Discurso durante a 92ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem aos 200 anos da Imprensa Brasileira e ao seu Patrono, Hipólito José da Costa.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IMPRENSA.:
  • Homenagem aos 200 anos da Imprensa Brasileira e ao seu Patrono, Hipólito José da Costa.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2008 - Página 17847
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IMPRENSA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, IMPRENSA, BRASIL, SAUDAÇÃO, DIVERSIDADE, JORNALISTA, ESPECIFICAÇÃO, HIPOLITO JOSE DA COSTA, PATRONO.
  • COBRANÇA, IMPRENSA, LUTA, ALFABETIZAÇÃO, MAIORIA, POPULAÇÃO, PAIS, GARANTIA, PLENITUDE DEMOCRATICA.
  • SUGESTÃO, DIVERSIDADE, JORNAL, BRASIL, REALIZAÇÃO, CAMPANHA, DEFESA, REVOLUÇÃO, EDUCAÇÃO, AMPLIAÇÃO, NUMERO, PESSOAS, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sr. Presidente, eu quero agradecer ao Senador Pedro Simon, que aceitou quebrar o protocolo - porque ele deveria ser o primeiro a falar - e, por generosidade, me cedeu, pois, às 11 horas, eu presido a Comissão de Educação e, em geral, quando o Presidente não está, temos dificuldade de quórum.

Por isso e, ao mesmo tempo, para que o Senador Pedro Simon possa ser quase que o primeiro, vou falar muito curto, muito pouco. Quero apenas dizer aos senhores e às senhoras que é preciso aqui prestar homenagem, primeiro, ao José Hipólito. Segundo, quero deixar registrada a minha homenagem a todos os milhares, centenas de milhares, talvez, de jornalistas que, ao longo desses duzentos anos, carregaram a imprensa brasileira; todos aqueles tipógrafos de antigamente, todos os fotógrafos, todos os profissionais da imprensa, meu caro Roberto, que, ao longo desses duzentos anos, mantiveram a imprensa funcionando, especialmente aqueles que morreram para que ela fosse livre. Essa é a homenagem que eu quero prestar. Como homenagem, nada mais que isso.

Há mais um recado apenas. Nesta bela frase aqui do painel, “revelar a verdade é um dever sagrado para o jornalista”, está faltando uma palavra: revelar a verdade “a todos” é um dever de todos os jornalistas. Lamentavelmente, no Brasil, a gente revela a verdade a uma parcela da população, pois 16 milhões não sabem ler. Então, a eles não chega a imprensa. Nós não temos ainda uma imprensa livre, porque, felizmente, depois de uma longa luta, é permitido escrever tudo; mas não é permitido a todos lerem.

Além disso, desses 16 milhões, pelo menos 35 milhões, no Brasil, não têm capacidade de ler, mesmo sabendo decifrar as letras. Então, a imprensa ainda não é livre para essas pessoas. A gente pensa sempre na liberdade de quem escreve e se esquece da liberdade de quem não consegue ler. A imprensa brasileira precisa ser plenamente livre, e a verdade tem que ser levada a todos.

Por isso, ao mesmo tempo em que eu homenageio todos aqueles que fizeram a imprensa brasileira nesses duzentos anos, eu queria sugerir, cobrar, propor, motivar que a imprensa brasileira faça um esforço para que todos possam ler. Da mesma maneira que a imprensa lutou pela democracia neste País, que lute pela alfabetização também, que é uma condição necessária para a plenitude da democracia. Mas não apenas que se saiba ler por ser alfabetizado, mas para que se faça capaz de entender o que está escrito.

Isso exige a conclusão do 2º grau para todos os brasileiros. Apenas um terço dos alunos conseguem terminar o 2º grau. Dificilmente nós teremos um bom leitor de jornal, um sistemático leitor de jornal...

O SR. PRESIDENTE (Garibaldi Alves Filho. PMDB - RN) - Senador Cristovam Buarque, é com muito constrangimento que tenho de interrompê-lo. Agora, estou interrompendo mesmo.

Eu tenho de receber no meu gabinete a visita do presidente do Tribunal Regional da 1ª Região. São essas agendas que são feitas e que são compulsórias, como as medidas provisórias. Às vezes, o próprio Presidente não tem tempo de lidar com elas.

Sendo assim, vou fazer agora um convite - mas, desta vez, é irrecusável - para que o Senador Pedro Simon venha presidir esta sessão, da qual S. Exª foi subscritor, no meu nome, com muito mais brilhantismo do que eu.

Pode retomar a palavra, Senador Cristovam. Desculpe-me.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Retomando e concluindo, Senador Tuma, eu gostaria de sugerir, solicitar e apelar àqueles que fazem a imprensa brasileira para que se unam num grande movimento nacional por uma revolução na educação brasileira. Faz parte de ser jornalista convencer as pessoas a ler, não apenas a escrever. Lamentavelmente, o que a gente vê no Brasil são jornais disputando entre eles quem consegue mais leitores entre os poucos que existem. Jornais que distribuem enciclopédias, DVDs, CDs, querendo tomar leitor dos outros, em vez de querer construir uma nação de leitores.

Se nós uníssemos os jornais brasileiros numa grande campanha pela educação, nós poderíamos multiplicar por seis o número de leitores, três vezes se todos concluírem o 2º grau, e multiplicaríamos por um fator dois com a melhoria da qualidade.

Não é impossível, Senador Tuma. No entanto, não vamos conseguir isso se deixarmos essa tarefa apenas com esta Casa, com as fragilidades que temos. Não vamos conseguir se não se transformar isso numa grande rede nacional, numa grande cadeia nacional, como foi a cadeia que levou o Brasil a conquistar a democracia; uma cadeia de todos os jornais, de todos os meios de comunicação, apoiando os políticos, que, sozinhos, não teriam conseguido.

Fica aqui a minha homenagem a todos aqueles que fizeram a imprensa brasileira nesses 200 anos, especialmente àqueles que morreram para que a imprensa fosse livre. Do mais simples tipógrafo que havia antes até o mais importante jornalista, fica aqui a minha homenagem. O Brasil deve a eles a possibilidade de saber a verdade.

Fica aqui este meu apelo para que não se contentem apenas em transmitir a verdade, mas que façam um esforço para transmitir essa verdade a todos. E isso só mudando a educação brasileira. A imprensa tem de adotar o educacionismo como sua bandeira, ou ela não vai ser plena. A liberdade de imprensa não é plena se poucos sabem ler, se poucos conseguem ler. A liberdade de imprensa não basta para permitir que se escreva; tem de ser também para permitir que se leia. Para permitir que se escreva, basta a democracia, mas, para permitir que se leia, é preciso educação.

Este é o meu apelo aos jornalistas, que já fazem muito: que façam um pouquinho mais, para que a verdade não apenas seja um dever sagrado para o jornalista, mas também que o dever sagrado seja a verdade para todos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, por ter me cedido a palavra no início desta sessão, que muito me honra, e peço desculpas por não continuar, porque, coerente com o meu discurso, vou presidir a Comissão de Educação do Senado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2008 - Página 17847