Discurso durante a 98ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do intelectual e ex-Senador Artur da Távola.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do intelectual e ex-Senador Artur da Távola.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2008 - Página 19002
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ARTUR DA TAVOLA, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), JORNALISTA, ESCRITOR, FUNDADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ELOGIO, ETICA, VIDA PUBLICA, OBRA INTELECTUAL, DEFESA, CULTURA.

A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Exmº Sr. Presidente Senador Alvaro Dias; Srª Mirian Ripper Nogueira Lobo, viúva do Senador Artur da Távola; Sr. Eduardo Monteiro de Barros, filho do Senador Artur da Távola; senhores e senhoras, familiares dos homenageados, gostaria de me associar aos demais Senadores que aqui já falaram, mas, para mim, este é um momento muito especial.

Como estudante de jornalismo, li apaixonadamente os livros de Artur da Távola. Meu maior sonho era chegar ao Congresso Nacional, principalmente no Senado da República, e aqui encontrá-lo, conviver com ele, sentir aquilo que todos da minha geração sentíamos ao ler seus livros. Infelizmente, não consegui isso.

Mas venho a esta tribuna hoje para falar do homem, como disse aqui, do mito, do intelectual, do ex-Senador e jornalista Paulo Alberto Monteiro de Barros, conhecido por todos nós como Artur da Távola, homem de vocação renascentista, que sabia de política, música e poesia contemporâneas. Conhecido por atuar com brilho em áreas distintas, como na política, literatura, rádio e televisão, ficou nacionalmente conhecido, como foi dito aqui, como Artur da Távola, pseudônimo adotado ao retornar do exílio, em 1968, depois de cassado pelo regime militar como Deputado Federal.

Cronista e poeta respeitado, foi a primeira pessoa a fazer crítica de televisão a sério no Brasil.

Nascido em 3 de janeiro de 1936, formou-se em Direito, em 1959, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mas seu envolvimento com o movimento estudantil o levou, já no ano seguinte, a ser eleito Deputado Constituinte pelo Estado da Guanabara. Como jornalista, trabalhou em revistas da Bloch Editores e fazia crônicas para os jornais O Globo, O Dia e Última Hora.

Autor de 23 livros, adorado conhecedor de música clássica, após cassado pelo regime militar, foi viver na Bolívia e no Chile, entre 1964 e 1968. Voltou à política como fundador do PSDB e futuro Senador pelo Partido, onde exerceu mandatos de Deputado Federal até 1995 e de Senador, e foi um Líder destacado no Senado da República não só pela sua prudência, pela sua articulação política, mas, essencialmente, pela formação intelectual.

Pensador independente, deixou o Senado em 2003, mas se manteve como uma referência respeitada nesta Casa. Os senhores e as senhoras puderam ouvir aqui o Senador Pedro Simon, que foi seu colega e que, talvez, por ter convivido com ele aqui no dia-a-dia, pôde traduzir, com tanta ênfase, sinceridade e sensibilidade, o que representou Artur da Távola nesta Casa.

Ele foi exemplo de uma vida sem rasuras, um dos grandes homens públicos de seu tempo. Enfim, era homem reconhecido no meio cultural. E o meio cultural, não apenas o meio político, sentiu enormemente a perda desse grande crítico.

Ele foi um defensor incansável da cultura no Brasil. Sempre foi admirado pela coragem de suas posições políticas e pelas crônicas inesquecíveis que assinou, fazendo análises precisas e inteligentes. Artur da Távola emprestou sua cultura para que a TV brasileira não se tornasse um subproduto. Seu papel foi de grande importância cultural no rádio e TV do nosso País.

Usou suas habilidades na organização de conteúdos para fazer da comunicação de massa uma grande ferramenta pedagógica. E foi um grande mestre para o jornalismo neste País. Eu, que sou do interior de Goiás, posso aqui testemunhar o entusiasmo com que os estudantes liam os livros de Artur da Távola.

Entendia a cultura como um exercício do espírito, um cultivo da condição humana, sobretudo como incitação à liberdade e à autonomia.

Em seu programa na TV Senado, que se intitulava Quem Tem Medo da Música Clássica?, ele criava um ambiente com forte identificação com o telespectador.

Facilmente comparável à voz que ouvimos de um autor durante a leitura de um livro, Artur da Távola nos fazia refletir sobre a música erudita, habilitando nossa mente e ouvidos para captar melodias e harmonias mais profundas, ampliando esse contato com a arte para uma disposição de valores em favor da paz.

Com sua visão clarividente e seu tom de cronista, apresentava um mundo humanizado. Como dizia: “Música é vida interior.” E completava: “Quem tem vida interior nunca padecerá de solidão.”

Artur da Távola ensinava que não precisávamos ter medo da música clássica ou do conhecimento. Como um enciclopedista, era promotor do conhecimento e do belo ideal iluminista de fazê-lo elemento de autonomia. Fará muita falta esse notável exemplo de um intelectual vocacionado a socializar o conhecimento.

Sr. Presidente, em 4 de janeiro deste ano, ele postou uma última mensagem no blog que mantinha. Faço questão de reproduzir, aqui, suas palavras:

Embora enfermo desde agosto de 2007, com risco de vida, nas breves oportunidades em que não esteve internado, o titular deste blog nele não mais pôde escrever. Ele ficou aberto sujeito à interferência de internautas que se comprazem em entrar em domicílios alheios. Embora não mais internado em hospital, prossigo em tratamento doméstico e assim será por algum tempo. Nessas circunstâncias, peço desculpas a quem o procure. Ele está momentaneamente congelado por seu titular. Espero voltar na plenitude de minhas possibilidades dentro de dois ou três meses. E conto com sua compreensão. Fraternalmente, Artur da Távola.

Sempre tive por ele grande admiração, homem inteligente, culto e sensível. Em cada palavra pronunciada, irradiava, ao mesmo tempo, a marca do infinito e o respeito mútuo entre as pessoas.

Sua trajetória de escritor, jornalista e político sério, dedicado às melhores causas são exemplos a serem observados, com muita atenção, por todos aqueles que desejam uma vida pública séria e limpa.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2008 - Página 19002