Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exaltação do Monumento aos Pracinhas no Rio de Janeiro.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Exaltação do Monumento aos Pracinhas no Rio de Janeiro.
Aparteantes
Augusto Botelho.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2008 - Página 19737
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, POETA, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), POSTERIORIDADE, TRANSFERENCIA, CAPITAL FEDERAL, DISTRITO FEDERAL (DF).
  • IMPORTANCIA, MONUMENTO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), HOMENAGEM, EX-COMBATENTE, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Neuto De Conto, que representa o Estado de Santa Catarina, cujo antigo nome era Desterro, vejo V. Exª da tribuna e tenho à minha frente o mapa de Santa Catarina.

Tenho um herói em Santa Catarina: o grande poeta Cruz e Sousa. Negro, mas um grande poeta simbolista. Imagine, meu Presidente, que ele era simbolista! O simbolismo era uma corrente literária, e diziam que as pessoas que eram simbolistas viviam sonhando, viviam no céu. Mas ele é a grande figura marcante. Lutou muito. Foi para o Rio de Janeiro, como todo mundo ia para o Rio de Janeiro, para minha cidade, e hoje está enterrado no Cemitério São Francisco Xavier. Teve uma vida muito difícil, com a tuberculose da mulher. Por isso é que, em seu túmulo, que é um monumento de mármore negro, existe o seguinte dizer: Entre raios, pedradas e metralhas, ficou gemendo, mas ficou sonhando.

            Quanta coisa bonita tem em Santa Catarina! Quanta coisa bonita! Até o nome. Não sei quem teve a iniciativa de mudar o nome de Desterro para Santa Catarina.

Os heróis têm passagens na literatura, na pintura, em toda parte. Havia um militar do antigo Estado do Rio, chamado Coronel Moreira César, que morreu na famosa Revolta de Canudos. Deram seu nome a uma rua, lá em Niterói, antiga capital do Estado do Rio de Janeiro. Há pouco tempo, tomei conhecimento de que queriam mudar o nome de Moreira César, que já é uma rua tradicional. É como se fossem mudar o nome de uma rua como Getúlio Vargas ou Arthur Bernardes. Em suma, se deram o nome de Moreira César a uma rua importante de uma cidade importante é porque ele fez alguma coisa. Participou da Guerra de Canudos, mas esteve em Santa Catarina antes da Proclamação da República, cumprindo uma missão cruel, muito cruel. Quem sou eu para estar lembrando a V. Exª fatos que se passaram em Santa Catarina? Mas é em homenagem a V. Exª que faço isso. E existe essa passagem cruel. Ele foi encarregado de passar pelas armas alguns nobres que estavam revoltados com o regime imperial. Ele ficou marcado por isto: de um lado, a maldade, cumprido ordens; de outro, a bravura, quando foi a Canudos, na segunda ou terceira expedição, combater, debelar aquela gente que queria, pela força ou pela persuasão militarista, derrubar o governo. Mas era um homem discutível, tanto é que existe uma rua com o nome dele.

Tudo isso aconteceu em Santa Catarina.

Tenho uma curiosidade enorme de conhecer aquele Estado, e confesso a V. Exª que nunca estive lá. Mas vou. Prometo a V. Exª que vou.

Feita essa homenagem, quero falar agora de Roraima - que tal? -, por causa do nosso Senador Augusto Botelho.

Roraima esteve, há pouco tempo, nos jornais. Roraima é um Estado que dá pessoas da qualidade deste Senador que aqui nos está ouvindo. Roraima é uma espécie de bandeira avançada do nosso País, é uma espécie de guardião do nosso País.

O Brasil conseguiu manter a sua unidade graças a vários fatores, entre os quais, a vinda de D. João VI para o Brasil, em 1808. Se ele não tivesse vindo, com toda a sua pompa e circunstância portuguesa, fustigado por generais franceses, calculo que a América portuguesa talvez não conseguisse manter a sua unidade. Calculo isso, porque o contrário aconteceu com a América espanhola, que se fragmentou em vários, inúmeros, treze, doze ou quatorze países, que vêem sempre o Brasil como o grande império, como o Brasil imperialista. Mas, na verdade, todos eles, com a cobiça internacional, querem tirar alguma coisa do País. É aquela inveja natural. Não é só a questão do futebol, a rivalidade futebolística, não; é a grandeza do País, em que tudo caminha e que está se encaminhando para ser, dentro de breves anos, um dos maiores e mais poderosos países do mundo, não obstante os pessimistas. Ainda bem que nós três que estamos aqui somos otimistas, senão não estaríamos aqui.

Gritamos a gerações futuras. Faço parte de uma geração que, por causa da Segunda Guerra Mundial, era romântica. Era uma geração que nunca tinha ouvido falar, naquela época, 1950, em maconha; que não conhecia o negócio do funk, das letras libertárias, contundentes. No Rio de Janeiro, minha cidade querida, talvez não houvesse duzentas favelas. Mas, hoje, são 750 favelas. Por isso fui um grande torcedor de que viesse realmente a ser cumprida a Constituição de 1891 e fosse transferida a Capital do País para Brasília, para o Planalto Central. E a letra da lei, naquela ocasião, reservava do Planalto Central 14,4 mil quilômetros quadrados, para ali ser instalada a nova Capital da República. Esse era o pensamento do constituinte de 1891.

Eles já sabiam o que estavam fazendo; sabiam que a capital de um país como o nosso não pode ficar no litoral - isso é só para um país pequeno, não para um país gigantesco como o nosso, próspero, que arrastou e venceu todas as crises, todas as crises!

Passei a maior parte da minha vida de estudante no Rio de Janeiro participando dessas crises, vivendo aqueles problemas desde a Segunda Guerra Mundial. Não acreditávamos naquilo.

V. Exª é de Santa Catarina; o Senador Augusto Botelho, de Roraima. Por acaso já visitaram V. Exªs o monumento aos mortos brasileiros da Segunda Guerra Mundial? Segunda Guerra Mundial! E pensávamos que, depois, já não haveria mais nada, guerra nenhuma. E eis aí a terceira, a quarta, a quinta, a sexta, a sétima, a guerra fria, a guerra das estrelas e tudo. E pensávamos que seria a última! Nós éramos estudantes naquela época.

A mocidade é muito ingênua. Muita ingênua, mas muito esperançosa. Eu diria: essencialmente romântica. De maneira que, quando escuto falarem em crise aqui, penso: que crise coisa nenhuma!

Então, podemos desconhecer que há 750 favelas em um Estado que foi a Capital da República? Em que existem numerosos hospitais públicos, e a maioria dos moradores não tem plano de saúde, mas exige tratamento em hospital quando dele necessita?

Em nome de quê, em nome de quem, em nome de que moral vamos entender, pensar e imaginar que isso não existe?

Ide ao Vidigal! Ide à Rocinha! Ide a qualquer parte favelada do meu Estado e entendereis de fato o que é a vida de um favelado, de um necessitado!

Não é fácil dirigir um País desconhecendo-se seus problemas, ou só conhecendo seus problemas regionais. Não é fácil!

Não foi fácil para Arthur Bernardes, não foi fácil para Getúlio, nem foi fácil para Washington Luiz. Não foi fácil para nenhum Presidente da República, nem mesmo para aquele que é um marco da nossa nacionalidade: Getúlio Vargas. Antes e depois de Getúlio Vargas, não tenho dúvida disso.

De forma que o Senado, para mim, constitui uma grande novidade. No Senado, ficamos conhecendo o Brasil. No Senado, ficamos conhecendo melhor a atual raça brasileira, que vem numa evolução contínua. No Senado, ficamos conhecendo os princípios, as tendências, as origens dos Estados e das pessoas, todas unidas pelo sentimento do nacionalismo. Só mesmo quem atravessou de perto, na Capital da República, as crises permanentes da Segunda Guerra Mundial pode avaliar, com frieza, o que é a nacionalidade.

De maneira que, como tem muita gente aqui, hoje, querendo usar a tribuna, Sr. Presidente, não quero também exagerar, e V. Exª me adverte de que o meu tempo está terminando. De quanto tempo ainda disponho? Ainda não terminou?

O SR. PRESIDENTE (Neuto De Conto. PMDB - SC) - V. Exª tem o tempo que desejar.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Muito obrigado. Então, neste tempo, vamos continuar cansando as nossas queridas taquígrafas.

Mas eu dizia a V. Exª que o Senado, para mim, foi uma grata surpresa, depois de ter sido 20 anos, 30 anos - digo mais, 30 anos! - Deputado Estadual no Rio de Janeiro, e ter enfrentado as crises. Aquelas, sim! Tivemos três grandes governadores, logo na constituição do Estado da Guanabara.

Fui à inauguração, há pouco tempo, do início das obras do Arco Rodoviário, ali em Itaguaí, uma cidade próspera. É evidente que as autoridades todas estavam lá - uma realização de mais de US$8 bilhões! Nunca ninguém fez isso no Rio de Janeiro, a não ser no governo militar: a Ponte Rio-Niterói.

Em certo momento, o Presidente da República teve a franqueza de dizer o seguinte: “Com a mudança da capital, eu reconheço que a cidade do Rio de Janeiro perdeu muito. Muita coisa foi tirada aqui do Rio de Janeiro”. Mal sabia ele que eu já estava tentando, inclusive, tirar o Ministério da Educação, antigo, obra de Oscar Niemeyer, porque já existe um Ministério da Educação aqui. Temos meio século de mudança, praticamente, com a construção de Brasília. Não tem sentido o prédio do Niemeyer ficar ainda sub-ocupado, ficar praticamente desocupado, sem cuidados, e o meu Estado a necessitar de imóveis para colocar as repartições públicas, sendo obrigado a alugar prédios. Mal sabia ele que o Rio já tinha perdido muita coisa e eu estava tentando evitar que o Rio perdesse mais, e ganhasse o prédio do Ministério da Fazenda, aquele prédio monumental que V. Exª conhece - sub-ocupado, praticamente desocupado um prédio daquele! E nós, sem uma sede para instalar condignamente a Secretaria Estadual da Fazenda.

Isso me faz pensar, isso me faz refletir, isso me faz apelar para que, quando esse projeto vier ao plenário, ele seja aprovado, aqui e na Câmara dos Deputados, e não seja abandonado. Todo mundo gosta do Rio de Janeiro, todo mundo tem um pedacinho do Rio de Janeiro no coração, na alma. E fizeram essa grande maldade, maldade em termos teóricos, e o Rio ficou como Cruz e Souza, o poeta da sua cidade, do seu Estado: ficou gemendo, mas ficou sonhando. Entre pedras e metralhas, ficou gemendo, mas ficou sonhando.

Dessa forma, despeço-me por hoje da tribuna, com muitas histórias de crises verdadeiras para contar, não crises passionais, eventuais, demagógicas, fingidas - eu diria mais, bem no jargão carioca, crises de araque -, mas crises verdadeiras.

Perguntei se alguém aqui já conhecia ou teria conhecido ou teria visto, teria entrado, ingressado, no monumento aos nossos pracinhas...

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Paulo...

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - ... aos nossos marujos, aos nossos aviadores, que deram a vida para defender o nosso País na Segunda Guerra Mundial.

Com muito prazer, Senador Augusto Botelho.

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Eu queria lhe responder que já conheço, já fui algumas vezes lá, levando, inclusive, meus filhos ao monumento da praça. Em Roraima, temos um ex-combatente vivo. Foram dois roraimenses que foram para esse combate da Segunda Guerra: um já faleceu e o outro ainda está vivo. Fui lá e mostrei aos meus filhos. Inclusive, cheguei a orar, a rezar lá dentro pelas almas dos nossos companheiros patriotas que morreram naquela guerra. Acho que temos de cultivar os nossos símbolos, como as nossas bandeiras, como os hinos da nossa Pátria, porque no tempo em que eu estudava a gente aprendia essas coisas na escola. Infelizmente, meus filhos estudaram mas não havia muito esse cultivo de hastear a bandeira, de cantar o Hino Nacional, cantar o Hino à Bandeira, cantar os hinos. Mas temos de acender isso novamente, principalmente agora, com essa história de começarem a dizer que a Amazônia não é nossa. Começam a dizer que a Amazônia não é nossa e o pessoal começa a achar que não é. Nós, que vivemos na Amazônia, queremos continuar sendo brasileiros e queremos que ela continue sendo nossa.

O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Está vendo, Presidente? É por isso que eu acredito no Brasil. Hoje, eu estou realizado com esse aparte, porque quem vai lá naquele monumento, quem vê os nomes, as cruzes, as medalhas, sente um orgulho formidável do povo brasileiro, sente mesmo um orgulho diferente. Dá vontade de orar, e orar muito. Nós, que não tínhamos absolutamente nada, praticamente, a ver com aquele conflito de séculos, de séculos, conflito de séculos entre França e Alemanha, Inglaterra e Alemanha... Meu Deus do céu! É a história viva da Europa, as guerras. Só viveram em guerra.

Então, quando falam em paz: “Ah, paz, passeata da paz, não sei o quê”, eu até acho: mas como, se a história da humanidade é a história das próprias guerras? É. O homem já nasceu com grandes qualidades, grandes virtudes, mas também com grandes problemas e grandes violências. Não é à toa que Caim matou Abel! E havia muito pouca gente no mundo naquela ocasião.

Eu agradeço a V. Exª e a paciência de todos os nossos colegas que me deram a honra de me ouvir.

Estou preparando alguns pronunciamentos menos românticos para trazer ao Senado, porque ao Senado só se chega por acaso, como eu cheguei. O meu caso é especial. Só tive um voto, Sr. Presidente. Um voto é um voto.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2008 - Página 19737