Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Leitura de Nota da Liderança do PSDB, subscrita pelo Líder Arthur Virgílio, manifestando pesar pela morte do Senador Jefferson Péres.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Leitura de Nota da Liderança do PSDB, subscrita pelo Líder Arthur Virgílio, manifestando pesar pela morte do Senador Jefferson Péres.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2008 - Página 16433
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, NOTA OFICIAL, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), SUBSCRIÇÃO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, CONGRESSISTA, FUNDADOR, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, ATUAÇÃO, DEFESA, REGIÃO AMAZONICA, EFICACIA, COLABORAÇÃO, COMISSÃO, SENADO.
  • LEITURA, TRECHO, ANTERIORIDADE, DISCURSO, AUTORIA, JEFFERSON PERES, SENADOR, QUESTIONAMENTO, FALTA, ETICA, POPULAÇÃO, ARTISTA, APOIO, REELEIÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSTERIORIDADE, COMPROVAÇÃO, CONHECIMENTO, CORRUPÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, MESADA, CONGRESSISTA, REPUDIO, CONDUTA, CLASSE POLITICA, ANUNCIO, ENCERRAMENTO, VIDA PUBLICA, CONCLUSÃO, MANDATO.
  • ELOGIO, INDEPENDENCIA, ETICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, JEFFERSON PERES, SENADOR, PROFERIMENTO, PARECER FAVORAVEL, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, DEFESA, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, CIENCIA E TECNOLOGIA.

            O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente, cumpro o dever de fazer leitura de uma nota da Liderança do PSDB, subscrita pelo Líder Arthur Virgílio na última sexta-feira.

“Sob profundo sentimento pessoal e de todos os integrantes da Bancada do PSDB no Senado, expresso o mais sentido pesar pela morte, hoje, do Senador Jefferson Péres.

”Jefferson foi um dos fundadores do PSDB no Amazonas, partido pelo qual se elegeu Senador pela primeira vez em 1994, junto com Fernando Henrique Cardoso.

O último discurso do líder pedetista foi quarta-feira, no Senado, em defesa da Amazônia, bandeira da qual jamais se distanciou.

Reafirmamos, mais do que nunca, as afinidades que sempre mantivemos com ele, em tantos aspectos da vida pública, no campo da ética, na defesa intransigente da Amazônia e dos melhores interesses brasileiros.Perdemos, então, forte referência afetiva e parlamentar.

Íntegro, culto, com sólida formação jurídica e correta orientação econômica, Jefferson emprestou expressiva colaboração às Comissões Técnicas e ao Plenário do Senado, conquistando inquestionável respeito de todos os Congressistas. O Amazonas doou-o ao Senado e o Senado presenteou-o ao Brasil.

Pessoalmente, mantinha com ele laços muito fortes. Meu avô foi compadre do pai dele. Meu pai era seu amigo fraterno e a casa dele foi refúgio até espiritual em momento da angústia da perda do mandato cassado brutalmente pela ditadura militar.

Procurei falar pelos Senadores tucanos, mas não resisti a falar individualmente... por mim. Ou não saberia homenagear o amazonense, amazônida e brasileiro Jefferson Péres.

A melhor homenagem a Jefferson Péres é não deixar morrer sua luta pela decência e pelo respeito à coisa pública.

Brasília, 23 de maio de 2008.

Senador Arthur Virgílio

Líder do PSDB.”

            Sr. Presidente, Srs. Senadores, Jefferson Péres era um orador sucinto e profundo, por isso ouvido, respeitado, admirado e seguido.

            Eu escolhi um trecho de um dos seus memoráveis discursos para homenageá-lo. Talvez tenha sido o mais polêmico de todos eles, e aquele que sinalizou o seu destino. Jefferson Péres, no dia 30 de agosto de 2006, desta tribuna, falou aos brasileiros da sua decepção.

            Leio a parte final do seu pronunciamento:

“Como se ter animação em um País como este com um Presidente que, até poucos meses atrás, era sabidamente - como o é - um Presidente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu neste País e este Presidente está marchando para ser eleito, talvez, em primeiro turno? É desinformação da população? Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar deste País, todos concordarão, ou a grande maioria, que o Presidente sabia de tudo. Então, votam nele sabendo que ele sabia. A crise ética não é só da classe política, não, parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte.

Democracia é isso. Curvo-me à vontade popular mas inconformado. Essa será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância. Isso vem até da classe dos intelectuais, dos artistas. Que episódio deplorável aquele que aconteceu no Rio de Janeiro semana passada! Artistas, numa manifestação de solidariedade ao Presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas. Um compositor dizer que ‘política é isso mesmo, fez o que deveria fazer’, o outro dizer que “política é meter a mão na ‘m’”! Um artista, em qualquer país do mundo, é a consciência crítica de uma nação. Aqui é essa, é isso que é a classe artística brasileira, pelo menos uma grande parte dela, é o povo conivente com isso.

E pior, pior ainda: os artistas estão fazendo isso em interesse próprio, porque recebem de empresas públicas contratos milionários. Isso é a putrefação moral deste País. E o povo vai reconduzir o Presidente porque “política é isso mesmo”.

Tenho quatro anos de Senado. Não me candidatarei em 2010, não quero mais viver a vida pública. Vou cumprir o mandato que o povo do Amazonas me deu, não vou silenciar. Ele pode ser eleito com 99,9%. Eu estarei aí na tribuna dizendo que ele deveria ter sido mesmo destituído.

O que ele fez é muito grave, é muito grave. Curvo-me à vontade popular, mas, não sem o sentimento de profunda indignação.

        A classe política já nem se fala, essa já apodreceu há muito tempo mesmo. Este Congresso que está aqui, desculpem-me a franqueza, é o pior de que já participei. É a pior legislatura da qual já participei. Nunca vi um Congresso tão medíocre. Claro, com uma minoria ilustre, respeitável, a quem cumprimento. Mas, uma maioria infelizmente tão medíocre, com nível intelectual e moral tão baixo, eu nunca vi. O que se pode esperar disso aí? Não sei. Não vou mais perder o meu tempo. Vou continuar protestando sempre, cumprindo meu dever. Não teria justificativa dizer que não vou fazer mais nada. Vou cumprir rigorosamente meu dever neste Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar.

         Um país que tem um Congresso deste, que tem uma classe política desta, que tem um povo... Dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso? É lamentável. E que sabe. Não é por desinformação, não. E não é só o povão, não. É parte da elite inclusive intelectual. Compactuam com isso porque são iguais, se não piores. Vou continuar nesta vida pública? Para quê, Senador Antonio Carlos Magalhães?

Eu louvo V. Exª, que é um pouco mais velho do que eu, que vai continuar ainda. Mas, para mim, chega!

Vou continuar pelejando pelos jornais e por todos os meios possíveis, mas, como ator na vida política e na vida pública deste País, depois de 2010, não quero mais! Elejam quem vocês quiserem! Podem chamar até o Fernandinho Beira-Mar e fazê-lo Presidente da República. Ele não vai com o meu voto, mas, se quiserem, façam-no! O meu desalento é profundo. Deixo isto registrado nos Anais do Senado Federal. Infelizmente, gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, perdendo ou não votos. Pouco me importa. Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela.”

            Foram palavras certamente sofridas de Jefferson Péres em um momento de grande desencanto em razão dos acontecimentos que o Brasil vivia, especialmente no período do grande escândalo do mensalão, que provocou enorme indignação.

            Jefferson Péres sempre foi a voz contundente da indignação mais forte deste País. Aliás, Sr. Presidente, Papaléo Paes, quem não tem a capacidade da indignação não tem o direito de falar em nome da população. Jefferson Péres tinha esse direito, porque tinha uma extraordinária capacidade de indignação.

            Desta tribuna tantas vezes, por meio de discursos sucintos, mas profundos, fazia ecoar o sentimento maior da indignação popular que tomava conta de toda a sociedade brasileira.

            Nos últimos dias, o vi um pouco diferente, mais solto, mais alegre. Seria um pressentimento de que estava por partir? Seria a sensação de que estava por deixar a vida pública? Ou até esta vida, deixando para trás toda a decepção que acumulava em razão dos desvios éticos que acompanhava como representante do povo brasileiro? Eu o vi, por exemplo, Senador Cristovam Buarque, na CPI dos Cartões, sentado um pouco à frente, à minha esquerda, rindo muito. Isso não era comum. Jefferson Péres não era de rir. Nesse dia ele ria e até chegou a debochar de determinadas asneiras que ouvira em meio a um incrível festival de mentiras nos depoimentos, especialmente do Sr. José Aparecido e de Parlamentares que o questionavam.

            Eu senti, naquele instante, que Jefferson Péres, sempre uma figura que proclamava a sua personalidade forte e independente, não importava ele ser Oposição ou Governo; importava a ele exercitar na plenitude a convicção pessoal que acalentava como Senador da República. Na Oposição discordava da Oposição, tanto é que em determinados momentos apoiava o Governo. No Governo, discordava do Governo em determinados momentos, apoiando a Oposição. Eu confesso a V.Exª que, nesse dia, na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Cartões Corporativos, eu sentia que ele dava força à Oposição. Até no ato de debochar de determinadas afirmações esdrúxulas que ouvimos na oportunidade. Depois, na quarta-feira, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, lá, talvez, fosse a tribuna de que ele mais gostava. Sem demérito dos demais, Jefferson Péres era a voz mais ouvida e respeitada, especialmente pelos seus indiscutíveis conhecimentos jurídicos de profundidade. Os seus pareceres técnicos não consubstanciavam apenas a orientação da competente Consultoria Jurídica do Senado Federal, mas revelavam sobretudo a sua convicção pessoal em relação aos projetos em deliberação.

            Na quarta- feira, Senador Papaléo Paes, proferiu parecer e discutiu parecer de minha autoria sobre um projeto de emenda constitucional que destinava 2% dos recursos do PIB para investimento em ciência e tecnologia. Citou exemplos de grandes nações que avançaram em razão de haverem estabelecido patamares significativos em ciência e tecnologia. Fez questão de destacar ser contra o engessamento do orçamento, mas disse que nesse caso aceitava a exceção à regra em função da importância de investimentos em ciência e tecnologia.

            Esse era Jefferson Péres.

            Nos últimos dias, estava diferente, mais alegre, mais feliz talvez, certamente pelo sentimento do dever cumprido sempre com correção e dignidade, na antevéspera da morte, talvez refletindo já os insondáveis mistérios da morte ou da vida que há depois da morte, pressentido, certamente, momentos diferentes que viriam com esses infindáveis mistérios. E que sejam, Senador Jefferson Péres, esteja onde estiver, os momentos diferentes mais desejados e sonhados.

            Muito obrigado, Sr. Presidente. 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2008 - Página 16433