Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Esclarecimentos ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio, que se refere as cartas enviadas pelas Farc ao Presidente Lula.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Esclarecimentos ao pronunciamento do Senador Arthur Virgílio, que se refere as cartas enviadas pelas Farc ao Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2008 - Página 18623
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, ORADOR, INTERMEDIARIO, ENTREGA, CARTA, AUTORIA, LIDER, GUERRILHA, DESTINATARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, BUSCA, ENTENDIMENTO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, AUSENCIA, COMPROVAÇÃO, RECEBIMENTO, CHEFE DE ESTADO, BRASIL.
  • REITERAÇÃO, DIRETRIZ, POLITICA EXTERNA, BRASIL, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), RESPEITO, DIALOGO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, SEMELHANÇA, DISPONIBILIDADE, ORADOR, LUTA, LIBERDADE, REFEM, SEQUESTRO, GUERRILHA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o Senador Arthur Virgílio é testemunha aqui das inúmeras vezes em que ele próprio, todos os Senadores - a Senadora Kátia Abreu, o Senador José Agripino e muitos outros - e eu mesmo dissemos, com muita assertividade, da importância da libertação da ex-Senadora Ingrid Betancourt. Trata-se de uma causa de todos os seres humanos do planeta Terra.

O Senador Arthur Virgílio aqui mencionou um episódio em que o Padre Olivério, certo dia, visitou-o. É fato, conforme a revista Época registrou, que, em 2003, o Vereador Albertão, de Guarulhos - então no Partido dos Trabalhadores, hoje no PSOL -, perguntou-me se eu poderia levar uma carta que ele havia trazido da Colômbia. Essa carta era de Raúl Reyes, que eu próprio não conhecia - nem sabia que ele tinha a posição de Vice-Presidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o que o tornou mais famoso depois do seu falecimento recentemente. Encaminho ao Presidente Lula, praticamente toda semana, cartas de pessoas, as mais diversas. E o Vereador Albertão tinha-me dito: “Quem sabe você possa entregar ao Frei Beto?”.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não disse de quem era?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Disse. Tenho conhecimento das cartas, tenho cópias das mesmas.

A carta apenas tem o sentido de saudar o Presidente Lula por sua vitória, tem o sentido, tal como está registrado na revista Época, de procurar um diálogo, de alguma maneira, com o Presidente Lula, com seu Governo. Quero aqui transmitir isso. Esses são os fatos.

O próprio Frei Betto ainda me ligou, no domingo, à tarde, ou de domingo para segunda-feira, logo que voltou do exterior, e me disse que, sinceramente, não se lembrava dessas cartas. Lembrava-se, sim, de eu tê-lo visitado, até porque inúmeras vezes conversamos sobre os mais diversos assuntos. Eu me lembro de que, quando o visitei para falar dessas cartas, o propósito da visita era o de tratar de diversos assuntos.

Nunca houve, da parte do Presidente Lula, qualquer comunicação transmitida a mim ou a Frei Betto ou ao Albertão. Portanto, com as Farc, com respeito a esse assunto, não houve comunicação além dessa que está registrada unilateralmente, de maneira, aliás, que guarda paralelo com o que aconteceu com ele próprio.

Gostaria de informar ainda que, na oportunidade, eu disse ao Vereador Albertão que seria importante que pudesse haver um entendimento entre as Farc e o Governo Alvaro Uribe. O Senador Arthur Virgílio sabe que, por exemplo, quando presidia a Colômbia Andrés Pastrana, muito amigo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e que foi Presidente concomitantemente, houve uma mediação da União Européia para que houvesse um entendimento entre as Farc e o Governo Alvaro Uribe. E houve diversas tentativas também com o Presidente Sarkozy e com o Presidente Hugo Chávez, visando à libertação da Srª Ingrid Betancourt, e isso ainda não foi concluído.

Desde quando houve, naquela operação no Equador, a morte, pelas Forças Militares da Colômbia, de Raúl Reyes, parece-me que os diálogos foram suspensos. Mas quero aqui dizer que o próprio Presidente Alvaro Uribe tem tido um positivo e bom diálogo com o Presidente Lula e com o Ministro Celso Amorim, que, inúmeras vezes, disse: “Reconhecemos inteiramente o Governo Alvaro Uribe e não faremos qualquer ação com respeito a esses assuntos que não seja sempre em diálogo com o Governo Alvaro Uribe”. Sou testemunha disso. Inclusive, o Senador Arthur Virgílio estava presente em uma das últimas visitas de Celso Amorim, quando ele foi inteiramente claro quanto ao não-reconhecimento das Farc e quanto à posição de não se fazer qualquer coisa que não fosse pelo diálogo com o governo constitucionalmente reconhecido e eleito do Presidente Alvaro Uribe.

Portanto, se for possível e necessária a colaboração deste Senador ou de outros Senadores, estamos prontos para agir, mas com o conhecimento e com a autorização do Governo Alvaro Uribe, que disse a todos os membros das Farc: “Aqueles que desejarem voltar à legalidade poderão fazê-lo, serão anistiados”. E isso aconteceu recentemente com uma das comandantes das Farc, que aceitou essa condição.

Então, penso que seria possível haver a libertação de todos os seqüestrados, de todos os que estão prisioneiros. Isso pode colaborar para a pacificação, mas, para que isso ocorra, para a realização da justiça, será bom e necessário que outros estejam na mesa de negociação, e estou disposto a colaborar.

Era apenas esse o esclarecimento que queria apresentar ao Senador Arthur Virgílio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2008 - Página 18623