Fala da Presidência durante a 60ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário da fundação da Associação Brasileira de Imprensa.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IMPRENSA.:
  • Comemoração do centenário da fundação da Associação Brasileira de Imprensa.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2008 - Página 10730
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IMPRENSA.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), IMPORTANCIA, LUTA, VALORIZAÇÃO, DEMOCRACIA, CIDADANIA, REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, ASSISTENCIA, JORNALISTA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA NACIONAL, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AVALIAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA.
  • AGRADECIMENTO, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI), CONTRIBUIÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.

            O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Antes de dar a palavra ao próximo orador inscrito, quero dizer que já pedi aqui as minhas desculpas ao Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, porque terei de viajar agora para a minha cidade, para o meu Estado, o Rio Grande do Norte, e vou ter a honra inclusive de passar a Presidência para o autor do requerimento, o Senador Inácio Arruda. Antes ainda de fazer isso, saúdo o nosso Maurício Azêdo, Presidente da ABI; o Sr. Fernando Tolentino de Sousa, Diretor-Geral da Imprensa Nacional, que, por sinal, me deu a boa notícia de que, no dia 13 de maio, a Imprensa Nacional vai comemorar os seus 200 anos; a Srª Julieta Cavalcanti de Albuquerque, Subprocuradora-Geral da República; o Professor Joaquim Campelo Marques, Vice-Presidente do Conselho Editorial do Senado Federal; e todas as Srªs e Srs. Senadores. Quero dizer também, depois que tantos oradores já se manifestaram a respeito do papel da ABI, da minha admiração, do meu orgulho, do meu apreço por essa que é uma das mais influentes, admiradas e respeitadas instituições nacionais.

            É grande, meu caro Mauricio Azêdo, atual Presidente da ABI, a gratidão de todos os brasileiros por essa luta empreendida ao longo de cem anos, luta, sobretudo, pela supremacia dos valores democráticos e, como disseram os oradores - a Senadora Marisa Serrano acaba de dizer isso bem -, consolidação da cidadania entre nós.

            Assim, ao sintetizar o espírito federativo que sedimenta a Pátria brasileira, esta Casa não poderia ausentar-se das comemorações deste centenário. E o faz com justo orgulho - como já falaram tantos oradores.

            Pouco, muito pouco - e eu queria fazer esta reflexão - aproxima o Brasil de 2008 daquele início do século XX, quando nasce a Associação Brasileira de Imprensa. Éramos um País acanhado, de rarefeita população e com enormes vazios no seu extenso território. Éramos, sobretudo, uma Nação provinciana, em que a marca da exclusão social, política e econômica manifestava-se com um componente muito mais forte do que o de hoje, diante de um Estado elitista e profundamente oligárquico.

            Graças a Deus, mudamos muito.

            Ao ser fundada a ABI, no já distante 7 de abril de 1908, sob a liderança desse catarinense, desse brasileiro, desse grande brasileiro Gustavo de Lacerda, caracterizava-se como uma caixa assistencial, uma espécie de ancoradouro a oferecer um mínimo de amparo aos que labutavam na área jornalística. Não por outra razão, o estatuto da entidade classista previa fundos para pensões, auxílio funeral, abrigo para idosos e carteira profissional.

            Tempos difíceis aqueles, Dr. Maurício Azêdo! Numa época em que legislação trabalhista era sonho de visionários, em que a “questão social” era tratada como “caso de polícia”, era constrangedora a situação dos homens de imprensa. Aos salários de fome, juntava-se a instabilidade no emprego, sem falar nas jornadas de trabalho desumanas, nos desmandos e abusos de alguns patrões.

            Do pioneiro Gustavo Lacerda a Dunshee de Abranches; de Herbert Moses e sua gestão de trinta e três anos a Celso Kelly; de Danton Jobim - que viria a ser eleito Senador pela Guanabara na primeira fase do Regime Militar - a Prudente de Moraes, neto; de Barbosa Lima Sobrinho a Maurício Azêdo - lembro as páginas memoráveis que escreveu no argumento -, as lideranças que passaram pela ABI souberam dignificar a instituição e responder aos desafios que lhes foram apresentados.

            Como já foi dito, sobretudo pelo Pedro Simon, trincheira avançada da liberdade, em sintonia permanente com os mais elevados anseios de democracia, de justiça e de cidadania, a ABI nunca se curvou ante qualquer forma de autoritarismo. Foi assim, sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, quando esteve na linha de frente contra o totalitarismo nazi-fascista.

            Como disse aqui o nosso autor do requerimento, Senador Inácio Arruda, a bomba que destruiu parte da imponente sede-marco da ABI - aliás, representativa da moderna arquitetura brasileira - foi, para além de insana, o gesto de desespero das forças que não admitiam que a Nação voltasse a respirar os ares de liberdade. Altaneira, a Instituição não esmoreceu. Antes, recobrou o ânimo e colaborou decisivamente para o aprofundamento do processo de abertura política.

            Ao finalizar, meu caro Maurício Azêdo, permita-me reproduzir um trecho de artigo recente de Jânio de Freitas - ele próprio um daqueles grandes jornalistas que a imprensa brasileira tem hoje -, em que ele foi absolutamente feliz na escolha das palavras e na compreensão do significado histórico da Associação Brasileira de Imprensa. Escreveu o articulista da Folha de S. Paulo:

A Associação Brasileira de Imprensa faz um século. Não, não faz um século. Faz cem anos, ano a ano de luta, ora por sua sobrevivência, na maior parte dos anos pela liberdade, pelo Estado de direito, pela democracia. Não só os jornalistas têm cem anos de dívida com a ABI. Nem são os que mais lhe devem. Somos todos em cem anos.

            Eu não poderia concluir sem dizer que hoje os jornalistas mantêm essa luta, essa chama acesa, quando combatem as chamadas medidas provisórias. Medidas provisórias que tanto humilham este Congresso Nacional, que tanto fazem dele uma instituição de papel caudatário.

            Eu não poderia terminar sem prestar esta homenagem à ABI, porque sei que representa o escoadouro de tudo isso que se escreve hoje em favor de uma Nação mais livre, mais democrática e mais soberana. E o que se escreve hoje sobre medidas provisórias, sobre vetos que não são votados, sobre o orçamento, que muitas vezes é fraudado, sobre tudo o que se escreve hoje a respeito do Congresso Nacional, nós devemos dizer uma palavra só: muito obrigado!

            Muito obrigado, porque temos consciência de que, se não fosse a imprensa, a nossa voz daqui não sairia; daqui não ganharia os espaços desta Nação e, sobretudo, não inundaria os corações dos brasileiros que gritam que a democracia não é uma conquista de cem anos, que a democracia é uma conquista eterna do povo brasileiro.

            Por isso, com esta emoção, eu digo a Maurício Azêdo: a ABI continua viva nos nossos corações, e V. Sª é hoje o símbolo maior. E foi inclusive o nosso Pompeu de Souza, de quem me falava o nosso Tolentino, da Imprensa Oficial, que enriqueceu este Plenário com a sua contribuição magnífica; Pompeu de Souza que veio do Ceará, como Inácio Arruda veio do Ceará. Pompeu de Souza, Maurício Azêdo, Barbosa Lima Sobrinho são nomes que ficaram e ficarão na história do nosso País como os grandes defensores do que temos de mais caro, que é a liberdade democrática.

            Muito obrigado. (Muito bem! Palmas!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2008 - Página 10730