Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do Senador Jefferson Péres e do ex-deputado José Carlos Estilita Guerra.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do Senador Jefferson Péres e do ex-deputado José Carlos Estilita Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2008 - Página 20961
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, EX-DEPUTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), IRMÃO, SERGIO GUERRA, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • JUSTIFICAÇÃO, ATRASO, PRESENÇA, ORADOR, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, a exemplo do que fizeram aqui os Senadores Arthur Virgílio e Flexa Ribeiro, eu gostaria de subscrever o requerimento do ilustre Senador Jarbas Vasconcelos, estendendo os nossos votos de pesar a toda a família Estelita Guerra e, especialmente, ao Senador Sérgio Guerra, que acaba de perder o irmão, cuja trajetória de vida é um exemplo não só para a família, como também para os políticos que o conheceram e que puderam conviver com ele. Portanto, os meus votos de pesar, extensivos a toda a família Estelita Guerra.

            Sr. Presidente, eu gostaria também de dar como lido o discurso que eu faria hoje em homenagem ao Senador Jefferson Péres.

            Infelizmente, eu não pude decolar do Estado de Goiás, em função do tempo, e não pude estar aqui na sessão solene, na qual eu gostaria de externar o meu respeito, a minha solidariedade à família e o meu pesar pelo falecimento de um ilustre colega que sempre foi exemplo nesta Casa.

            Portanto, eu gostaria que V. Exª desse como lido o meu pronunciamento.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DA SRª SENADORA LÚCIA VÂNIA.

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A SRª LÚCIA VÂNIA (PSDB - GO Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, nada é mais lisonjeiro, para o ser humano, que o respeito de seus pares. E Jefferson Péres, todos sabemos, tinha o respeito de seus pares.

            Não apenas de quem, como eu, comungava com seus ideais, mas até daqueles que, eventualmente, se colocavam na posição de antagonistas.

            A vida, muitas vezes - e principalmente a vida político-partidária -, pode colocar as pessoas em campos opostos.

            As ideologias podem ser diferentes. As crenças podem ser diferentes. Os interesses podem ser diferentes. De modo que, a qualquer momento, podem surgir as desavenças.

            Mesmo assim, existem pessoas que em sua trajetória, com todos os encontros e desencontros que forem ocorrendo, com todos esses embates que o dia-a-dia nos reserva, nunca têm questionada a sua postura, a sua dignidade; nunca têm questionada, enfim, a sua respeitabilidade.

            Senhoras e Senhores, Jefferson Péres, repito, tinha esse perfil. Foi, sempre, um homem respeitado, pelo Senado e pela sociedade brasileira.

            E foi sempre respeitado em primeiro lugar porque nunca perdeu a coerência. Defendeu, ao longo de toda a vida, as mesmas idéias. Empunhou, ao longo de toda a vida, as mesmas bandeiras.

            Era um defensor intransigente, por exemplo, da soberania nacional. Fosse qual fosse o terreno em que tal soberania pudesse ser ameaçada.

            Lutou com a mesma bravura tanto pela criação da Petrobras, ainda na juventude, como pela preservação e pelo desenvolvimento da Amazônia, empreitada a que se dedicou até os últimos dias.

            Era um crítico intransigente, por outro lado, da ineficiência da administração pública. Não se conformava com os descaminhos de um Estado que, em suas palavras, "é perdulário, ineficiente e corrupto".

            Falo em corrupção e aproveito para destacar aquela característica sempre associada, com plena justiça, à figura de Jefferson Péres: a do político probo, honesto, austero, extremamente preocupado com as questões éticas. Eu sei que tocar nesse assunto é chover no molhado.

            Não há referência ao grande Senador, não há comentário sobre sua vida ou sua obra, que não o destaque como um paradigma da ética.

            Ainda assim, não posso fugir ao registro. Jefferson era, sim, um político honrado.

            Também era um ardoroso defensor desta Casa. Até porque tinha plena consciência de que, se não tivermos equilíbrio entre os três Poderes - se não tivermos o Executivo, o Legislativo e o Judiciário igualmente fortes, igualmente soberanos -, a democracia se esvai.

            E a garantia das instituições, afinal - a garantia do Estado Democrático de Direito -, foi outra bandeira que, coerentemente, carregou por toda a vida.

            Sempre haveremos de lembrar, por exemplo, sua vigorosa admoestação aos aventureiros que falavam em terceiro mandato para o atual Presidente da República.

            Neste Plenário, com a tranqüilidade e a firmeza habituais, Jefferson alertava: "Essa idéia esdrúxula não vai prosperar. Ela fere um dos fundamentos da democracia, que é a alternância no poder. Instituir um terceiro mandato seria um pulo para o quarto, para o quinto, para o sexto, enfim, para a permanência indefinida do Presidente Lula ou de qualquer outro no poder. Isso seria a negação da democracia. Terceiro mandato, nunca. Isso é anti-republicano, e quem tentar vai se dar mal".

            Uma intervenção com a marca de Jefferson Péres: em poucas palavras, o tema esgotado, a verdade estabelecida.

            E, exatamente porque era de poucas palavras, o Senador pelo Amazonas acabava exibindo outro traço de caráter. Que também contribuía, e muito, para a aura de respeito que impunha.

            Não se jactava de suas virtudes. Não era um boquirroto. Era honesto, mas não fazia de sua honestidade um estandarte.

            Era firme, ao cobrar correção dos homens públicos, mas não o fazia - e volto a usar seus próprios termos - "com denúncias vazias ou acusações levianas".

            Sr. Presidente, por tudo isso, Jefferson Péres era respeitado. Por ser coerente e firme em suas convicções. Por defender a soberania de nosso País. Por defender a democracia. Por sua probidade.

            Por ter se transformado em símbolo da ética na atividade política. E, ainda mais, pelo fato de carregar tantas virtudes com singular simplicidade.

            De modo que só nos resta cumprimentar o povo do Amazonas por ter enviado ao Senado Federal, como representante daquele Estado, um brasileiro com tantas qualificações.

            E, claro, lamentar profundamente a sua partida, uma partida tão dolorosa quanto inesperada.

            Peço a Deus que proporcione, a seus familiares, o conforto tão necessário nesses momentos.

            Era o que tinha a dizer. Muito obrigada!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2008 - Página 20961