Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16667
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, ELOGIO, HISTORIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, BRASIL, SAUDAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, TRABALHADOR, GETULIO VARGAS, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ROBERTO SIMONSEN, ERMIRIO DE MORAES, INDUSTRIAL, EX SENADOR.
  • IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, CONHECIMENTO, PRE REQUISITO, DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, DEFESA, AMPLIAÇÃO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, POVO, FAVORECIMENTO, LIDERANÇA, CIENCIA E TECNOLOGIA, ELOGIO, INDUSTRIAL, INVESTIMENTO, SETOR, AGRADECIMENTO, ORADOR, ESFORÇO, EMPRESARIO, TRABALHADOR.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Tião Viana; Deputado Armando Monteiro, meu conterrâneo, presidente de diversas instituições industriais; Senador João Tenório, a quem se deve a convocação desta sessão; Sr. Carlos Ermírio de Moraes; Ministro Guilherme Palmeira; Senador Aldemir Santana, eu os cumprimento, mesmo aqueles que tiveram que sair.

Neste momento está reunida a Comissão de Educação, da qual sou Presidente, debatendo diversos projetos. Quase não me deixaram sair, mas acho que eu não teria o direito de não estar presente aqui. Primeiro, para dizer, como brasileiro, do orgulho que tenho daquele que é o maior feito do povo brasileiro: o salto industrial que demos em período tão curto, entre os anos 30 e 70, ou 80 no máximo.

Claro que já havia uma indústria desde antes, até porque um dos nomes que vou citar é anterior a essa época. Mas o grande salto que nós demos talvez nenhum outro país tenha dado, num processo tão rápido, salvo obviamente a industrialização forçada em países do Leste europeu. Salvo ali, nenhum outro país conseguiu dar um salto tão rápido. A China começou mais ou menos nesse período e, agora, está conseguindo dar esse salto. Talvez, obviamente, por diversas condições, pode nos superar, mas demorou mais.

Depois das copas do mundo de futebol, o maior orgulho que este País pode ter, como povo, é a velocidade com que saiu de um país rural, agrícola, para um país industrial e urbano.

Claro que por trás disso estão milhões e milhões de trabalhadores pequenos que, como operários, ajudaram a colocar cada parafuso da indústria brasileira. Mas, como sempre, alguns nomes centralizam esse progresso. O primeiro, claro, é Getúlio Vargas; o segundo é Juscelino Kubitschek, no lado da política. Mas, no lado empresarial, todos nós sabemos - e já se falou aqui -, é Roberto Simonsen. E faço questão de falar de uma figura que eu conheci, que ponho entre meus orgulhos: cheguei a conviver com o Sr. Ermírio de Moraes, mas falo do “velho”.

Quando Senador em Pernambuco, ele, industrial com 70 anos, dava atenção a diversos estudantes jovens, não apenas a mim. Conversávamos, discutíamos, recebíamos dele sugestões. Juntos, botamos a assinatura fundando o MDB na luta pela redemocratização e pelo progresso brasileiro.

Ermírio de Moraes e Roberto Simonsen: eu colocaria esses dois como símbolos, ainda que sejam dezenas e dezenas de outros empresários brasileiros que foram capazes de dar o salto para a nossa industrialização.

Creio que, nesse período, adquirimos plenamente o conhecimento da indústria, e o Brasil, hoje, é um País que sabe industrializar, que sabe como fazer com que a economia tenha a indústria como carro-chefe.

Mas a gente tem de olhar o futuro, e o futuro - é isto que quero aqui trazer como recado - não está no conhecimento da indústria, mas na indústria do conhecimento. Daqui para frente, o que vai dar valor aos produtos será a quantidade de conhecimento que existe dentro dele; não vai ser mais a quantidade de capital investido nem mesmo a quantidade de matéria-prima utilizada, nem a quantidade de mão-de-obra que o produziu, como a teoria nos ensinou ao longo do tempo. Daqui para frente, o valor das coisas virá da quantidade de conhecimento que exista dentro das máquinas inteligentes que quase dispensam trabalhadores e também da quantidade de conhecimento no produto que vai ser vendido. Cada produto vai ter determinado o seu preço pela quantidade de conhecimento, pela quantidade de ciência e tecnologia, pela quantidade de pesquisa que tem atrás dele.

E se o Brasil não der esse salto do conhecimento da indústria que temos para a indústria do conhecimento, onde precisamos chegar, ficará para trás no século XXI. O esforço de homens como Roberto Simonsen, como Ermírio de Moraes e tantos outros - até o Mauá, lá bem atrás - não será perdido, mas será insuficiente para o grande salto que a gente precisa dar.

E não há como ser uma economia do conhecimento, ter a indústria do conhecimento, sem termos o povo inteiro bem educado, para que possamos escolher os grandes craques do conhecimento: os cientistas, os tecnólogos, os inventores da nova realidade da economia do século XXI.

Educar um pouquinho de gente bem vai ser muito pouco, porque se a gente dispensa muitos, esses poucos bons foram escolhidos sem aproveitar os melhores ainda que ficaram para trás.

No Brasil, de cada dez crianças, apenas quatro terminam o segundo grau. Seis nós deixamos fora do processo da economia do conhecimento. Por isso, não temos nenhum Prêmio Nobel ainda. Ele morreu antes de aprender a ler ou antes de aprender as quatro operações. E também porque aqueles que nós temos como bons não tiveram que concorrer com todos, concorreram apenas com uma pequena minoria da qual fazem parte.

Se nós utilizássemos o que temos no processo de educação para o futebol, o Brasil não teria grandes craques. O Brasil tem grandes craques porque todos jogam futebol, desde os quatro anos, com bola redonda. Não tem bola redonda para rico e quadrada para pobre; mas, na educação, tem quadrada e redonda. Então, a gente está jogando fora os nossos craques antes de eles se transformarem em bons jogadores.

Esse é o desafio do Brasil: do conhecimento da indústria, que alguns dos senhores e das senhoras e outros de antes nos fizeram chegar e dar orgulho ao Brasil, para a indústria do conhecimento a que a gente precisa chegar.

Sr. Presidente, concluo - até porque V. Exª solicitou que eu fosse breve, e estão esperando-me lá na Comissão - falando dos empresários que, a meu ver, estão ajudando a dar esse salto, o Roberto Simonsen de hoje, o velho Ermírio de Moraes de hoje. Claro que são muitos, mas quero citar aqui o Dr. Antônio Ermírio de Moraes, que conseguiu colocar a educação como uma obsessão, uma mania da sua atividade pessoal e de cidadão, e o Dr. Gerdau, um homem que usa todo o tempo que pode, parte até dos seus recursos, para tentar fazer do Brasil uma sociedade onde a indústria do conhecimento seja realidade.

Na pessoa deles, quero cumprimentar todos os que, no passado e daqui para frente, vão fazer o Brasil se orgulhar de poder dizer a todo o mundo que aqui há pessoas capazes de fazer com que a economia esteja na ponta do progresso. Da ponta do progresso da indústria mecânica, no sentido das máquinas, para a indústria moderna, do ponto de vista da ciência, da tecnologia do conhecimento.

Como brasileiro, agradeço a cada um dos senhores empresários, a cada um dos anônimos trabalhadores que colocaram parafusos nas máquinas da indústria brasileira, mas sobretudo quero agradecer àqueles que sabem que não dá para parar no tipo de indústria que temos, e que investem não só na sua empresa, mas no Brasil inteiro, politicamente, cobrando de nós, políticos. Quando necessário, financeiramente, contribuindo com o Estado, para que o Brasil, daqui a mais dez, vinte anos, em outra reunião como esta, Senador João Tenório, convocada por outro Senador, a gente possa dizer: o Brasil está na ponta, é uma sociedade que tem a indústria que o mundo moderno precisa, a indústria do conhecimento.

Parabéns a vocês! Muito obrigado a cada um, como brasileiro. Espero que, daqui para frente, ainda se continue fazendo muito para que esse orgulho do que fizemos se perpetue no futuro.

Parabéns aos industriários brasileiros! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16667