O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, estava fora do País quando fui surpreendido com notícia do falecimento do nosso grande companheiro e grande brasileiro que foi Jefferson Péres, e a primeira coisa que estou fazendo ao chegar ao Senado, depois da sua ausência, é justamente prestar a minha homenagem à sua memória e dizer que este é um dever de consciência.

A nossa Casa, infelizmente, tem sido alvo, nesses últimos dois anos, de baques que têm marcado a todos nós. Perdemos o Senador Ramez Tebet, perdemos o Senador Antonio Carlos e, agora, perdemos o Senador Jefferson Péres. Cada um com seu estilo, cada um com a sua personalidade, mas certamente todos expressões maiores desta Casa.

Jefferson Péres se distinguia por sua grande bravura cívica, por sua defesa intransigente dos valores morais na política, mas era também, coisa de que poucos puderam desfrutar, uma convivência rica.

Eu, por exemplo, que sentava aqui ao seu lado, tinha com ele freqüentes oportunidades de trocar idéias, e podia então verificar no Senador Jefferson Péres uma grande cultura. Essa cultura ele colocava no seu trabalho parlamentar, nos seus pareceres e nos seus discursos, sem que quisesse fazer de cada uma de suas falas uma obra de eloqüência, mas marcando, sobretudo, de grande intensidade tudo o que ele falava.

Eu recordo de um discurso seu, para mostrar o quanto o considerava como bom orador, que ele fez no falecimento do Deputado Luiz Eduardo. Quem quiser ver o que é uma peça oratória, concisa e realmente muito bem feita, pode reler esse discurso de Jefferson Péres. Não só esse -- esse eu lembro sob o ponto de vista da construção literária --, mas muitos discursos nos quais ele aqui nos deu exemplos. Ele, na mesma linha de Rui Barbosa, tinha uma verdadeira obsessão, a boa obsessão, pela vigilância da conduta pública da Casa como um todo e, particularmente, de cada um dos Senadores.

Esta Casa cria vínculos, porque é uma Casa pequena em que somos poucos membros em relação à outra Casa Legislativa. Por isso mesmo nós criamos vínculos de estima, nós criamos vínculos de amizade, criamos vínculos de convivência, às vezes não muito estreitos, às vezes mais afastados, mas todos nós nos relacionamos em um gosto de conviver cada um com suas posições, cada um com a sua maneira de ser. Mas criando estima, podemos dizer, pelos nossos colegas.

Eu vou sentir bastante falta do Senador Jefferson Péres, porque ele era, como eu disse, o meu companheiro de grandes colóquios sobre as mazelas e sobre os bens do País.

Ultimamente, ele estava marcado por um profundo desencanto pela vida pública. Ouvia sempre dele um certo ressaibo dessas desilusões com a política brasileira, mas nunca deixou que se perdesse aquele desejo permanente de que o Brasil fosse um País em que os homens públicos tivessem uma conduta honrosa, honrada, limpa, digna. E essa era a sua ação permanente.

Portanto, tenho de dizer essas palavras. Eu estou chegando ao Brasil para vir ao Plenário e também juntar-me a esse sentimento, que penso ser de toda a Casa, de todos nós colegas de Jefferson Péres que aqui estamos. 
Termino, Sr. Presidente, reafirmando que Jefferson Péres vai fazer muita falta. Fará falta ao Senado, fará falta ao Amazonas, fará falta ao Brasil e, sem dúvida, à vida pública deste País.