Fala da Presidência durante a 54ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, tendo em vista o transcurso dos 40 anos de seu falecimento.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, tendo em vista o transcurso dos 40 anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 9918
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), EX SENADOR, JORNALISTA, EMBAIXADOR, COMENTARIO, LIVRO, BIOGRAFIA, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, BRASIL, CRIAÇÃO, GRUPO ECONOMICO, EMPRESA JORNALISTICA, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, SUPERIORIDADE, PROPRIEDADE, JORNAL, PERIODICO, EMISSORA, RADIO, PIONEIRO, TELEVISÃO.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Obrigado, Senador.

            O tempo destinado aos oradores do Período do Expediente da sessão deliberativa de hoje será dedicado a homenagear o jornalista Assis Chateaubriand, tendo em vista o transcurso dos 40 anos do seu falecimento, nos termos do Requerimento nº 366, de 2008, de autoria do Senador Garibaldi Alves Filho e outros Srs. Senadores.

            No caso, eu fui o autor da iniciativa.

            Tenho a honra de convidar, para compor a Mesa Diretora dos nossos trabalhos, o Ilmº Sr. Márcio Cotrim, Diretor Executivo da Fundação Assis Chateaubriand e o ilustríssimo Sr. Ari Cunha, Vice-Presidente do Correio Braziliense.

 

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Assis Chateaubriand foi uma das figuras mais ativas, mais intrigantes e controvertidas e, ao mesmo tempo, brilhantes da vida brasileira do século passado.

            O jornalista Fernando Morais teve a oportunidade de escrever a sua biografia. Deu muito de si para escrever o livro denominado Chatô - o Rei do Brasil. O próprio título dessa obra já diz muito sobre a influência exercida por Chateaubriand no cenário nacional, a partir de 1924, ano em que comprou O Jornal, no Rio de Janeiro, então Capital do País.

            A partir daí, Chateaubriand demonstrou que era, acima de tudo, um empreendedor. Foi a partir dessa aquisição, realizada com dinheiro emprestado e com apoio de Júlio Mesquita, de o Estado de S. Paulo, que o paraibano de Umbuzeiro começou, ainda aos 32 anos de idade, a construir o império a partir do qual, de fato, reinou no Brasil até sua morte, em 1968.

            Srªs e Srs. Senadores, a trajetória de Chateaubriand até a compra de O Jornal foi meteórica. Menino gago do interior, analfabeto até os dez anos de idade, venceu a gagueira e o analfabetismo para, já aos 15 anos, ingressar na Faculdade de Direito do Recife. Ali, depois de formado, seria professor de Filosofia do Direito, passando em primeiro lugar no concurso público que havia sido aberto para esta vaga. No entanto, sua verdadeira vocação estava muito além da cátedra. Entrou para o jornalismo escrevendo para a Gazeta do Norte, para o Jornal Pequeno e para o Diário de Pernambuco. No Rio, para onde se mudou em 1915, trabalhou no Correio da Manhã.

            De um dono de jornal, ainda em Recife, ouviu um dia a frase que o faria encontrar-se com seu destino. Ao vetar a publicação de um artigo de Chateaubriand, seu patrão lhe disse que ele só poderia publicar o que quisesse quando fosse dono do seu próprio jornal. E foi o que ele fez. Esse é um episódio muito conhecido. Aliás, os episódios sobre a vida de Chateaubriand são todos eles muito conhecidos, o que realmente facilitou o trabalho dos seus biógrafos, sobretudo o trabalho de Fernando Morais.

            Mas Chateaubriand não tinha vocação para ser dono apenas de um jornal. Donos de um jornal no Nordeste nós temos muitos. No Rio Grande do Norte, há inclusive um que foi meu tio e Governador do Estado, a quem certamente o Dr. Ari Cunha e o Dr. Márcio conhecem: Aluízio Alves, dono da Tribuna do Norte. E assim se seguem exemplos de donos de jornais que fizeram daqueles jornais sobretudo uma trincheira política. Naquele tempo, os jornais eram adquiridos para se tornarem verdadeiras trincheiras políticas. Mas esse não foi o objetivo de Chateaubriand.

            Chateaubriand tornou-se o maior empresário do jornalismo brasileiro do seu tempo. Tendo adquirido um jornal, tornou-se proprietário de um império que chegou a ter 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão e uma agência de notícias, além das revistas, conhecidas por nós mais velhos, O Cruzeiro - que teve a maior tiragem da América Latina - e A Cigarra, bem como várias outras revistas infantis e uma editora.

            Srªs e Srs. Senadores, à frente de seus jornais, Assis Chateaubriand participou ativamente dos acontecimentos políticos de seu tempo. Com a Aliança Liberal, apoiou a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao poder. Dois anos depois, no entanto, apoiaria a Revolução Constitucionalista, que o levaria ao exílio. Foi Senador da República pela Paraíba em 1952, e pelo Maranhão, em 1955. Renunciou ao segundo mandato para assumir a Embaixada do Brasil em Londres.

            Seu poder e seu prestígio eram tais que ele pôde conviver com muitos poderosos de seu tempo: todos os presidentes brasileiros daquele período e ainda Winston Churchil, Dwight Eisenhower e os irmãos Nelson e David Rockefeller, para citar apenas alguns. Não sei se esse David Rockefeller é aquele que, já idoso e acometido de uma enfermidade, os seus colaboradores e os seus familiares, para não trazerem maiores preocupações para esse grande capitalista, grande empresário americano, resolveram fazer um jornal que só trazia notícias boas.

            Mas os interesses de Assis Chateaubriand não se restringiram apenas à diplomacia, à imprensa, à influência na vida política e à influência e à participação na vida econômica. Freqüentava com desenvoltura o mundo das artes, em que, além de oferecer oportunidades a artistas e escritores como Portinari, Di Cavalcanti, Millôr Fernandes e Graça Aranha, criou o Museu de Arte de São Paulo, com Pietro Maria Bardi e sua esposa, a arquiteta Lina Bo Bardi.

            Foi também membro da Academia Brasileira de Letras, na qual ingressou em 1954, ocupando a cadeira que fora de Getúlio Vargas, tragicamente morto naquele mesmo ano.

            Apaixonado desde a juventude por aviões, Chateaubriand promoveu, com entusiasmo, em 1941, a Campanha Nacional de Aviação, com o lema “Dêem asas ao Brasil”. A campanha, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, tinha como objetivo promover o desenvolvimento da aviação civil no Brasil e contribuiu para a fundação de aeroclubes em muitas cidades do País.

            Entre as muitas coisas extraordinárias feitas por Assis Chateaubriand, que não se esgotaram num livro quanto mais num discurso, ele foi também responsável pela introdução da televisão comercial no Brasil. Criou, em 1950, a TV Tupi, a quarta estação de televisão do mundo e a primeira da América Latina. Fez um investimento, à época, de US$5 milhões e um esforço inaudito que não prometiam retorno breve.

            Como um grande empreendedor, Chateaubriand importou os primeiros duzentos televisores para que houvesse espectadores para a sua recém-criada emissora de televisão.

            Srªs Senadoras, Srs. Senadores, não vou mais me alongar nesta homenagem a Assis Chateaubriand, esse fascinante personagem da vida brasileira, embora pudéssemos passar aqui, como eu já disse, longas horas falando sobre a sua biografia, os seus feitos, o seu legado, aquele acervo que se constituiu no grande testemunho sobre a vida brasileira que Assis Chateaubriand deixou para todos nós.

            Com sua vida e com sua obra, Assis Chateaubriand foi um dos homens que mostrou ao Brasil o quanto podem os brasileiros, a capacidade que têm de realizar não apenas no território nacional, mas indo muito além, como ele foi, realizando e criando empreendimentos até mesmo fora do Brasil, como já falamos aqui.

            Portanto, meus caros Ari Cunha, Diretor do Correio Braziliense, e Dr. Márcio Cotrim, fiel Presidente da Fundação, apresentei este requerimento porque queria que esta Casa pudesse realmente homenagear um dos homens, como já foi dito aqui, mais ilustres, mais empreendedores, mais talentosos da vida política brasileira. E sobretudo para que as gerações mais novas não deixassem de ter nele um exemplo de coragem, de obstinação, todo o exemplo que ele nos deixou e que, como eu já disse, não pode ser resumido apenas em um discurso.

            Fiquem certos de que estamos aqui todos reverenciando a sua memória na certeza de que Chateaubriand não passou e não será esquecido nem por aqueles que hoje são os seus seguidores, nem tampouco por aqueles que estão nos conselhos das suas empresas, nas redações do Correio Braziliense, na militância, na sua fundação. Chateaubriand jamais será esquecido pelo povo brasileiro.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 9918