Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória de Leonel de Moura Brizola, pelo transcurso do quarto aniversário de seu falecimento.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória de Leonel de Moura Brizola, pelo transcurso do quarto aniversário de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2008 - Página 19012
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FUNDADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, NACIONALISMO.
  • REGISTRO, DECLARAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAPA (AP), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), HOMENAGEM, LEONEL BRIZOLA, LIDER, POLITICA NACIONAL.

O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, depois de ouvir as eloqüentes palavras, carinhosas, que saíram do sentimento, da alma do Senador gaúcho Paulo Paim, e do autor do requerimento, Senador Cristovam Buarque, como Senador do PMDB, lá do Estado do Amapá, vou me ater à biografia do nosso querido Brizola, do qual sou admirador.

Nascido em 22 de janeiro de 1922, em Carazinho, no Rio Grande do Sul, Brizola foi, durante cerca de 40 anos, um dos políticos mais populares e polêmicos do País. Depois de entrar na política em 1945, no PTB do ex-Presidente Getúlio Vargas, acabou eleito Deputado Federal em 1954 e Prefeito de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no ano seguinte.

Como Governador do Rio Grande do Sul, eleito em 1958, comandou, em 1961, a “Campanha da Legalidade”, garantindo a posse na Presidência do então Vice-Presidente João Goulart. O Presidente Jânio Quadros havia renunciado em agosto, quando João Goulart estava numa viagem à China. Militares tentaram impedir a posse do vice, mas acabaram recuando, graças à reação popular capitaneada por Brizola.

Como Governador do Rio Grande do Sul, Brizola teve um mandato polêmico, tendo encapado empresas multinacionais de energia elétrica e telefonia no Rio Grande do Sul.

No governo de João Goulart, teve grande influência, lutando pelas chamadas “reformas de base”. Em 1964, Brizola teve os direitos políticos cassados e foi exilado com o golpe militar. Voltou ao Brasil em 1979, com a Anistia, e retornou à política, mas perdeu o direito pela legenda do PTB para Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio. Fundou, então, com outros trabalhistas históricos, o Partido Democrático Trabalhista, o PDT.

Em 1982, numa campanha surpreendente, foi eleito pela primeira vez Governador do Rio de Janeiro. Fez um governo em que foi acusado por seus opositores de não combater o crime, o que custou a eleição de seu vice, Darcy Ribeiro, para governador, em 1986.

Na eleição presidencial de 1989 - a primeira direta após a ditadura -, ficou em terceiro lugar, atrás de Fernando Collor e Lula, a quem acabou apoiando.

Em 1990, Brizola foi eleito para um segundo mandato como Governador do Rio de Janeiro, mas acabou deixando o governo desgastado e, dado o aumento da violência, com a presença do Exército nas ruas, acabou derrotado. O fenômeno se repetiu, a partir de então, em todas as eleições que disputou: Presidente, em 1994; Vice-Presidente, na chapa de Lula, em 1998; Prefeito do Rio, em 2000; e Senador, em 2002.

Pouco antes de morrer, em junho de 1984, com 82 anos, tinha admitido a possibilidade de voltar a disputar a Presidência da República em 2006.

As ações em defesa da democracia, seja no episódio da posse de Jango ou nos comícios pelas Diretas Já, em 1984, e a coerência, que o levou, ao longo de toda a sua atividade política, a defender passionalmente o Estado centralizado e nacionalista, deixaram herdeiros e inscreveram seu nome na história do Brasil.

Quem votava em Brizola não votava em uma plataforma administrativa ou em um projeto ideológico. Movido pelo indiscutível carisma do último dos caudilhos, dava, sim, um cheque em branco ao brizolismo, uma peculiar corrente política também conhecida pela alcunha exótica de Socialismo Moreno, movida à base da construção de CIEPs e bravatas contra o “imperialismo ianque”.

Vale registrar, Sr. Presidente, nobres Senadores, que, ao contrário do que pensa a voz corrente, “caudilho” não é expressão pejorativa por si mesma. Caudilho é um termo de origem espanhola que possui diversos significados, em especial na área política. Entre os vários aspectos que podem ser identificados num caudilho está o carisma e a eficácia com que esse conduz seus comandados. Um caudilho, porém, exerce seu poder de forma autoritária, é verdade, exigindo de seus seguidores fidelidade total. Mas está longe de ser um déspota. Na América Latina, caudilho também pode designar um líder político regional.

Pois bem, o importante é que Leonel de Moura Brizola, mais que tudo, foi o representante de uma época em que a política era feita com idealismo, com paixão e até com certa dose de romantismo.

Suas idéias frutificaram, quer na lisura do Senador Jefferson Péres, quer na obstinação por ensino de qualidade, pelo qual tanto briga o brilhante Senador Cristovam Buarque, admirador e discípulo de Brizola.

Vem também do primeiro mandatário do Amapá, meu querido Governador Waldez Góes, a política exercida com paixão. O Governador do meu Estado e Presidente do PDT, partido ao qual é filiado desde 1989 - aliás, único partido a que se filiou em toda sua vida pública -, já foi duas vezes Deputado Estadual e, hoje, é o nosso atual Governador pelo PDT. Quando ele tomou conhecimento desta sessão especial, pediu para que eu fizesse um pronunciamento em homenagem ao Brizola, que foi seu líder, o seu ídolo político.

Há quatro anos, quando Brizola dava seu último suspiro de vida, Waldez, nosso Governador, disse à Folha de S.Paulo:

Leonel Brizola foi um gigante na vida pública brasileira. Um homem singular, cuja trajetória de vida está profundamente associada à própria trajetória da nossa história política. Era cheio de energia e disposição quando se tratava de defender as causas da nação brasileira. Assumia com orgulho sua identidade de nacionalista fervoroso, ciente de que o Brasil só poderá ter participação competitiva no mundo globalizado se assumir sua identidade e valorizar suas riquezas.

Depoimento emocionado, porém lúcido, de quem se despedia de um líder inteligente, excêntrico e inesquecível como Leonel Brizola, que gostava de dizer acerca do caráter da humanidade: “Venho e volto do campo e os bois são os mesmos: não mudam de caráter. Já os homens...”

É... Talvez a frase de Brizola faça sentido em um mundo repleto de contradições e perplexidades... A humanidade é mesmo gigante e, muitas vezes, miserável...

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

Parabenizo o autor do requerimento, Senador Cristovam Buarque, por este momento solene de homenagem à memória de uma pessoa que marcou gerações que passaram e de cuja biografia o Brasil todo precisava ter conhecimento: Leonel Brizola.

Concluo, referindo-me às palavras do meu querido Senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul, que chegou a se emocionar aqui, na tribuna do Senado.

Muito obrigado, Sr. Presidente.(Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2008 - Página 19012