Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solicitação de transcrição nos Anais, do pronunciamento de S.Exa. durante a sessão em homenagem a Zélia Gattai, na Academia Brasileira de Letras.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Solicitação de transcrição nos Anais, do pronunciamento de S.Exa. durante a sessão em homenagem a Zélia Gattai, na Academia Brasileira de Letras.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2008 - Página 17001
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, PRONUNCIAMENTO, ORADOR, SOLENIDADE, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), HOMENAGEM POSTUMA, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA).
  • INFORMAÇÃO, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, MORTE, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA), MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA.

O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei muito breve, mas um dever de consciência e de vaidade também me obriga a registrar nos Anais do Senado as palavras que pronunciei na Academia Brasileira de Letras durante a sessão de saudade pela morte da escritora Zélia Gattai.

Disse eu, naquela oportunidade:

“A notícia da morte de Zélia Gattai é para todos nós, mas especialmente para mim, um sinal de enorme tristeza. Ela representou aqui a força da mulher brasileira, sua capacidade de criação e de acolhimento, em sua plenitude.

Nossa amizade durou muitos anos, desde que a conheci, de mãos dadas com Jorge Amado, no fim da década de 1960. Já estavam então juntos havia mais de 20 anos e tinham enfrentado o exílio e desfrutado do convívio dos maiores nomes do século, como Pablo Neruda, Nicolas Guillén, Pablo Picasso, André Malraux, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre, Ília Erenburg e tantos outros. De volta ao Brasil, puderam, entre assustados com a violência do Rio de Janeiro e esperançosos com a vida na província, fazer o retorno à Bahia, cujo espírito já se confundia com o de Jorge Amado.

Na casa da rua Alagoinhas 33, no Rio Vermelho, Zélia era uma rainha. Oxum, diziam os baianos, deusa das águas e da faceirice. Sua beleza já era lendária. Da alegria da casa generosa, o centro do centro era a contadora de histórias, inigualável na interpretação, na reprodução dos mais diversos idiomas e das mais diversas vozes -- por exemplo, da Ópera de Pequim.

Zélia tinha mais de sessenta anos quando estreou como escritora. E que estréia nós vimos! Anarquistas Graças a Deus é um marco na história da nossa memorialística: ao mesmo tempo um depoimento histórico e pessoal, nenhum outro o iguala no bom humor e na vivacidade da ousadia da jovem filha de imigrantes italianos que vêm ao Brasil fazer a aventura do sonho anarquista e da esperança no trabalho. E tendo estreado, Zélia nunca mais parou de escrever.

Mas não quero contar agora a história da escritora que todos conhecemos muito bem e que nos honrou ao substituir seu marido na cadeira de Machado de Assis.

Quero apenas dizer da minha imensa saudade, da falta que fará a todos nós, lamentar a perda do Brasil e também a minha perda pessoal. Só para ilustrar como ela era importante para mim, conto que a convidei para ser Ministra da Cultura, quando fui Presidente da República; e, quando escrevi O Dono do Mar e Saraminda, Zélia foi uma das pessoas a quem entreguei para ler os originais.

Zélia e Jorge fazem parte do meu universo sentimental e fazem uma imensa falta.”

Sr. Presidente, eram essas as minhas palavras na tarde de hoje.

Quero também comunicar à Mesa que apresentei, para ser votado pela Casa, um voto de pesar pelo falecimento de Zélia Gattai, o que deverá ser comunicado à família para demonstrar esse sentimento do Senado brasileiro. 
Muito obrigado a V. Exª por sua tolerância e pela tolerância do colega que está inscrito.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2008 - Página 17001