Discurso durante a 104ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2008 - Página 20949
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, ETICA, INDEPENDENCIA, VIDA PUBLICA, REGISTRO, DECISÃO, AUSENCIA, RENOVAÇÃO, CANDIDATURA, FRUSTRAÇÃO, CORRUPÇÃO, POLITICA NACIONAL, LEITURA, NOTA OFICIAL, PESAMES, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. GEOVANI BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Garibaldi Alves Filho, Presidente do Senado Federal, Exmº Sr. Senador Arthur Virgílio, autor do requerimento da presente sessão, Srª Marlídice Péres, viúva do Senador Jefferson Péres, Exmº Sr. Serafim Fernandes Corrêa, Prefeito da cidade de Manaus, capital do Amazonas, Desembargador Hosannah Florêncio de Menezes, Presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Jefferson Péres era conhecido no Senado e na vida política como um homem de posições firmes e polêmicas, cuja vida parlamentar foi marcada também pela postura ética e coerente.

Visto por colegas como defensor da ética pública e da democracia, Péres tinha 76 anos e estava em casa quando Deus o chamou para o andar de cima. Levantou-se, escovou os dentes, tomou o café da manhã, voltou ao quarto, reclamou de dores no peito, fechou os olhos e não os abriu mais. Faleceu ao lado da esposa Marlídice Peres pouco depois das seis horas.

Era um homem de vida regrada e hábitos intransigentes: não bebia, não fumava, não comia carne vermelha, não descuidava da alimentação, era magrinho, franzino. Foi enterrado com honras militares no cemitério São João Batista.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou luto oficial de três dias.

Desencantado com a política, havia manifestado em diversos momentos que deixaria de disputar cargos políticos após o término do mandato.

A vida pública do amazonense começou tarde. Aos 56 anos, elegeu-se vereador por Manaus pelo PSDB, Partido que ajudou a fundar. Entrou tarde e saiu cedo da política.

Seu objetivo porém sempre foi o Senado Federal. Tentou em 1990, mas não obteve êxito. Então, reelegeu-se à Câmara de Vereadores em 1992. O antigo objetivo foi alcançado na eleição seguinte. Em 1995, com quase 275 mil votos, tornou-se Senador da República.

Em Brasília, Péres dedicou-se a uma vida parlamentar independente e crítica e escolheu sempre lutar contra pesos pesados. Deixou o PSDB e filiou-se, em 1999, ao PDT. Em uma legenda menor, conseguiu desenvolver ainda mais sua independência contra os poderosos.

Em 2002, apoiou o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva, mas não demorou para fazer oposição ao Palácio do Planalto. Foi o escândalo do “mensalão” a gota d’água para o desencanto com a vida política. Discursou em 2006 dizendo que a partir de 2011 daria adeus à vida pública.

O Presidente, em nota de pesar, lamentou a morte do Senador: “Jefferson Peres foi um político que sempre pautou suas ações pela defesa intransigente da democracia e da ética. Sempre procurou guiar-se pelo que julgava ser o interesse público, mesmo nos momentos de divergências com o Governo. É uma grande perda para o Brasil, para a Amazônia e para o Senado brasileiro”.

José Jefferson Carpinteiro Péres nasceu em 19 de março de 1932, em Manaus, Amazonas, capital que o projetou para a política como homem que preferiu manter-se fiel aos seus princípios e não alinhar-se a ninguém.

Ao longo de sua carreira política, atuou como governista crítico e oposicionista duro. Teve dois cargos eletivos: senador por treze anos e vereador por seis. Eleito pela primeira vez em 1989, deu sustentação ao então Prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, nobre Senador, nosso colega, do PSDB, que foi autor do Requerimento, de quem era amigo pessoal. Contudo, nunca o apoiou incondicionalmente. “Peres sempre fez aquele apoio crítico”, classificou V. Exª, Senador Arthur Virgílio. Acreditava, piamente, na força da dialética como instrumento de conscientização.

Em 1988, após diversos cargos públicos, foi eleito Vereador de Manaus pelo PSDB, Partido que ajudou a fundar. Em 1990, concorreu ao Senado. Em 2006, disse que abandonaria a vida pública tão logo cumprisse esse último mandato. Era o dia 30 de agosto de 2006 e Jefferson Péres anunciou, desta tribuna do Senado:

O meu desalento é profundo. Deixo isso registrado nos Anais do Senado Federal. Infelizmente, eu gostaria de estar fazendo outro tipo de pronunciamento, mas falo o que penso, perdendo ou não votos - pouco me importa. Aliás, eu não quero mais votos mesmo, pois estou encerrando a minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado com ela.

A sua fala está nos Anais desta Casa.

O fim anunciado da vida pública se cumpriu antes do tempo. Ora, é sempre muito difícil entender os desígnios divinos.

Se algum anjo estiver presente a esta sessão, eu peço, humildemente, que diga a Péres que ele já está fazendo falta por aqui. Não éramos do mesmo Partido. A nossa convivência foi muito curta; mas isso não diminuía a minha admiração por ele.

E tal como Jefferson Péres mesmo disse certa vez:

Se esta minha posição for incompreendida ou mal interpretada, paciência. Homem público que se respeita não toma posições fazendo cálculo de ganhos e perdas eleitorais.”

E, às vezes, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se me permitem dizer de público: sentimos muita saudade dele.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2008 - Página 20949