O SR. JOSÉ NERY (PSOL - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Antonio Carlos Valadares; Srªs e Srs. Senadores; Srªs e Srs. Deputados Federais; dirigentes do Partido Democrático Trabalhista (PDT); familiares e amigos do ex-Governador Leonel Brizola, saúdo a bancada do PDT, o Senador Jefferson Praia, o Senador Osmar Dias e o Senador João Durval, e, em especial, saúdo a brilhante iniciativa do Senador Cristovam Buarque, autor do requerimento para a realização desta sessão especial destinada a homenagear o ex-Presidente, o ex-Governador, o líder trabalhista Leonel de Moura Brizola.

Com muito orgulho, falo da vida e da obra de Leonel Brizola. Poucos políticos deste País merecem ser reverenciados e lembrados como Brizola. Desde sua juventude, no Rio Grande do Sul, quando abraçou a luta política, o Brasil perdeu um engenheiro talentoso e promissor e ganhou um dos maiores políticos que a Nação conheceu.

Como todo líder, Brizola acumulou uma legião de seguidores e também de alguns críticos que não toleravam sua independência e seu modo de operar a política.

Foi Deputado Federal, apoiou as reformas de base do Governo João Goulart, principalmente a reforma agrária. Foi Governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Foi candidato à Presidência da República. Este foi o sonho que acalentou em toda a sua trajetória política: governar o Brasil e realizar as transformações que nosso País sempre desejou e pelas quais sempre lutou, para que se consolidassem em algum momento da nossa história.

Enfim, a história do Brasil o registra e o reconhece como exemplo e símbolo de político honesto, que sempre defendeu suas idéias com radicalismo e paixão.

Da direita, ouvimos dizer que Brizola encarnava o caudilhismo, que era seguidor das idéias de Getúlio Vargas, com uma tintura esquerdista, e que se propunha a incendiar nosso País e a implantar o comunismo.

Foi perseguido logo após o golpe militar de 1964, tendo se exilado no Uruguai e depois na Europa, fugindo da perseguição que lhe moviam os militares e os setores civis conservadores que apoiavam o golpe. Com a anistia política, em 1979, Brizola retorna e, em 1982, elege-se Governador do Rio de Janeiro, derrotando os setores conservadores e derrotando ainda as maracutaias do caso Proconsult, em que tentaram modificar o resultado eleitoral na apuração, na contagem dos votos, beneficiando os candidatos conservadores. Foi graças à contundência e à combatividade de Brizola que o resultado das urnas foi garantido.

É importante lembrar que, na história política de Brizola, houve, na verdade, um profundo golpe do ponto de vista da luta partidária, quando lhe arrancaram a legenda que havia ajudado a construir, o PTB, numa manobra urdida nos gabinetes da ditadura que impediu que ele consolidasse sua liderança no PTB. Brizola não se intimidou. Reagiu, foi à luta e construiu o Partido Democrático Trabalhista, que tem sua presença marcada na recente história do nosso País, com participação importante no Executivo e com destacada atuação no Poder Legislativo, no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras municipais. Portanto, é um Partido enraizado nacionalmente.

Eu queria assinalar que o que mais impressionava no líder Leonel Brizola era o vigor com que defendia suas idéias e com que manifestava suas convicções. O ideário de Brizola foi muito marcado pela defesa dos interesses dos trabalhadores e das reformas de base, às quais há pouco se referiu aqui o Senador Jefferson Praia. Tais reformas hoje são ainda muito atuais: a luta pela reforma agrária e o combate à impunidade no campo; a luta por educação integral, que garanta a todos os brasileiros o direito ao conhecimento; a luta em defesa dos direitos trabalhistas, em defesa do combate à impunidade, em defesa das reformas eleitoral e tributária. Todas as bandeiras levantadas naquele período continuam muito atuais.

Ao lembrar essas reformas, creio que a melhor maneira de homenagear Leonel Brizola é, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, marcar decididamente nosso posicionamento e nossos votos em todas as matérias que digam respeito aos temas que fizeram parte daquela verdadeira legenda de pauta e daquele programa de mudanças que Brizola tanto apoiou e que por elas tanto combateu.

Portanto, no momento em que há ameaça a direitos trabalhistas, em que há desregulamentação de várias atividades que têm o Estado como indutor, em que há privatizações criminosas, creio que é importante que essas idéias, que permanecem para mim bastante atuais, possam significar nosso compromisso de continuar lutando por um Brasil mais justo e igualitário, onde o sonho da construção de uma sociedade socialista, sonho esse acalentado por Brizola em toda a sua trajetória, continue nos movendo e nos orientando no caminho das transformações que precisamos fazer e operar em nosso País.

Com certeza, se vivo estivesse, Brizola estaria muito incomodado com os rumos da política econômica atual. Ele estaria, com certeza, classificando-a de neoliberal, de antinacional, como sempre gostava de se manifestar.

Quero cumprimentar, por fim, a família de Leonel Brizola, o Deputado Federal Brizola Neto, os amigos, os convidados e todos os companheiros de jornada. Seus ideais sobrevivem. O lugar de Brizola está, de forma indelével, registrado na história do nosso povo.

Muito obrigado. (Palmas.)