Discurso durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato sobre episódio ocorrido hoje, durante vôo da TAM, de São Paulo para Brasília, com um jovem passageiro. Homenagem ao empresário Antônio Ermírio de Moraes, pelo transcurso dos 80 anos de vida. Comentários ao artigo do empresário Antônio Ermírio de Moraes , publicado na Folha de S.Paulo intitulado "A hora é de solidariedade".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Relato sobre episódio ocorrido hoje, durante vôo da TAM, de São Paulo para Brasília, com um jovem passageiro. Homenagem ao empresário Antônio Ermírio de Moraes, pelo transcurso dos 80 anos de vida. Comentários ao artigo do empresário Antônio Ermírio de Moraes , publicado na Folha de S.Paulo intitulado "A hora é de solidariedade".
Aparteantes
Jarbas Vasconcelos.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2008 - Página 17685
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, FATO, OCORRENCIA, AERONAVE, VIAGEM, ORADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DISTRITO FEDERAL (DF).
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ANTONIO ERMIRIO DE MORAES, EMPRESARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, HISTORIA, VIDA, GRADUAÇÃO, ENGENHARIA METALURGICA, UNIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ADMINISTRAÇÃO, EMPRESA DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO, IMPORTANCIA, AMBITO NACIONAL.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, CONCORRENCIA, EMPRESARIO, ORADOR, CANDIDATURA, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, MOBILIZAÇÃO, ATUALIDADE, MELHORIA, EMPREGO, EDUCAÇÃO, SAUDE, CONSELHO, HOSPITAL, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.
  • ELOGIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, EMPRESARIO, DEFESA, SOLIDARIEDADE, GOVERNO BRASILEIRO, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, VITIMA, CALAMIDADE PUBLICA, ADVERTENCIA, POSSIBILIDADE, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, OCORRENCIA, TRANSBORDO, LAGO ARTIFICIAL, EXPOSIÇÃO, MATERIAL NUCLEAR.
  • INFORMAÇÃO, ITAMARATI (MRE), ENCAMINHAMENTO, GOVERNO BRASILEIRO, AUXILIO FINANCEIRO, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, MIANMAR.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, POSIÇÃO, EMPRESARIO, OPOSIÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODO, ELEIÇÕES, RECONHECIMENTO, ATUALIDADE, EFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, SUGESTÃO, ORADOR, CRIAÇÃO, COTA, PARTICIPAÇÃO, TRABALHADOR, EMPRESA DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, fez hoje muito frio em São Paulo. Acordei ligeiramente gripado, e um episódio no caminho para cá me deixou afônico. Embarquei num avião da TAM das 12h09min e saí, por volta de 12h30min, em direção a Brasília. Passados uns dez minutos, eis que um rapaz que estava a uns dez bancos à frente começa a gritar e a xingar alguns dos passageiros ao lado. Aproxima-se o comissário de bordo e procura acalmá-lo, mas ele passou a xingá-lo ainda mais fortemente: filho disso, filho daquilo. Todos, ouvindo, ficamos preocupados. Logo, os comissários - acho que com cintos de segurança - amarraram de alguma forma o rapaz no banco. O comandante começou a retornar, para descer em Guarulhos.

            O rapaz, possivelmente entre 20 e 30 anos, algo como 25 anos, tinha uma boa face, mas estava em surto. Diversos passageiros se deslocaram até ele, mas viram que estava muito difícil controlá-lo. Eis que, então, resolvi também verificar se, quem sabe, ele me conhecendo, eu pudesse acalmá-lo. Quando o rapaz, parcialmente amarrado pelos cintos de segurança e deitado nos três bancos, porque os outros dois passageiros haviam saído, me viu, minha expectativa foi por água abaixo, pois ele começou também a me xingar, a xingar o Presidente, o Partido, enfim praticamente qualquer um que chegasse perto naquele instante.

            Eu já vi pessoas passarem por situações como essa, inclusive em hospitais psiquiátricos. O comissário de bordo estava muito calmo, mas teve que ser enérgico - um deles.

            Como ele havia reagido de forma tão forte, eu voltei para o meu assento e disse ao comissário - falei muito calmamente, eu estava falando bem, escrevi meu celular no meu cartão: Dê ao rapaz; se ele quiser conversar comigo, a qualquer momento, quando ele estiver melhor. Coloco-me à disposição.

            Mas me disse o comissário, depois, mesmo quando a Polícia Federal em Guarulhos, dois ou três o levaram, que não havia como conversar com ele calmamente e explicar; e não consegui que o meu cartão chegasse às mãos dele. Eu aqui fico imaginando os pais desse rapaz. Espero que ele possa estar melhor. O comissário disse que possivelmente ele tenha tomado alguma coisa, quem sabe alguma droga ou algo, mas às vezes as pessoas entram em surto, e assustam mais de cem passageiros, mesmo sem ter tomado nada. O que espero é que esse rapaz possa, diante das preocupações que o levaram a essa situação, descansar, como é o normal, alguns dias e que logo, logo possa estar como muita vitalidade, trabalhando, estudando e dando sua contribuição para sua família, para os filhos que, certamente, virá a ter - acho que ele ainda é muito moço, provavelmente solteiro. Mas transmito aqui a seus pais - sem saber os seus nomes e nem o dele - que desejo o seu pronto restabelecimento.

            Acontece que, instantes depois, eu estava conversando com a jornalista Mônica Gugliano, antes de O Globo e hoje da TV Brasil, e simplesmente a minha voz sumiu.

            Mas, Presidente Mão Santa, Senador Jarbas Vasconcelos, eu ontem tinha lido um artigo que achei muito significativo, do empresário Antônio Ermírio de Moraes, sobre a importância de nós brasileiros sermos solidários à China diante do terremoto que lá ocorreu, bem como daquilo que poderá ocorrer ainda mais grave: o transbordamento dos lagos artificialmente formados.

            E Antônio Ermírio, com a sua visão de empresário, de brasileiro, diz algo que resolvi registrar, transcrever e comentar, até porque, nesta quarta-feira, 04 de junho, ele fará 80 anos. Ele, sem dúvida, tem sido um extraordinário exemplo de trabalho, de amor ao Brasil e aos brasileiros.

            Responsável por um dos maiores grupos empresariais do País - o Grupo Votorantim - e prestes a aniversariar, continua trabalhando como se tivesse 30 anos.

            Nascido em 4 de junho de 1928, em São Paulo, Antônio Ermírio conta que jamais esquece uma lição dada por seu pai quando ainda era menino:

            “Era garoto quando ameacei matar uma andorinha. Meu pai tinha um vizinho alemão, robusto e defensor da natureza, que tomou o estilingue da minha mão. Nunca mais pensei em matar uma mosca sequer”.

            Estudou no Rio Branco. Seguiu a trilha do pai José Ermírio de Moraes.

            Em 1945, foi para o Colorado, nos Estados Unidos, e formou-se engenheiro metalúrgico na mesma faculdade do patriarca, a Colorado School of Mines.

            Diz ele que na viagem, no dia chovia muito, os passageiros estavam com os pés lambuzados de lama e o avião decolou com o chão forrado de jornal.

            Apelidado de Tony pelos colegas, viveu quatro anos num quarto de pensão ao preço de US$10.00 ao mês. Certo dia, um amigo veio correndo lhe contar que ele havia tirado a maior nota da turma, 97.

            Ele guarda gratas lembranças, entre elas o convite que recebeu para jantar, num natal, na casa do professor de que mais gostava. “Isso foi a maior honraria - diz ele - que já recebi na vida”.

            O retorno ao Brasil, em 1949, não foi tão amistoso como ele esperava. O pai pôs os olhos no filho em casa e alertou: “Há muito trabalho pela frente. Vou lhe dar um salário e fazer uma experiência com você. Se não der certo, não vou lhe contratar”.

            No mesmo dia, ele encarou o trabalho numa das fábricas do Grupo Votorantin.

            Seis anos depois, a primeira vitória, a fundação da sua própria firma, a Companhia Brasileira de Alumínio, em 1955.

            Em 1962, assumiu todas as empresas e o Grupo não parou de crescer:

inaugurou fábricas de cimento, zinco e níquel. Desde que pisou na Votorantim, não tira férias, com exceção de uma vez. “As minhas viagens de trabalho têm sabor de aventura”.

            Nos anos 70, estava no Ceará, diz ele, em busca de jazidas de cobre. A ausência de restaurantes o obrigou a passar 15 dias comendo fruta-do-conde.

            Casado com Maria Regina e pai de 9 filhos, tem hábitos simples. Costuma ouvir atento os pedidos de emprego que recebe ao ser reconhecido nas ruas. Eu sou testemunha de vê-lo andar ali perto da Avenida Ipiranga, da Barão de Itapetininga, na Praça Ramos de Azevedo, onde tem a sede de seu escritório.

            Em 1986, disputávamos o Governo do Estado de São Paulo Antônio Ermírio de Moraes, Paulo Maluf, Orestes Quércia e eu. Participamos de pelo menos dois memoráveis debates. Ele foi o segundo colocado. Orestes Quércia venceu. Portou-se com a maior dignidade. Foi uma experiência notável debater com ele. Cresceu o meu respeito por Antônio Ermírio de Moraes.

            O futuro, nas palavras de Antônio Ermírio, pertence aos herdeiros, filhos, netos e sobrinhos, preparados para assumir as empresas. Sobre a aposentadoria, diz ele: “Quero morrer trabalhando para não virar um velho gagá”.

            Ele desenvolve também intensa atividade no campo da saúde. E depois de trabalhar tantas horas no Grupo Votorantim e na CBA, ele segue, à noite, para o Hospital da Beneficência Portuguesa, onde preside o seu conselho. Lá dedica muito da sua atenção para essa instituição que mantém cerca de 60% dos seus serviços à disposição dos pacientes carentes e conveniados com o SUS, Sistema Único de Saúde. Ele sempre participou ativamente dos principais movimentos de desenvolvimento.

            Sim, ele apoiou o movimento militar em 1964, mas foi importante ter sido ele um dos oito empresários que, em 1978, assinaram um manifesto importante dizendo que era necessário democratizar o País; e também ele foi um dos que participou, nos anos 80, em 1983, 1984, da campanha pelas Diretas Já.

            Ele tem um engajamento direto e pessoal nas mais diversas campanhas, sobretudo pela geração de emprego, pela melhoria da educação e da saúde do povo brasileiro e tem tido uma atividade mais e mais intensa nos anos recentes como escritor.

            Mas o seu hobby tem sido também o teatro. As suas peças, como Brasil S.A., SOS Brasil e Acorda Brasil têm feito com que as pessoas tenham aprendido muito com essa sua experiência.

            Brasil S. A. ele escreveu quando viajava para Londres, nas 18 horas de vôo, em 1966. Pediu alguns guardanapos de papel e, em cima do cardápio, escreveu a peça que já estava em sua mente há tempos. Para escolher o nome de um dos personagens, abriu o cardápio. A primeira palavra que veio: camarão. E o personagem se chamou Camarão.

            Eu tive a honra de ter sido convidado, no Carnaval deste ano, para participar da Escola de Samba Vai-Vai, inspirada na peça de Antônio Ermírio de Moraes. Na sua peça, conta a história da orquestra que se desenvolveu na favela de Heliópolis, exatamente com o seu apoio. Então, Vai-Vai convidou-me para participar daquela escola onde também estavam inúmeros homenageados. Acorda Brasil fala da Orquestra Sinfônica da favela de Heliópolis. Ali, nós podemos participar e compartilhar da relevância de Antônio Ermírio de Moraes homenagear os jovens de Heliópolis que aprenderam a tocar nessa orquestra sinfônica.

            Antônio Ermírio tem escrito artigos para a imprensa brasileira, como todo domingo, por exemplo, na Folha de S.Paulo. Este artigo “A hora é de solidariedade”, eu gostaria de ler pelo menos alguns trechos, Sr. Presidente.

“Depois do horrível terremoto que ocorreu no mês passado, a China está ameaçada por uma outra tragédia: uma grande inundação.

Não é a primeira vez que isso acontece nos últimos tempos. O fenômeno ocorreu em 1998, quando matou 4.000 pessoas. Em 2007, o transbordamento dos rios do sul do país desalojou cerca de 600 mil pessoas.

Agora, a grande ameaça é de transbordamentos de lagos artificialmente formados [pelo terremoto]. A acumulação de destroços e as chuvas intensas provocaram o surgimento de grandes bacias, que recolheram as águas de rios das regiões atingidas. Um dos lagos já está com cerca de 130 milhões de metros cúbicos e tem seu nível aumentando em um metro por dia.

Soldados, funcionários públicos e cidadãos em geral trabalham sem parar, para evitar uma tragédia ainda maior do que a dos terremotos. Um eventual rompimento das paredes precárias dos lagos recém-formados atingiria mais de 1,2 milhão de pessoas, muitas das quais já estão desalojadas por causa dos terremotos.

Por cima de todos esses estragos, as autoridades chinesas revelaram que, das 50 reservas de materiais radioativos existentes nas regiões dos terremotos - usados para fins médicos e industriais -, pelo menos 15 estão debaixo dos escombros, com perigo de vazamentos.

Terremotos, enchentes e radioatividade é uma combinação das mais perversas para um povo que trabalha duramente e para uma nação que exibe ao mundo uma capacidade incrível de crescer e de progredir.

Apesar de distantes e, muitas vezes, queixosos do avanço agressivo daquele país na economia mundial, não podemos deixar de reconhecer o sofrimento de seu povo e explicitar a nossa consternação.

Não sei se o Brasil está ajudando com alimentos ou medicamentos, mas penso que este seja um momento de deixarmos a concorrência de lado, substituindo-a pela cooperação.

A globalização produziu muitos benefícios efetivos para uma grande parcela da população mundial, mas, ao mesmo tempo, criou um espírito competitivo cruel para os povos menos favorecidos.

Tragédias colossais, como as que atingem a China e há pouco tempo varreram outras nações da Ásia (tsunamis), são mensagens para que os seres humanos de todas as nacionalidades se ajudem mutuamente para garantir um mínimo de humanismo na face da Terra.

Os chineses merecem a nossa irrestrita solidariedade.”

            Quero aqui solidarizar-me com esse pedido e informar, inclusive, ao Sr. Antônio Ermírio de Moraes, que o Governo brasileiro, segundo o que me disse a Embaixadora...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, desculpe-me interrompê-lo. De quantos minutos V. Exª precisa para concluir seu pronunciamento?

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - De cinco minutos, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Prorrogo a sessão por mais 10 minutos para que V. Exª termine. Abro o livro de assinaturas.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Obrigado.

            Informou-me o Itamaraty, por meio da Embaixadora Gladys Ann Garry, que o Governo brasileiro contribuiu com US$200 mil (1.349.980 RMB - a moeda chinesa) para a aquisição de alimentos, roupas e demais materiais de que o Governo chinês necessita. Com esses recursos foram compradas 4 mil unidades de macarrão instantâneo no valor de US$18.864 do fornecedor Hebei Hua Long Companhia de Alimentos...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, o Senador Jarbas pede um aparte. 

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Permita-me apenas ler a lista dessas contribuições.

            Tendas e agasalhos. Foram 1.760 unidades de agasalho; 2.500 unidades de tendas no valor de US$58 mi, da Companhia Beijing Tienjong Jiahua.

            Tendas de diferentes tamanhos: 460 unidades no valor de US$30,428 mil da Companhia Yang Guang Huliang; dois tamanhos de cobertores, duas mil unidades, US$25,927 mil dólares da Companhia Jing Li Wei Jia e 24 mil unidades de água mineral. A empresa ofereceu mais 118 unidades de graças, totalizando 24.118 mil unidades, US$60, 800 mil da Companhia Wan Feng Feng Ye.

            Gostaria, também, de acrescentar que da mesma maneira o Governo brasileiro enviou para Mianmar US$40 mil de contribuições, 1.000 chapas de zinco, 50 barracas de lona, 1,9 tonelada de macarrão instantâneo, 1,5 tonelada de peixe enlatado, 1,8 tonelada de leite longa vida e 2,8 mil camisetas que foram adquiridas em Bangkok. Caminhões transportarão esses materiais que serão depositados na fronteira entre a Tailândia e Mianmar na próxima semana.

            Portanto, o Governo brasileiro está atendendo o apelo de solidariedade de Antônio Ermírio de Moraes. Obviamente, outros passos poderão ser dados. Mesmo por quem porventura tenha quaisquer divergências ou sugestões. Eu próprio sugeri aqui, alguns meses atrás, que o Presidente da China travasse um diálogo com Dalai Lama ou seus representantes, como passou a acontecer no último mês e espero que haja um diálogo produtivo sobre esse assunto. É importante que, em momentos como esses, sigamos as recomendações do brasileiro Antônio Ermírio de Moraes, que tem criado oportunidades de trabalho para centenas de milhares de brasileiros direta e indiretamente.

            Senador Jarbas Vasconcelos, com muita honra. Desculpe-me a minha voz.

O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE. Com revisão do orador.) - Senador Eduardo Suplicy, quero me solidarizar com V. Exª, que é de São Paulo, e dizer que os artigos que o Dr. Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos na Folha de S.Paulo, transmitidos, assim, ao País inteiro, são realmente artigos exemplares, muito bem- feitos e muito bem-elaborados, sobretudo quando ele aborda o tema preferido dele, que é a educação. Ele aprofunda, chama a atenção para o fato de que país nenhum do mundo deu um salto qualitativo se não tiver feito um grande investimento em educação e cita exemplos como o Japão, a Coréia do Sul e outros países que se têm notabilizado pelo investimento em educação. Era preciso que o Senado, por intermédio de um de seus membros, falasse sobre esse grande empresário. E nada melhor do que V. Exª ir à tribuna hoje, pela sua seriedade, pelo seu passado, para prestar essa homenagem ou fazer essa referência ao Dr. Antonio Ermírio de Moraes. O pai dele, o ex-Senador José Ermírio, era pernambucano e muito cedo saiu de Pernambuco para São Paulo e se tornou um dos principais empresários do País. O legado que deixou não foi somente o grupo empresarial, um dos maiores do continente sul-americano; foi o exemplo de correção, determinação, seriedade. Posso dizer-lhe isso, Senador Eduardo Suplicy, porque, ainda jovem, formando-me na cidade de Recife, pela Faculdade de Direito, tive a oportunidade de trabalhar no grupo que não se chamava Votorantin. A empresa-mãe do Nordeste era a Companhia de Cimento Poti. Tive a oportunidade de ver como o grupo empresarial tratava as coisas, inclusive pagamento de impostos, ojeriza à sonegação fiscal, correção com os trabalhadores, preocupação não só com a empresa, mas a visão de Brasil, a visão de mundo, a visão do que é correto, do que é nobre. De forma que quero me incorporar ao discurso de V. Exª e dar este testemunho de que, numa hora tão amarga para o mundo, pessoas como o Dr. Antônio, seu irmão mais velho já falecido, o José, o outro irmão, o Ermírio, e a sua irmã Helena, casada com o empresário Dr. Clóvis Scripillitti, também falecido marcaram não só a vida paulista, mas também a vida nacional, pelo espírito empreendedor e pelo espírito de correção e determinação relativa às coisas. Posso lhe dizer isso, porque esse discurso de V. Exª não é um oba-oba, não é mera exaltação, não é uma referência a um empresário do seu Estado. V. Exª, com muita justiça, usando de todo o prestígio que V. Exª tem, presta essa justa homenagem a um homem absolutamente correto e a uma família empreendedora, que é a família do Dr. Antônio Ermírio de Moraes. Meus parabéns a V. Exª.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Jarbas Vasconcellos. V. Exª enriquece, com seu depoimento, a história de Antônio Ermírio.

            É interessante que, aos 80 anos, ele anuncia mais um investimento da ordem de 1,5 bilhão na Companhia Brasileira de Alumínio, que é a menina dos seus olhos. É mais um avanço importante.

            É interessante também registrar que Antonio Ermírio de Moraes foi crítico do Presidente Lula antes da sua eleição e havia apoiado o adversário de Lula, hoje Governador José Serra, e Geraldo Alckmin anteriormente. Mas, por diversas vezes, Antonio Ermírio de Moraes tem expressado que o Presidente Lula tem sido uma grata surpresa; ele tem reconhecido seus méritos e seus acertos, sobretudo na área econômica.

            V. Exª, muitas vezes, aqui, tem feito críticas a alguns aspectos do Governo do Presidente Lula e também tem reconhecido méritos na área econômica, aquela que Antonio Ermírio de Moraes considera essencial, ao lado dos investimentos para melhoria da educação e da saúde.

            É importante que o Presidente Lula tenha participado do livro que Gabriel Chalita e José Pastore estão publicando nesta semana, com oitenta depoimentos sobre Antonio Ermírio de Moraes.

            Ao concluir, quero dizer para Antônio Ermírio algo que eu gostaria de ter dito ao meu bisavô, Francesco Matarazzo, que faleceu em 1937 - nasci em 1941. Aqui, há um paralelo, pois Francesco Matarazzo avaliou que seria bom que o controle acionário das Indústrias Reunidas F. Matarazzo permanecessem nas mãos de um dos seus treze filhos. E, depois, o penúltimo, Chiquinho Matarazzo, fez o mesmo com respeito à sua sucessão, colocando tudo nas mãos da mais jovem, Maria Pia. E, quando ele faleceu, em 1937, as Indústrias Reunidas F. Matarazzo constituíam o maior grupo empresarial brasileiro, com mais de 30 mil trabalhadores. A Votorantim, a CBA e o grupo, hoje, têm cerca de sessenta mil empregados. Se eu pudesse, teria dito ao meu bisavô que ele poderia não apenas democratizar a empresa entre todos os filhos, mas, mais do que isso, poderia estabelecer cotas de participação nos resultados para todos aqueles seus 30 mil empregados.

            Acredito que, se isso tivesse ocorrido, muito provavelmente o grupo empresarial continuaria existindo até hoje.

            A recomendação que formulo, com respeito e amizade, é que ele considere esta possibilidade de estabelecer para todos que trabalham na Votorantim, na CBA e em empresas do grupo a possibilidade de terem cotas de participação nos resultados. Isso será muito consistente com o espírito de democratização de oportunidades que Antônio Ermírio de Moraes defende.

            Mas quero muito cumprimentá-lo pelos seus 80 anos de vida, caro Antônio Ermírio de Moraes, um exemplo para todos nós, brasileiros.

            Obrigado, Senador Mão Santa, que preside esta sessão. Desculpem-me pela voz.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2008 - Página 17685