Discurso durante a 81ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 200 anos de criação dos Dragões da Independência.

Autor
Jorge Afonso Argello (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Jorge Afonso Argello
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 200 anos de criação dos Dragões da Independência.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2008 - Página 15231
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE MILITAR, PARTICIPAÇÃO, SESSÃO ESPECIAL, SENADO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, GUARDA REAL, COMENTARIO, HISTORIA, RELEVANCIA, PARTICIPAÇÃO, PROCESSO, PROCLAMAÇÃO, INDEPENDENCIA, BRASIL.

O SR. GIM ARGELLO (PTB - DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Exmo. Sr. Senador, Presidente do Senado Federal, amigo Garibaldi Alves Filho; Exmos. Srs. Oficiais Generais; Srs. Comandantes de organizações militares; Exmo Sr. General do Exército, Armando Luiz Malan de Paiva Chaves; Exmo Sr. General de Divisão, Américo Salvador de Oliveira, Comandante Militar do Planalto; Sr. Tenente-Coronel Alberto do Couto Ramos Fico, Comandante do 1º Regimento de Cavalaria de Guarda dos Dragões da Independência; Srªs e Srs. Senadores, a transferência da família real para o Brasil, em fuga das tropas de Napoleão Bonaparte, representou uma profunda inflexão na vida da pacata e atrasada colônia portuguesa na América do Sul.

A partir do ímpeto da matriz colonial lusa, cuja pedra de toque era a mera exploração desordenada de matéria-prima e insumos para alimentar o fausto artificioso na Península Ibérica, o Brasil enfrentou três séculos de submissão, ignorância e constante exploração predatória. Com a vinda de Dom João VI e sua corte para o Rio de Janeiro, o quadro altera-se substancialmente, e novas e auspiciosas perspectivas se abrem para a Colônia.

Os livros de história pátria registram as muitas mudanças que rapidamente se foram precipitando nos distintos pontos de nosso território. Entre elas está uma que assume altíssima relevância para a preparação da autonomia espiritual da Colônia, que logo postularia sua independência: a instalação da Imprensa Régia, passo inaugural para a transmissão da informação e do conhecimento, então de escasso ou nulo trânsito entre os habitantes do Brasil.

Mas além desse marco, muitas outras iniciativas positivas floresceram com a instalação da família real. Assim, o que me motivou a requerer a realização desta Sessão Especial - que mereceu o imediato apoio de meus colegas Senadores - para homenagear o transcurso, ocorrido no último dia 13, dos 200 anos dos Dragões da Independência, foi a importância histórica desse fidalgo Regimento. Ademais, ele tornou-se um indispensável liame de nossas melhores tradições, um fio de continuidade que conseguiu chegar aos nossos dias como referencial de orgulho para toda a Nação.

Permitam-me recapitular, ainda que de forma breve, a gloriosa e profícua história que encerra a trajetória dos Dragões da Independência. Criado há exatos dois séculos por Decreto firmado por Dom João VI, no dia de seu próprio aniversário, o 1º Regimento de Cavalaria do Exército tinha como missão original realizar a guarda da sede do Governo. Essa unidade encontra-se em linha direta de continuidade histórica com o Regimento de Cavalaria de Minas, de cujas fileiras saiu ao martírio o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Ao longo dos períodos colonial, imperial e republicano, as inúmeras ações do 1º Regimento sempre tiveram as marcas da bravura, destreza e disciplina, conferindo-lhe merecido destaque na vida nacional em todos os tempos.

Pedro Américo imortalizou, em sua tela mais conhecida pelos brasileiros de todas as gerações, o “Grito do Ipiranga”, o gesto de Dom Pedro na proclamação da Independência do Brasil. Ao retratar com extraordinário realismo, vivacidade e pujança toda a força que aquele momento simboliza e carrega, o artista não deixou de destacar a guarda de honra do Príncipe insurgente, que formalizou nossa passagem à nação independente da coroa portuguesa. Lá estão, todos haverão de recordar, os cavaleiros do 1º Regimento de Cavalaria do Exército - dignos antecessores dos Dragões - em saudação ao futuro imperador, às margens do riacho Ipiranga.

A marcante presença dos Dragões se fez sentir ainda em vários outros momentos históricos, como a Proclamação da República. Contemporaneamente, no saudável exercício da democracia, quando a cada quatro anos o Congresso Nacional dá posse ao Presidente da República, eleitos pelo voto de todos os cidadãos, os Dragões da Independência têm notável participação, conferindo uma cor especial a um de nossos principais momentos cívico-políticos.

Quando o Rolls-Royce presidencial deixa a Catedral de nossa Brasília em direção ao imponente edifício do Congresso Nacional, conduzindo o Presidente e o Vice-Presidente da República, as mais altas autoridades da República são escoltadas pelos Dragões. Da mesma forma, quando chefes de Estado e de Governo estrangeiros visitam o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, são os integrantes desse Regimento que engalanam a rampa de acesso ao Salão Negro.

Nossos homenageados de hoje receberam a denominação histórica de Dragões da Independência por meio de Decreto de 20 de agosto de 1936. Com esse diploma legal, concretizava-se proposta do historiador Gustavo Barroso, que apresentou, como Deputado Federal em 1917, projeto de lei que sugeria esse título ao Regimento, bem como a distinção de envergar, nas paradas e grandes solenidades, o uniforme da Imperial Guarda de Honra, que fez a guarda do Imperador Pedro I a partir de 1º de dezembro de 1822.

Aliás, fiéis à tradição e às pompas imperiais, os Dragões utilizam ainda hoje fardamento típico do século XIX, em branco e vermelho, com as devidas adaptações institucionais. E um dado interessante que quero salientar, visto que há uma curiosidade generalizada em torno da adoção da denominação Dragões da Independência: ela provém do brasão da família Bragança, que originalmente ostentava um dragão.

Desde 1968, os Dragões da Independência, ou o atual 1º Regimento de Cavalaria de Guardas, encontram-se sediados na Capital Federal, subordinados ao Comando Militar do Planalto. Em Brasília, além de realizarem o cerimonial militar da Presidência da República, têm ainda como missão proteger as residências oficiais do Presidente e do Vice-Presidente do Brasil.

Atentos à realidade do mundo contemporâneo, os Dragões da Independência desenvolvem também intensas e importantes atividades de alcance comunitário inestimável - e aqui presto meu testemunho, Sr. Presidente, porque conheço a extensão e a relevância desse trabalho. A escola de equitação, aberta a público de todas as idades, e a equoterapia, prática terapêutica voltada para a recuperação de pessoas portadoras de deficiência ou de necessidades especiais, são apenas duas dessas notáveis ações que os Dragões desenvolvem.

Além disso, merece destaque a colaboração prestada ao desenvolvimento de fármacos em ciências veterinárias, visando o adequado cuidado dos animais de cavalaria.

Por todas essas sobejas razões, tomei a iniciativa desta Sessão Especial. E estou seguro de que toda a Nação se compraz com a celebração, pelo Senado Federal, do bicentenário dos Dragões da Independência, motivo de orgulho para todos nós e um dos muitos eixos de continuidade histórica da multifacetada atuação das Forças Armadas do Brasil.

Congratulo-me com todos os integrantes do Regimento e seus comandantes, bem como com o Comando Militar do Planalto, que juntos preservam parte importante da memória nacional.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2008 - Página 15231