Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória de Leonel de Moura Brizola, pelo transcurso do quarto aniversário de seu falecimento. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de Leonel de Moura Brizola, pelo transcurso do quarto aniversário de seu falecimento. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2008 - Página 19023
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, POLITICA NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, HISTORIA, LUTA, LEGALIDADE, POSSE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, JOÃO GOULART, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, OPORTUNIDADE, RENUNCIA, TITULAR.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores familiares do Governador Leonel Brizola, de maneira bastante breve, como o Sr. Presidente sugere e requer, recordo que sou filho de alguém que foi líder do PTB na Câmara dos Deputados e líder do PTB e do Governo Goulart no Senado, as duas funções em acumulação, e que tinha uma relação de amizade bastante significativa com o Governador Leonel Brizola. Por uma dessas armadilhas do destino, meu pai terminou sendo o primeiro líder de enfrentamento ao regime autoritário. Se ele era o líder do Governo, se o Governo cai e se ele tem a vergonha na face de não aderir, é óbvio que, num primeiro momento, coube a ele, naqueles momentos tormentosos de 31 de março, de 1º de abril, de 2 de abril, por aí afora, a incumbência de liderar o que pudesse haver de forças de oposição à ditadura que se implantava. Então, meu pai e alguém que não tinha partido, que nem era próximo da chamada esquerda, nem era próximo de Brizola nem de Jango, Josaphat Marinho, foram os dois únicos Senadores que votaram contra Castelo Branco naquela primeira eleição indireta do ciclo dos generais-presidentes.

Mas eu dizia, ainda há pouco, ao meu colega de bancada, prezado amigo e Senador Jefferson Praia que Brizola tinha uma característica profundamente dele, uma característica que derivava do seu tamanho político, meu prezado Nélio. Foi derrotado para Prefeito do Rio de Janeiro, para Senador pelo Rio de Janeiro, para Presidente da República, com votação não condizente com sua estatura política. Mas Brizola - que, se não fosse Brizola, estaria, digamos assim, claramente liquidado para o exercício da vida pública -, se chegasse aqui depois dessas três derrotas, dessas quatro derrotas, de quantas fossem, simplesmente se tornaria a pessoa mais importante de todos nós. Essa era uma derivação do seu tamanho político.

Ainda tive a felicidade de visitá-lo, já como Líder do PSDB no Senado, meu prezado Senador Paulo Paim - e quero render minhas homenagens ao PDT na figura de seu Líder, Senador Osmar Dias -, ainda tive a honra e a alegria de visitá-lo pela última vez em sua casa na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. Ele estava perto do fim. Fui junto com o então presidente do meu partido que havia perdido a eleição para Presidente da República, o Governador José Serra. Fomos lá, e percebi um Brizola com estatura menor do que aquela que eu havia conhecido na minha infância: era o reflexo da doença que o acometia. Havia apenas um auxiliar na sua casa, e ele atendia os telefones sem recorrer a ninguém, levantava-se agilmente para cumprir com suas obrigações, com seus compromissos. No final, levou-nos até a porta, Presidente Garibaldi. Vimos, então, algo incrível. Poderia ser pelo Serra, que havia disputado uma eleição de Presidente da República - um pouco pode ter sido pelo Serra -, mas foi mesmo pelo Brizola: assim que ele colocou o rosto fora do prédio e na calçada da Avenida Atlântica, juntou uma verdadeira multidão. As pessoas não estavam vendo ali alguém em quem votar ou em quem não votar; estavam vendo ali o homem da história, aquele que estava passando para a dimensão histórica e saindo da dimensão da disputa eleitoral - isso não era mais fundamental para ele.

Ouvi aqui diversos pronunciamentos, alguns com dados biográficos consistentes, outros com passagens da sua vida pública. Eu poderia me referir ao episódio que mais me marcou e que mostrou sua coragem pessoal, sua coragem pública, que foi o episódio da Cadeia da Legalidade.

Se alguém me disser que Brizola não errou, eu diria que errou, que errou muitas vezes. Por mim, ele não teria de ter ficado contra o estado de sítio. Errou ele a meu ver, errou Arraes, errou todo mundo que, naquele momento, desarmou o Presidente Goulart da última chance que João Goulart tinha de enfrentar o Governador Lacerda, o Governador Ademar de Barros e o Governador Magalhães Pinto. Sem o estado de sítio, virou presa fácil para os que queriam implantar o golpe. Mas errar e acertar fazem parte da vida.

Seu grande acerto, para mim, foi a Cadeia da Legalidade, foi a luta pela posse do Presidente Goulart. E, entre seus erros e seus acertos, eu, que tinha discordâncias profundas no campo econômico em relação ao Governador Brizola, sem arredar um milímetro da admiração por ele - era aquela sensação de que eu estava sempre diante de um herói -, sou levado a reafirmar, ano após ano, minha crença de que Brizola é mesmo um personagem da história, Sr. Presidente, um grande personagem da história deste País!

Muito obrigado.

Era o que tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2008 - Página 19023