Discurso durante a 104ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.

Autor
Jarbas Vasconcelos (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PE)
Nome completo: Jarbas de Andrade Vasconcelos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do ex-Senador Jefferson Péres.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2008 - Página 20955
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), SOLIDARIEDADE, FRUSTRAÇÃO, FALTA, ETICA, POLITICA NACIONAL, ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, RESPEITO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BUSCA, JUSTIÇA SOCIAL, LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, RECLAMAÇÃO, CRESCIMENTO, CORRUPÇÃO.

           O SR. JARBAS VASCONCELOS (PMDB - PE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a atividade política no Brasil dos dias de hoje vem representando um grande desafio para quem tem uma formação pessoal e familiar rígida; para quem não se deixa levar pelas conversas fáceis e pelos atalhos da vida. O momento atual da política no Brasil é extremamente penoso, pois a mediocridade em vez de ser combatida é até incentivada.

           A esperteza tomou o lugar da correção; a desfaçatez engoliu a coerência; a mentira se traveste de verdade. Os valores se encontram completamente invertidos. Que referências deixaremos para as novas gerações? Jovens que, infelizmente, talvez não tenham noção dos obstáculos que o Brasil superou para derrubar o autoritarismo, o regime de exceção.

           Quis fazer esta introdução, Sr. Presidente, para dizer que comungava com a angústia sentida por Jefferson Péres. Uma impaciência que o fez, várias vezes, subir à tribuna do Senado para desabafar, sempre de forma clara e contundente, como era do seu estilo. Sem tergiversar, sem vacilar, com coragem e determinação ímpares.

           O desaparecimento de Jefferson Péres deixou um vazio imenso aqui nesta Casa. Nos últimos anos, Jefferson se tornou uma reserva moral diante das maiores crises que atingiram a política do nosso País, em especial aquelas que afetaram o Senado Federal.

           Jefferson era um Parlamentar sério, correto, que exercia seu mandato com imensa correção. Tive o privilégio de acompanhar mais de perto, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o Jefferson Péres jurista, o legislador que utilizava o Direito, os Preceitos Constitucionais como armas contra os abusos e as injustiças.

           Partiu um homem honrado, Sr. Presidente, sempre intransigente com as coisas menores, com as coisas pequenas da política. Repito agora o que disse no dia 23 do mês passado: Nesses tempos de mediocridade na atuação política, a morte de Jefferson Péres é uma perda gigantesca.

           Mesmo integrando o Partido Democrático Trabalhista, que faz parte da base do Governo Federal, Jefferson fez da independência institucional uma de suas marcas. Fiel ao PDT, Jefferson, no entanto, jamais foi de encontro aos seus princípios. É uma característica essencial a se destacar, nesses tempos nos quais a permuta espúria de benesses públicas e privadas fere mortalmente o exercício da política.

           Nesse sentido, Sr. Presidente, eu gostaria de incorporar a este meu pronunciamento trechos de um texto escrito por Jefferson Péres, em 13 de maio de 2008, 10 dias antes dele nos deixar, denominado “Bandidagem e Política”, abre aspas:

Hoje, quem milita com seriedade na vida pública, verifica contristado que se vai tornando cada vez mais tênue a fronteira que separa a política da bandidagem. Cada vez mais a atividade política atrai pessoas desqualificadas intelectual e moralmente, ao passo que afugenta aqueles com qualificação para exercê-la com dignidade.

Partidos antes respeitáveis desnaturaram-se em tristes caricaturas, desmoralizados pelo fisiologismo mais rasteiro, transformados em instrumentos de assalto aos cofres públicos de todas as maneiras, lícitas e ilícitas.

O pior é que grande parte do eleitorado vai-se tornando conivente com isso, adepto do “rouba mas faz” e indiferente aos valores éticos, que simplesmente despreza. Estamos a um passo do casamento entre bandidagem e política. Num cenário como esse, as pessoas de bem vão-se sentindo a cada dia mais impotentes, como se fossem don quixotes à beira do ridículo”.

Quero aqui, uma vez mais, me solidarizar com Dona Marlídice de Souza Carpinteiro Péres e também com Ronald, Rômulo e Roger. Estejam certos de que, nesta Casa, Jefferson permanecerá como um modelo a ser seguido. Uma referência na hora de defender o papel institucional do Congresso Nacional.

Srªs e Srs. Senadores, Jefferson Péres transcendeu. Deixou de ser um companheiro do nosso dia-a-dia para se transformar numa inspiração cotidiana.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2008 - Página 20955