Discurso durante a 93ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a extensão da rede de apoio às Farc em toda a América Latina. Cobrança de explicações, pelo Senador Eduardo Suplicy, que teria atuado como intermediário entre o Presidente Lula e as Farc.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.:
  • Preocupação com a extensão da rede de apoio às Farc em toda a América Latina. Cobrança de explicações, pelo Senador Eduardo Suplicy, que teria atuado como intermediário entre o Presidente Lula e as Farc.
Publicação
Publicação no DSF de 04/06/2008 - Página 17860
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REPUDIO, ATUAÇÃO, GRUPO, CRIMINOSO, DENOMINAÇÃO, GUERRILHA, RESPONSAVEL, TRAFICO, REFINAÇÃO, TRANSPORTE, DROGA, SEQUESTRO, EXTORSÃO, DINHEIRO, APREENSÃO, APOIO, GOVERNANTE, AMERICA LATINA.
  • COMENTARIO, PERIODICO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, DIVULGAÇÃO, DEPOIMENTO, VITIMA, DENUNCIA, CAPTURA, EXPLORAÇÃO SEXUAL, CRIANÇA, ADOLESCENTE, VIOLENCIA, CHANTAGEM, VIDA HUMANA, TRAFICO, DROGA, DESTRUIÇÃO, JUVENTUDE, DESRESPEITO, FAIXA DE FRONTEIRA, PAIS, AMERICA LATINA, ESPECIFICAÇÃO, BRASIL.
  • QUESTIONAMENTO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCESSÃO, ASILO POLITICO, TERRORISTA, AMBITO INTERNACIONAL, CASSADO, EMPREGO, CONJUGE, GOVERNO.
  • COBRANÇA, EDUARDO SUPLICY, SENADOR, ATUAÇÃO, INTERMEDIARIO, ENTREGA, CARTA, GRUPO, TERRORISTA, DESTINAÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nunca as Farc atravessaram um momento tão ruim como agora, segundo a imprensa informa. Com mais de 40 anos de existência, o grupo de bandidos que se auto-intitula como “guerrilha”, mas que hoje não passa de uma organização dedicada ao tráfico de cocaína e aos seqüestros para extorquir dinheiro, parece estar desmoralizado e à beira da desintegração. Não convém, no entanto, subestimá-la, apesar dos golpes que sofreu ultimamente.

            Uma reportagem publicada por vários jornais latino-americanos contém informações alarmantes. Segundo essa reportagem, desde 2002 o movimento vem utilizando militantes que se estabelecem em outros países para montar núcleos de apoio ideológico, financeiro e logístico.

            No Peru, as Farc recrutam milicianos e obtêm armas e drogas. O Equador é utilizado como abrigo para acampamentos, nas regiões de fronteira, e para a arrecadação de recursos. Costa Rica, México e Venezuela são países em que o grupo faz a lavagem do dinheiro do narcotráfico. O território brasileiro está incluído nas rotas de escoamento de drogas e de remessa de armas.

            A estimativa é de que a rede de apoio às Farc no continente americano seja constituída por cerca de 400 organizações, que incluem partidos políticos legais, movimentos clandestinos e ONGs. Eles já chegaram até aos Estados Unidos, onde financiam uma ONG supostamente dedicada à causa ambientalista, que é um “centro de estudos” no Estado da Carolina do Norte.

            Quem articula essa expansão pelas Américas é a chamada “Coordenadoria Continental Bolivariana”, cuja estratégia é enviar integrantes das Farc para viverem em países que considera importantes para atingir seus objetivos. Dizendo-se perseguidos, eles pedem asilo político, o que lhes proporciona liberdade para agir em favor do grupo.

            As derrotas humilhantes impostas pelo Exército colombiano não querem dizer que a organização está no fim. É curioso que seus integrantes ainda sejam chamados de “guerrilheiros” pela imprensa e por muitos governantes, e não como bandidos ou terroristas, que é o que realmente são.

            As Farc deixaram, há muito tempo, de ser um grupo guerrilheiro - se é que algum dia o foram - e atuam hoje em todas as etapas do tráfico de cocaína, do refino ao transporte da droga.

            A revista colombiana Semana mostrou, em extensa reportagem, com depoimentos de vítimas, que os chefes desta organização fazem de meninas de 13 e 14 anos, adolescentes, capturadas no interior da Colômbia, suas escravas sexuais. O emprego sistemático da violência contra inocentes, a chantagem com vidas humanas, a completa falta de escrúpulos, o tráfico de drogas que destrói milhões de jovens, o desrespeito às fronteiras, inclusive a brasileira, nada disso impede que esses terroristas recebam o apoio e a solidariedade de governantes que deveriam condená-los e repudiar com energia e sem meias-palavras suas atividades.

            Os documentos, Sr. Presidente, encontrados nos computadores de um dos líderes do grupo, morto pelo Exército colombiano, mencionam uma remessa de fuzis pelo Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, o mesmo que, há poucos dias, lá em Montevidéu, disse que o terrorista Marulanda era um lutador extraordinário.

            Diante da confirmação da autenticidade dos documentos que estavam nos computadores, as autoridades venezuelanas e equatorianas começaram uma tentativa de desmoralizar a Interpol, entidade que tem 180 anos e que existe em 180 países.

            Eu estou tratando dessa situação, Sr. Presidente, porque a imprensa, nesse fim de semana, colocou algumas coisas preocupantes. Se bem que o Presidente Lula, em uma recente reunião na América Central, declarou que considerava, pessoalmente, não o Governo brasileiro, as Farc uma organização terrorista. Mas o asilo concedido àquele terrorista internacional cassado, o tal do falso Padre Valério, e o emprego dado, no Governo do PT, à mulher, à esposa colombiana do terrorista a quem o Brasil concedeu asilo político, isso preocupa.

            As Farc utilizaram um Senador colega nosso para levar cartas ao Presidente da República. Tenho grande admiração pelo Senador Suplicy, mas ele, durante seis anos, manteve isso escondido e nunca comentou... Eu assisti a discursos em que o Senador Suplicy dizia estar interessado na libertação da Senadora Betancourt, mas ele tinha, através do Albertão, que é citado pelo Raul Reyes como correspondente deles no Brasil, um meio de se comunicar com as Farc. Eu não quero que pese sobre o Suplicy o epíteto de carteiro das Farc.

            Ele tem que nos dar uma explicação plausível sobre esses contatos que fazia, carregando cartas do Sr. Marulanda e do Sr. Reyes para o Presidente Lula. Acho que, neste momento, a sociedade brasileira pede de um homem respeitado no Brasil, admirado no Brasil, querido no Brasil, como é o caso do Senador Eduardo Suplicy, algumas explicações sobre esse trabalho, sobre se é verdade - até agora, não acredito nisso - que ele serviu para transportar cartas do grupo terrorista para um Presidente legal e democraticamente eleito, o Presidente Lula.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/06/2008 - Página 17860