Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16679
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, ELOGIO, INDUSTRIAL, ESFORÇO, CONSTRUÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, INVESTIMENTO, PESQUISA CIENTIFICA, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, SAUDAÇÃO, EMPRESARIO, ESTADO DO PIAUI (PI), SUPERIORIDADE, OFERTA, EMPREGO, SUPLANTAÇÃO, DIFICULDADE.
  • COMENTARIO, VIAGEM, ORADOR, MISSÃO OFICIAL, CONTINENTE, ASIA, AFRICA, REGISTRO, EXPECTATIVA, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ATUAÇÃO, BRASILEIROS, ESPECIFICAÇÃO, EMPRESARIO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a vocação de caudilho do Rio Grande do Sul já pautou meu discurso; irei segui-la, até porque não posso ir de encontro ao que pensa o Simon. Quando o Simon pensa, S. Exª apenas reflete os ecos de todo o sentimento nacional. Mas, como nasci para ser rebelde, Simon, V. Exª vai me permitir começar falando do meu Piauí, uma vez que temos, eu e ele, um acordo que chamo de “chimarrão e rapadura”, os piauienses e os gaúchos, o que, aliás, tem dado muito certo. Mas V. Exª tem razão de me anunciar com cautela, pois também temo pelo que vou dizer.

Não sou industrial, não tenho vocação para a indústria, mas poderia tê-la. Saído de uma família de funcionários públicos, fui morar em Recife e casei-me com a filha de um industrial. Eu já era atrevido naquele tempo, quando, Senador Pedro Simon, para casar, éramos obrigados a pedir a moça em casamento, pedir a mão da moça ao pai dela. Na conversa explicativa que tive, eu disse algo que foi definitivo: “O senhor fica tranqüilo, que tenho horror à chaminé e adoro microfone”. Vinte e oito anos depois, cumpro à risca o que disse lá atrás: nunca entrei no pátio de uma fábrica da família de minha mulher. Não é que isso nos separe, mas, pelo contrário, como acredito, é a grande chave da união.

Quando assumi esse compromisso, o motivo era muito simples: indústria, para mim, é aquela revolução que começou no tear, na Revolução Industrial, e à minha imagem passam sempre aquelas diabruras de Charles Chaplin, inspirado em Carlitos, mostrando que alguém, no lugar indevido, comete sempre, como se diz no Piauí, capilossadas. E o que eu iria fazer numa fábrica cheia de botões e de mecanismos? Poderia apertar algo de forma errada e afetar a produção. Mas nem por isso é menor minha admiração pelos que têm a coragem de fazer indústria neste País, pelas adversidades, pelas incompreensões, pelas inseguranças jurídicas.

O industrial tem uma característica que acho fantástica: a incansabilidade. Vejo homens que dedicaram toda a sua vida para ajudar a construir o campo privado, o desenvolvimento do País, e que, no momento em que a idade avança e em que pensam que se vão dedicar ao lazer, ao repouso tranqüilo do aposentado, lá vêm com uma nova idéia, com uma inovação, aderindo a uma nova tecnologia, entrando em novas empreitadas, sempre com a preocupação de passar sua experiência aos filhos, aos netos e, quando não os têm, aos servidores, aos companheiros de luta mais dedicados, para que não percam aquele sentimento que lhes é nato.

Esta semana, estive em Nova Iorque, participando de uma homenagem ao Empreendedor do Ano, que coube à brasileira Dona Yolanda Queiroz. E achei que nada era mais justo do que prestar aquela homenagem. Dona Yolanda foi surpreendida por uma fatalidade: reticente às atividades empresariais do marido, teve de assumi-las de repente. A empresa familiar sobreviveu, cresceu, expandiu-se e, hoje, é merecedora de homenagens dessa natureza. Como eu tinha uma gratidão e uma admiração pessoal muito grande pelo seu marido falecido, resolvi participar daquele evento.

Quero homenagear aqui os empresários que constroem este País apesar das adversidades. Homenageio aqueles que investiram em tecnologia, que criaram e fabricaram modelos e que, acima de tudo, investiram em pesquisas.

Vejo aqui Adalberto Coelho, daí por que vou falar sobre o Piauí. Eu era menino, e todo o Piauí era sabedor de que seu pai saía pelo interior do Piauí implantando a tecnologia do algodão, investindo nas espécies que resistissem a pragas, criando pequenas usinas - foi um grande professor em todo o Nordeste -, para que o algodão sobrevivesse e desse sustento a famílias por muitos e muitos anos. São os gênios, são os inventores.

No Piauí, caro Presidente Armando Neto, há um industrial que me causa admiração profunda. Não nasceu no Piauí, mas no sertão paraibano. Migrou para o Maranhão, depois achou que meu Estado era seu porto seguro. João Claudino, juntamente com o irmão, Valdeci, construiu um extraordinário império industrial, quando a lógica mandava que aquele império fosse instalado em São Paulo e, com muita boa vontade, em termos de Nordeste, de Recife ou de Salvador. Num desafio à lei da gravidade - o porquê não sei, não me pergunte -, escolheram o Piauí. E, hoje, empregam mais de 14 mil funcionários. Não aumentaram esse número graças à infelicidade do excesso de tecnologia. São empresários que, lá do menor Estado, de um dos mais pobres Estados da Federação, servem, repito, de exemplo, para várias gerações.

Finalizando, como disse Pedro Simon, empreendi - dentro do que a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional resolveu chamar de “diplomacia parlamentar” - uma viagem a sete países da África. Antes, fizemos uma viagem a cinco países da Ásia. Fiquei impressionado com o que vi. E o que mais me impressionou foi exatamente a vontade dos africanos de que os brasileiros tomem conta, assumam algumas tarefas que eles não têm condições de executar, pois reconhecem nos brasileiros a capacidade no momento de fazê-las. Pude ver uma invasão de empresas brasileiras nesses países. O que vi principalmente em Luanda lembra muito o que era Brasília nos anos 60: obra para todos os lados, oportunidade de emprego sobrando. E os brasileiros que tiveram a coragem de se arriscar nessa aventura, pelas informações que tenho, estão indo muito bem, Senador Simon.

Saindo da África e falando do Brasil, finalizo, congratulando-me com quem resiste e teima em ser industrial no Brasil. É verdade que estamos vivendo um momento extraordinário da economia brasileira e também mundial, mas isso não vai tirar as marcas da dor e do sofrimento dos que conseguiram sobreviver às adversidades burocráticas, à insensibilidade, ao longo dos anos.

Penso eu que, se este País já tivesse aprovado, por exemplo, há alguns anos, os marcos regulatórios, a segurança jurídica para investimentos em nosso território, hoje estaríamos navegando com mais segurança e com o País mais desenvolvido. O capital que para aqui vem não seria tão-somente especulativo, mas seria capital de investimento a longo prazo, até porque esses que vêm voltam, são empresários de oportunidades. O que estamos aqui a louvar são os que nasceram aqui, vivem aqui ou se tornaram daqui, vindo de longe, são os que enfrentam a seca, as crises, as adversidades, mas que batem no peito com orgulho pelo fato de gerarem emprego e de ajudarem a construir esta Nação.

Quando vejo presidir essa entidade poderosa que é a Confederação das Indústrias do meu País um nordestino e, acima de tudo, um jovem, fico feliz da vida! Nem tudo está perdido, nem se perderia, num universo de brasileiros determinados, como são os senhores que aqui estão e os que não puderam vir, porque não se abatem e têm em mente a construção do Brasil de nossos filhos.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16679