O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador. ) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ausente, para a tristeza minha, do plenário por uma semana, encontrava-me juntamente com os Senadores João Pedro, Marconi Perillo e José Nery em uma missão oficial da Comissão de Relações Exteriores a seis países da África. Foi uma viagem que considero histórica, mas gostaria de tratar desse assunto, juntamente com os demais companheiros, na próxima semana.

Venho, hoje, a esta tribuna, meu caro Senador Jefferson Péres, para repercutir uma entrevista extraordinária feita pelo jornalista Ricardo Kotscho com o ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Acho que todos nós políticos devíamos ler e refletir sobre isso.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Essa entrevista está publicada...

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - No blog do Ricardo Kotscho, do dia 19 de maio.

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Ah, mas no blog do Ricardo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Deverá ser publicada ou foi publicada em algum outro jornal. Eu apenas tive acesso...

Ela é fantástica, em primeiro lugar, porque mostra o equilíbrio de Ricardo Kotscho, que, como todos sabemos, foi responsável pelo setor de divulgação do Presidente da República, o Ministro da Comunicação do Presidente da República nos dois ou três primeiros anos de Governo. Juntamente com Frei Betto, resolveu sair do Governo quando viram os descaminhos que tomava a Administração naquela época. Fizeram em absoluto silêncio, sem nenhum denuncismo, apenas cumprindo um dever de consciência.

Kotscho, uma extraordinária figura humana que o Brasil todo respeita, Senador Eduardo Suplicy, faz essa entrevista com Fernando Henrique sobre temas brasileiros e também acerca do momento atual. Em determinado ponto da entrevista, ele pergunta sobre esses episódios vividos pelo Presidente Fernando Henrique, motivado pelos dossiês famosos. Então, o Presidente critica a mesquinharia e propõe um grande debate nacional ao Presidente Lula.

É uma entrevista de muito equilíbrio e maturidade não só por parte do entrevistado como também pelo entrevistador. Creio, meu caro Senador Garibaldi, que, se o próprio Presidente resolver refletir sobre o que está sendo dito aqui, ele fará bem.

O Presidente Fernando Henrique faz algumas ponderações, repõe algumas injustiça praticadas contra ele como administrador, reconhece seus erros e seus acertos como Presidente da República, com o cuidado de dividi-los não só com a equipe mas também com terceiros.

É, portanto, algo extraordinário, e eu gostaria de publicamente me congratular com o jornalista Kotscho pela iniciativa e, acima de tudo, pelo espírito com que conduziu essa entrevista do começo ao fim.

Em segundo lugar, eu gostaria de fazer um registro aqui, meus caros companheiros. Falo do episódio envolvendo um funcionário do Senado e um funcionário do Tribunal de Contas, o Sr. José Aparecido. Não o conheço, mas parto do princípio de que um servidor do Tribunal de Contas, com muitos anos de carreira, a princípio é uma pessoa equilibrada e, acima de tudo, cônscia das responsabilidades da função que ocupa. Esse fato aumenta quando se vê que serve no Palácio do Planalto há quase seis anos, funcionário de confiança que foi levado pelo então Ministro da Casa Civil José Dirceu.

O que me preocupa nisso tudo é que esse servidor foi devolvido ao Tribunal de Contas - ou pediu para ser devolvido.

Acho, Sr. Presidente, e aí a minha tristeza, e não sei como o tribunal vai agir nessa questão, que não tem a menor condição o Sr. José Aparecido de exercer uma função que lhe dê acesso às informações daquele tribunal. Já não digo nem pela sua capacidade de vazar, mas pela sua displicência em lidar com documentos sigilosos. Ora. Srªs e Srs. Senadores, ele não sabe se passou o e-mail, ele não sabe se leu, ele não sabe se viu, não sabe absolutamente de nada! E o Tribunal de Contas da União, pela sua característica, tem que ter servidores mais atentos.

Vamos admitir que ele saiba de tudo e que apenas tenha feito essas declarações por conveniência. Se for assim, também passa a ser inconveniente a sua presença naquela Casa. O Tribunal de Contas da União tem-se notabilizado, ao longo do tempo, pelo seu equilíbrio e, acima de tudo, pela maneira com que seus funcionários desempenham as funções. Daí por que registro aqui a minha preocupação com o retorno do servidor àquela Casa e o destino que o seu corpo técnico dará a ele. Não desejo mal nenhum, apenas acho que é preciso cuidado, pela maneira como agiu, pelo comportamento com que o servidor se portou em funções da importância que exercia até esse escândalo.

Senador Suplicy, com o maior prazer!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, que bom que tenha V. Exª aqui registrado esta entrevista do jornalista Ricardo Kotscho, um dos melhores jornalistas brasileiros e que tão bem dignificou a sua carreira. Fui companheiro dele nos anos em que trabalhei na Folha de S.Paulo, ali convidado que fui por Cláudio Abramo, de 76 a 80 fui seu colega. Acompanhei Ricardo Kotscho em tantas ocasiões, ele que foi assessor principal do Presidente Lula, ainda candidato, e, depois, como seu principal assessor de imprensa durante bom período do primeiro mandato, até que ele, passados quatro anos disse: “Olha, agora eu preciso estar mais é com a minha querida família”. Então, disse ao Presidente da sua opção pessoal. Ele, agora, prossegue a sua profissão e sempre fazendo trabalhos da maior seriedade e relevância. E certamente este diálogo que estou vendo no IG - ainda não li inteiramente mas já vi alguns dos trechos - em que o Presidente Fernando Henrique Cardoso diz algo muito relevante: “(...) que parece estranho que nós dois” [ele, Presidente Fernando Henrique Cardoso, e o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva] “estejamos com uma relação que não é aquela que pode ser a melhor...”.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Para o País. É verdade.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - E, conforme V. Exª assinala, ele expressa a sua vontade de que a boa relação, da qual eu fui testemunha, entre ambos possa acontecer outra vez. Avalio que a palavra de V. Exª tem um sentido positivo nessa direção e quero encorajar que isso também venha a ocorrer. Sempre tive com o Presidente Fernando Henrique Cardoso uma relação de respeito, de cortesia, de cooperação mesmo quando houve divergências. Muitas vezes, concordei com ele e lembro, Senador Heráclito Fortes, porque até há o registro fotográfico, por exemplo, quando em 1978, fui pela primeira vez candidato ao Parlamento para Deputado Estadual, na campanha de 78, em que tive o apoio expresso do então Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luiz Inácio da Silva. Eu e o Presidente Lula, hoje, nós dois estivemos no escritório político do então candidato ao Senado Fernando Henrique Cardoso e o apoiamos. Digo isso só para relembrar momentos em que estiveram ambos o Presidente Fernando Henrique e Lula com um bom grau de entendimento. Também cabe registrar que muitos observaram que a transição do Governo Fernando Henrique Cardoso para o Governo Lula ocorreu no melhor nível, porque o Presidente Fernando Henrique Cardoso colocou a sua equipe de Governo à disposição para receber a equipe do Presidente Lula...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco - PT) - ...inicialmente coordenada por Celso Daniel e, depois, com o falecimento dele, coordenada por Antônio Palocci, hoje Deputado federal. Como coordenador, ele teve um diálogo do mais alto nível com a equipe do Presidente Fernando Henrique Cardoso. E eu próprio quero registrar - há pouco disse em meu pronunciamento - que pude observar, ontem, no anúncio das obras do PAC...

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN.) - Senador Eduardo Suplicy...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco - PT) - Última frase, então, respeitando o apelo de V. Exª. Ontem pude testemunhar o respeito entre o Presidente Lula, o Governador José Serra e o Prefeito Gilberto Kassab, que tomam um caminho na linha do que o Presidente Fernando Henrique Cardoso está colocando, ou seja, de melhor entendimento em benefício da Nação brasileira.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª. Seu aparte, Senador Eduardo Suplicy, é muito positivo e objetivo, até porque considero V. Exª um homem que pratica ações para o bem.

O que está colocado aqui é o quanto é constrangedor conviver com essa “república dos dossiês”, principalmente quando os dossiês visam atingir ex-Presidentes da República. Acho que o Presidente Fernando Henrique, historicamente, pelo que V. Exª relatou, não merece exatamente o questionamento que se fez. Ele lembra aqui um fato marcante, uma denúncia feita sobre a aquisição de champanhe nacional no dia 28 de dezembro. Ele lembra que as compras feitas no dia 28 de dezembro eram, exatamente, para a recepção do Presidente que tomaria posse no dia 1º de janeiro, que não era ele, e que aquilo era uma função de Presidente da República. Aliás, eu quero até lhe propor, sabendo de sua amizade com Kotscho, que, caso deseje, se junte a mim no pedido da transcrição nos Anais da Casa dessa entrevista. Eu acho que apenas faço justiça a um jornalista que, embora tenha exercido suas funções de assessor de imprensa do Presidente da República e seja militante do Partido dos Trabalhadores, é cônscio de sua função. E quero crer que o objetivo de Kotscho nessa matéria seja exatamente no sentido de colaborar para que haja respeito entre Presidente e ex-Presidentes do Brasil.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Estou de pleno de acordo.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não exclusivamente nesse caso, mas que sirva de padrão para que os fabricantes de dossiês respeitem, pelo menos, os Presidentes.

O debate acalorado, o debate duro no plenário, o debate entre nós, políticos, que exercemos o mandato, é outra coisa. O respeito aos mandatários, acho, Sr. Presidente, que deve existir.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Estou certo de que o Presidente Lula ficará contente com o registro da matéria de seu amigo Ricardo Kotscho.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Ouço V. Exª, Senador Mão Santa, com a permissão de nosso Presidente.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Eu só queria aplaudir o gesto de V. Exª de lembrar o nome... Conheci Ricardo Kotscho, quando eu governei, escrevendo para jornal e revista. Eu li o primeiro livro dele, logo quando ele foi publicado. Presidente Garibaldi, ele nos enriquece. Ele é um imigrante, viveu a guerra... Quer dizer, mostra os malefícios de uma guerra... E ele veio para o Brasil. Tem um extraordinário caráter...

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Mão Santa, permita-me dizer que alunos do Colégio La Salle, da Asa Sul, estão presentes aqui - ou estiveram, porque já estão se ausentando. São jovens e estão nos cumprimentando cordialmente.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quero me associar a V. Exª e me congratular com os alunos do Colégio La Salle, até porque duas filhas minhas lá estudaram. Faço o registro da presença deles aqui em plenário.

Ouço o Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Eu pensava que o quadro mais belo do Brasil fosse o do delta - verdes mares bravios, sol que nos tosta o ano inteiro, brancas dunas -, mas esse é o quadro mais belo. Olavo Bilac disse: “Não verás nenhum País como este”. Senador Heráclito, o primeiro livro de Ricardo Kotscho é extraordinário. Ele acaba de publicar outro. Vou comprá-lo e lê-lo. Lamento que as pessoas boas estejam deixando o nosso Presidente Luiz Inácio. Ricardo Kotscho tem bom caráter. É um homem extraordinário, de visão. O Frei Beto também é uma pessoa boa. A Marina Silva, mulher ligada a Deus. O Aldo Rebelo... Suplicy, que você vá para lá ou então o Luiz Inácio vai acabar ficando só com os aloprados.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente, e faço o registro na certeza de que faço justiça a dois homens públicos que muito colaboraram com este País: Kotscho e Fernando Henrique Cardoso.

Muito obrigado.