Discurso durante a 101ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário da imigração japonesa para o Brasil.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário da imigração japonesa para o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2008 - Página 19652
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, IMIGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, BRASIL, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, SUPERIORIDADE, NUMERO, IMIGRANTE, DESCENDENTE, ESTADOS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELEVANCIA, TRABALHO, INCENTIVO, PROGRESSO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quando houve a sessão especial em homenagem aos 200 Anos da Imprensa Brasileira e a seu Patrono, Hipólito José da Costa, realizada recentemente, afirmei e repito agora: história que muda não faz parte da verdadeira História. O fato histórico, límpido e imutável, quase sempre contraria versões que se revezem ao sabor de interesses do momento.

Disse-o, como faço agora, para escapar da enfadonha repetição de argumentos expendidos nos discursos precedentes porque já espelharam os fatos. Entretanto, preciso dar vazão aos meus sentimentos de respeito e amor pela comunidade nipo-brasileira. Vivemos um momento apropriado a isso. Portanto, vou relembrar alguns aspectos da épica trajetória dessa comunidade, de maneira a destacar o tanto que a sua existência representa para o Brasil.

Tal importância salta à vista quando assinalamos, nos mapas do Brasil e do Japão, as urbes convertidas em cidades-irmãs por meio de convênios celebrados sob a égide da ONU. Vemos também que mais da metade dos 58 municípios brasileiros com tal atributo pertence ao Estado de São Paulo.

Em solo japonês, encontramos nomes como Aso, Awaji, Chiba, Echizen, Engaru, Gifu, Hasami, Higashi (Hiroshima), Himeji, Hino, Hyogo, Iwakuni, Kadoma, Kakogawa, Kameoka, Kanazawa, Karuizawa, Kochi, Komatsu, Kosaka, Kumano, Kushima, Nagasaki, Naha, Nakatsugawa, Nishinomiya, Oita, Oizumi, Okinawa, Osaka, Saga, Seki, Shimonoseki, Shunan, Sodegaura, Suzu, Takasaki, Tenri, Tokuyama, Tokyo, Tsu e Yonezawa.

No Brasil, suas cidades-irmãs espalham-se do Norte ao Sul, de Belém do Pará a Pelotas. Pontilham o mapa do progresso promovido pelos imigrantes japoneses, seus filhos, netos e bisnetos.

Convênios estabelecidos com Naha, Osaka e Tokyo tornam a cidade de São Paulo campeã de fraternidade com as japonesas. E assim só poderia ser: em 1908, o Planalto de Piratininga era o principal pólo de atração das correntes imigratórias destinadas a transformá-lo no mais ativo cadinho de etnias do País. O imigrante nipônico nele se integrou com usos, costumes e cultura próprios, enquanto contribuía na construção deste Brasil gigante e belo, graças a conhecimentos milenares, tenacidade no trabalho e pendor cooperativista.

Cem anos depois dos 52 dias de viagem por 21 mil milhas marítimas a bordo do Kasato Maru, a vida das 165 famílias desembarcadas no porto de Santos em 18 de junho de 1908 assemelha-se a um roteiro de sagas emocionantes. Assistimos à síntese dessa história na minissérie “Haru e Natsu”, escrita por uma famosa roteirista de teledramaturgia - a octogenária japonesa Sugato Hashida - e recentemente exibida pela Rede Bandeirantes de Televisão.

A odisséia daqueles 781 venerados ancestrais, que embarcaram no Kasato Maru, em Kobe, com destino às lavouras de café brasileiras, originou a maior comunidade de raízes japonesas no mundo, fora do Japão. Vieram contratados por cinco anos, porém, como a maioria dos sucessores, preferiram permanecer aqui para sempre.

Contam-se hoje dois milhões de imigrantes e descendentes, que sobressaem em todos os setores socioeconômicos, tanto pela exuberância intelectual e habilidade técnico-científica, quanto pela organização, qualidade e quantidade na produção de bens de consumo duráveis e não-duráveis, principalmente nos setores agroindustrial, eletrônico e siderúrgico. Deles, quase 1,3 milhão continuam a morar e trabalhar no Estado de São Paulo, principalmente em Atibaia, Mogi das Cruzes, Suzano, Bastos, Marília, Lins, Registro, Araçatuba, Presidente Prudente e Pereira Barreto. Em alguns municípios, correspondem a mais de 1/3 da população.

Nada que se faça durante 2008 apenas por força da agenda de comemorações bilaterais Brasil-Japão bastará para reverenciar o Centenário da Imigração Japonesa. Entretanto, esses marcos oficiais balizarão o contentamento das comunidades nipo-brasileiras, quando os sons e cores típicos de seus deslumbrantes festejos e cerimônias estiverem assinalando os laços de amizade e cooperação entre ambos os países. Afinal, essa fraternidade também está sendo comemorada em solo japonês por mais de 310 mil brasileiros. São os que reeditam, do outro lado do mundo, a laboriosidade dos imigrantes nipônicos de 100 anos atrás e, como os de cá, também estão de parabéns.

Lembro-me muito bem, como se hoje fosse, do carinho a mim e à minha esposa dedicado em diversas viagens ao Japão, a exemplo da entrega da Chave da Cidade de Osaka pelo ilustre Prefeito local, no dia 9 de abril de 1992, bem antes do meu primeiro mandato nesta Casa. Aliás, sempre cultivei forte ligação afetiva com a comunidade nipo-brasileira, procurando absorver ensinamentos em suas comemorações, especialmente as que têm por palco o bairro oriental de São Paulo, chamado de Liberdade.

Entre as entidades filosóficas pertencentes a essa comunidade e que me são caras, figura em destaque a Perfect Liberty ou Perfeita Liberdade, assim como a Seicho-No-Ie e outras semelhantes, todas com raízes e doutrinas milenares devotadas ao aperfeiçoamento espiritual da humanidade, mediante o amor ao próximo e a busca da felicidade sob a proteção de um único Deus, comum a todas as religiões monoteístas.

Tenho, portanto, motivos suficientes para agregar minha reverência pessoal à homenagem coletiva que o Senado da República presta, neste momento, aos inesquecíveis heróis do Kasato Maru, aos seus compatriotas e aos seus sucessores. Estou certo de que muitas outras virão, sempre para assinalar feitos fundamentais para o progresso do Brasil e o bem estar de brasileiros e japoneses.

Sr. Presidente, era o que desejava comunicar.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2008 - Página 19652