo, indignado com a falta de justiça desse país, pois os sem terra só estão interessados em tirar a fazenda do meu pai para [loteá-la] vender pois a região está se valorizando muito, [Aí ela pergunta] por que eles não invadiram ela [a fazenda] do meu pai a 20 anos atrás quando não tinha nada pronto nela [nem estrada lá tinha, nem energia elétrica, nem cidade tinha próximo? Agora que está tudo pronto, eles invadiram a fazenda]. Preciso de ajuda para [meu pobre e velho pai] encontrar justiça. Para poder ajudar meus pais.”(sic)

            Eu acho que não preciso terminar acrescentando nada.

            Eu queria fazer um apelo ao coração do Presidente da República. Acho que não podem brasileiros serem submetidos a humilhações desse tipo. O Presidente tem sido tão bonzinho com o Evo Morales - deu a refinaria da Petrobras para ele; está tão bonzinho com o Lugo, do Paraguai - vai dar bilhões de dólares nas contas de luz como o Lugo quer; tão bonzinho com a Argentina - o Brasil está mandando energia elétrica para lá. Por que não ser bonzinho - aliás, bonzinho, não, justo - com um pobre brasileiro de 71 anos que trabalhou a vida toda numa propriedade, onde mora, que agora é invadida pelos sem-terra? Acho que basta a carta. Nem é preciso o discurso. Vou mandá-la para o Presidente da República. Sei que ele é um homem muito ocupado, tem muito o que fazer, mas não se pode fazer isso com um pobre brasileiro.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Camata...

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Regimentalmente, estou impedido...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Montesquieu fala que a necessidade e o fato é que fazem a lei. V. Exª é um homem... Tenho repetido, e vou repetir mais uma vez para o Luiz Inácio: Norberto Bobbio, Norberto Bobbio, Norberto Bobbio. Comecei a ler e a admirá-lo. Quem tem bastante luz não precisa diminuir ou apagar as luzes dos outros para brilhar. Mas atentai bem, Fernando Henrique Cardoso é culto mesmo, é estadista; não adianta ter inveja. A inveja e a mágoa corrompem os corações. Ele só citava Norberto Bobbio, e aquilo me fez debruçar-me sobre Norberto Bobbio. Luiz Inácio - olhem, estou facilitando muito as coisas para o Luiz Inácio -, só vou repetir o que Norberto Bobbio disse, de toda a vida, que todo o mundo democrático hoje segue.

            O parlamento italiano do renascimento tem aqueles senadores vitalícios. São cinco, por mérito, que eles convocam. Norberto Bobbio morreu, mas deixou escrito que o mínimo que se tem que exigir de um governo é segurança à vida, à liberdade e à propriedade. Luiz Inácio, aprenda. Camata, meus parabéns e meus cumprimentos. Estou orgulhoso do PMDB, porque V. Exª renasceu o clamor de justiça com que o PMDB encantou este País.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado a V. Exª.

            Sr. Presidente, eram minhas palavras. Muito obrigado pela tolerância de V. Exª.