Pronunciamento de Flexa Ribeiro em 17/06/2008
Discurso durante a 104ª Sessão Especial, no Senado Federal
Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.
- Autor
- Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
- Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/06/2008 - Página 20940
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, ETICA, VIDA PUBLICA, DEFESA, REGIÃO AMAZONICA, INTERESSE PUBLICO, DIGNIDADE, ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pela Liderança da Minoria. Com revisão do orador.) - Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal; Exmº Senador Arthur Virgílio, autor do requerimento da presente sessão, junto com o Senador Cristovam Buarque, primeiro subscritor do requerimento; Srª Marlídice Péres, viúva do Senador Jefferson Péres; Exmº Sr. Serafim Fernandes Corrêa, Prefeito de Manaus; Desembargador Osanah Florêncio de Menezes, Presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas; Srs. Ronald, Rômulo, Roger Péres, filhos do pranteado e saudoso Senador Jefferson Péres, sua nora, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, Srs. Deputados, Srªs Deputadas, amigos do Amazonas que vieram para esta sessão, Senador Arthur Virgílio, para saudar a memória do nosso ilustre e querido e saudoso Jefferson Péres.
Sinto-me, Presidente Garibaldi Alves, muito pobre hoje. Pobreza no sentido conceituado pelo poeta inglês John Donne. Donne dizia que sentia-se diminuído pela morte de qualquer homem, porque, em sua visão, somos, cada um de nós, parte de um todo formado pela espécie humana.
Se a perda de qualquer ser humano nos apequena, como diz o poeta, o que posso dizer eu, que perdi um colega da estatura do nosso querido Senador Jefferson Péres? Sinto-me desamparado sem a presença daquela figura cuja serenidade e firmeza eram sempre um luzeiro a ser seguido nos momentos de incerteza.
Jefferson sabia o melhor caminho. Era nele que todos nós podíamos nos espelhar. Era ele quem podíamos seguir sem medo de enveredar pela trilha errada. Sua postura de defesa intransigente do interesse público, sua lucidez na defesa apaixonada, porém realista da Amazônia, seu conhecimento e seu discernimento para ir a fundo nas difíceis questões com que nos defrontamos permanentemente no Senado da República, tudo isso fazia do Senador Jefferson Péres uma figura de rara qualidade, um Senador ímpar no pensar e no proceder.
A coragem exercida com serenidade era outro dos seus mais evidentes atributos. Sem bravatas, sem alardes, o Senador Jefferson Péres incumbia-se das missões mais difíceis, das quais muitos teriam se esquivado, e sustentava opiniões que nem sempre agradavam, sem nunca fazer disso qualquer alternativa oportunista de auto-engrandecimento.
Era um homem do exercício pleno das suas convicções, sempre estribadas no interesse público, que ele colocava em prática com tranqüilidade, com objetividade e, no mais das vezes, com poucas palavras. Fazia freqüentemente com que suas falas curtas, econômicas, calassem os que o ouviam. O certo é que, talvez por isso mesmo, todos paravam para ouvi-lo nesta Casa, Senador João Pedro, Senador Jefferson Praia.
A coerência entre intenção e gesto, Sr. Presidente Garibaldi Alves, era uma das características marcantes da personalidade de Jefferson Péres. Examinava questões longamente até formar convicção. Partia, então, para a ação, sempre firme e resoluta, sem temer as derrotas, comuns nos embates políticos. Ele preferia sempre combater o bom combate e guardar a sua fé.
É por isso, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. Deputados, que me sinto mais pobre e desamparado hoje. A vida pública brasileira, Drª Marlídice Péres, perdeu um expoente valoroso, uma referência importante, um exemplo incomum. Nós perdemos um colega de grande talento, seriedade e dignidade.
No mesmo texto em que se refere à perda que a morte de qualquer ser humano representa - trecho usado por Ernest Hemingway como epígrafe da obra Por Quem os Sinos Dobram? -, o poeta inglês Donne também fala da espécie humana como um livro de um único autor. Mas ele se recusa a ver a morte de um homem como um capítulo que é arrancado desse grande livro da humanidade. Ele diz que, quando um homem morre, ele é um capítulo que é traduzido para uma linguagem melhor e que cada capítulo deve ser necessariamente traduzido.
Sofremos, hoje, com a morte física do Senador Jefferson Péres, com a falta de seu convívio, mas seu legado permanecerá vivo nesta Casa. Já se disse que um homem só morre de verdade quando ninguém se lembra mais dele. No entanto, me surge uma dúvida: seremos capazes de ajudar, na medida das nossas limitações, a traduzir Jefferson Péres para uma linguagem melhor, como queria John Donne?
De minha parte, vejo essa tarefa com pessimismo, por compreender a imensa dificuldade que ela encerra. O Senador Jefferson Péres era, sem dúvida, uma dessas pessoas insubstituíveis, um capítulo de ouro de todos os tempos do livro desta Casa e da vida pública nacional.
Mesmo assim, não devemos descansar, não devemos desistir. Os sinos estão dobrando e sua presença estará sempre entre nós, a nos inspirar. Somos nós os convocados; nós é que estamos sendo chamados, Senador Garibaldi Alves, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, a dar a nossa contribuição, a tentar traduzir o capítulo que Jefferson Péres representou, a buscar a continuidade à sua obra pública de uma vida inteira. Não podemos fugir a essa responsabilidade, em honra do legado que ele nos deixou.
Quanto à frase que Jefferson usava na sua campanha à Presidência do Senado - “quem caminha com o povo nunca está sozinho” -, eu queria, com a permissão da Drª Marlídice, dizer que quem caminha com Deus nunca estará sozinho. Jefferson Péres não morreu; ele se encantou.
Muito obrigado. (Palmas.)