Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.

Autor
Francisco Dornelles (PP - Progressistas/RJ)
Nome completo: Francisco Oswaldo Neves Dornelles
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16657
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, ANALISE, HISTORIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ABERTURA, PORTO, CHEGADA, CORTE, BRASIL, RECEBIMENTO, IMIGRANTE, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA, SAUDAÇÃO, VULTO HISTORICO, INDUSTRIAL, PERSONAGEM ILUSTRE, ATUAÇÃO, GETULIO VARGAS, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIVERSIFICAÇÃO, SETOR, REGISTRO, PROCESSO, MELHORIA, COMPETIÇÃO INDUSTRIAL, EXPORTAÇÃO, DEFESA, REALIZAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, ELOGIO, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA (CNI), SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI), SERVIÇO SOCIAL DA INDUSTRIA (SESI).

O SR. FRANCISCO DORNELLES (Bloco/PP - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, ilustre Senador Tião Viana; Sr. Presidente da Confederação Nacional da Indústria, Deputado Armando Monteiro; meu querido amigo Senador João Tenório; Ministro Guilherme Palmeira; Sr. Carlos Ermírio de Moraes; senhoras e senhores, dedicamos o dia de hoje para homenagear um dos principais vetores do desenvolvimento nacional: a indústria brasileira. Sua história não foi fácil e durou séculos para ser construída. Começou a enfrentar dificuldades desde o Brasil Colônia, quando o reino de Portugal impedia o florescimento de uma Nação auto-suficiente e pujante.

Naquela época, a atividade industrial era proibida e havia apenas pequenos estabelecimentos de consumo para satisfazer a sociedade local. Tudo importávamos da metrópole portuguesa. Mas tínhamos vocação para ser grandes. Demos um grande passo quando D. João VI, ao trazer sua família para o Brasil, abriu, há 200 anos, os portos nacionais ao comércio exterior. Foram os primórdios da internacionalização da economia brasileira o início da globalização. As dificuldades eram enormes, já que a incipiente indústria nacional concorria com os produtos ingleses. Ainda demoraria alguns anos para que tivéssemos uma indústria competitiva.

O declínio do escravismo deu novo impulso ao processo de industrialização, e foi o começo da transformação econômica que se materializaria no século XX. O mundo se industrializava e não podíamos ficar para trás.

A mão-de-obra imigrante começou a formar finalmente um mercado consumidor. A Guerra da Secessão nos Estados Unidos favoreceu a indústria têxtil brasileira, sob o crescimento da cultura do algodão. Aquele foi o primeiro surto industrial do País - de duzentos estabelecimentos industriais registrados em 1880, em 1889 saltamos para seiscentos.

Foi naqueles tempos que surgiram os primeiros grandes empreendedores industriais. Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, lutou contra o arcaísmo e sonhou com um Brasil industrializado e moderno, mas enfrentou muitas resistências. O Brasil ainda privilegiava a monocultura agrícola exportadora, herdeira do açúcar, do café e da borracha. Não havia infra-estrutura, à qual viria muitas décadas depois, nas mãos de Getúlio Vargas.

Getúlio Vargas rompeu com um século de um Brasil subserviente e colonizado. Ao destronar as oligarquias, na década de 30, inaugurou um Brasil que muitos não acreditavam. Ele tinha a convicção de que o caminho para o futuro seria desenvolver um parque industrial, como as grandes nações do mundo.

Aquele projeto de País se mostrou correto. Getúlio sabia que era necessário começar pela indústria de base. Acreditava que o Brasil tinha, sim, petróleo, quando criou o Conselho Nacional do Petróleo, em 1941. Hoje, o sucesso da cidade de Volta Redonda em que, 50 anos depois, se inaugura o principal pólo petroquímico da América do Sul, começou naquela época, em 1946, quando o Presidente Getúlio Vargas inaugurou o primeiro alto-forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Estavam sendo fincadas, então, as bases para que o Brasil se tornasse uma grande potência industrial. A Companhia Vale do Rio Doce, atualmente perto de se tornar a maior mineradora do mundo, foi criada em 1943. A Petrobrás veio dez anos depois, e detinha o monopólio de pesquisa, extração e refino de petróleo. O petróleo seria nosso, e o desenvolvimento também.

Entre 1930 e 1945, a indústria brasileira cresceu 125% ao ano, contra apenas 20% do setor agrícola. Foi um dinamismo de dar inveja aos chineses de hoje. Em meados da década de 50, a indústria já superava, pela primeira vez, a agricultura no Produto Interno Bruto nacional. O Brasil havia se tornado urbano, mudado do campo par a cidade. Rio e São Paulo se tornaram metrópoles. O Brasil tinha uma nova cara.

Anos depois, foi a vez de Juscelino Kubitscheck continuar o processo de industrialização da economia brasileira. Seu Plano de Metas é referência como projeto de desenvolvimento até hoje. Dois terços dos recursos públicos se transformaram em investimento, em infra-estrutura e, principalmente, em energia e transporte. Trouxemos o capital estrangeiro para iniciar uma indústria de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e automóveis. Juscelino abriu estradas, instalou usinas hidrelétricas. Sob seu comando, o Brasil fazia cinqüenta anos em cinco.

A indústria brasileira se diversificava. Na década de 70, o milagre econômico transformou o Brasil numa das grandes potências emergentes do mundo. Combinou-se a estratégia de substituição de importações com o esforço exportador. O PIB crescia 12% ao ano, puxado pela indústria, que cresceu 18% ao ano. Era a segunda maior vitalidade econômica do globo, atrás apenas do Japão.

Nos anos seguintes, a crise do petróleo e dos juros internacionais freou o crescimento econômico e desacelerou a expansão industrial. A estagnação duraria vinte anos, até que o Plano Real e a estabilidade monetária dessem condições de o Brasil voltar a crescer. Nesse período, os lampejos de crescimento não passaram de surtos, asfixiados pela dependência externa.

Dos anos 90 em diante, a indústria nacional amadureceu e passou a competir de igual para igual com as potências industriais. O protecionismo da substituição de importação deu lugar à abertura da economia. As privatizações e a concorrência fizeram a produtividade da mão-de-obra crescer extraordinariamente: aumentou 118% na década de 90, num avanço de 8,4% ao ano. Até a agricultura se industrializou: avanços no processo de produção permitiram ao Brasil dobrar a safra colhida em poucos anos, na mesma área plantada. Na OMC ganhamos projeção internacional.

Se podemos concorrer com eles aqui dentro, por que não lá fora? Passamos a enfrentar outro desafio: aumentar a nossa participação no comércio internacional. Mesmo após a adoção do câmbio flutuante, ainda respondemos apenas por 1,14% do comércio internacional. É pouco diante da dimensão e das potencialidades da nossa economia.

O desafio da economia é o desafio da indústria brasileira. O Brasil não somente exporta commodities primárias. Agrega valor a suas vendas externas. O câmbio depreciado tem diminuído a participação dos produtos manufaturados nas vendas para o exterior, mas eles ainda respondem por mais da metade do que o Brasil deve exportar este ano.

Podemos ser cada vez mais auto-suficientes. A história de sucesso do nosso petróleo deve servir de modelo: hoje, somos exportadores líquidos do produto. Temos mão-de-obra mais qualificada que a de muitos países emergentes, e até mesmo que a de alguns países ricos. Precisamos aproveitar o empreendedorismo nato do brasileiro para conquistar mercados no exterior. Só assim não teremos restrições externas, que sempre abortaram nosso crescimento.

O desafio não é somente da indústria, mas de todos nós. A classe política tem sua tarefa nesse processo. O chamado Custo Brasil é elevado: estamos mal posicionados no ranking dos lugares mais favoráveis a novos negócios, segundo o Banco Mundial. A burocracia no Brasil é campeã do mundo. Um dos passos para reduzi-la é aprovar a Reforma Tributária, que parece ter condições de sair do plano das idéias.

Ao finalizar, mais uma vez, faço a saudação a todos os industriais do País e faço votos de que a indústria nacional continue a ser esse exemplo de perseverança, de determinação e de trabalho, que tem sido ao longo de nossa história.

Sr. Presidente, Armando Monteiro, eu queria fazer a V. Exª uma saudação toda especial, reiterando meu respeito e minha admiração. Na sua pessoa, faço a saudação a todos industriais brasileiros.

Eu tenho acompanhado o trabalho de V. Exª na presidência da CNI, do Senai, do Sesi e quero reiterar o meu compromisso com o fortalecimento da indústria nacional, com o fortalecimento de todos os estudos comandados pela indústria.

Eu tenho uma ligação afetiva com a indústria. O meu primeiro estágio como estudante foi feito no Departamento Econômico da Confederação Nacional da Indústria, naquele tempo dirigida pelo industrial Lídio Lunardi, de Minas Gerais.

Desde então, eu tenho acompanhado todos os grandes desafios do setor e quero dizer a V. Exª e a todo setor industrial, que, aqui no Senado, V. Exª e todo setor pode contar com minha presença, com minha pessoa, como também de todos os Senadores para lutar, em todos os sentidos, para o fortalecimento da indústria nacional e de todas as instituições e entidades que ela representa.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16657