Pronunciamento de Marco Maciel em 27/05/2008
Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal
Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
- Autor
- Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
- Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.
POLITICA INDUSTRIAL.:
- Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16678
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. POLITICA INDUSTRIAL.
- Indexação
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- HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, DATA, ANIVERSARIO DE MORTE, ROBERTO SIMONSEN, INDUSTRIAL, EX SENADOR, CONTRIBUIÇÃO, MODERNIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, ANALISE, CRESCIMENTO, PARTICIPAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, POSTERIORIDADE, PLANO, REAL, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.
- REGISTRO, CRIAÇÃO, SENADO, DIPLOMA, DENOMINAÇÃO, JOSE ERMIRIO DE MORAES, INDUSTRIAL, EX SENADOR, DETALHAMENTO, BIOGRAFIA, OBJETIVO, CONCESSÃO, EMPRESARIO, POLITICO, CONTRIBUIÇÃO, PAIS.
O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Exmº Senador Pedro Simon, Presidente desta sessão; Exmº Sr. Deputado Federal Armando Monteiro Neto, Presidente da Confederação Nacional da Indústria; Exmº Sr. Senador João Tenório, autor do requerimento que motivou a presente sessão; prezado Dr. Carlos Ermírio de Moraes, que, à Mesa, representa a família de José Ermírio de Moraes, homenageado nesta sessão; Srs. presidentes das Federações estaduais das Indústrias; Deputados Federais; autoridades; minhas senhoras e meus senhores.
A presente sessão especial que o Senado promove, por oportuna e lúcida iniciativa do operoso Senador João Tenório, visa a registrar a passagem do “Dia da Indústria”, festejado a 25 de maio, que assinala a data do falecimento do cidadão múltiplo Roberto Simonsen - engenheiro, historiador, empresário, político e integrante da Academia Brasileira de Letras, que tanto contribuiu para dar ao País uma visão modernizadora do processo de desenvolvimento nacional.
Lembrar Roberto Simonsen é, portanto, fazer memória também da decisiva participação que a indústria oferece ao crescimento econômico-social brasileiro. Ao lado da geração de empregos diretos e indiretos, o setor agrega valor à atividade, ao incorporar continuamente modernos recursos da ciência, da tecnologia e da inovação, para dar maior competitividade internacional ao produto nacional.
A tudo isso se pode aditar, como fator igualmente responsável pelo dinamismo no setor, o êxito do Plano Real, certamente o mais bem-sucedido programa de estabilização econômica, de controle da inflação e de responsabilidade fiscal, que ensejou ao País um adequado travejamento institucional, capaz de assegurar um sustentado projeto de nação, nesses tempos de mundialização, caracterizados por grande aceleração histórica.
Fazer luz ao pensamento e ação de Roberto Simonsen, e de tantos outros, é, pois, reconhecer o avultado papel que desempenhou o empreendedorismo ao longo de nosso evoluir histórico. São líderes dotados de grande visão realizadora: viver e ser, para eles, é tornar realidade sonhos coletivos. Enfim, como afirmou, com muita oportunidade, Sartre: “O homem não é nada mais do que aquilo que faz de si mesmo”.
Não se deve, portanto, deixar de reconhecer no empresário a pulsão de que o seu fazer é forma de servir ao País, acreditar, como disse Rui Barbosa, que “a Nação não é ninguém: somos todos”.
A celebração, neste ano, de tantas e expressivas efemérides, associa-se também a de instituir o “Diploma José Ermírio de Moraes”, a ser conferido anualmente, conforme projeto do Senador João Tenório, a um só tempo, empresário e político, e do qual sou Relator, na Comissão de Educação desta Casa.
José Ermírio de Moraes era pernambucano, nascido em Nazaré da Mata, nos pródromos do século XX, em família de casa-grande de engenho de açúcar, paisagem expressivamente descrita pelo talento de sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre.
Roberto Simonsen e José Ermírio foram, ao longo do tempo, parceiros em empreendimentos conjuntos. Em 1928, ao criarem o Centro das Indústrias de São Paulo (CIESP), transformado, em 1931, em Federação das Indústrias de São Paulo, grande fórum de debate dos problemas que ainda desafiam o Brasil.
José Ermírio não teve a ventura de conviver com seu pai, de grande talento e arguta intuição, posto que falecera 18 meses após seu nascimento.
Sua mãe assumiria a chefia da família e dos negócios. Dela foi a decisão de educar o filho no exterior, antes, porém, encaminhando-o ao Colégio Alemão, no Recife, onde fez o curso secundário, e, em seguida, transferiu-se para os Estados Unidos. Após cursar o “College”, diplomou-se em engenharia, na Universidade de Baylor, e pós-graduou-se no Colorado School of Mines. Lá, obteve - mercê certamente de sua habilitação - emprego em empresas de mineração, dispensando a ajuda financeira da família. Ao regressar ao País, trabalha em Minas Gerais e em Pernambuco sobretudo, na Usina Aliança, de propriedade da família.
Casou-se José Ermírio com Dª Helena, filha do empresário Antonio Pereira Ignácio, e este o convidou para trabalhar na ainda nascente Votorantim. Constituiu, com a sua companheira, numerosa família, todos igualmente empresários.
Sr. Presidente, Emerson sentenciou, com propriedade, que “toda instituição é a sombra alongada de um homem”. José Ermírio é exemplo dessa assertiva. Ao lado do exercício das atividades privadas, cravara também os seus olhos na interpretação de fatos relevantes que observara para além de meras questões empresariais.
Lera os discursos da campanha de Woodrow Wilson, eleito e reeleito Presidente dos Estados Unidos durante a Primeira Grande Guerra mundial. Destaco trecho do pronunciamento feito por Wilson, em 1912, que José Ermírio gostava de repetir:
“O período de (...) infância dos Estados Unidos já passou. Precisamos enfrentá-lo com labor, com decisão e com inteligência, para nos tornarmos uma nação que possa concorrer com todos os seus competidores mais adiantados.”
Olhar o passado é indispensável, vez que o futuro tem um coração antigo. “E quem não tem” - repetia o Embaixador Roberto Campos - “visão histórica, corre o risco de ter uma visão histérica”.
Malgrado sua formação no exterior e ser versado em línguas - especialmente alemão e inglês -, Ermírio permaneceu autêntico brasileiro, um nacionalista “verde e amarelo”, sinônimo de amor à Pátria. Possuía, parafraseando Machado de Assis, forte “instinto de nacionalidade”.
Outra característica que o marcava era o seu cariz republicano, palavra de sentido polissêmico, que significa “res publica”, ou seja, coisa pública, como a definiram os romanos.
José Ermírio de Moraes nunca esqueceu Pernambuco e o Nordeste. Lá instalou empreendimentos em diversas áreas. Elegeu-se Senador pelo Estado com significativa votação de todas as classes sociais. Defensor da Sudene, cumpriu o mandato de forma eficiente e teve uma conduta proba. Jamais recebeu os subsídios parlamentares, entregando-os a instituições de beneficência social.
Cristão, muito ajudou na construção ou reforma de igrejas, como a Catedral da Sé de São Paulo e apoiou financeiramente o Colégio Rio Branco de São Paulo mantido pela Fundação dos Rotarianos da qual era membro.
Sr. Presidente, “O Diploma José Ermírio de Moraes” a ser galardoado no Dia da Indústria, a quantos hajam se destacado nas atividades empresariais, é também reconhecido de que a vida pública não é título que se atribua apenas aos políticos, mas a todos os que se dispõem a exercer funções ligadas à coletividade, como arte e virtude do bem-comum.
Sr. Presidente, concluo as minhas palavras consciente de que esta sessão especial ajuda a que esta Casa reflita sobre os exemplos dos que nos antecederam e servem de inspiração a todos nós no desempenho do nosso múnus público.
Muito obrigado. (Palmas.)