Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a violência que reina no Estado do Pará, e a apatia do Governo do Estado.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Preocupação com a violência que reina no Estado do Pará, e a apatia do Governo do Estado.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2008 - Página 17654
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, VIOLENCIA, ESTADO DO PARA (PA), ESPECIFICAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO ESTADUAL, CONTRADIÇÃO, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL.
  • REPUDIO, IMPUNIDADE, OCORRENCIA, CORRUPÇÃO, POLICIA MILITAR, LIGAÇÃO, TRAFICANTE, RECEBIMENTO, PROPINA, AUSENCIA, POSSIBILIDADE, CIDADÃO, DENUNCIA, MOTIVO, AMEAÇA GRAVE, MORTE.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, DENUNCIA, ATUAÇÃO, CRIMINOSO, IMPUNIDADE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, OCORRENCIA, ASSALTO, FILHO, ORADOR, ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, ESTADO DO PARA (PA).
  • CRITICA, OPERAÇÃO, POLICIA FEDERAL, MUNICIPIO, TAILANDIA, ESTADO DO PARA (PA), AUSENCIA, SEPARAÇÃO, LEGALIDADE, ATUAÇÃO, EMPRESARIO, CRIMINOSO, COMENTARIO, RECEBIMENTO, CARTA, INTERNET, ATUALIDADE, SIMILARIDADE, OCORRENCIA, CIDADE, ALTAMIRA (PA).
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, CRISE, ECONOMIA, AMBITO ESTADUAL, SETOR, EXPLORAÇÃO, MADEIRA, MINERAÇÃO, PECUARIA, MOTIVO, AUMENTO, TRIBUTOS, GADO, CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, OMISSÃO, APOIO, INDUSTRIA, COMERCIO, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, BUSCA, SOLUÇÃO, CONFLITO, GARIMPEIRO.
  • CRITICA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), FECHAMENTO, HOSPITAL, MOTIVO, CONSTRUÇÃO, PERIODO, GESTÃO, EX GOVERNADOR, DIVERSIDADE, PARTIDO POLITICO, AUSENCIA, RENOVAÇÃO, CONVENIO, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, OCORRENCIA, GREVE, MEDICO, SIMILARIDADE, MOVIMENTO TRABALHISTA, PROFESSOR, REPUDIO, ATUAÇÃO, POLICIA MILITAR, VIOLENCIA, REPRESALIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Presidente. O senhor tem sido muito gentil com a minha pessoa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, volto hoje a esta tribuna para falar, mais uma vez, da violência no meu querido Estado do Pará. Já fiz isso por várias vezes; já deixei temas nacionais importantes para me dedicar à questão da violência no meu Estado, porque sinto que, a cada dia que passa, o povo do Pará, seja da capital como do interior, sofre mais, e a violência se torna incontrolável.

            Não vejo, por exemplo, uma preocupação tão intensa de parte de outros Senadores de outros Estados, com exceção do Rio de Janeiro, aqui, neste Senado, como de minha parte, porque todos os finais de semana, quase todos, estou no meu Estado. Agora mesmo estive em Marabá, cidade em franco desenvolvimento, com um prefeito trabalhador, mas que precisa do Governo Federal e do Governo Estadual para combater a violência não só naquela cidade, como também em todas as cidades do Sul, Sudeste, Oeste, Nordeste, área metropolitana de Belém, Marajó. Enfim, Sr. Presidente, nós estamos, lá no Estado do Pará, nas mãos dos bandidos traficantes, nas mãos dos mais perigosos bandidos que se concentraram ali naquela cidade, naquele Estado para fazer pura maldade ao povo paraense. Pior, Presidente, é que não se vê nenhuma providência ser tomada.

            E, sempre que venho à tribuna fazer este questionamento, gosto de mostrar que não é invenção do Senador Mário Couto, que é uma preocupação do Senador Mário Couto, que não é oposição do Senador Mário Couto, que é uma preocupação do Senador Mário Couto.

            Canso de dizer isso aqui, Presidente - e vou continuar dizendo sempre: eu, como os demais Senadores que nos preocupamos com as nossas raízes, por sermos brasileiros - piauiense, no caso de V. Exª, e paraense, no meu caso -, amo meu Pará, como V. Exª tem demonstrado aqui que ama o seu Piauí. Eu amo o meu Estado - digo isso do fundo do meu coração -, assim como eu amo meu País. Eu quero o melhor para o meu País, eu quero o melhor para o meu Estado, como V. Exª.

            Assim, não posso deixar de pensar, Senador Mão Santa, que foram milhares, milhares e milhares de pessoas que me mandaram para este Senado defender o Estado do Pará. Sempre penso nisso, quando venho no avião, quando estou na minha casa, quando estou fazendo a minha oração às minhas protetoras, Nossa Senhora de Nazaré e Santa Filomena, e a Jesus Cristo. Eu penso nisto: quantos foram às urnas, pensaram no meu nome e disseram “Esse caboclo aí do Pará vai para o Senado e vai brigar por nós, vai lutar por nós!”

            Eu não posso ver tudo que estou vendo no Estado do Pará e ficar calado. Eu já disse aqui: que a Governadora me entenda, mas eu tenho de falar; eu não posso ficar calado. Eu confiei na Governadora, eu acreditei na Governadora, eu pensei que a Governadora ia combater a violência no meu Estado. Ela prometeu muito; ela se comprometeu com o povo do Pará; ela afirmou, em quase todos os palanques do meu Estado, que iria combater a violência. E não está combatendo. Os traficantes tomaram conta do meu Estado. Os bandidos tomaram conta do meu Estado.

            Eu já disse uma vez aqui, Mão Santa, que os Correios, para distribuir a correspondência - e acreditem se quiser, pois é difícil acreditar nisso -, estão pagando pedágio aos bandidos nos bairros de Belém. Vejam: para deixarem os carteiros entregarem cartas, cobram pedágio. O jornal O Liberal já teve as suas kombis de distribuição de jornal por várias vezes assaltadas.

            O tráfico toma conta do Estado do Pará. Olhem aqui: “Tráfico cala as comunidades de Belém”. Se a TV Senado puder aproximar, poderão ver esta página policial aqui, nesse caderno, que deve ter umas dez páginas, onde todas as dez páginas mostram coisas terríveis, e eu vou folhear para a população paraense, para toda a população brasileira sentir o que o povo do Pará passa neste momento, Mão Santa, o que o povo do Pará vem sofrendo nesses últimos anos.

            Olha aqui: “Impunidade! Todos sabem onde estão os postos de venda de drogas, só a polícia não vê”. A polícia é mal paga. Eles não vão conseguir nunca uma polícia limpa se realmente não derem a formação que uma polícia precisa.

            A polícia, diz o jornal, está pegando dinheiro dos traficantes de droga. E os líderes comunitários dos bairros - dizem aqui no jornal - já viram, por várias e várias vezes, carro da polícia na porta de traficantes. O que estão fazendo ali? Recebendo dinheiro para não ver nada. E quem fala ao jornal amanhece morto. Matam. É assim que está o meu querido Estado do Pará!

            Não posso ficar calado diante disso. Tenho que tomar providências, vir falar aqui, apresentar requerimentos de informações ao Ministério da Justiça - já estou entrando com requerimento -, à Polícia Federal, à polícia do meu Estado, ao Ministério Público. É o que tenho de armas na mão para tentar ajudar meu querido Estado.

            Se estivesse só lendo, talvez ainda existisse um ponto de interrogação na minha cabeça. Mas não estou só lendo. Vou lá ver se é verdade, viajo para lá, vou ao interior e vejo. Minha família foi assaltada há quinze dias, meu filho e minha filha.

            Onde chego e pergunto, só ouço: “Fui assaltado ontem, fui assaltado anteontem, me levaram isso, entraram na minha casa...” É geral! A cada semana, um novo tipo de crime, e nada se faz, e nada acontece. A criminalidade aumenta a cada dia. O povo paraense não pode mais sair às ruas. É verdade isso, Nação brasileira! É verdade o que estou falando, Nação brasileira! Acreditem. Sei que é difícil de acreditar, mas acreditem. O paraense não pode mais sair às ruas. Acredito que o comércio que mais fatura hoje, no Estado do Pará, é o de confecção de grades de proteção para as casas. É impressionante! Quem desce na capital paraense já é alertado. É triste falar isso do meu Estado. Mas falo com dor no coração e indignado.

            O Presidente Lula mandou uma operação - a Arco de Fogo - ao meu Estado. Foi a Tailândia, arrasou, misturou gente séria com gente errada. Misturou tudo. Estou cansado de dizer aqui que a Amazônia tem que ser preservada. Fui eu que combati isso. Meus primeiros pronunciamentos nesta Casa foram nessa direção, mostrando as estradas clandestinas, focos de derrubada de árvores, o que estava acontecendo com a floresta amazônica. E, sinceramente, pensei que as providências fossem em outro estilo. Mas chega uma operação da Polícia Federal com Polícia Estadual, em dez, quinze carros, sirene, com helicóptero descendo, prende todo mundo, derruba tudo. Meu Deus do céu! Não é assim. Aqueles que pagam impostos, aqueles que trabalham direito foram misturados com aqueles irregulares, com aqueles bandidos, com aqueles patifes.

            Agora mesmo, está havendo uma operação em Altamira. Mais tarde, vou ler o e-mail encaminhado por uma pessoa de Altamira, dizendo que ali não é cidade de bandidos, ali não moram bandidos, mas pessoas honradas. E é verdade. Mais tarde, vou ler esse e-mail, Presidente. Eu queria que essa operação Arco de Fogo fosse para combater a criminalidade que avança assustadoramente em nossa capital.

            Prendam os bandidos! Larguem os homens sérios de mão! Pelo amor de Santa Filomena, neste Brasil se faz tudo errado. Tudo errado!

            Será, Mão Santa, que eles já não haviam localizado os madeireiros irregulares e bandidos? Eles não poderiam ir de estância em estância prendendo e fechando. Precisavam alarmar toda uma cidade? Precisavam desconfiar de toda uma cidade? Precisavam pensar que toda uma cidade é bandida? Que todos são bandidos? Que todos são maléficos? Tem que haver respeito!

            Sou fã da Polícia Federal. Sou fã, mas assim não é para fazer. Tem que se combater, Mão Santa, é a bandidagem em si, que toma conta da minha cidade, que toma conta do meu Estado. No interior ou na capital, anda-se sem segurança, com medo. As senhoras, as mulheres não usam mais um brinco, não usam mais um cordão, não usam mais um relógio no braço. Os jovens não colocam mais um tênis de valor no pé. Tem-se medo de usar tudo. Retirou-se o direito de cada pessoa. As pessoas devem respeito aos bandidos. Vejam onde já chegamos!

            O que me dói, o que me traz esta revolta é que prometeram isso em campanha política. Prometeram. Isto tem de acabar no Brasil: mentiras e traições de campanha eleitoral. Vão aos palanques eleitorais, prometem as coisas, passa um, passam dois, três anos, e não se vê as promessas sendo cumpridas. O povo é enganado. O povo paraense foi enganado mais uma vez.

            “No meio do fogo cruzado dos traficantes, uma população de aproximadamente um milhão de pessoas”. É a população da capital paraense. Estamos chegando a um milhão de pessoas em Belém do Pará.

         Um milhão de pessoas vítimas não só do medo como da mordaça imposta pelos mesmos. Nas áreas de maior incidência de venda de drogas, todos os entrevistados são unânimes em dizer que quem fala morre. [Falou, morreu!] Com isso, conviver com traficantes e viciados passou a ser uma árdua obrigação dessas comunidades.

            Aí o jornal, Mão Santa, lá embaixo, usa um asterisco. Veja onde chegamos, como nem os jornais - e este é um dos maiores jornais do Pará, um dos de maior circulação no Estado, um jornal respeitado - podem mais colocar os nomes das pessoas nas matérias, senão aquelas pessoas morrem. Vejam onde a população paraense chegou!

            Senador Geraldo Mesquita, o Estado do Pará passa por um momento de violência terrível. É preocupante a situação do meu Estado. É preocupante! Perdemos as mineradoras, fechadas; perdemos o setor madeireiro, fechado, setor que mais empregava no meu Estado; estamos perdendo o setor pecuário, porque acharam de taxar aquele boi que exportávamos. A palavra é exportação, não é importação. É exportação. Esse nome que gera divisas para o País e para o Estado.

            Este é o nome: exportação. Estávamos exportando, faturando para o País, para o Estado. Resolveram taxar esse boi em pé a R$21,00 cada cabeça. Acabou o setor pecuário. Os três setores exportadores do Pará estão em decadência, e os bandidos a tomarem conta da capital, e a saúde num total abandono, e a revolta deste Senador, que viu, nas campanhas políticas, as pessoas prometerem, prometerem, prometerem. Prometeram educação; prometeram estradas; prometeram saúde; prometeram combater a violência; prometeram tudo e ainda ficam aborrecidos, quando venho aqui para denunciar, para falar. Ainda ficam aborrecidos.

            Olhem o que o jornal teve de fazer. O jornal colocou lá embaixo, em asterisco: “(*)Todos os nomes de comunitários são fictícios [...].”

            Olhe, Senador Geraldo Mesquita Júnior, não podem colocar o nome dos comunitários que falaram. Se colocarem, eles morrem. Será que existe isso em algum lugar? Será? Será que isso existe no Haiti? Será? Não consigo entender como se chega a uma situação como essa.

            “Todos os nomes de comunitários são fictícios [uma nota em asterisco colocada pelo jornal embaixo da matéria] para protegê-los de retaliação por parte dos traficantes.”

            Será que onde existe guerra, por aí, pelo mundo... Como é o nome daquela cidade do Saddam Hussein, de que estou esquecido? (Pausa.) Bagdá. Será que em Bagdá tem isso? Será? Mas no Pará tem. Senador, vou folhear o jornal. Este bloco aqui tem umas dez páginas, que vou folhear. Não existe jornal no Brasil que tenha tanta matéria policial como no Estado do Pará; eu duvido que tenha. Não existe! Eu duvido! Até no Rio de Janeiro, onde há tanta criminalidade, não existe jornal cheio de criminalidade.

            Há seis meses, peguei esse jornal, fiz assim [eu o torci] para derramar sangue aqui, porque era só morte, só assassinato. Agora, torno a fazer isso desta tribuna, com muita coragem, até com muita coragem.

            Olhem só, abro a página: “Polícia [acreditem, este jornal tem credibilidade no Estado do Pará, é um dos grandes jornais do Estado, um dos jornais de credibilidade] não incomoda os traficantes.” É verdade isso? Em outra página: “Policiais garantem segurança ao tráfico”. Olhem só, os policiais garantem a segurança do tráfico! Vamos lá, vamos folhear mais uma página, pensei que tinha acabado: Assaltantes espalham o terror em Belém”. “Seqüestro relâmpago é a nova modalidade de crime praticada na capital paraense”. Querem mais? O rapaz da TV Senado está impressionado; está-me olhando com os olhos esbugalhados, como quem diz: “Meu Deus do céu, vou para o Pará”. Não vai, não vai agora ao Pará ou, então, tira todas as tuas jóias. Mostra o teu relógio. O teu relógio é de ouro? Então, tira. “Assaltantes e mototaxistas são mortos”. Já vem diminuindo, mas todo jornal traz crime, do tráfico aos assaltantes, a mortes. É impressionante o que está acontecendo no Estado do Pará, Senador Mão Santa.

            Eu, que ia fazer-lhe um convite, para visitar o meu Marajó, acho que vou deixar passar um tempo, porque não é só na capital. Não é só na capital. É total! Foi-se tomando conta totalmente.

            Outro dia li aqui, nesse mesmo jornal, que uma senhora ficava com um terço na mão, Senador Mozarildo. Preste atenção, pois lá no seu Estado não está acontecendo isso. Graça a Deus! Uma senhora ficava com um terço na mão. Havia uma foto grande nesse mesmo jornal. Já contei isso aqui, estou só repetindo. O repórter perguntava para ela: "Por que você, aos seus 48 anos, uma senhora nova, fica rezando constantemente aqui na sua casa? Os vizinhos chamaram-me aqui, porque sou da imprensa." E se identificou. "Peguei o carro e vim fazer uma reportagem com a senhora. A senhora, realmente é verdade, não larga o terço da mão. Por que a senhora está rezando tanto?" Ela disse: "Não largo nem um minuto o terço da minha mão, porque já estou rezando pelas pessoas que vão morrer amanhã". Já reza pelas pessoas que vão morrer no dia seguinte, tal a certeza que tem de que mais 10, 15, 20, 30 pessoas vão morrer, Senador Mão Santa.

            Dramático! A situação do meu Estado é dramática. Se não bastasse a violência, ainda fecham os hospitais. Por que fazem isso? Por que fazem isso? Em Santarém, um dos hospitais mais modernos do Estado do Pará, construído por um Governador do meu Partido, do PSDB, não está funcionando com a sua capacidade plena: materiais encaixotados, ameaças de políticos, inclusive, minha, de ir para a rua. Não colocaram o hospital para funcionar. Por quê? Porque foi um Governador do PSDB que construiu o hospital. Olha que besteira! Olha que mania! Olha que cabeça, meu Deus do céu! Prejudicando as pessoas; prejudicando seres humanos; prejudicando seres humanos por rancor pessoal, por falta de humildade.

            Na minha vida pública, política, Senador Mozarildo, ainda não vi um, um político sequer, Senador Mão Santa, que seja vaidoso e que tenha chegado aos seus objetivos. Nenhum!

            Política não se faz com vaidade, com rancor; política se faz com humildade; política se faz com amor no coração, com respeito, com dignidade, com ética.

            Fecharam um hospital em Altamira, no Bairro do Mutirão. Por quê? Por que fecharam o hospital em Altamira? Sabem por quê? Porque tinham um convênio com o Governador passado. Assumiu a nova Governadora e mandou fechar o hospital, porque não reativou o convênio. Parece que é simples fazer isso. Não pensam nos seres humanos que precisam daquele hospital. “Não vou repetir este convênio porque foi o governador anterior que o assinou. Não vou mais assiná-lo para penalizar o partido do ex-governador.” Não é o partido que se está penalizando, gente. É o povo. Falta capacidade para entender isso, Mão Santa! Falta capacidade para entender isso, Mão Santa!

            Hospital de Tailândia: faltam de 5% a 10% para acabá-lo e colocá-lo em funcionamento; o Hospital da Santa Casa, na capital paraense, está abandonado e desprezado - os médicos estão em greve. Esse é o meu Estado hoje. Esse é o Estado do Pará.

            Pois não, Senador Mozarildo, é com muita atenção e respeito que lhe escuto.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Mário Couto, já disse aqui a V. Exª que, embora nascido em Roraima, sou meio paraense, porque passei parte da minha adolescência e fiz o curso de Medicina em Belém. Por causa disso, meus pais foram para Belém. Meu pai, inclusive, faleceu lá. Minha mãe mora lá, assim como duas irmãs minhas. Tenho sobrinhos lá. Portanto, tenho uma parte da minha vida lá. Fico triste quando ouço o relato de V. Exª sobre um Estado importante para a Amazônia, como é o Pará. Aliás, Belém foi, até bem pouco tempo, a chamada porta de entrada da Amazônia, e todos tinham em Belém uma referência. Aliás, Belém é uma referência. É uma cidade linda, de um povo acolhedor. É uma cidade que realmente tem - digamos assim - tudo o que se pode buscar na Amazônia. Mas é lamentável o quadro de violência que V. Exª coloca. Fico boquiaberto de ver aquelas cenas de violência, por exemplo, em relação à Vale do Rio Doce, promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pelo Movimento de Garimpeiros e fico a perguntar: “Onde está a lei neste País? Cadê realmente a presença da Polícia do Estado?” Tivemos aquele lamentável episódio de Eldorado dos Carajás, em que víamos o pessoal do MST jogando terçados, facões contra a Polícia Militar. Não estou justificando o fato de os policias terem reagido e assassinado pessoas, mas isso desencoraja não só quem já está investindo lá, como também quem quer ir para lá investir. E aquilo que vale para o Pará - e fico preocupado - vale para a Amazônia toda. Vou daqui a pouco falar sobre essa questão da Amazônia. Estão justamente fazendo com que a Amazônia fique cada vez mais vazia. Um Estado pujante, com um PIB importante, como é o Pará, estar vivendo esse drama de violência, de queda na sua economia... Eu vinha ouvindo o pronunciamento de V. Exª, que dizia que os pilares básicos da economia estão sendo sucateados. Então, realmente, como é que podemos pensar em enfrentar esse movimento - que não está começando agora, não, que já está em processo antigo de internacionalização da Amazônia - se nós - e quando digo nós, não estou falando nem de V. Exª, nem de mim, mas do Governo do Estado do Pará, do Governo Federal principalmente - não temos uma política para a Amazônia? Se o Governo Lula, principalmente, não tem uma política para a Amazônia? É por isso que a Amazônia está desse jeito. E lamento muito que o Pará, um grande Estado da Amazônia, cujo tamanho é quase equivalente ao Amazonas, equivalente aos sete Estados do Sul e do Sudeste juntos, rico, riquíssimo, de um povo excelente, esteja atravessando esse quadro que V. Exª descreve aqui com todas as cores, lamentando inclusive.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Senador Mozarildo, o Presidente Lula - e aqui quero, Senador Mão Santa, dizer isto a V. Exªs -, quando assumiu o Governo, procurou copiar o que o Fernando Henrique Cardoso tinha feito de bom. Isso é incontestável! Ninguém pode contestar isso. Bolsa-Família, começou onde? No Governo Fernando Henrique Cardoso. É verdade ou não é? Ele pegou os pontos bons da economia do País e os conservou. No Pará, é o contrário. Os bons pontos dos governos anteriores, que era aumentar a produção da indústria, do comércio, da economia, do gado, do setor madeireiro, com planos e com projetos de reflorestamento, com respeito à floresta, para não se acabar com a floresta...

            Sabe quanto cresceu em 2007 o setor pecuário, Senador? Quatrocentos e sessenta e seis por cento! Um dos maiores exportadores de gado do Brasil, o maior exportador de minério do Brasil. Enquanto o governo anterior incentivava a criação das indústrias guseiras no Estado do Pará, este governo veio e as fechou; as madeireiras sérias, o governo veio e as fechou; a pecuária, o governo veio e a está fechando. Na hora em que se taxa em 21% o boi em pé, não se exporta mais. As coisas boas, nós temos que aproveitar. Mas não as estão aproveitando.

            Quanto à Vale do Rio Doce, que V. Exª falou, o que é que tem a Vale do Rio Doce com a revolta dos garimpeiros, meu Deus? Que culpa tem a Vale do Rio Doce? Não quero aqui defender a Vale do Rio Doce, mas não se pode negar que ela é importante para a economia do meu Estado. Quantos a Vale do Rio Doce emprega? Quantos trabalhadores a Vale do Rio Doce emprega no meu Estado? Ela é importante. Sabe por que estão fazendo isso com a Vale do Rio Doce? Por incompetência do Governo Federal e do Governo Estadual, Senador. Porque ninguém resolve os problemas dos garimpeiros que estão lá ainda; porque se é incapaz de chegar em Serra Pelada, conversar com os garimpeiros e chegar a um acordo para que tudo isso seja evitado. É incompetência do Governo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - A palavra que V. Exª está usando é verdadeira. É incompetência no sentido de falta de uma visão atualizada. V. Exª colocou muito bem quando disse que a maioria dos programas deste Governo, principalmente os sociais, foram copiados ou ampliados do Governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, no que tange a outro aspecto, é uma ideologia retrógrada, uma ideologia contra a propriedade; é aquela ideologia marxista ultrapassada que não cabe mais no mundo contemporâneo. Nem a Rússia usa mais, nem Cuba, que é a mais atrasada de todas, usa mais e eles querem implantá-la no Brasil. Quer dizer, esse modelo que o PT, ou parte do miolo do PT pensa, é um marxismo ultrapassado. Então, tem produção de gado? Vamos ser contra o produtor de gado. Tem produção de madeira? Vamos ser contra o produtor de madeira. Tem a produção de mineral? Vamos ser contra a produção de mineral. Então, são contra a propriedade, contra a produção, sem saber que estão trabalhando contra o empregado. Como é que pode haver empregado sem empregador? Por isso que sempre falo que há uma diferença entre ser do Partido dos Trabalhadores - e aí não sei a que trabalhadores eles se referem - e ser de um partido trabalhista, que defende a relação capital e trabalho. Esse foi o partido que Getúlio Vargas idealizou, o Partido Trabalhista Brasileiro, cuja filosofia trabalhista, inclusive do trabalhismo da Inglaterra, defende a propriedade, a geração de empregos, o capital e o respeito ao trabalhador e ao trabalho. Infelizmente, a visão ideológica ultrapassada de setores do PT - parece que da qual faz parte, com profundidade, a Governadora do Pará -, fustiga e instiga essas coisas.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Senador Mozarildo e Presidente Mão Santa, vou descer desta tribuna deixando registrado, nos Anais desta Casa, minha preocupação com a violência no meu Estado, principalmente. Sei que não é só a violência, sei como está a saúde, sei como está a educação que acabou de sair de uma greve, que jogaram spray nos olhos dos professores, aqueles mesmos professores que apoiaram a candidata do Partido dos Trabalhadores nas eleições passadas. E a bandeira do PT e da Governadora era assim: “Ana Júlia está com a educação”. Hoje, Senador, um ano e cinco meses depois, ela espirra, manda sua polícia espirrar pimenta nos olhos dos professores, porque reivindicam os seus direitos. Porque reivindicam os seus direitos!

            A visita do Presidente Lula a Belém foi um negócio desastroso: quebraram a entrada do hangar do Estado, violência, professores no chão, professores com os olhos cheios de pimenta, professores gritando, professores chorando; tudo isso para o Presidente não ver a reivindicação dos professores.

            Mas, no que tange à preocupação pela economia do meu Estado; no que tange à minha preocupação com o desemprego no meu Estado - em massa, em massa! -, tudo aquilo que fizemos, que os Governadores paraenses anteriores fizeram, construíram, está sendo desmoronado.

            Mas uma coisa me causa uma preocupação profunda: é a violência no meu Estado. Não existe - não tem, não existe, não tem - violência maior neste País do que no Estado do Pará!

            Presidente Lula, olhe para isso, Presidente Lula! SOS pede o povo paraense, Presidente. Mande o Arco de Fogo, o arco de fumaça, sei lá, o arco do que for para acabar com a violência, para minimizar a violência no Estado do Pará. É incontrolável! Estão fazendo perversidade com o povo do Pará! São poucas - sem exagero, sem exagero, Brasil - as pessoas que não foram assaltadas na capital paraense e no interior do meu Estado. É verdade! Experimentem olhar isso. Se o Senador Mário Couto estiver faltando com a verdade, cassem o Senador Mário Couto! Cassem! Eu entrego o meu mandato! Vão ao Estado do Pará ver a calamidade da violência que estamos sofrendo. Nunca se atravessou uma fase tão ruim de violência no Estado do Pará. Nunca na história do meu Estado, nunca!

            Senador Mão Santa, desço desta tribuna, sinceramente, sem demagogia - não tenho por que fazer - com um sentimento profundo de pena, de dó, do sacrifício por que o povo paraense passa neste momento com a violência que se alastrou naquele Estado.

            Muito obrigado.

            Não desejo isso para nenhum dos Estados de V. Exªs.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2008 - Página 17654