Discurso durante a 104ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.:
  • Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2008 - Página 20937
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, ETICA, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, DEFESA, ESTADO DO AMAZONAS (AM), REGIÃO AMAZONICA, DEPOIMENTO, PARCERIA, ORADOR, CAMPANHA ELEITORAL.
  • REGISTRO, TRAMITAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE, AMBITO INTERNACIONAL, PAIS, REGIÃO AMAZONICA, RECEBIMENTO, PARECER FAVORAVEL, JEFFERSON PERES, RELATOR, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO.
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE RESOLUÇÃO, DENOMINAÇÃO, LOCAL, COMISSÃO, SENADO, HOMENAGEM, JEFFERSON PERES, SENADOR, DETALHAMENTO, BIOGRAFIA.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pela Liderança do Bloco de Apoio ao Governo. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; Senador Arthur Virgílio e Senador Cristovam Buarque, autores do requerimento desta sessão histórica; amazonenses presentes a esta sessão: Prefeito Serafim Corrêa, de Manaus; Deputados Federais presentes: Átila Lins, coordenador da nossa Bancada, Marcelo Serafim, Vanessa, Ézio Ferreira; Senador Áureo Mello; Ministro e Presidente do TSE, Carlos Ayres Brito, que acaba de retirar-se para participar de uma sessão - e faço um parêntese para dizer que é justa a bandeira que Carlos Ayres Brito está levantando para elevar o padrão de exigência dos homens públicos. O Senador Jefferson Peres fará falta para contribuir com esse debate, com essa propositura do Ministro.

Srª Marlídice Peres, amazonense ilustre, seus filhos Roger, Ronald e Rômulo e esposa, tivemos nesta sessão a oportunidade de ouvir o filho falar do pai.

E os Senadores falam do homem público, do Vereador, do Senador Jefferson Péres.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, Senadora Marina Silva, companheira de Partido que está aqui, ao falar do Senador Jefferson Péres, eu quero falar também de um amazonense que fará muita falta na hora de corrigir passivos, corrigir a História da nossa República, porque Jefferson Péres se constituiu num grande interlocutor do Amazonas.

Nós sabemos que vivemos em um País com profundas diferenças regionais. E lá no nosso Amazonas, lá no nosso Norte, o Senador Jefferson Péres se constituiu numa liderança - e liderança não se faz por decreto, mas justamente pela respeitabilidade, pelo dia-a-dia que vai se constituindo a liderança respeitada.

Então, neste exato momento dos grandes debates travados na sociedade lá fora, travados aqui dentro do Senado, o Amazonas sentirá muito falta do Senador Jefferson Péres. Há o debate que o Ministro Ayres levanta. Ontem mesmo a OAB lá estava - a OAB que se faz presente aqui na pessoa do Presidente da OAB da seccional do Amazonas, Aristófanes Filho (o Ari Castro Filho). Esse é um debate lá na sociedade, lá fora e que ganha repercussão. Lá estava a CNBB. Então, tem o debate lá fora e tem o debate aqui dentro. E tem o debate lá na Amazônia. E como o Jefferson Péres fará falta!

Sr. Presidente, nesta homenagem quero apresentar uma proposta, uma proposta. Mas, antes de falar da proposta, quero falar de momentos na relação com esse grande político que é Jefferson Péres. Pelo contexto da reunião, pelo simbolismo da reunião, temos que controlar a emoção, mas ter uma posição, uma posição de racionalidade da importância do Jefferson como um partido político. É importante frisar isto: a importância do partido político para o Brasil, para a democracia, para o Senado Federal, para o dia-a-dia do cidadão. E o PDT perde um grande exemplo de filiado, de partidário. Perde o PDT, como perde o Senado Federal, no debate, como perdem as Comissões às quais o Senador Jefferson Péres participava assiduamente.

Eu quero falar desses momentos. Primeiro: um grande momento que nós passamos em Manaus, momento da política, lá no final dos anos 80. Estávamos todos nós comemorando um processo vitorioso, lá em 88, com a eleição do então Prefeito Arthur Virgílio. E o Senador Arthur Virgílio registrou ainda há pouco o momento da sua primeira candidatura a Deputado Federal lá em Manaus, em 78. Vejam que eu já votei tanto no Arthur Virgílio, e hoje ele não vota absolutamente nada comigo aqui nesta Casa. Ele tem uma dívida. Lá de 78, Arthur Virgílio - estou fazendo o registro do registro que fez há pouco aqui da minha participação no processo da primeira eleição de Arthur para Deputado Federal. Mas o grande momento que nós tivemos foi 10 anos depois, em 88, em Manaus, com a vitória do Arthur para a Prefeitura. O hoje Prefeito Serafim foi Vereador eleito; a Deputada Vanessa Grazziotin; o Senador Jefferson Péres; João Pedro. Que coisa bonita! Era muita juventude. Era a primeira eleição na capital, porque em 85 já tivemos eleição direta. Foi uma eleição que empolgou, porque foi marcada pela politização, inclusive ideológica. Nós fazíamos um corte no final dos anos 80, uma década tão bonita de conquistas, de reconquistas. Tivemos a Prefeitura, e Jefferson foi Vereador. Em seguida, um momento importante, após a Constituinte, foi a elaboração da Lei Orgânica de Manaus, em que ele teve uma grande participação.

Eu tinha saído da universidade, e havia o debate pela meia passagem do transporte coletivo. Tive, inclusive, alguns debates antagônicos com o então Vereador Jefferson Péres, mas foi tudo para a construção de uma cidade, de uma lei orgânica, de uma vida cidadã melhor.

Lembro-me de uma passagem com o então Vereador Jefferson Péres. Nós dois estávamos em frente a uma casa, a um casarão antigo, na Joaquim Nabuco, que estava sendo derrubado em nome do progresso, em nome dessas mudanças tão efêmeras contra a memória de Manaus. E estávamos ali, no momento, quase impotentes, porque as máquinas estavam derrubando aquele prédio, que hoje é uma universidade, no canto da Joaquim Nabuco, e que foi uma delegacia do Dops, um casarão antigo. Perdemos aquela batalha, mas o exemplo de Jefferson continua até hoje no sentido de preservar a memória de Manaus.

Cito outro momento - não sei se a Dona Marlídice se lembra dessa passagem -, em que acabei levando o Senador Jefferson Péres para uma aventura.

Em 2002, eu disputei as eleições municipais na minha querida cidade de Parintins. O Senador Jefferson Péres foi lá um dia, pois havia prometido que me ajudaria na campanha. Andou pela Avenida Amazonas a pé, pegando sol durante quase que a maior parte do trajeto. Era um sábado pela manhã. E nós terminamos o dia mesmo numa aventura, que foi andar num assentamento próximo à cidade num carro precário. Pois o Senador Jefferson Péres andou ali por quase trinta quilômetros, quinze de ida e quinze de volta. Quando chegamos à localidade, um assentamento, uma comunidade chamada Laguinho, é que eu fui raciocinar melhor: “como eu trago o Senador Jefferson Péres aqui, andando numa estrada de chão, num carro precário?” E lá estava o Senador da República, no interior de um assentamento, numa comunidade bem modesta. Ali estava ele, pregando, falando, colocando suas idéias. Evidentemente, por conta desse percurso, desse dia, ele teve uma noite extremamente cansada, mas não arredou pé de compromissos como militante político, no sentido de fazer a defesa de projetos e idéias.

Encerrando estes momentos da minha relação com o Senador Jefferson Péres, quero dizer que apresentei um projeto de lei para a criação de uma universidade para os países do Pacto Amazônico. Penso que a defesa da Amazônia, desse imenso território tão importante para o Brasil, para os povos da Amazônia e para o mundo, passa pelo conhecimento. Neste sentido, está tramitando nesta Casa um projeto de lei que prevê a criação dessa universidade entre os países do Pacto Amazônico. O Senador Jefferson Péres foi o Relator dessa propositura. Com seu falecimento tão repentino, lembrei-me do parecer e, dias depois, pedi a uma assessora minha que corresse lá para ver o parecer. Qual não foi minha surpresa - conheço o padrão de exigência do Senador Jefferson Péres - quando vi que ele deixou um parecer favorável à criação da universidade. A matéria está tramitando e falta ser votada ainda na Comissão de Educação. Portanto, ele deixou uma grande contribuição para uma idéia que, com certeza, ganha corpo por conta desse seu parecer deixado junto à Comissão de Educação.

Por último, quero dizer que aqui vivi um debate que o Brasil todo acompanhou. Fui Relator de uma representação que tinha um grau de exigência muito grande. Fui investigar essa representação, atender suas exigências, passando pelo INSS, pela Receita Federal, pela Polícia Federal, e apresentei meu relatório. Como estamos em uma Casa política, em que o debate é permanente, onde há grande tensão, apresentei meu relatório no dia determinado pela Comissão de Ética.

O primeiro a discutir meu relatório foi o Senador Arthur Virgílio, que manifestou concordância com ele. Porém, não me bastava a opinião do Senador Arthur Virgílio, pois eu aguardava na expectativa de aprovação do meu parecer. O segundo a debater foi o Senador Jefferson Péres, Relator de uma outra representação. Foi aí que me senti tranqüilo, porque o Senador Jefferson Péres, na seqüência da manifestação do Senador Arthur Virgílio, também manifestou concordância com meu parecer. Assim, trabalhando os códigos do Senado, do Plenário, fiquei tranqüilo.

Digo isto para mostrar aos amigos do Jefferson que estão aqui, para as lideranças presentes, para o Presidente do Tribunal de Justiça, que aqui se encontra, Dr. Hosannah, a respeitabilidade do Senador Jefferson Péres.

A palavra do Senador Jefferson Péres tinha um peso no Senado da República em qualquer discussão. Então, a partir dali, fiquei tranqüilo pela manifestação de dois Senadores do meu Estado, ainda mais por ser um deles o Senador Jefferson Péres. Aí tudo correu tranqüilamente, o meu parecer, inclusive, foi votado aprovado pela unanimidade dos Senadores membros da Comissão de Ética.

Então, estou relatando aqui momentos da minha relação com Jefferson e quero dizer que devo muito ao ele. Penso que os gestos entre nós foram mais dele para mim do que de mim para ele.

Quero dizer, Sr. Presidente Garibaldi, da minha propositura. Estou apresentando um projeto de resolução para que passemos a denominar a Sala das Comissões nº 2, da ala Senador Nilo Coelho, justamente a sala que reúne as CPIs, de Sala Senador Jefferson Péres. Pedi permissão da Srª Marlídice e dos filhos para que esse espaço do Senado da República, que não tem denominação, como tantas salas do Senado da República prestam homenagens a homens públicos, receba o nome do Senador Jefferson Péres, desse amazonense, desse político, desse membro do PDT.

E concluo rapidamente, até porque já foram registradas muitas passagens do Senador, eu gostaria de dizer o seguinte: o Senador Jefferson Péres honrou e engrandeceu o Senado da República com a coerência e a firmeza dos seus atos e gestos de amizade, solidariedade, fraternidade e, sobretudo, de justiça e ética.

O Senador Jefferson Péres tornou-se político ao praticar os princípios da política como arte de aperfeiçoamento das relações humanas, com a finalidade de promover a tolerância, a paz e a justiça social.

O Brasil pôde conhecê-lo, desde 1994, por meio das incansáveis batalhas que empreendeu, neste Senado, pela valorização da ética na política, pela independência, pela moralização e fortalecimento das instituições republicanas e pelo fim da impunidade.

Antes, ele elegeu-se duas vezes para a Câmara Municipal de Manaus (1988/1992 e 1992/1996). Suas pregações de campanha sempre confirmavam a coerência do político que queria ver o Brasil de mãos limpas.

Jefferson participou, de maneira exemplar, das atividades desta Casa, seja como fiscalizador público, seja como legislador, seja como membro de Comissões Permanentes ou de Comissões Parlamentares de Inquérito. Suas ações e seus atos orientavam-se pelo senso de justiça.

O homenageado desempenhou seus mandatos parlamentares com a dedicação e o zelo que marcaram também sua carreira como professor da Universidade Federal do Amazonas, onde, num período de 36 anos, formou gerações de homens e mulheres que hoje se destacam em atividades públicas, privadas e autônomas. Ele exerceu ainda, na Ufam, funções administrativas, como as de Diretor e de Coordenador do Departamento de Economia, em épocas distintas. Jefferson Péres licenciou-se da Ufam em 1988 para se dedicar à vida parlamentar e aposentou-se em 2002, aos 70 anos de idade.

O Senador dedicou-se com igual desenvoltura à literatura tecida com as preocupações do cotidiano de Manaus, do Amazonas, do Brasil e da América Latina. Em Evocações de Manaus, declarou seu amor à cidade que também o amou. Suas crônicas, teses e ensaios acadêmicos exprimiram os sentimentos do cidadão que não hesitava em exigir a melhoria da qualidade de vida na cidade em que nasceu e no mundo. Ele usava a escrita e a voz para desembaraçar ruas para os pedestres e para defender a Amazônia dos interesses escusos internos e externos com igual firmeza de propósito e argumento.

Jefferson Péres ingressou no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas em 1988; e, em 1993, foi empossado na Cadeira nº 8 da Academia Amazonense de Letras. Suas obras publicadas são: Neutralismo e Integração Mundial (tese defendida em 1954); Problemas Econômicos da Atualidade, em co-autoria com o professor Samuel Isaac Benchimol, falecido; Zona Franca - Desenvolvimento e Estagnação (1972); Evocações de Manaus - Como eu a vi ou sonhei (1984); Partidos Políticos na América Latina (1986); O Modelo Zona Franca - Uma Economia de Enclave (1988).

Homenagear esse ilustre amazonense é dever desta Casa, que o teve, honrosamente, por 14 anos. Jefferson Péres concretiza a sua existência com dignidade e coragem nas atividades que desempenhou em favor do Amazonas, do Brasil e da humanidade. Ao emprestar o seu nome à Sala das Comissões de número 2, Jefferson engrandece a memória do Senado e mantém-se, para sempre, no posto de combatente contrário à impunidade.

Requeiro, do mesmo modo, que esta decisão seja comunicada aos seus familiares, amigos, parentes, eleitores, por intermédio da sua esposa, a juíza de direito aposentada Marlídice de Souza Carpinteiro Péres, e dos seus filhos Ronald, Roger e Rômulo, com sua esposa, que participam desta sessão.

Sr. Presidente, era o que tinha a dizer.

Para finalizar, esta é uma tarefa do Senado: manter a memória deste grande Senador do Brasil, do Amazonas, de Manaus.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2008 - Página 20937