Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resposta ao pronunciamento do Senador Wellington Salgado.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.:
  • Resposta ao pronunciamento do Senador Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2008 - Página 18786
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, OFENSA, WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA, SENADOR, DECLARAÇÃO, INJUSTIÇA, RELATORIO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, CARTÃO DE CREDITO, EXECUTIVO, ESPECIFICAÇÃO, ACUSAÇÃO, AUTORIDADE, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, INSUFICIENCIA, PROVA, SUSPEIÇÃO, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA.
  • COBRANÇA, MEMBROS, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, TOTAL, RELATORIO, RETIRADA, INJUSTIÇA, POLITICO, DIVERSIDADE, ESTADOS.
  • REPUDIO, CORRUPÇÃO, MALVERSAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu lamento: o Senador Wellington Salgado estava ao celular, naturalmente, e não prestou atenção no que eu disse.

Em primeiro lugar, não é do meu feitio agredir companheiros. Eu gosto do debate. A minha atuação nesta Casa é a do debate político, não sou do denuncismo. E se V. Exª prestou atenção no meu discurso - as notas taquigráficas estão aí -, lembrará que o que eu disse foi que a minha responsabilidade é bem menor do que a de V. Exª, até porque V. Exª se senta numa cadeira em que se sentaram Tancredo e Magalhães Pinto. Onde está a ofensa? Sentar-se numa cadeira com tão boas companhias... Não entendi, Senador Wellington Salgado, o porquê da ofensa. Eu queria ter o orgulho de me sentar numa cadeira em que os dois sentaram. Não entendi, de maneira nenhuma, essa revolta de V. Exª, mas, no fim, eu vou dizer que entendi, o que prova a soberana inteligência que V. Exª carrega por baixo desses cabelos que, também, em momento nenhum, eu critiquei.

V. Exª cometeu um outro erro - sangue quente, às vezes, embota o raciocínio. Senador, V. Exª disse que não se interessa em saber quem sentou na minha cadeira, que é a cadeira do Piauí. Sentou-se um conterrâneo de V. Exª, um piauiense, Francelino Pereira; sentou-se Petrônio Portella; sentaram-se vários.

Longe de mim comparar, em quantidade, os piauienses e os mineiros. A questão não é essa.

Por outro lado, quero dizer a V. Exª que, em nenhum momento, eu “fulanizei” o relatório. O que eu disse é que o relatório é perverso, é injusto e é irresponsável, porque condena pessoas que não tiveram o direito de defesa e que não tiveram, por outro lado, a felicidade de serem amigas do Senador Wellington Salgado, que teve a autoridade de ir ao Relator e pedir para tirar-lhes o nome.

Bato palmas para V. Exª, porque sou amigo do ex-Deputado Pimenta da Veiga desde que cheguei a esta Casa, fui seu Vice-Líder, seu amigo pessoal. E uma das coisas que me revoltou foi a ousadia de alguém querer colocar o nome desse mineiro extraordinário sob suspeita num relatório dessa natureza. Mas ele teve, de V. Exª, a deferência de defendê-lo. E os que não tiveram? Este Senado é de Minas, mas não é só de Minas. Esta Casa, a voz desta Casa ecoa para o Brasil todo. O eco que bate no Morro das Alterosas repica para o resto do País.

Imagine os que ouviram V. Exª dizer que defendeu um conterrâneo por ser mineiro e não ser do seu partido! A partir desse momento, nós mostramos à Nação brasileira o que a Nação menos quer ouvir: que se politizou uma CPI e, ao se fazer isso, fez-se com que fugisse do seu objetivo, que é a apuração de fatos.

Feliz o Deputado Pimenta da Veiga! Mas e os outros, como Raul Jungmann e Paulo Renato? É justo que se coloque num relatório esses nomes? V. Exª só quis saber de Minas. E o resto do Brasil? E a sua grandeza? V. Exª, que é acolhido neste Brasil afora, a partir de Pernambuco, não podia, de maneira nenhuma, ter usado a sua autoridade no relatório de maneira antolhada, visando a apenas um pedaço dele. A partir do momento em que constatou essas irregularidades, como um homem justo, deveria ter pedido vista, ter chamado a atenção dos Pares e ter dito: “Encontrei a primeira irregularidade, a primeira injustiça, e nós não podemos votá-lo antes de verificar o que há com os outros”.

Ulysses Guimarães dizia, meu caro Senador Geraldo Mesquita, que o raio de ação da calúnia é dez vezes maior do que o do desmentido. Não podemos permitir, meu caro Senador, que isso aconteça com ninguém. O que eu disse - também não lhe desmereci, pelo contrário - é que V. Exª teve uma atuação brilhante na defesa de um companheiro; teve a coragem que muitos não tiveram. Mostrou, pelo menos numa tarde, coerência, porque exigiu o direito de defesa lá, mas não o fez aqui.

Eu não agrido, eu não ofendo, eu argumento. O Wellington Salgado que marcou posição e que parou o episódio, algumas vezes com sua bravura, faltou com ela hoje. Ninguém, Senador Wellington, tem o direito de, para servir ao seu partido, para servir aos seus aloprados, usar um relatório, que é instrumento sagrado da ação política de uma casa legislativa, e dele fazer vendetas pessoais. Qual é a credibilidade que se pode dar a uma folha sequer desse relatório votado hoje se V. Exª, como membro da Comissão, nos esclarece o que se passou minutos antes de sua votação?

Senador Wellington Salgado, V. Exª disse que, no atual Governo, tivemos mais CPIs do que no Governo Fernando Henrique. É a síndrome dos aloprados! Espero que não contamine V. Exª.

V. Exª é um homem justo e haverá de concordar que, neste Governo, existem muito mais irregularidades do que no Governo Fernando Henrique. O Governo Fernando Henrique afastou ministros, afastou diretores, mandou apurar internamente irregularidades, não promoveu ninguém.

Este Governo não apenas promove: coloca de lado, no esquecimento temporário, e, confiado na memória curta do brasileiro, permite que os aloprados de ontem sejam heróis de hoje. E o Presidente os defende em praça pública respaldado na sua popularidade. Senador Wellington, os aloprados que não têm condições de triunfar na vida pública pelo que cometeram recentemente são alojados em empresas privadas, por trás de ONGs e de outros mecanismos para continuar servindo aos chefes.

O debate não pode ser com sangue quente, não pode ser com sangue frio. O debate tem que ser com a realidade.

Quando eu falei em Minas e citei dois homens públicos, eu não lhe comparei a Newton Cardoso - aí V.Exª podia ter se ofendido! Eu lhe comparei a homens que honraram Minas e honram a sua história. Eu não lhe comparei aos que denegriram Minas nem aos traidores de Minas. Eu lhe comparei aos homens que deram a vida por Minas.

Mas V. Exª me fez um esclarecimento que é primário nessa discussão: é o choque de gerações. E hoje eu me senti, pela primeira vez, velho. V. Exª me acusou de velho. Eu não sou da sua geração. Talvez por isso e pela amizade e pelo apreço que lhe tenho é que eu usei esta tribuna para, de maneira subliminar, mostrar os erros da Comissão. Em momento algum “fulanizei”. V. Exª foi quem trouxe um caso de Minas para cá, quando eu gostaria que V. Exª tivesse trazido todos os casos, tivesse se inspirado em Milton Campos, que usou a tribuna para fazer justiça.

Não se ofenda toda vez que for comparado aos exemplos bons das Minas Gerais. Ofenda-se com os maus exemplos, com os que traíram Minas, com os que não honram Minas. Ah, meu Deus, quisera eu poder dizer que tinha a meu lado, a ouvir o eco das suas vozes do passado, homens do porte com os quais eu lhe comparei. Não se ofenda com isso. Tenha orgulho. Tenha orgulho de ser mineiro, porque a História do Brasil sem Minas seria uma história mutilada, seria uma história incompleta.

Quantos brasileiros não gostariam de ser Senador por Minas como é V. Exª? Por que isso? Qual a ofensa em lhe comparar com Magalhães Pinto, com Tancredo Neves? Não entendi, meu caro Senador Wellington Salgado.

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Mas entendi que a sua inteligência é acima da normal, é acima da de todos nós. V. Exª, brilhante e inteligentemente, esquentou o sangue, atiçou as suas emoções, para, de maneira subliminar, tirar de debate o foco da questão, que eram as acusações em que está envolvida a Casa Civil, a sua Chefe e o Governo.

V. Exª foi competente, foi habilidoso. Nem os melhores criminalistas deste País teriam a perspicácia que V. Exª teve. O discurso mudou de foco, ninguém fala do roubo da Varig, do escândalo que já estarrece o País, e me levou, e caí como um patinho, para a briga fútil dos ecos das Minas Gerais...

(Interrupção do som.)

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Neste momento, o que ecoa no Brasil, meu caro Senador Salgado, é a sucessão de escândalos, são os dossiês, são os sanguessugas. O que ecoa no Brasil, neste momento, são os dólares na cueca. O que ecoa no Brasil, neste momento, é o avanço que se faz às terras brasileiras, por intermédio de ONGs, e que tenho certeza, em nome de Minas Gerais, V. Exª será um brilhante defensor da transparência na CPI das ONGs.

Não podemos mais, Senador, conviver com isso. O que o Brasil perde por ano com a malversação dos recursos públicos é inaceitável.

Só quero, Senador Wellington Salgado, que V. Exª não saia deste plenário com nenhuma mágoa deste seu admirador. Não posso permitir que V. Exª a tenha, porque até quero lhe confessar humildemente: se amanhã eu cometer um erro ou pecado nesta Casa, eu o quero como defensor. V. Exª é o melhor de todos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2008 - Página 18786