Discurso durante a 98ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do intelectual e ex-Senador Artur da Távola.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do intelectual e ex-Senador Artur da Távola.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2008 - Página 18995
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARTUR DA TAVOLA, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FUNDADOR, EX PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ELOGIO, VIDA PUBLICA, OBRA INTELECTUAL, REGISTRO, CONTRIBUIÇÃO, PROGRAMAÇÃO, NATUREZA CULTURAL, EMISSORA, TELEVISÃO, RADIO, SENADO.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, prezado companheiro Senador Alvaro Dias; minha querida Mirian Ripper Nogueira Lobo, viúva do Senador Artur da Távola; meu prezado Eduardo Monteiro de Barros, filho do Senador tão pranteado; familiares do homenageado; senhoras e senhores, eu a todos homenageio na figura da minha querida amiga Vera Brant.

O Artur da Távola era muitas pessoas. Neste País, o seu codinome de Artur da Távola já encerrava um feliz paradoxo, porque, geralmente aqui, quando se troca de nome é porque se quer fugir de alguma coisa, e aí entramos naquela história de ”fulano de tal, que tem 353.226 CPFs”. E o Arthur da Távola, porque era muitos, jamais deixou de ser, para os seus amigos mais próximos, o Paulo Alberto. E, porque era muitos, se consagrou numa outra etapa de sua vida intelectual, sempre muito intensa, e política como o Artur da Távola.

O Paulo Alberto foi eleito Deputado Estadual no Rio de Janeiro, tinha uma carreira a perder de vista, do ponto de vista do seu futuro, que saiu da presença do Deputado Otavio Leite, que cumpre o seu dever de parlamentar do Rio de Janeiro, homenageando um dos homens públicos e corretos que aquele Estado já ofereceu ao País. Mas, se não me engano, o Paulo Alberto se elegeu Deputado Estadual por duas vezes. Não é isso? E veio o golpe militar. Ele encarnava, para a minha juventude, a figura do antilacerda, e com brilho, com muito brilho. Encarnava a figura da esperança, porque aliava a combatividade, pois aqueles tempos de luta exigiam uma cultura invulgar, já àquela altura. E vem o golpe militar com sua violência e o aparta do Brasil.

Para alguns, o exílio interno ou externo foi mortal do ponto de vista da própria capacidade de o homem ou a mulher se realizarem plenamente. Já para o Paulo Alberto, o exílio externo, exílio no exterior, serviu para que ele se aprimorasse do ponto de vista cultural; serviu para que apreendesse e estudasse; serviu para que, depois, voltasse como o Artur da Távola que presidiu o meu Partido, o Artur da Távola que se elegeu Senador da República, num pleito renhido, enfrentando nada mais nada menos que um outro mito da vida pública brasileira que era Nelson Carneiro.

Aliás, eu acho que tinha de ter sido aberta uma exceção. Todos os Estados têm direito a três Senadores, mas o Rio de Janeiro, naquele momento, deveria ter tido quatro; teria de ter havido uma exceção para que, dos dois vitoriosos, fossem os dois, pelo espírito público, pela seriedade, pelo que faziam de bom pelo País.

Mas o Artur antes disso havia sido Deputado Federal pelo PSDB, Líder de um pequeno PSDB que tinha 27, 30 Deputados Federais, uma liderança de absoluta qualidade, a mesma que ele imprimiu ao seu episódio de Líder do Governo Fernando Henrique aqui nesta Casa, usando a tribuna sempre de maneira luminosa, de maneira iluminada.

E como eu dizia que o Artur da Távola e o Paulo Alberto eram muitos, tanto que ele conseguia ser o Paulo Alberto e o Artur da Távola, ele não se esgotava na figura brilhante do homem público, do orador absolutamente singular, menos pela belíssima forma como sabia empreender as suas falas e mais pelo conteúdo das mesmas, pelo que era capaz de dizer. Ou seja, alguém pode ter uma enorme vocação para falar, mas, se não leu, se não estudou, se não se aprimorou, fica como alguém que tem muito jeito para falar. A informação, o enraizamento intelectual, isso é que distingue aquele que fala bem daquele outro que se torna singular, como foi o caso do Artur.

O que ele gostava de fazer mesmo era se dedicar à produção intelectual.

Certa vez eu fui ao seu gabinete no Senado - eu era Deputado, e ele, Senador. Havia uma espécie de estúdio de rádio muito simples, e percebi o esmero com que ele preparava uma crônica para a Rádio Cultura, se não me engano, do Rio de Janeiro, algo assim. Cada palavra, ele queria que fosse a palavra exata. Ele trocou aquela palavra mil vezes - eu estava acompanhando aquele perfeccionismo dele - e, no final, saiu a crônica perfeita. Era capaz também de, em dez minutos, escrever o que quisesse, porque o improviso marcou, pelo brilho, pelo senso de oportunidade, a trajetória do Artur da Távola na Câmara e, sobretudo, no Senado, onde ele tinha mais espaço para pensar, para expor o que pensava e o que falava.

Gostaria de, neste DVD que recebemos da Rádio Senado - uma manifestação muito gentil dos funcionários da Rádio, que o estimavam, como estimado ele era pelos servidores da TV Senado e da Casa como um todo -, mostrar aquele jargão com que o Artur terminava sempre seus programas: “Sou muito grato a quem ouviu e mais ainda a quem apreciou”.

Já conversei com o Presidente Garibaldi Alves e queria, Senador Alvaro Dias, pedir que isto virasse uma decisão da Mesa do Senado: o programa do Artur da Távola, tanto na TV Senado quanto na Rádio Senado, não deve perecer. Ele não fazia o programa só, tinha uma equipe, e providência parecida com essa já está sendo tomada no Rio de Janeiro, no veículo que ele utilizava para divulgar a sua genialidade.

Artur da Távola é homenageado pela Mesa do Senado, com a aprovação do Plenário: o Senado, a partir da morte de Artur da Távola, vive o Ano Cultural Artur da Távola. Isso é uma honra para nós sobretudo.

O Artur me surpreendeu... (Pausa)

Obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2008 - Página 18995