Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre o afastamento da Ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Críticas sobre a política ambiental brasileira. Referências ao Plano Amazônia Sustentável (PAS). (como Líder)

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Manifestação sobre o afastamento da Ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. Críticas sobre a política ambiental brasileira. Referências ao Plano Amazônia Sustentável (PAS). (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/05/2008 - Página 15812
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, MARINA SILVA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, GOVERNO FEDERAL, POSTERIORIDADE, REELEIÇÃO, MOTIVO, PEDIDO, DEMISSÃO, REGISTRO, ORADOR, DADOS, SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA (SIAFI), INFERIORIDADE, EXECUÇÃO ORÇAMENTARIA, ESPECIFICAÇÃO, PROGRAMA, SANEAMENTO, FLORESTA, PAUTA, ECOLOGIA, RECUPERAÇÃO, BACIA HIDROGRAFICA, GESTÃO, LIXO, DEMONSTRAÇÃO, FALTA, PRIORIDADE.
  • REGISTRO, TRANSFERENCIA, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), SECRETARIA ESPECIAL, PLANO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, REGIÃO AMAZONICA, OPINIÃO, ORADOR, FALTA, CONTEUDO, PROGRAMA, ACUSAÇÃO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.
  • ANALISE, PLANO, REGIÃO AMAZONICA, ELOGIO, DIAGNOSTICO, DADOS, GEOGRAFIA, CENSO DEMOGRAFICO, GRAVIDADE, GRILAGEM, CRIME ORGANIZADO, TRAFICO, DROGA, SONEGAÇÃO FISCAL, TRABALHO ESCRAVO, DESMATAMENTO, ILEGALIDADE, EXTRATIVISMO, MADEIRA, MINERIO, LAVAGEM DE DINHEIRO, INDICAÇÃO, PRIORIDADE, SOLUÇÃO, CONFLITO, REFORMA AGRARIA, DENUNCIA, ORADOR, ATRASO, PROVIDENCIA.
  • SAUDAÇÃO, RETORNO, MARINA SILVA, SENADOR, VOTO, CONTINUAÇÃO, LUTA, DEFESA, MEIO AMBIENTE, EXPECTATIVA, GESTÃO, CARLOS MINC, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA).

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Agradeço a V. Exª.

Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores: O sociólogo FHC encontrou dificuldades para tratar do tema (meio ambiente), assim como o operário Lula tem dificuldades”. Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.

A Senadora Marina Silva, ex-ministra Marina Silva, em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no último domingo, qualificou de pífio o desempenho da gestão ambiental no segundo mandato do Governo Lula. Para a ex-ministra houve um desempenho fantástico nos primeiros quatro anos e uma lástima nos últimos 17 meses, razão que contribuiu decisivamente para o seu pedido de exoneração. Caso seja adotada como critério de avaliação do desempenho administrativo da Pasta a realização orçamentária da despesa pública, o resultado é um pouco diferente.

De acordo com as informações do Siafi, o Ministério do Meio Ambiente, entre 2003 e 2007, conseguiu executar apenas uma média de 51% da dotação orçamentária. Portanto, Sr. Presidente, uma atuação numérica rigorosamente medíocre. A ex-ministra tem razão sobre a queda de atividade da instituição que gerenciava. Neste ano, cinco dos principais programas do Ministério do Meio Ambiente apresentaram uma execução orçamentária pífia e ordinária. Vamos aos números. O Programa Saneamento Ambiental Urbano, um dos destaques da patacoada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos R$41 milhões autorizados, houve empenho zero. O Programa Nacional de Florestas empenhou R$3,2 milhões dos mais de R$64 milhões autorizados e pagou 2,4% do montante. O Programa Agenda 21, a razão de viver dos ambientalistas filosóficos, teve até o momento apenas 5,3% pagos do total autorizado no Orçamento. O Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas teve desempenho ainda pior. Apenas 2,1% dos mais de R$17 milhões autorizados foram pagos. Em lamentável estado encontra-se o Programa Resíduos Sólidos Urbanos, o que atesta o completo descaso do Governo Federal com a gestão do lixo, um dos maiores desastres ambientais do País.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Demóstenes, lamento - não é lamento, é um estado de graça - suspender a oratória de V. Exª porque adentra o nosso querido e extraordinário Presidente. Ungido por Deus, ele está entre os melhores Presidentes desta Casa em 183 anos de Senado.

Ontem - eu acho que ele recebeu as bênçãos de Deus - conseguiu a paz entre os três Poderes, harmonia, respeito, aquilo que o Mitterrand sonhava, né? Fortalecer os contrapoderes. Ele fortaleceu o Executivo e o Judiciário.

Seja feliz!

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Muito obrigado.

Bem-vindo, Sr. Presidente!

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Obrigado.

Obrigado, Mão Santa. Não é novidade o que ele disse, ele é muito generoso.

Continua com a palavra o Senador Demóstenes Torres.

O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Dizia eu, Sr. Presidente, que em lamentável estado encontra-se o Programa Resíduos Sólidos Urbanos, o que atesta o completo descaso do Governo Federal com a gestão do lixo, um dos maiores desastres ambientais do País. De acordo com o Siafi, dos mais de R$20 milhões destinados à rubrica orçamentária, foi paga a importância de R$167 mil, o que representa 0,81% do valor autorizado para o programa. São dados que traçam indiscutível perfil de imobilidade do Ministério do Meio Ambiente.

Srªs e Srs. Senadores, tive o cuidado de estudar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), lançado este mês pelo Governo Lula e cuja transferência de gestão para a Secretaria de Assuntos Estratégicos foi a gota d’água para a saída da Ministra Marina Silva, que, aliás, mostrou ter personalidade e desprendimento - e concluí que se trata de mais uma compilação de palavras de ordem.

É bonito ler no PAS as Diretrizes para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Brasileira quando o documento não foge do lugar-comum e ainda tem incompreensíveis providências. Há medidas interessantes, como a utilização do potencial energético, o desenvolvimento de pesquisa e inovação tecnológica, além da concessão de crédito para a cadeia produtiva ambientalmente limpa.

A maioria da providência desejada deveria ser uma rotina de Governo, a exemplo da melhoria da qualidade dos serviços públicos, do combate ao desmatamento ilegal e da garantia da soberania brasileira na região. Há também no PAS meros chavões politicamente corretos que nada significam, sendo notável no programa a necessidade de “ampliar a participação democrática do Estado na região”. O plano guarda no discurso tudo o que o Governo deveria ter feito pela Amazônia e não fez. Praticamente nada se materializou nesses quase seis anos de petismo e agora é diferente porque há um plano. Não sou contra o planejamento, apenas acredito que a medida deveria ter se realizada antes, no início do primeiro mandato, para que produzisse resultados agora. Vejam que o Governo planeja a semeadura quando seria hora da colheita. Ficaram quase seis anos para produzir um documento que, com muita bondade e paciência, demandaria de uma assessoria competente trabalho para uns três meses.

O PAS, devo reconhecer, é um documento bem-elaborado na parte de diagnóstico do problema amazônico e se encontra assentado em uma base geográfica razoável de dados com o detalhamento do aspecto físico, da demografia, da infra-estrutura, dos indicadores sociais e das economias regionais. Há uma descrição realista da grilagem de terras públicas como o centro produtor da bandidagem na Amazônia. No PAS, fica evidente a associação do esbulho das propriedades da União com a pistolagem, a falsificação de títulos de terras, o desmatamento, a garimpagem ilícita e outras atividades predatórias. O documento faz bem quando lembra a conexão da grilagem com o tráfico de drogas, a evasão de impostos, o trabalho escravo, a extração irregular da madeira e a lavagem de dinheiro.

No PAS, fica evidente que a solução do conflito agrário é o ponto de partida para que as demais providências tenham resultado. As saídas apontadas são perfeitamente exeqüíveis, embora, repito, incompreensivelmente não executadas até o momento. A presença do Estado se torna, então, o grande indutor da guinada amazônica nas áreas de energia, transporte, comunicação, armazenagem, educação, saúde, segurança pública e por aí vai, conforme reconhece o programa. 

O PAS faz uma listagem exaustiva de atitudes estatais de grande promissão nas áreas de monitoramento e controle ambiental, mas que deveriam estar na rotina dos governos federal e estaduais com competência sobre a Amazônia Legal. São providências de ofício, como intensificar a fiscalização, investir na capacidade dos órgãos de segurança para que possam desempenhar melhor as ações investigatórias e integrar os sistemas de informação. É um arroz-com-feijão ambiental adornado do beletrismo ecológico.

Quando trata da gestão do plano, os elaboradores do PAS foram de uma prolixidade que lembram o mestre Abelardo Barbosa, o Chacrinha, aquele que veio não para explicar, mas para confundir. Quem entende um enunciado deste (Prestem atenção, Srs. Senadores):

Um aspecto essencial de efetivação do PAS é a realização de esforços sistemáticos para internalizar suas orientações estratégicas no ambiente das políticas setoriais, das instituições governamentais e das organizações das sociedades regional.

Haja “filosofez”... Sinceramente, esse “internalizar” me deixou atônito, do mesmo modo que me pareceu extremamente temerário ressaltar o retorno operacional da Sudam como instrumento eficaz de política pública para a Amazônia. A Sudam historicamente foi uma fonte incomensurável de corrupção e não vejo como entendê-la purificada, ainda agora que houve a união do aparelhamento petista com antigos abutres.

O PAS tem também seus devaneios sociológicos quando ressalta a necessidade de ações afirmativas para as questões de gênero, como se houvesse uma condição tal de inferiorização da mulher da Amazônia que merecesse socorro extraordinário. Há também algo de pan-latino-americanismo em pelo menos duas ressalvas sobre a necessidade de integração das políticas com os países vizinhos que detêm os 40% restantes do território amazônico. A medida é de uma beleza retórica ímpar, só que sem nenhuma finalidade prática considerando-se o arranjo geopolítico atual da região. De mais a mais, o Brasil precisa mesmo é primeiro fazer o dever de casa antes de olhar o quintal alheio.

Sr. Presidente, quero aqui dar as boas-vindas à Senadora Marina Silva e lembrar que, no Senado, certamente ela terá a oportunidade de realizar articulações e indicar rumos à patética política ambiental brasileira. A Senadora tem competência, presença política e credibilidade nacional e internacional para, como Parlamentar, fazer o que não permitiram que ela realizasse no Poder Executivo.

Seja bem-vinda. A Casa é sua e conte com a minha admiração, pois sei da sinceridade de propósito que V. Exª traz no coração de legítima representante dos povos da floresta. Saúdo o Ministro Celso Minc com afeto e força, esperançoso de que esse honorável ícone do Posto 9 de Ipanema possa ir além do ecologismo teatral. Temo que o “tremei poluidores” anunciado pelo novo ministro seja apenas uma antecipação do hilariante que vem por aí.

Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/05/2008 - Página 15812