Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Marina Silva e considerações sobre seu pedido de demissão do cargo de Ministra do Meio Ambiente.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Marina Silva e considerações sobre seu pedido de demissão do cargo de Ministra do Meio Ambiente.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior, Jefferson Peres, Mão Santa, Paulo Paim, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2008 - Página 14167
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, MARINA SILVA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), ENCAMINHAMENTO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APRESENTAÇÃO, PEDIDO, DEMISSÃO, CARGO DE CONFIANÇA.
  • HOMENAGEM, MARINA SILVA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, RELEVANCIA, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, EFICACIA, TRABALHO, GESTÃO, MINISTERIO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, tivemos uma notícia surpreendente ontem com a saída da Ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente do Governo do Presidente Lula. Conheço a Marina há muitos anos. Desde os anos 80, convivemos, mas, sobretudo a partir de 1995, quando ela foi eleita Senadora pela primeira vez, desenvolvemos um diálogo aqui - e o Senador Pedro Simon, que já se encontrava aqui, sabe do respeito e da amizade que desenvolvemos um pelo outro, assim como com tantos companheiros aqui, no Senado.

            Quando eu soube que a Senadora e Ministra Marina Silva havia enviado carta ao Presidente Lula solicitando para sair do cargo de Ministra, resolvi, ontem, à noite, visitá-la em sua residência e expressar minha admiração e meu respeito e, certamente, a certeza de que a Ministra Marina Silva, onde estiver, vai continuar mostrando um extraordinário trabalho, mostrando o que é a retidão de propósitos, o que é levar adiante princípios da sua própria formação. É uma mulher de profunda formação cristã que, na sua infância, teve extraordinárias dificuldades, que acabou por realizar seus estudos, que, mais tarde do que a idade habitual, aprendeu a ler e a escrever e que se formou em escola superior.

            Sobretudo na sua convivência com os povos da floresta, irmanou-se com pessoas como Chico Mendes, de quem foi companheira e discípula. Chico Mendes ensinou aos brasileiros, aos acreanos, aos amazonenses e ao mundo também como era possível gerar riquezas na floresta, preservando-a. Seguindo seus passos e ensinamentos, Marina Silva foi eleita Deputada Estadual e Senadora e tem sido considerada uma pessoa extraordinária.

            De todos os Ministros de Estado do Governo do Presidente Lula, justamente Marina Silva foi considerada como a pessoa de maior destaque no Brasil e no próprio Governo do Presidente Lula por inúmeras organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), e por pessoas que muito estudaram a questão do aquecimento global, como o ex-Vice-Presidente Al Gore, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus estudos e que, quando veio ao Brasil, fez questão de visitar a Ministra Marina Silva e de com ela dialogar, pelo seu trabalho.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Suplicy...

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu gostaria, Senador Mão Santa, de lhe conceder o aparte, mas a Ministra Marina Silva pediu-me que lesse da tribuna do Senado a carta tão alta, tão digna em que ela transmitiu ao Presidente Lula seu desejo de sair do Ministério. Eu lhe agradeço se V. Exª puder aguardar a leitura desta bela carta, uma carta de agradecimento ao Presidente, que nela confiou, que abriu espaços para ela realizar um extraordinário trabalho, mas também uma carta em que coloca razões de profundidade que explicam a decisão por ela tomada após cinco anos e meio de colaboração com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            Então, Sr. Presidente Papaléo Paes, começo a leitura desta epístola da Ministra Marina Silva:

Brasília, 13 de maio de 2008.

Caro Presidente Lula,

Venho, por meio desta, comunicar minha decisão, em caráter pessoal e irrevogável, de deixar a honrosa função de Ministra de Estado do Meio Ambiente, a mim confiada por V. Exª desde janeiro de 2003. Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nesse período de quase cinco anos e meio, esforcei-me para concretizar sua recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de governo, quebrando o tradicional isolamento da área.

Agradeço também o apoio decisivo, por meio de atitudes corajosas e emblemáticas, a exemplo de quando, em 2003, V. Exª chamou a si a responsabilidade sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazônia, ao criar grupo de trabalho composto por 13 Ministérios e coordenado pela Casa Civil. Esse espaço de transversalidade de governo, vital para a existência de uma verdadeira política ambiental, deu início à série de ações que apontou o rumo da mudança que o País exigia de nós, ou seja, fazer da conservação ambiental o eixo de uma agenda de desenvolvimento cuja implementação é hoje o maior desafio global.

Fizemos muito: a criação de quase 24 milhões de hectares de novas áreas de conservação federais, a definição de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em todos os nossos biomas, a aprovação do Plano Nacional de Recursos Hídricos, do novo Programa Nacional de Florestas, do Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e temos em curso o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Reestruturamos o Ministério do Meio Ambiente, com a criação da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro; com melhoria salarial e realização de concursos públicos que deram estabilidade e qualidade à equipe; com a completa reestruturação das equipes de licenciamento e o aperfeiçoamento técnico e gerencial do processo. Abrimos debate amplo sobre as políticas socioambientais, por meio da revitalização e criação de espaços de controle social e das conferências nacionais de Meio Ambiente, efetivando a participação social na elaboração e implementação dos programas que executamos.

            Aqui, abro parênteses para ressaltar que fui testemunha de inúmeras conferências sobre o meio ambiente. Ainda na semana passada, presenciei conferência na qual a Ministra Marina Silva, diante de oito Ministros do Governo do Presidente Lula e de milhares de pessoas que lotavam o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no Distrito Federal, em Brasília, fez um bonito pronunciamento, não mencionou qualquer hipótese de sair do Ministério, mas mostrou a extraordinária qualidade da preocupação dela. Ressalto também que foi a Ministra Marina Silva que estimulou jovens de todo o País nas escolas a realizarem estudos, trabalhos e dissertações sobre meio ambiente.

            Prossegue Marina Silva, em sua carta do Presidente:

Em negociações junto ao Congresso Nacional ou em decretos, estabelecemos ou encaminhamos marcos regulatórios importantes, a exemplo da Lei de Gestão de Florestas Públicas, da criação da área sob limitação administrativa provisória, da regulamentação do art. 23 da Constituição, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Contribuímos decisivamente para a aprovação da Lei da Mata Atlântica.

Em dezembro último, com a edição do Decreto que cria instrumentos poderosos para o combate ao desmatamento ilegal e com a Resolução do Conselho Monetário Nacional, que vincula o crédito agropecuário à comprovação da regularidade ambiental e fundiária, alcançamos um patamar histórico na luta para garantir à Amazônia exploração equilibrada e sustentável. É esse nosso maior desafio. O que se fizer da Amazônia será, ouso dizer, o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o desejo de crescimento. Sua importância extrapola os cuidados merecidos pela região em si e revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento.

Hoje, as medidas adotadas tornam claro e irreversível o caminho de fazer da política socioambiental e da economia uma única agenda, capaz de posicionar o Brasil de maneira consistente para operar as mudanças profundas que, cada vez mais, apontam o desenvolvimento sustentável como a opção inexorável de todas as nações.

Durante essa trajetória [ressalta a Senadora e Ministra Marina Silva], V. Exª é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem pela frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a agenda ambiental.

Tenho o sentimento de estar fechando um ciclo cujos resultados foram significativos, apesar das dificuldades. Entendo que a melhor maneira de continuar contribuindo com a sociedade brasileira e o governo é buscando, no Congresso Nacional [portanto, aqui, entre nós, no Senado], o apoio político fundamental para a consolidação de tudo o que conseguimos construir e para a continuidade da implementação da política ambiental.

Nosso trabalho à frente do MMA incorporou conquistas de gestões anteriores e procurou dar continuidade àquelas políticas que apontavam para a opção do desenvolvimento sustentável. Certamente, os próximos dirigentes farão o mesmo com a contribuição deixada por esta gestão. Deixo seu governo com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, termos feito algo de relevante para o Brasil.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Marina Silva

            Que carta bonita!

            Senadores Mão Santa, Pedro Simon, Paulo Paim e Jefferson Péres, se o Presidente puder ter a tolerância para que todos, rapidamente, possam...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Primeiro, conceda o aparte ao seu colega do PT. É muito importante. É o único do PT que está presente além de V. Exª e merece a oportunidade.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Mão Santa, V. Exª foi o primeiro a me pedir o aparte. O Senador Paulo Paim gostaria de apartear-me, e sinto-me muito honrado.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - É claro. O Paim não lidera só o PT, não; muitas vezes, lidera-nos também, como agora, neste instante.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Paulo Paim, ainda ontem, à noite, a Ministra comentou comigo: “Parece simbólico, mas, nos 120 anos da abolição da escravidão, estou deixando o Ministério do Meio Ambiente”.

            Ouço o aparte de V. Exª, com muita honra.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Suplicy, vou pegar o gancho de V. Exª. Ontem, à noite, às 22h, eu estava na Câmara dos Deputados, juntamente com outros Parlamentares, para aprovarmos - e aprovamos - a anistia definitiva a João Cândido, o Almirante Negro. Essa anistia é obra da Ministra Marina Silva. Exatamente no dia em que ela deixa o Governo, o Congresso parece que faz uma homenagem - é a conspiração do universo - à Ministra. Foi uma luta de anos em que ela vinha buscando essa anistia para o grande João Cândido, o Almirante Negro. Quero só dizer a V. Exª que, hoje, pela manhã, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, fiz a leitura de um texto em placa de prata que a Comissão encaminhou à Ministra Marina, numa audiência pública em que ela estava presente. Depois de fazermos a leitura do texto, que estava ali gravado, e de entregarmos a ela, em mão, a placa, eu lhe disse, no fim: “Ministra, como é bom saber que, no mundo, existem pessoas iguais a você!”. Sem sombra de dúvida, a Ministra Marina é um ícone, é um emblema, é uma referência para todos nós. Eu dizia lá e vou repetir aqui: qualquer proposta que vier do Ministério do Meio Ambiente cujo tema não for debatido com a ex-Ministra Marina terá dificuldade de aprovação, porque ela é uma referência para todos nós. Haveremos - eu, pelo menos - sempre de consultá-la sobre qualquer proposta que venha para cá e que dependa do referendo, da aprovação do Senado da República. Ela continuará, aqui, sendo essa estrela, em nível internacional, na luta em defesa do meio ambiente. A estrela dela vai continuar brilhando, porque defender o meio ambiente é defender a vida. Por isso, meus cumprimentos também a V. Exª. V. Exª foi muito feliz ao ler essa carta, fazendo com que este espaço da sessão, no meu entendimento, pelo número de apartes, seja como uma breve comunicação de homenagem à ex-Ministra Marina Silva.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, caro Senador Paulo Paim. Boa nova V. Exª nos traz: a aprovação, ontem, do projeto da Senadora Marina Silva que dá anistia a João Cândido, o Almirante Negro. Meus cumprimentos e minha solidariedade a V. Exª.

            Ouço o Senador Mão Santa, com muita honra.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, aprendi a respeitá-la e a admirá-la por influência da Senadora Heloísa Helena, que convivia conosco. Por duas vezes, precisei da Ministra, e uma delas foi quando conseguimos marcar uma audiência para defender a carcinicultura no Piauí e no Nordeste. Ali estávamos vários Parlamentares e eu. Aí testemunhei que ela era aquilo que Heloísa Helena falava dela: uma mulher de muita coragem, de muita fé e de princípios religiosos, de muita pureza. Dessa pureza precisa-se no PT e na democracia do Brasil. A outra vez foi quando o Piauí estava ameaçado por empresários que não obedeciam aos princípios da ecologia. Houve uma transação de grande área de quase 200 mil hectares em zona que se chama Serra Vermelha, perto da Serra das Confusões, perto de Guaribas, perto de Caracol.

E ela impediu esta transação criminosa, que era a transformação da natureza, flora e fauna, em carvão por uma empresa rica. E só temos a lamentar, porque o Piauí está diminuindo aqui, pela ausência do Senador que emprestamos ao Acre, o Sibá Machado. Mas ela é uma autoridade pessoal. Há pessoas que só são autoridades pelo cargo. Ela, não; ela é uma pessoa que todos saberemos respeitar aqui, no Senado, e sua presença vai engrandecer esta Casa.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Suas palavras mostram seu testemunho sobre o trabalho dela.

            Quero aqui também aproveitar a oportunidade, já que eu havia planejado fazê-lo ao final do meu pronunciamento, e prestar a devida homenagem ao Senador Sibá Machado, porque, com a vinda de Marina Silva, Sibá Machado estará batalhando em algum lugar deste Brasil, mas, possivelmente, sempre colaborando conosco e honrando esse extraordinário mandato, ele que tem interagido de maneira muito positiva e dignificado o povo do Acre.

            Senador Pedro Simon, com muita honra.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Como não podia deixar de ser, é V. Exª quem está na tribuna. Esta é uma característica importante de V. Exª: estar no lugar exato, na hora exata. V. Exª e meu querido conterrâneo Senador Paim, dois brilhantes líderes do PT, estão aqui. Se fosse, talvez, para festejar a entrada de alguém, haveria mais gente. Mas não poderiam faltar o seu pronunciamento e o do Senador Paim nesta hora. Perde o Governo Lula, perde o Brasil, perdemos todos nós com a saída da Ministra do Ministério. Não nego, tenho que fazer aqui um mea-culpa: houve determinado momento em que fui até para a tribuna dizer que eu estranhava a Ministra. “Mas a Ministra, com seu passado, com sua biografia, com sua luta, e essa medida foi aprovada, e aquela foi aprovada, o que ela está fazendo?” Foi aí que fui saber da luta interna que ela estava travando, das dificuldades que ela estava vivendo, dos traumas que ela estava vivendo e dos percalços. Ela foi lutando, lutando bravamente; perdendo muitas, mas tentando defender suas teses. Olha, meu querido Senador, todos conhecemos o ilustre, brilhante Ministro Mangabeira Unger. V. Exª, como eu, conhece ele da época do MDB, quando ele era um lutador, defendendo idéias. Depois, ele se apaixonou pelo Dr. Ulysses; depois, pelo Lula; depois, pelo Ciro Gomes...

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Leonel Brizola!

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Brizola, passou pelo Brizola. É um grande nome, mas há um plano de coordenação...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ...e, em vez de botar a Ministra Marina Silva, botar o homem encarregado do futuro? O Lula não podia ter feito isso. É como se lê na imprensa: ela entendeu o recado. Na verdade, a Marina Silva foi demitida pelo Lula no momento em que, numa sessão solene, ele disse: “A Ministra Marina é a mãe do Pacto Amazônico, mas quem vai dirigi-lo é o ministro do futuro”. Foi uma grosseria. Ela saiu e saiu bem. Saiu dizendo, nas entrelinhas, que agradece o que teve de bom que ela fez, e que conseguiu por causa do Presidente Lula. Ela faz jus ao Presidente Lula, que muitas vezes lhe deu ganho de causa. Mas ela reconhece que foi abatida. Olha, vejo o Frei Betto, vejo o Hélio Bicudo, vejo o Plínio de Arruda Sampaio, vejo a Heloísa Helena e, agora, a Marina. Será que todos esses nomes - Senador Cristovam, aqui do nosso lado; o bravo e querido também Senador do Acre -, será que todas essas pessoas estão erradas? O medo que tenho é porque o Lula está sendo insensato. Assisti, por exemplo, por uma dessas TVs, a TV Brasil - que é TV Lula -, toda a homenagem dos Governadores do Nordeste lá em Alagoas. Aí, ele falou; levou um discurso escrito. Antes de ele ler o discurso que a assessoria preparou para ele, durante meia hora, falou de improviso. Deu para ver que ele está... Meu Deus, acho que ele se considera super, super! E, nessa hora em que não há um Frei Betto, não há uma Marina, não há V. Exª - perdoe-me, mas ele também não o escuta -, o medo que tenho é que ele só escute os incensadores. No PMDB, aqueles que estavam no Governo do Fernando Henrique, com todos os cargos - os mesmos, os mesmos, não mudou ninguém - agora estão com ele, Lula. As mesmas pessoas. Os mesmos que achavam Fernando Henrique excepcional, os mesmos, agora acham o Lula excepcional. E, dentro do PT, a mesma coisa. Quando o Frei Betto disse que saiu, eu disse-lhe: “Mas o senhor tinha que ficar, Frei Betto! O senhor tinha que ficar! Se os bons saem...” Ele respondeu: “Mas eu não tinha mais vez, eu não tinha mais condições. Eu não ia mais ajudar, eu ia atrapalhar”.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu tenho medo dessas pessoas que saem, porque essas são as pessoas que podem aconselhar o Lula. Em todo cargo por que passei - Governador, Ministro, Líder do Governo -, eu fazia questão de ter junto de mim pessoas que eu sabia que pensavam completamente diferente de mim e pessoas que, geralmente, discordavam de mim. E, às vezes, eu dava razão para elas. Os caras ficavam nas reuniões, todo mundo... Ele dizia que não e eu dizia: “Ele é que tem razão”. Porque ele era o que estava de fora e via com independência. Isso vai faltar para o Lula. Eu reconheço. Eu acho o Patrus Ananias um cara espetacular. Acho que ele é um homem digno, correto, decente. Não é por ser meu irmão em Cristo, mas é um homem excepcional. Está lá no negócio da fome. Ele podia ser um deus, pois é o projeto mais espetacular a favor do Governo, mas não aparece, não abre a boca. Eu gosto do Tarso Genro. Acho que a Polícia Federal, apesar de todo mundo estar criticando, está fazendo um grande trabalho e parou de fazer como fazia antigamente, quando ele não era Ministro: botava na imprensa fotografias, o pessoal algemado, fazia um escândalo. Agora, está fazendo na hora exata. Eu gosto da Dilma, apesar de o pessoal do PSDB não gostar. Eu só digo uma coisa: quando a Dilma não estava lá, tudo que era escândalo, tudo que era imoralidade saía da Casa Civil. Tudo saía da Casa Civil! Hoje, o que sai da Casa Civil são coisas de organização positiva. Mas, cá entre nós, o Lula está perdendo os seus grandes aliados e o meu medo é que ele está sendo insensato e incensado, flutuando no ar. Daqui a pouco, meu Deus, não sei onde o Lula vai parar.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Pedro Simon, V. Exª, eu e o Senador Marco Maciel, há poucos dias, conversávamos com o Ministro Roberto Mangabeira Unger e o convidamos para vir, proximamente, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Será uma oportunidade, inclusive, para transmitirmos ao Ministro Roberto Mangabeira Unger o quão importante é, sobretudo quando estiver considerando ações para a Amazônia, ouvir a Senadora Marina Silva. Ele saberá dessa nossa energia positiva para que a voz dela seja de peso muito considerável.

            Agradeço muito, Senador Pedro Simon, por suas palavras e ponderações ao amigo Presidente Lula. Sua Excelência sabe que, sempre que queira, poderá ouvir-me.

            Concedo um aparte ao Senador Jefferson Péres.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Eduardo Suplicy, ontem foi um dia ruim para a Amazônia. Deixa o Ministério uma Senadora da região, solidamente compromissada com a causa ambientalista. Sempre digo que, em qualquer Ministério, há dois tipos de Ministros: aqueles que são menores do que o cargo, que entram lá por força de chicanas políticas e que se apegam desesperadamente ao cargo, e aqueles, como a Marina, que são maiores do que o cargo. Não pediu para ir e tinha total desapego ao Ministério. Sabia que estava emprestando grandeza ao Ministério, e não o contrário. E foi essa a Ministra que o Presidente Lula perdeu. Claro! Ninguém é insubstituível. Claro! Pode ir alguém até com maior capacidade gerencial do que a Marina, não sei, mas ele perdeu uma figura emblemática. Ela era o próprio símbolo da causa ambientalista no Governo Lula. O meu receio, Senador Eduardo Suplicy - não sei, só o futuro dirá -, é de que a queda da Ministra Marina signifique a vitória, no seio do Governo, da corrente chamada, impropriamente, de “desenvolvimentista”, aquela que quer o desenvolvimento a qualquer preço, mesmo à custa do sacrifício grande do meio ambiente. Não sei. Oxalá isso não venha a acontecer, senão será uma tragédia para a minha região! Se a Ministra Marina, com todo o peso da sua autoridade moral, conseguiu muito pouco, essa é que é a verdade, em termos de preservação da Floresta Amazônica, como será com um outro Ministro sem a mesma autoridade e sem o mesmo compromisso com a causa? De qualquer maneira, ela volta ao nosso convívio e sai do Ministério com muita dignidade, como mostra a carta que V. Exª acaba de ler.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Jefferson Péres. Concordo inteiramente com o seu diagnóstico. Podemos ter certeza de que a Ministra Marina Silva dignificará o Senado, como fez com o Ministério do Meio Ambiente. Certamente, continuará dando uma contribuição formidável.

            O Senador Geraldo Mesquita é o último dos que desejam apartear-me.

            Concedo o aparte a V. Exª, com muita honra.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Eduardo Suplicy, eu tinha certeza absoluta de que V. Exª, hoje, viria à tribuna para falar sobre a Ministra Marina, mas para falar de outra forma: falar de forma carinhosa, falar de forma solidária, falar de forma companheira. Eu tinha certeza absoluta disso, como também tinha certeza absoluta de que estaria aqui o Senador Paim. Senador Suplicy, eu fui eleito com a Senadora Marina, V. Exª sabe disso. Por decepção com algumas coisas do Governo Lula, eu me afastei do rumo da Senadora Marina, mas, em termos pessoais, mantive, como mantenho, a minha amizade, a minha consideração, o meu respeito por essa grande mulher. Eu digo que tinha certeza absoluta da sua fala assim, quase que emocionada - eu diria, até, que emocionada -, fala sincera, fala de quem é solidário e amigo. Por que não? Eu, hoje, já não poderia dizer nem que me surpreendi com o que colhi na imprensa, Senador Suplicy. A imprensa, muitas vezes, reproduz o sentimento que grassa, de alguma forma, em algum momento. Ao lado da Senadora Marina Silva, colocamos o Senador Sibá Machado, um companheiro por quem...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - ... eu também tenho muita consideração. Apesar das nossas divergências, eu tenho consideração e respeito pelo Senador Sibá e fiquei impressionado com o que li, hoje, na imprensa. Tomara até que a imprensa tenha colhido equivocadamente esse sentimento que transmitiu nos jornais, de que havia uma certa apreensão. Eu não tenho nem o direito de estar me imiscuindo na bancada de V. Exª, mas fiquei impressionado, primeiro, com aquilo que eu traduzi como uma manifestação de desapreço pelo próprio Senador Sibá Machado, colocado como aquele parlamentar que cumpriu tarefas aqui e que tudo fazia pelo Governo que defende. Eu posso assegurar a V. Exª que não tenho a menor dúvida de que qualquer atitude do Senador Sibá Machado, aqui nesta Casa, foi lastreada por convicção dele, por extrema convicção. E, ao lado desse comentário, colho um outro comentário mais triste ainda, Senador Suplicy: o de que havia uma certa apreensão com relação à chegada da Senadora Marina ou à volta da Senadora Marina a esta Casa, que é a Casa dela, por se tratar de uma parlamentar independente, a exemplo de V. Exª, Senador Suplicy. Senador, eu não posso imaginar... É isto o que eu digo: eu me dou o direito, inclusive, de achar que a imprensa possa ter se equivocado quando colheu uma impressão como essa, que deve ter pairado pelo ar. Eu não posso compreender, eu não posso admitir... É uma pena que a Senadora Marina tenha saído do Ministério. Eu divergi lealmente - e V. Exª é testemunha - da Senadora Marina: ela, advogando a Lei de Concessão de Florestas Públicas, e eu, advogando o contrário, porque, até hoje, considero que essa lei é um equívoco; lá na frente vamos nos aperceber disso. Mas respeitei a decisão do Congresso Nacional, respeitei a postura da Senadora Marina em advogar a aprovação dessa lei. Coloquei, aqui, apenas uma divergência. Agora, eu não posso admitir que qualquer bancada de qualquer partido, mesmo lamentando a ausência da Ministra Marina Silva no Ministério do Presidente Lula, não festeje a sua volta, não aplauda a sua volta, não fique feliz da vida com a possibilidade de ela retornar a esta Casa, e engrandecer o Senado Federal, engrandecer qualquer bancada, Senador Suplicy. Portanto, é como eu digo, eu faço a ressalva: acho que eu não tenho nem o direito de estar me imiscuindo num assunto como esse, mas eu fiquei apreensivo e impressionado com o que colhi da imprensa. Primeiro, uma manifestação - e não da imprensa, ela a colheu em algum lugar, de alguém - quase desrespeitosa com o Senador Sibá Machado, e uma manifestação apreensiva com relação ao retorno da Senadora Marina. Eu queria cumprimentar V. Exª, queria me solidarizar com V. Exª neste momento em que, de forma solidária, amiga, companheira, faz um registro que, de um lado, entristece a todos nós, a saída da Senadora Marina do Ministério, mas, por outro lado, registra a perspectiva do seu retorno a esta Casa. Eu, particularmente, sinto-me engrandecido com a possibilidade de poder conviver com a Senadora Marina - eu nunca tive esse privilégio - como parlamentar nesta Casa. Para mim, será um privilégio, como tenho a certeza absoluta de que será para V. Exª, para o Senador Paim e para os companheiros que estão nesta Casa. Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Geraldo Mesquita, com respeito à Lei de Gestão de Florestas Públicas, quero aqui transmitir-lhe que um dos maiores geógrafos da história do Brasil, o professor Aziz Ab’Saber, tinha muita preocupação com aquela lei. Por isso, eu o levei para conversar com a Ministra Marina Silva, em seu gabinete, onde conversaram como pessoas que se respeitam, que são amigas. Ainda ontem, recordei à Ministra Marina Silva que ela havia me pedido que transmitisse um abraço ao professor Aziz Ab’Saber, que, por vezes, teve divergências, mas com carinho, em relação à Ministra Marina Silva e ao amigo dele, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo ele, nem sempre o ouve com a devida atenção. Mas a sua menção à Lei de Florestas Públicas fez-me lembrar desse episódio. Com a Marina, eu sempre procurei tratar as coisas...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... com o mais profundo grau de carinho e amizade.

            Também quero, como V. Exª, transmitir aqui a minha admiração, respeito e meus cumprimentos ao Senador Sibá Machado, que tanto tem se empenhado, trabalhado. Ele, aqui, cresceu enormemente na convivência conosco e ganhou o nosso respeito. Portanto, em qualquer atividade que venha a exercer, certamente ele vai ter a nossa colaboração. Nós vamos continuar ganhando com a dádiva que ele tem sido como representante do Acre e um Senador do Brasil.

            Concluindo, Sr. Presidente, feliz, de fato, é o Senado Federal por ter novamente a Senadora Marina Silva, que aqui nos brindará outra vez com as lições da floresta, as lições sobre a vida dos animais, a vida das águas, misturadas ao...

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... seu conhecimento formidável da Bíblia Sagrada, porque a Senadora Marina Silva sempre procurava nos mostrar os melhores caminhos, relembrando as histórias da Bíblia e as histórias da floresta.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2008 - Página 14167